sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Harley Quinn 3 - O Fim da Macacada

Com este post, chega ao fim a mini-colecção da Harley Quinn e também os meus posts de 2017. Um ano em que, mais uma vez, acabei por escrever menos do que contava neste Blog. Vemo-nos em 2018!

DE CONEY ISLAND A SAN DIEGO

Harley Quinn: O Fim da Macacada
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Marco Failla e vários
Quinta, 28 de Dezembro, Por + 10,90 €
Depois de dois volumes passados em Coney Island, Nova Iorque, os horizontes da Harley Quinn alargam-se consideravelmente neste terceiro e último volume da mini-colecção que o Público e a Levoir lhe dedicaram.
Com efeito, a aterragem da Poderosa, como se de um meteorito se tratasse, na praia de Coney Island vem introduzir a dimensão mais super-heróica do Universo DC que tem estado praticamente arredada da série, com a excepção da presença da Hera Venenosa, cuja relação ambígua com a Harley foi finalmente clarificada por Palmiotti e Conner. A presença da Poderosa permite aos autores gozar com os clichés habituais das histórias de super-heróis, desde os uniformes nada práticos e demasiado reveladores, as anatomias quase impossíveis e as identidades secretas, numa história em que a Harley se aproveita da amnésia da Poderosa para a convencer de que são uma dupla de super-heroínas. E é a combater o crime ao lado da Poderosa, que Harley vai parar a um Planeta desconhecido, governado pela Rainha Eidijamon, que não aceita muito bem o facto de Harley lhe matar o seu amante terrestre. Mas as aventuras espaciais de Harley e da Poderosa, desenhadas por Marco Failla de modo a permitir a Chad Hardin manter o ritmo de publicação mensal, não se ficam por aqui, pois a dupla tem ainda que enfrentar o Lorde Manos, um ditador cósmico que conta no seu exército com uma criatura que parece uma fatia de pizza com cogumelos… Esta delirante aventura serve para os autores parodiarem as sagas cósmicas da DC e Marvel, escritas por autores como Jack Kirby e Jim Starlin, sendo fácil ver no Lorde Manos uma homenagem ao Thanos de Jim Starlin, que surgiu como a resposta da Marvel ao Darkseid de Jack Kirby, que os leitores bem conhecem de anteriores colecções da DC.
Terminada a breve parceria com a Poderosa, o resto do livro prossegue com histórias afastadas da cronologia habitual da revista, como é o caso de Infelizes para Sempre, história pertencente ao evento Future’s End, que nos mostra o Universo dos Novos 52, cinco anos depois do seu início. Uma realidade alternativa, em que Harley vai parar a uma ilha misteriosa depois de um desastre de avião. Uma ilha onde o Joker é adorado como um Deus pelos nativos, o que possibilita aos autores concretizarem o sonho de muitos leitores, com o casamento da Harley com o Joker, que assim faz a sua espectacular estreia na série. Mas, como não podia deixar de ser, o casamento de sonho da Harley acaba por se transformar num pesadelo, quando descobre que os nativos a querem sacrificar num vulcão…
Finalmente, para encerrar em beleza esta colecção, Harley volta a derrubar a “quarta parede” de forma espectacular, numa história onde decide ir à Comic Con de San Diego para falar com um editor que publique o seu comic (desenhado na realidade por Amanda Conner) e encontrar os seus editores e criadores. Um final tão divertido quanto épico, que para além da participação especial de autores como Jim Lee, Paul Dini e Bruce Timm como personagens, conta com a arte de inúmeros artistas convidados, como Paul Pope, Javier Garrón, Damion Scott, Amanda Conner, John Timms, Marco Failla e Dave Johnson.

Publicado originalmente no jornal Público de 23/12/2017

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia



Depois da pièce de resistance que foi Os Vampiros, Filipe Melo e Juan Cavia regressam à BD com dois belos aperitivos, Majowski e Sleepwalk, reunidos no livro Comer/Beber, lançado em meados deste mês na Comic Con Portugal, onde a dupla de criadores tem sido uma presença regular.
Na origem deste projecto, diferente até no formato de histórias (mais ou menos) curtas, por oposição aos relatos de maior fôlego, como a trilogia de Dog Mendonça e, sobretudo, Os Vampiros, está um convite de Carlos Vaz Marques para que Melo e Cavia produzissem uma BD para o nº 9 da revista Granta, que tinha precisamente como tema Comer e Beber. Embora a pretensão dos autores fosse fazer, não uma, mas duas histórias para a Granta, os condicionamentos dos prazos de produção da própria revista limitaram (temporariamente) a ambição dos autores e apenas Sleepwalk, a primeira das duas histórias previstas, foi publicada na revista, completando-se o projecto meses depois, com a publicação do mini-livro que motiva este texto e que reúne, embora numa ordem diferente à que o próprio título faria esperar, Majowski e Sleepwalk, as duas histórias profundamente humanas dedicadas à comida e à bebida, ou mais exactamente a uma tarte de maçã e a uma garrafa de champanhe.
Passada na Alemanha nazi, durante a Segunda Guerra Mundial, Majowski parte de uma história real, contada por Beatrice Schilling, a avó de arquitecta e cantora (e amiga do Filipe) Nádia Schilling, sobre uma garrafa de champanhe que o seu avô, proprietário de um dos melhores restaurantes de Berlim, guardou para beber numa noite especial. Já Sleepwalk é uma história de ficção, que podia muito bem ser um filme de série B americano, ou a letra de uma canção de Bruce Springsteen, sobre um homem que faz uma longa viagem pelos Estados Unidos para levar uma tarte de maçã a um amigo.
Para mim, a mais conseguida das duas histórias, é Sleepwalk, cujo ritmo lento e contemplativo e a utilização de uma música como título, tem paralelismo com Os Vampiros. Muito bem contada e magnificamente desenhada, Sleepwalk sugere mais do que mostra, obrigando o leitor a pensar e tirar as suas próprias conclusões, um pouco à semelhança do que também acontecia em Os Vampiros. Além disso, toda a estética da história remete-nos para uma América cinematográfica, que vai de David Lynch a Wim Wenders, que nos leva a pensar que, mais até do que alguns projectos anteriores de Melo e Cavia, pensados originalmente para o cinema, também esta BD daria uma belíssima curta-metragem. Algo que, tendo em conta as ligações da dupla ao cinema, quem sabe se não se virá um dia a concretizar…
Majowski, usando uma metáfora apropriada ao tema, é uma bebida que precisava de mais tempo de maturação e também de mais páginas para ser contada, de modo a que a história pudesse respirar melhor. Se os horrores sofridos pelos judeus em território alemão são bem conhecidos, em Majowski surgem demasiado em pano de fundo, o que, provavelmente, não teria acontecido se os autores tivessem tido mais tempo e mais espaço para a história. Do mesmo modo, o momento surreal (mas que aconteceu na realidade) do elefante que deambulava por entre os destroços da Berlim bombardeada, teria outro impacto se a sua presença não se limitasse apenas a dois quadrados. Também em termos de planificação há diferenças entre as duas histórias. Se Sleepwalk tem um fôlego cinematográfico, já Majowski está mais próximo de uma série televisiva, com panorâmicas pontuais que permitem ao leitor identificar os locais, passando-se o resto da história em estúdio, em interiores filmados em planos médios e grandes planos.
Finalmente, a opção por um formato inferior ao A5, e até ao da revista Granta original, não deixa que o desenho respire devidamente, algo mais evidente até em Majowski, pelo que me parece que o livro só teria a ganhar em ser impresso num formato superior - antes de o receber em papel, já tinha tido oportunidade de ler o livro num Tablet com um ecrã de doze polegadas e a arte não só aguentou perfeitamente essa ampliação, como até beneficiou dela) - até porque o facto de se tratar de uma edição com tiragem limitada, encareceu bastante o produto final, o que, acredito que mesmo assim não irá afastar os muitos leitores fiéis da dupla.
Em conclusão, e voltando às metáforas culinárias, Comer/Beber é como aqueles pratos de nouvelle cuisine: requintado, extremamente saboroso e bem apresentado, mas a exiguidade da dose (neste caso, do tamanho do livro) faz com que o preço que o cliente vai pagar por ele pareça demasiado elevado…
Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 72 págs, 15€

domingo, 24 de dezembro de 2017

FELIZ NATAL!

Mantendo a tradição, aqui vai o meu habitual Post de Natal, como sempre usando uma referência da BD. Desta vez, quem vos deseja as Boas Festas, é Dylan Dog, o popular personagem criado por Tiziano Sclavi que este ano se estreou finalmente em edição portuguesa, na colecção Novela Gráfica.
E, como este Blog não dispensa a informação útil, deixo-vos com um instrutivo diagrama, em que Dylan e Groucho explicam como se pode usar as decorações natalícias para combater um apocalipse zombie.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Harley Quinn 2 - Miúdas Sem Regras

HARLEY E HERA CONQUISTAM CONEY ISLAND

Harley Quinn: Miúdas sem Regras
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e Marco Failla
Quinta, 21 de Dezembro, Por + 10,90 €
Depois de ajudar Sy Borgman a eliminar a rede de antigos espiões do KGB infiltrados em Nova Iorque e a resolver antigas questões pendentes durante mais de 50 anos, o que implicou, entre outros momentos memoráveis, uma visita ao Jardim Zoológico, Harley regressa a casa onde a espera a Hera Venenosa. 
Criada em 1966, por Robert Kanigher e Sheldon Moldoff, Pamela Isley, a Hera Venenosa apareceu pela primeira vez no nº 181 da revista mensal do Batman, mantendo-se desde então como um dos principais vilões do universo do Cavaleiro das Trevas, mesmo que desde as mudanças operadas com a Linha Novos 52, apareça mais como uma anti-heroina, numa posição de equilíbrio precário entre o crime a legalidade, um pouco na linha da própria Harley Quinn  e da Catwoman, outras duas mulheres fatais do Universo DC, com quem costuma interagir.
E se a amizade entre Harley e Pamela já vinha sendo explorada desde os tempos da série de animação Batman the Animated Series, na fase de Palmiotti e Conner, a relação entre as duas vai mais além, sendo descrita pelo próprio Jimmy Palmiotti como “uma relação sentimental sem os constrangimentos da monogamia”, o que vem confirmar a bissexualidade de Harley Quinn.
Mas não é só em relação às opções sexuais da sua protagonista que Harley Quinn é uma série pouco convencional. Também a forma como a violência (extrema) é tratada, está mais próxima dos desenhos animados dos Looney Toons, no seu exagero, do que das histórias de super-heróis tradicionais. Ou seja, embora essa violência tenha consequências, é apresentada de uma forma tão extrema, que chega a ser divertida. Um pouco na linha do que costuma fazer Garth Ennis, em séries como o Preacher, na BD, ou Quentin Tarantino no cinema.
E por falar em cinema, não faltam também as referências cinematográficas nos argumentos de Palmiotti e Conner, a começar pelo próprio Tarantino, logo no capítulo três deste volume, onde há uma homenagem, mais ou menos óbvia, aos filmes Pulp Fiction e Kill Bill. Aliás, este terceiro capítulo é claramente aquele em que os autores mais longe levam o jogo referencial, que além do cinema, com as homenagens aos filmes de Tarantino e ao Rollerball e Fight Club, conta com uma participação muito especial da chefia criativa da própria DC, presente numa reunião ultra-secreta num arranha-céus de Manhattan, que é bombardeado pelo engenhoso sistema criado por Tony Grande para reciclar os excrementos das centenas de cães e gatos que Harley resgatou no primeiro volume. Nessa divertida sequência é possível reconhecer Dan Didio (com uma camisa azul com símbolos do Super-Homem), Jim Lee e Geoff Johns, os três mais poderosos editores da DC que, uma vez que esta cena não foi cortada, revelam ter sentido de humor…Embora o trabalho gráfico de Marco Failla e sobretudo de Stéphane Roux, que ilustra o capítulo final que reconta a origem da Harley Quinn, seja atraente e eficaz, muito do sucesso desta fase da Harley Quinn repousa nos ombros de Chad Hardin, o desenhador principal da série. Excelente desenhador, Hardin consegue um equilíbrio perfeito entre eficácia narrativa, espectacularidade, erotismo, humor e legibilidade, que está ao alcance de poucos.
Publicado originalmente no jornal Público de 16/12/2017

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Apresentação da colecção Harley Quinn

O FABULOSO DESTINO DE HARLEY QUINN

Quem poderia imaginar que uma personagem criada inicialmente para ter apenas uma participação esporádica num episódio da série de televisão Batman: The Animated Series acabaria por se tornar, 25 anos depois da sua estreia, numa das mais conhecidas personagens do Universo DC. Uma personagem que só é ultrapassada em popularidade, que não em vendas, pela trindade Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha  e que chegou a estar presente simultaneamente em três revistas mensais –Harley Quinn, Harley and her Gang of Harleys e Suicide Squad -  para além de diversas mini-séries e números especiais. Uma personagem que é também a mais recriada pelos cosplayers (fãs que se mascaram em público das suas personagens favoritas) nos grandes Festivais de comics, como a San Diego Comic Con, ou a nossa Comic Con Portugal, que decorre esta semana em Matosinhos, e que chegou também ao cinema com igual sucesso, graças à excepcional interpretação da actriz Margot Robbie no filme Esquadrão Suicida.

Tudo em começou em 1992, no episódio Joker’s Favor da série de desenhos animados, Batman: The Animated Series criada por Dini e Timm, mas o que estava inicialmente previsto como uma aparição esporádica de uma ajudante do Joker vestida de Arlequim, que saia de dentro de um bolo, acabou por se transformar numa presença regular da série, face à imediata e extraordinária popularidade de Harley Quinn. Como refere Bruce Timm: “Quando o Paul (Dini) me falou em criar uma namorada para o Joker, eu achei que era boa ideia, por isso metemo-la no episódio Joker’s Favor.
Mas foi só quando a vimos, já animada, no ecrã, que toda a gente se apaixonou instantaneamente por ela. Era uma combinação da personalidade, da voz – a voz da actriz Arleen Sorkin – e do visual. É uma personagem fantástica. Apercebemo-nos logo que tínhamos acertado em cheio. Por mais que eu não quisesse usá-la muito, pois o seu lado mais divertido interferia com o nosso objectivo de tornar o Joker mais sinistro, a verdade é que todos adorávamos a personagem e por isso, o Paul enfiou-a em todos os episódios do Joker.”
A passagem da animação para a BD dá-se em 1993 no nº 12 da revista Batman Adventures, mas é no ano seguinte, com a novela gráfica Batman: Amor Louco, de Dini e Timm, história já publicada numa anterior colecção da Levoir, que a sua popularidade verdadeiramente explode pela primeira vez. Tudo começou com um convite de Denny O’Neil, um dos melhores escritores do Batman de sempre e então editor das revistas do Cavaleiro das Trevas, feito durante um almoço no San Diego Comic Con, para que Timm e Dini apresentassem uma proposta à DC para uma BD. Foi então que Paul Dini se lembrou de explorar a origem da Harley Quinn, que nunca tinha sido abordada na série de animação, revelando que Harley era inicialmente a Dra. Harleen Quinzel, uma Psiquiatra do Asilo Arkham, que acaba por se apaixonar pelo Joker, sendo arrastada por ele para o mundo da loucura, acabando por se transformar em Harley Quinn, a Arlequina, a sua namorada e cúmplice.
Para além da sua participação em aventuras do Batman, ao lado do Joker, com quem tem uma relação no mínimo complicada, em que é vítima de abusos e maus-tratos, Harley Quinn vai também integrar o novo Esquadrão Suicida, formar as Gotham City Sirens, com a Hera Venenosa e a Catwoman e ganhar a sua própria revista, mas a mudança que lhe garantiu um aumento exponencial de popularidade deu-se em 2013, já dentro da linha Novos 52, quando Jimmy Palmiotti e Amanda Conner, uma dupla de autores que são também marido e mulher, revitalizaram a personagem afastando-a de Gotham City e do Joker, numa nova revista, cuja fase inicial serve de base a esta colecção em três volumes.
Não foi a primeira vez que Harley Quinn teve a sua própria revista, pois já entre entre 2001 e 2003 tinha protagonizado uma série mensal que durou 38 números, em que colaboraram autores como Terry Dodson e Karl Kesel, mas esta nova série, em que surge com a nova imagem que ganhou na Linha Novos 52, mais próxima da que lhe conhecemos no cinema, do que do fato de Arlequim que envergou até então, teve um sucesso incomparável.
A mudança operada por Palmiotti e Conner na revista da Harley Quinn, foi tão simples como eficaz, fazendo-a abandonar o Joker e um passado ligado ao crime, recomeçando a vida noutro lugar: neste caso, Coney Island, um espaço que um nova-iorquino como Palmiotti, que nasceu no Brooklyn, conhece bem e que se revela o cenário perfeito para aventuras tão delirantes como divertidas, que incluem espiões na reforma, um texugo empalhado (que conversa com a heroína…) e heroínas e vilãs como a Poderosa e a Hera Venenosa (que, ficamos a saber pelo próprio Palmiotti, tem uma relação não-monogâmica com a Harley, cuja bissexualidade é assumida).

E com uma nova cidade, vem uma nova vida, com novos amigos, novos vizinhos e novos interesses amorosos, que os leitores poderão descobrir nesta colecção, mesmo que o seu passado com o Joker volte por vezes para a atormentar, como acontece numa das histórias do volume dois. Nas palavras de Jimmy Palmiotti: “Nós sabemos perfeitamente que ela tem esse passado. Não tentámos fazer como se esse passado nunca tivesse existido. Mas eu acho que é realmente importante que uma personagem possa crescer e é isso que nós estamos a tentar fazer com a Harley. Fazê-la crescer, ter novos relacionamentos, dar-lhe responsabilidades. E essa é outra razão porque ela é fantástica. Em Gotham não passava de um personagem secundário, enquanto que agora, que está em Coney Island, é ela a protagonista.
A colaboração entre os dois argumentistas é tão harmoniosa como o seu casamento e Amanda Conner descreve-a nestes termos: “sempre que me perguntam como é que escrever a Harley, respondo assim “o Jimmy constrói a casa e depois eu pinto-a e decoro-a”. Por isso, é mesmo um trabalho de equipa Eu não saberia exactamente o que fazer sem uma estrutura tão bem construída. Sabem, o Jimmy constrói mesmo casas fantásticas”
Fundamental para a nova casa que Pamiotti e Conner construíram para a Harley Quinn é o trabalho gráfico de Chad Hardin, o vencedor de um concurso internacional, em que participaram vários desenhadores portugueses, para escolher o desenhador de Harley Quinn. Hardin, contando com a colaboração ocasional de Stephane Roux e John Timms, cria uma Harley tão sexy como divertida, enchendo as pranchas de detalhes engraçados, que fornecem um nível de leitura suplementar. Mas tal como acontecia na série Jonah Hex, Palmiotti não perde uma oportunidade de colaborar com os melhores desenhadores do mercado. Algo bem patente na história publicada no Harley Quinn nº 0, que abre esta colecção, ou na aventura passada na Comic Con de San Diego, no volume 3, em que está igualmente patente, outra característica fulcral desta série: o uso da metalinguagem, através do quebrar constante da “quarta parede”, com a própria Harley, consciente de que é uma personagem de BD, a conviver com os seus criadores e com os editores e autores da DC, que se tornam eles próprias personagens destas mesmas histórias.
Mas o melhor elogio ao trabalho de Palmiotti e Conner, vem do próprio Bruce Timm, o criador da Harley Quinn, que refere: “o Jimmy e a Amanda inventaram uma excelente versão da Harley que a mantém relevante para os leitores actuais. Mantém a diversão e mantém-na divertida. É sempre fiel à personagem e é sempre nova. Adoro realmente ser surpreendido, como os outros leitores, em cada novo número e descobrir o que é que eles inventaram desta vez.”
Ironicamente, o momento em que a etapa de Palmiotti e Conner na Harley Quinn chega finalmente em Portugal coincide com o fim dessa etapa nos E.U.A, pois no dia 20 chega às Livrarias de Comics americanas, o nº 38 da série mensal, que é último escrito pela dupla, que será substituída pelo escritor Frank Tierry. Uma etapa de quatro anos, iniciada em Agosto de 2013, no mesmo mês do seu casamento, que agora chega ao fim porque, como refere Palmiotti: “Achámos que talvez fosse uma boa altura para fazer uma pausa, ir em Lua-de-mel, talvez gastarmos um com o outro algum do dinheiro que ganhámos, e termos tempo livre para gozar a vida e conhecermo-nos melhor. Adoramos a personagem, mas sabemos que, por vezes, estás a trabalhar num livro e as vendas caem e a personagem deixa de ser popular. Por isso, achámos melhor fazer uma pausa agora, que a personagem está no auge da sua popularidade.”
Para Amanda Conner, que desenhou mais de 100 capas da Harley Quinn, esta paragem é uma oportunidade de voltar ao seu principal amor: o desenhar BD. Algo de que teve de abdicar devido ao seu trabalho como co-argumentista numa série que, durante algum tempo, chegou a sair quinzenalmente.
Mais do que um “Adeus”, os autores dizem “Até Já” a Harley Quinn, pois ideias para novas aventuras da personagem são coisas que não lhes faltam. Como Palmiotii confessa: “o caderno onde a Amanda guarda os seus esboços e ideias para novas histórias da Harley Quinn é do tamanho de uma bíblia”. Ou seja, não faltam boas ideias para um eventual regresso, para além da garantia da DC de que seriam recebidos de braços abertos.

1 – Harley Quinn: À Solta na Cidade
14 de Dezembro
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e outros
Como é que uma rapariga se pode descobrir a si mesma no meio da confusão do Universo DC? Nada mais fácil que falar com os artistas que a desenham e escrevem, e impor algumas regras!  Esta aventura surreal ilustrada por alguns dos maiores nomes dos comics, dá o ponto de partida para a nova vida de Harley Quinn, escrita por Jimmy Palmiottti e Amanda Conner. No início desta nova série, Harley herda de um dos seus pacientes no Asilo Arkham, um prédio de habitação e comércio em Coney Island, Nova Iorque, o que lhe dá a oportunidade perfeita de recomeçar a vida longe de Gotham e do Joker. Mas, os impostos e os custos de manutenção do edifício são elevados e as rendas pagas pelos peculiares inquilinos não cobrem estes custos, o que obriga Harley a voltar a trabalhar como psiquiatra num lar de idosos de dia, e integrar uma equipa de Roller Derby à noite, para poder pagar as contas. Se a isto juntarmos os inúmeros assassinos que aparecem, atraídos por uma recompensa de dois milhões de dólares pela sua cabeça e uma rede de antigos espiões do KGB, que vai ajudar Sy Borgman, um agente reformado da CIA, a desmantelar, vemos que a nova vida de Harley está bastante preenchida.

2  – Harley Quinn: Miúdas sem Regras 
21 de Dezembro
Argumento -  Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e Marco Failla
Russos e ursos, assaltos a bancos, peças de teatro e jogos de Roller Derby. Descoberto o mistério sobre quem lhe tinha colocado a cabeça a prémio, há ainda muito com que Harley Quinn se pode entreter, para variar do seu enfadonho negócio de ser proprietária de um edifício em Coney Island, Nova Iorque! Sobretudo se conseguir juntar um grupo de amigas e não se deixar limitar por nenhumas regras. Regras que não existem no clube de combate clandestino que Harley descobriu, onde mais ganhas consoante os adversários que derrubares. Com um agente como Sy Borgman, o velho espião cheio de partes biónicas, a representá-la, Harley tem tudo para arrasar… em todos os sentidos.
Neste segundo volume, há ainda espaço para recontar, numa perspectiva diferente,  a origem secreta de Harley Quinn, numa história ilustrada por Stéphane Roux.

3  –Harley Quinn: o Fim da Macacada
28 de Setembro
Argumento –  Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin e outros
A Poderosa é atirada do seu mundo alternativo para a Terra, e não se lembra de quem é. Uma oportunidade perfeita para Harley Quinn se transformar finalmente naquilo que ela sempre quis ser... uma super-heroína. Num futuro alternativo, Harley sofre um acidente de avião e vai parar a uma ilha tropical, onde o Joker é adorado como um Deus e parece querer fazer dela novamente a sua princesa. Isto se os indígenas locais não os sacrificarem antes, para apaziguar a fúria do vulcão…
Finalmente, numa história onde volta a derrubar a “quarta parede”, Harley decide ir à Comic Con de San Diego para falar com um editor que publique o seu comic, e encontrar os seus editores e criadores. Um final tão divertido quanto épico, que conta com a arte de inúmeros artistas convidados, como Paul Pope, Javier Garrón, Damion Scott, Amanda Conner, John Timms, Marco Failla e Dave Johnson.
Textos publicados originalmente no jornal Público de 14/12/2017

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Liga da Justiça 5 - A Guerra de Darkseid 2

O FIM DE UMA ERA 

Liga da Justiça: A Guerra de Darkseid Vol. 2
Argumento – Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok, Francis Manapul e Ivan Reis
Quinta, 07 de Dezembro, Por + 10,90 €
Com a publicação da segunda e última parte de A Guerra de Darkseid, chega ao fim a colecção que o Público e a Levoir dedicaram à Liga da Justiça, por ocasião da estreia dos maiores heróis da DC no cinema. Uma colecção que, com a excepção de clássicos como Nova Ordem Mundial e O Prego: Teoria do Caos se centrou no trabalho incontornável de Geoff Johns com a Liga. Um trabalho que leva o conceito de épico a níveis poucas vezes vistos e que os leitores portugueses tiveram o privilégio de poder acompanhar na íntegra, através das diversas colecções dedicadas aos heróis da DC que foram saindo nos últimos quatro anos.
O primeiro volume de A Guerra de Darkseid tinha terminado com alguns dos membros da Liga da Justiça transformados em Deuses. Assim, Batman, que conquistou a Metron a cadeira de Mobius, tornou-se o Deus do Conhecimento; o Super-Homem, o Deus da Força; o Flash, O Deus da Morte; o Shazam, o Deus dos Deuses; o Lanterna Verde, o Deus da Luz; e Lex Luthor, o Deus de Apokolips. Mas, se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente e o novo estatuto de divindade vai transformar profundamente os maiores heróis da DC, fazendo-os perder a sua dimensão humana. Para os fazer reencontrar a humanidade perdida e combater os planos de Graal, a filha de Darkseid que, depois de matar o pai, tomou posse da sua mais poderosa arma, a equação antivida, os restantes membros da Liga, a que se juntou Barda, a mulher de Scott Free, o Sr. Milagre, vão precisar de aliados. Mesmo que sejam aliados improváveis como os membros do Sindicato do Crime, Ultra-Homem, Supermulher e Coruja, Reflexos distorcidos dos maiores heróis do mundo, vindos de um mundo paralelo destruído pelo Antimonitor, os membros do Sindicato do Crime combateram a Liga da Justiça em histórias como Terra Dois, de Grant Morrison e Frank Quitely, o clássico que inaugurou a primeira colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC, em 2013.
Uma das características das histórias de super-heróis passa pelo eterno recomeço das histórias e dos confrontos, em que nada é definitivo, muito menos a morte, fazendo jus à velha máxima do Príncipe de Falconeri no livro O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (que muitos conhecem graças ao fabuloso filme de Visconti), que diz que “é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma”.  Mas, no caso desta história, as mudanças, mesmo que temporárias vão afectar profundamente o Universo DC, pondo fim à era dos Novos 52, que tem estado em destaque nestas colecções, para dar lugar à mais recente versão do Universo DC, a DC Rebirth.
Mas ao abrir as portas do futuro do universo DC, de que é um dos principais arquitectos, Geoff Johns não esquece o seu passado e os grandes autores que contribuíram para ele, como Grant Morrison e, sobretudo, o “Rei”Jack Kirby. O universo que o King criou na Saga do Quarto Mundo (de que pudemos ter um vislumbre numa anterior colecção), com o eterno conflito entre Nova Génese e Apokolips, onde nasceram personagem incontornáveis como Orion, Metron, o Sr. Milagre e Barda, Steppenwolf, Desaad, Kalibak e a encarnação suprema do mal que é Darkseid, estão na génese desta Guerra de Darkseid e de todo o (inesquecível) percurso de Johns como escritor da Liga da Justiça.
 Publicado originalmente no jornal Público de 02/12/2017

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Liga da Justiça 4 - A Guerra de Darkseid 1

O REGRESSO (E A MORTE) DE DARKSEID

Liga da Justiça: A Guerra de Darkseid
Argumento – Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok e Francis Manapul
Quinta, 30 de Novembro, Por + 10,90 €
Com a publicação de A Guerra de Darkseid, saga que vai ocupar os dois últimos volumes desta colecção dedicada à Liga da Justiça, fica bem evidente a magnitude do trabalho levado a cabo por Geoff Johns com a Liga, que os leitores portugueses puderam acompanhar nas últimas colecções dedicadas ao Universo DC. Um trabalho que, partindo de um profundo conhecimento da história da DC, procura ir mais além, de modo a surpreender o leitor. Como refere Johns. “As coisas que mais gozo me dão fazer, são aquelas que mal posso acreditar como é que ainda ninguém se lembrou de as fazer antes. Como é que ninguém se lembrou de meter o Lex Luthor na Liga da Justiça? Ou, como que ninguém se lembrou de colocar o Darkseid a combater o Anti-Monitor?”
A Guerra de Darkseid é o culminar do percurso de Johns como escritor da Liga, com todos as peças a convergirem para o local onde o escritor as queria. Nas palavras do próprio: “Quando comecei a escrever o Liga da Justiça nº 1, sabia que, pelo menos por um ano, queria que a equipa fosse apenas os sete maiores heróis da DC, mas, em última instância, quem é que eu poderia trazer para essa equipa que fosse capaz de a agitar no final do ano dois? Qual é o maior personagem do Universo DC que toda a gente conhece, alguém que até a minha mãe sabe quem é, mas que seria incrivelmente interessante para a dinâmica da equipa? E esse alguém é o Lex Luthor.
Então tentei perceber o que é que seria necessário para fazer evoluir uma personagem como esse, de modo a transformá-lo num potencial membro da Liga, tanto na sua mente como na de todos os outros, e foi assim que a história Mal Eterno surgiu. Eu sempre soube que queria apresentar o Anti-Monitor de uma maneira nova para que, quando Darkseid voltasse, não fosse apenas Darkseid Segundo Round. Foram esses dois gigantes, grandes vilões loucos, que foram as pedras angulares da minha passagem pela Liga. Darkseid foi uma grande força no começo, e em Mal Eterno, o Anti-Monitor era uma grande força que estava algo escondida. Agora, trouxemos esses dois para a primeira fila em A Guerra de Darkseid.”
Mas neste primeiro volume, que assinala o regresso de Scott Free, o Sr. Milagre, ao Universo DC, o confronto entre o Anti-Monitor e Darkseid não é o único grande conflito deste primeiro volume, em que ficamos a conhecer Graal, a filha de Darkseid e de uma amazona, que vai ser responsável pela morte do seu pai.
Graficamente, Jason Fabok revela-se perfeitamente à altura da dimensão épica da história, superando com distinção o teste de desenhar os maiores heróis da DC. Como o próprio refere: “Eu sempre fiz livros de personagens únicos, mas sempre fui atraído por livros que eram grandes, enormes livros de equipa, onde tenho oportunidade de desenhar cenas delirantes. Eu não estaria preparado para fazer isso há alguns anos atrás, mas com a experiência acumulada e com o que fui aprendendo nesta indústria, sinto-me pronto para o próximo desafio. Estou pronto para fazer a melhor arte de que sou capaz e, espero, a melhor arte que já viram na Liga da Justiça. Esse é o meu objetivo, e Geoff está a dar-me coisas para desenhar que são um verdadeiro sonho, como  o Sr. Milagre. Era uma personagem que sempre quis desenhar!”
Com Darkseid morto e alguns heróis como Batman e o Flash a deixarem-se corromper pelo poder absoluto, o Universo DC como o conhecemos está em profunda transformação, mas será preciso esperar pela 2ª parte, para ver o resultado dessa transformação.
Publicado originalmente no jornal Público de 25/11/2017

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Fernando Relvas - 1954 - 2017


Foi hoje a enterrar (ou mais propriamente, a cremar) um amigo. Um amigo que foi  o mais importante autor de BD das duas últimas décadas do século XX e que,  nos anos 80, entre a revista Tintin e o jornal Se7e, foi o único profissional de BD em Portugal.
Para mim, o melhor Relvas está na primeira metade do Espião Acácio, no L123 e Chevadilha Speed e em histórias do Se7e, como Concerto para Oito Infantes e um Bastardo, Niuiork, Sangue Violeta, Nunca Beijes a Sombra do teu Destino, no incompleto O Rei dos Búzios e em algumas das histórias do Karlos Starkiller. Mas no resto da sua obra, mesmo quando as histórias acabavam por ir para onde lhe apetecia e não para onde o leitor gostava que elas fossem, havia sempre um diálogo, ou monólogo, inesquecível, ou uma sequência, ou imagem perfeita, no seu dinamismo, eficácia e simplicidade.
Conhecíamos-nos pessoalmente há mais de 20 anos, mais ou menos na mesma altura em que comecei a escrever sobre ele, primeiro para a revista Quadrado e depois, em 1997, para o catálogo de uma das primeiras exposições da Bedeteca de Lisboa (Relvas: à Queima-roupa), entre outros sítios, como este blog, mas muito antes disso, já eu guardava os recortes das BDs que ele publicava no Se7e.
Para além das tardes e noites de copos que partilhámos, em Lisboa, na Amadora e em Coimbra (onde ele viveu alguns meses) tive o prazer (e o privilégio) de comissariar duas das três exposições mais recentes que a cidade da Amadora lhe dedicou. A última, Relvas: Retrospectiva/Outras perspectivas, de que fui curador por indicação do próprio Relvas, teve lugar nas novas instalações da Galeria Artur Bual, um espaço que, por ironia do destino, acolheu o jantar de encerramento do último AmadoraBD, que teve lugar mais ou menos há mesma hora a que o Relvas dava entrada no Hospital. Durante o tal jantar, tive oportunidade de fazer uma visita guiada à exposição aos convidados estrangeiros presentes e um deles, Denis Kitchen (editor de Will Eisner) comentou que lhe parecia incrível como tantas histórias, em registos e técnicas diferentes, saíram todas das mãos de um mesmo autor.
O Relvas sempre foi um resistente. Com o apoio incansável da Nina, foi resistindo como pode à doença de Parkinson que o ia minando. Resistiu também a uma queda que o deixou paralisado e a uma operação à coluna. Só não conseguiu resistir à pneumonia provocado por uma infecção hospitalar.
Muito mais cedo do que todos gostaríamos, o Relvas lá se foi. Agora conto contigo, Júlio, para não deixares morrer o Espião Acácio, lançando rapidamente o tão aguardado livro que ele já não vai poder ver. Do mesmo modo que conto, convosco, Margarida e Marco, para darem vida às histórias do Relvas que ele e o Viriato vos contaram.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Liga da Justiça 3 - O Prego: Teoria do Caos

UM MUNDO SEM SUPER-HOMEM

Liga da Justiça: O Prego – Teoria do Caos
Argumento – Alan Davis
Desenhos – Alan Davis e Mark Farmer
Quinta, 23 de Novembro, Por + 11,90 €
Este terceiro volume da colecção da Liga da Justiça assinala a estreia, numa colecção editada pelo Público e pela Levoir de um dos maiores nomes dos comics de super-heróis, o britânico Alan Davis. Uma estreia que se dá com este O Prego: Teoria do Caos, uma história alternativa, que explora de forma brilhante o que aconteceria ao universo DC e à Liga da Justiça, se o Super-Homem não existisse.
Nascido em Inglaterra em 1956, Alan Davis iniciou a sua carreira profissional na Marvel UK (o ramo inglês da Marvel, que tinha autonomia suficiente em relação à casa-mãe para criar as suas próprias séries), trabalhando, entre outros títulos, na série Captain Britain, ao lado de Alan Moore, com quem voltaria a trabalhar na série Miracleman e com quem criou também D.R. and Quinch para a revista 2000AD. 

Em 1985, Davis passou a trabalhar para o mercado americano, tanto para a DC (desenhando Batman and the Outsiders), como para a Marvel, onde trabalhou ao lado de Chris Claremont nas revistas dos X-Men, tendo ajudado a criar dois grupos de mutantes com membros britânicos, Excalibur (que lhe permitiu voltar a desenhar o Captain Britain) e ClanDestine, que em 1996 protagonizaram uma aventura conjunta com os X-Men, escrita e desenhada por Davis.
Em O Prego: Teoria do Caos, o título que chega na próxima quinta-feira aos quiosques de todo o país, Davis assegura igualmente o argumento e o desenho, contando com a colaboração de Mark Farmer na passagem a tinta. Publicada na linha Elseworlds -  uma linha em que é dada aos autores a liberdade de pegar em personagens icónicas e imediatamente reconhecíveis, heróis clássicos como o Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha e transpo-los para contextos diferentes e inesperados, sejam épocas distantes, mundos estranhos, ou realidades alteradas, jogando com essa diferença para criar histórias únicas, impossíveis de concretizar no contexto tradicional da cronologia regular do universo DC - O Prego: Teoria do Caos, explora as mudanças que um simples prego, que fura um pneu, pode causar. Neste caso, o pneu furado é o do carro dos Kent que, por esse motivo, falham o encontro com a nave espacial que trouxe Kal-El para a Terra, o que resultou num mundo em que o Super-homem não existe e Luthor é Presidente da Câmara de Metropolis. Um político poderoso que controla a comunicação social e utiliza a tecnologia kryptoniana presente na nave de Kal-El, que foi encontrada deserta, para criar armas e um exército que lhe permita capturar e destruir todos os seres superpoderosos que poderão ser um entrave aos seus planos.
De Perry White a Jimmy Olson, passando por Lana Lang, todos os personagens secundários do universo do Super-Homem estão presentes neste universo alternativo e, embora o comportamento de muitos deles seja diferente do que conhecemos, essas mudanças são consequentes com a ausência do Super-Homem e com a própria história das personagens. Por exemplo, Jimmy Olsen, que assume um papel preponderante nesta história, já tinha tido os diferentes superpoderes aqui descritos, nas aventuras delirantes que viveu durante a década de 60 na revista Superman’s Pal Jimmy Olsen. Mas não são só as personagens das revistas do Homem de Aço que estão presentes, numa história que é um verdadeiro Quem é Quem no Universo DC. No fundo, como o próprio Davis refere: “toda a série é uma homenagem ao Universo DC e a todos os criadores que nele trabalharam”. Uma bela homenagem, acrescentamos nós, que em nada perturba, antes valoriza, o fruir de uma excelente história.
Publicado originalmente no jornal Público de 18 de Novembro de 2017  

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Liga da Justiça 2 - O Vírus Amazo

INFECÇÃO MORTAL

Liga da Justiça: O Vírus Amazo
Argumento -  Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok
Quinta, 16 de Novembro, Por + 10,90 €
A colecção dedicada à Liga da Justiça prossegue com o regresso da fase de Geoff Johns que serve de inspiração à estreia cinematográfica da Liga da Justiça, num filme dirigido por Zack Snyder, com a colaboração de Joss Whedon, que chega às salas de cinema portuguesas no mesmo preciso dia em que este livro chega aos quiosques nacionais.
Director Criativo- Chefe da DC desde 2010, escritor para televisão e proprietário de uma loja de comics, Geoff Johns começou a sua carreira como assistente de Richard Donner, o realizador do primeiro filme do Super-Homem, com Christopher Reeves. Este escritor nascido em Detroit em 1973 é um dos mais populares argumentistas da actualidade, muito por via do seu trabalho para a DC, cujas últimas grandes sagas escreveu e desde 2016, co-responsável da DC Extended Universe e administrador da DC Films, responsável pela coordenação das adaptações dos heróis da DC ao cinema.
O trabalho de Johns na Linha Novos 52, e em especial na série da Liga da Justiça, tem estado em destaque nas anteriores colecções que o Público e a Levoir têm dedicado à editora de Batman e Super-Homem. Assim, depois da colecção Super-Heróis DC, ter aberto com o volume Origem, em que o escritor reinventa a origem da Liga da Justiça para o século XXI, ao lado do desenhador Jim Lee, e da colecção No Coração das Trevas DC ter encerrado com os dois volumes da saga Mal Eterno, em que Johns colabora com David Finch, a publicação da etapa incontornável de Geoff Johns prossegue com este Vírus Amazo, bem revelador da capacidade de Geoff Johns de conciliar tradição e modernidade.
Com efeito, na base desta história, está um inimigo clássico da Liga da Justiça, Amazo, um andróide criado pelo Professor Anthony Ivo, capaz de replicar os poderes dos diferentes membros da Liga da Justiça, que apareceu pela primeira vez em Junho de 1960, no nº 30 da revista The Brave and the Bold, numa história assinada por Gardner Fox e Murphy Anderson, tornando-se uma presença recorrente, como um dos mais poderosos adversários da Liga.
São precisamente as experiências do Professor Anthony Ivo, que vão servir de fonte de inspiração para um vírus sintético criado por Lex Luthor, com o objectivo de suprimir os poderes dos criminosos meta-humanos. Embora o vírus nunca tenha sido produzido em série, pois a Casa Branca achou a ideia demasiado arriscada e controversa, Luthor chegou a usá-lo para infectar o Super-Homem, para acabar por descobrir que o vírus não tinha qualquer efeito no organismo kryptoniano. E assim, o vírus Amazo foi arquivado, no meio de outros inventos sem grande utilidade, nos laboratórios da LexCorp, onde permaneceu até ser acidentalmente libertado por Neutrão, um assassino superpoderoso, contratado para matar Luthor. Ao entrar em contacto com o corpo humano, o vírus sofreu uma mutação, passando a ser transmitido por via aérea, como o vírus da gripe e dando super-poderes aos infectados, que morrem inevitavelmente ao fim de 24 horas.
Com a Liga da Justiça toda infectada, com excepção do Super-Homem e da Mulher-Maravilha, que não são humanos, os heróis sobreviventes vão ter de se aliar a Lex Luthor para descobrir o paciente zero e assim encontrar uma cura para a epidemia.
Johns, que sabe escolher como ninguém os desenhadores com quem trabalha, conta desta vez com Jason Fabok, um jovem desenhador canadiano, que começou como assistente de David Finch, mas que aqui revela estar perfeitamente à altura do seu mestre, contribuindo com o seu traço dinâmico para fazer de O Vírus Amazo, uma história verdadeiramente espectacular.
Publicado originalmente no jornal Público de 11/11/2017

Liga da Justiça 1 - Nova Ordem Mundial


GRANT MORRISON DÁ NOVA VIDA À LIGA
NO ARRANQUE DA COLECÇÃO DA LIGA DA JUSTIÇA

Liga da Justiça: Nova ordem Mundial
Argumento – Grant Morrison
Desenhos – Howard Porter
Quinta, 09 de Novembro, Por + 10,90 €
Antecedendo a tão ansiada estreia cinematográfica da Liga da Justiça, o supergrupo que reúne os maiores heróis da DC, é o protagonista de mais uma colecção que o Público e a Levoir dedicam à editora de Batman e de Super-Homem. Uma colecção em 5 volumes que abarca alguns dos momentos mais marcantes da história da Liga da Justiça, com destaque para a fase de Geoff Johns para a Linha Novos 52, que serviu de inspiração directa ao filme de Zack Snyder. Uma fase espectacular, cujo início pudemos acompanhar em anteriores colecções dedicadas ao Universo DC, que prossegue em O Vírus Amazo e tem o seu final épico nos dois volumes da saga A Guerra de Darkseid, que relata o confronto final entre a Liga da Justiça e a forças de Apoklips, chefiadas por Darkseid.
Nesta colecção há ainda espaço para O Prego – Teoria do Caos, uma história escrita e desenhada por Alan Davis que explora uma realidade alternativa em que a nave que transportou o jovem Kal-el de Krypton para a Terra não foi descoberta pelos Kent, que tiveram um furo num pneu e falharam assim o encontro que iria mudar as suas vidas. É nesse mundo sem Super-Homem, que a Liga tem de enfrentar o poder de um Lex Luthor que controla a comunicação social e tem acesso à tecnologia kryptoniana. Um dos melhores títulos da linha Elseworlds,  que não podia faltar numa colecção como esta.
A abrir esta colecção temos Nova Ordem Mundial, história que inicia a etapa memorável de Grant Morrison como escritor da Liga da Justiça, na sequência da remodelação do Universo DC provocada pela Crise nas Terras Infinitas. Uma etapa marcada por histórias épicas, com desafios à altura dos poderes dos membros desta nova Liga, que Morrison equipara aos Deuses do Olimpo e que ficou também marcada pela mudança de nome da revista, que de Justice League, se passou a chamar apenas JLA.
O ponto de partida desta nova fase de Grant Morrison, que declarou numa entrevista que: “o que estou a fazer com a Liga da Justiça é regressar ao tipo de histórias que gostava de ler quando era miúdo e tentar fazer uma versão actualizada dessas histórias, capaz de agradar aos miúdos de hoje” é bem evidente neste Nova Ordem Mundial e consiste em colocar a Liga da Justiça a defrontar um tipo de ameaças tão poderosas que mais ninguém seria capaz de enfrentar. É claramente o caso do Hiperclã, um grupo de alienígenas liderado por Protex, com uma ligação muito especial a um dos mais antigos membros da Liga, J’onn J’onzZ, o Caçador Marciano, cujas origens são exploradas nesta história.
Uma história de acção trepidante e com uma dimensão épica, a que os desenhos de Howard Porter apesar do grande dinamismo e espectacularidade das cenas de acção, dão um toque muito característico dos anos 90, que pode parecer algo datado aos leitores do século XXI. O mesmo sucede com o Lanterna Verde e o Flash, que não são os que bem conhecemos. Aqui é Kyle Rayner que substitui Hal Jordan como o principal Lanterna Verde da Terra, tal como Wally West substitui  Barry Allen, após a morte deste durante a Crise nas Terras Infinitas. O próprio Super-Homem aparece em duas versões neste primeiro volume: com o cabelo comprido que usava antes de morrer às mãos de Darkseid e como Super-Homem Azul, uma das diferentes formas que assumiu no seu regresso ao Universo DC. Mas se estes aspectos podem parecer datados, já o argumento de Morrison resistiu perfeitamente ao teste do tempo, como só os clássicos conseguem.
Publicado originalmente no jornal Público em 04/11/2017

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Apresentação da colecção Liga da Justiça

UM SUPERGRUPO CONTRA SUPER-AMEAÇAS

Na origem da Liga da Justiça, está a Sociedade da Justiça, o primeiro supergrupo da DC, criado por Sheldon Mayer e Gardner Fox, em finais de 1940, e que se manteve em publicação até 1951, época em que as revistas de super-heróis saíram de moda, pondo fim à Era de Ouro. Uma situação que só se vai alterar na Primavera de 1960, quando nas páginas do nº 28 da revista The Brave and the Bold, surge um novo e poderoso supergrupo, que funcionava como sucessor da Sociedade da Justiça da América. O próprio Fox foi encarregue pelo editor Julius Schwartz de criar esta nova versão da Sociedade da Justiça, que mudou o nome para Liga, aproveitando o sucesso da recém-criada Liga Nacional de Baseball. Como refere Schwartz: “Queria fazer a Sociedade da Justiça da América, mas não gostava da palavra “sociedade, porque lembra um grupo social e preferi usar a palavra “Liga”, porque é um termo mais familiar para os leitores mais novos, por causa da Liga Nacional e da Liga Americana. E foi assim que aconteceu.”
Como seria de esperar, nesta fase de relançamento dos super-heróis que ficou conhecida como Era de Prata, a recém-criada Liga da Justiça contava com os principais heróis como o Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, Lanterna Verde e Caçador Marciano. A primeira aparição oficial da Liga conheceu um sucesso tal que, em Novembro desse mesmo ano o grupo já tinha a sua própria revista. Uma revista que, com altos e baixos, se manteve desde então como um dos principais títulos da editora de Batman e Super-Homem, graças à capacidade da DC de criar super-ameaças à altura das capacidades do supergrupo.
Com um elenco de heróis que ia rodando, a Liga foi evoluindo, com Gardner Fox a dar lugar a Denny O’Neill, escritor que reformulou a Liga, removendo membros fundadores, como a Mulher-Maravilha, ou o Caçador Marciano. O’Neill, por sua vez deu lugar a outros argumentistas como Len Wein, Steve Englehart, Gerry Conway, Cary Bates e Elliot S. Maggin na escrita das aventuras dos melhores heróis da DC. Essa primeira fase da Liga da Justiça vai durar 261 números e só vai terminar em 1986, devido à profunda remodelação do Universo DC provocada pela saga Crise Nas Terras Infinitas, já publicada em Portugal pela Levoir e pela saga Legends (ainda inédita em Portugal) que se lhe seguiu.
A nova Liga da Justiça pós-Crise dá um toque inesperado à série, marcado pelo humor delirante de Keith Giffen e J.M. De Matteis, que exploram muito bem as idiossincrasias de um grupo de super-heróis pouco convencionais. Esta abordagem, tão diferente como divertida, da Liga vai durar cinco anos, até que, com a saída de Giffen e de De Matteis, a publicação entra em decadência, acabando por ser cancelada cinco anos depois. É então, em 1996, que entra em cena Grant Morrison, dando uma nova vida à Liga da Justiça com uma etapa memorável, iniciada precisamente com as histórias que podemos acompanhar no primeiro volume desta colecção, em que Morrison cumpre o seu objectivo de “regressar ao tipo de histórias que gostava de ler quando era miúdo e tentar fazer uma versão actualizada dessas histórias, capaz de agradar aos miúdos de hoje”, com grande sucesso.
Com a excepção de O Prego – A Teoria do Caos, uma história de Alan Davis, passada numa realidade alternativa em que o Super-Homem não existe, porque os Kent falharam o encontro com a nave que trouxe Kal-El de Krypton, por terem tido um furo num pneu, o resto desta colecção, é dedicado à  conclusão da fase de Geoff Johns na linha DC Novos 52.Uma saga épica cujo início acompanhámos na colecção Super-Heróis DC, e de que poderemos ler finalmente a conclusão da saga Mal Eterno, publicada na colecção No Coração das Trevas DC. Histórias que serviram de base ao filme de Zack Snyder e que têm como pano de fundo a ameaça de Darkseid, o impiedoso senhor de Apokolips, criado por Jack Kirby na saga do Quarto Mundo, também já publicada numa anterior colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC.


QUEM É QUEM NA LIGA DA JUSTIÇA

BATMAN
Quando os seus pais são assassinados à sua frente, o jovem Bruce Wayne decide dedicar a sua vida a combater o crime, usando a sua herança para concretizar esse objectivo. Mas cedo concluirá que precisa de algo mais para instilar o medo no coração dos criminosos. Precisa de um disfarce e de um símbolo e o morcego vai servir-lhe de inspiração.
Criado por Bob Kane e Bill Finger em 1939, o Batman é um herói sombrio, próximo da tradição policial dos heróis da literatura Pulp, como o Shadow, sem qualquer poder especial para além de um treino rigoroso, uma vontade indómita e um arsenal de equipamento sofisticado. Mas essa ausência de poderes nunca o impediu de se tornar o mais carismático de todos os super-heróis, não só nos comics mas também no cinema e um dos mais importantes membros da Liga.

SUPER-HOMEM
Perante a destruição iminente do Planeta Krypton, o cientista Jor-El decide tentar salvar o seu filho ainda bebé, lançando-o para o espaço numa nave espacial. Essa nave vai aterrar na Terra, no estado norte-americano do Kansas, onde a criança é recolhida por Jonathan e Martha Kent, um casal de agricultores, que o vão criar como seu filho, dando-lhe o nome de Clark e incutindo-lhe os valores tradicionais da América. As características diferentes do nosso sol em comparação com o que banhava o planeta Krypton, deram ao jovem Clark poderes quase ilimitados. Superpoderes de invulnerabilidade, visão de calor e de raios-X, força e velocidade, que lhe permitem voar e que, como Super-Homem, vai usar para combater o crime e ajudar a humanidade.

MULHER-MARAVILHA
Filha de Hipólita, a Rainha das Amazonas, a Princesa Diana abandona a ilha Paraíso onde a sua tribo vive, para acompanhar Steve Trevor, um piloto americano cujo avião se despenhou na ilha, de volta ao “mundo dos homens” e combater a seu lado contra a ameaça nazi. Terminada a guerra, Diana continua na América e torna-se membro da Sociedade da Justiça da América, tornando-se como o Super-Homem, uma filha adoptiva da América, cujas cores estão presentes no seu uniforme.
Principal heroína do universo DC, a Mulher-Maravilha foi criada em 1940 pelo psiquiatra William Moulton Marston, inventor do polígrafo e pioneiro dos estudos feministas, como exemplo de um novo tipo de super-herói, capaz de triunfar não através da força, mas do amor.

FLASH
Tal como o Lanterna Verde, o Flash foi outro dos super-heróis criado nos anos 40 que foi reformulado na década de 60, ganhando uma nova origem e uma outra identidade secreta. A Jay Garrick, o Flash original criado por Gardner Fox e Harry Lampert em 1940, sucedeu em 1956, Barry Allen, um cientista que ganhou super-velocidade ao ser atingido por um raio enquanto manipulava produtos químicos no laboratório da polícia. O mais popular de todos os Flash é Barry Allen, mas nesta colecção está também em destaque o seu sucessor, Wally West.

LANTERNA VERDE
Ao descobrir nos destroços de uma nave espacial, um extraterrestre moribundo, o piloto de testes Hal Jordan percebe que foi escolhido para substituir Abin-Sur, esse extra-terrrestre, como membro da Tropa dos Lanternas Verdes, uma espécie de polícia intergaláctica que zela pela paz no espaço sideral, tendo como única arma um anel que permite materializar através de energia tudo o que o seu portador imaginar.
Criado por John Broome e Gil Kane, em 1959, por indicação do editor Julius Schwartz, Hal Jordan é de longe o mais popular dos Lanternas Verdes, mas nesta colecção há outros Lanternas Verdes a integrar a Liga da Justiça, como Kyle Rayner, o seu sucessor e Jessica Cruz, que passou a usar o anel na sequência da saga Mal Eterno.

AQUAMAN
Criado por Mort Weisinger e Paul Norris em 1941, no nº 73 da revista More Fun Comics, Aquaman é o resultado de uma ligação entre um humano e uma princesa atlante. Um ser capaz de viver tanto à superfície como debaixo de água e com capacidade de comunicar com todas as criaturas marinhas. Apesar de estrear na década de 40, só na década de 60, durante o período conhecido pela Silver Age, é que o Senhor dos Sete Mares ganha direito a uma revista própria e se torna membro fundador da Liga da Justiça.
Geoff Johns, na Linha Novos 52, conciliou a origem e a imagem tradicional do herói, com a abordagem mais dinâmica, realista e espectacular que conhecemos. 

CAÇADOR MARCIANO
Criado em 1955 por Joseph Samachson e Joe Certa, J'onn J'onzz, o Caçador Marciano apareceu pela primeira vez na história The Strange Experiment of Dr. Erdel, publicada no nº 225 da revista Detective Comics, onde é acidentalmente tele-transportado para a Terra devido a uma experiência do Dr. Saul Elder. Impedido de voltar ao seu planeta natal, J'onn J'onzz adopta a identidade secreta do detective John Jones e dedica-se a combater o crime como o Caçador Marciano. Membro fundador da Liga da Justiça, o Caçador Marciano está ausente da formação da Liga na fase de Geoff Johns, mas assume um papel fulcral nos restantes volumes desta colecção.

CIBORGUE
Criado por George Pérez e Marv Wolfman em 1980, durante a sua aclamada passagem pela série The New Teen Titans, de que o Ciborgue era um dos membros, Victor Stone viu a sua origem reinventada por Geoff Johns no âmbito da linha Novos 52. Nesta nova versão, Victor Stone era um jovem atleta que, devido a um acidente no Laboratório S.T.A.R. em que o seu pai trabalhava, viu o seu corpo despedaçado pela explosão de uma Caixa Materna, sendo salvo graças à tecnologia do Planeta Apokolips, que permite incorporar o que restou do seu corpo numa estrutura mecânica. Renascido como Ciborgue, Victor é um dos membros fundadores da Liga da Justiça reinventada por Geoff Johns.

SHAZAM
Criado para a editora Fawcett em 1939, por Will Parker e C. C. Beck, O Capitão Marvel foi um dos mais populares heróis da Era de Ouro, com a sua revista a ultrapassar as vendas da do Super-Homem durante os anos 40. Até que, em 1953, a editora teve de interromper a publicação da série, devido a um processo da DC, que argumentava que o Capitão Marvel era uma cópia do Super-Homem. Tendo ganho o processo, a DC acabaria por comprar os direitos do personagem em 1972, introduzindo-o no Universo DC, com o nome Shazam (que corresponde à palavra mágica que o jovem Billy Batson usa para se transformar no poderoso Capitão Marvel), de modo a evitar problemas legais com a editora Marvel, que também tinha um herói chamado Capitão Marvel. Na Linha Novos 52, Johns vai dar a Shazam a importância que o personagem merece, integrando-o no elenco da Liga da Justiça.



O (LONGO) CAMINHO ATÉ AO CINEMA

É já no próximo dia 16 que o filme que reúne os maiores heróis do Universo DC,  chega finalmente às salas de cinema, culminando um complexo e demorado processo que durou mais de 10 anos. Se em termos de animação, o sucesso da série produzida por Paul Dini e Bruce Timm que passou entre 2001 e 2004 no Cartoon Network, foi rapidamente replicado em sete longas-metragens lançadas directamente em DVD, no que se refere a filmes de imagem real, a coisa foi bastante mais complicada…
Tudo começou em 2007, quando o casal Michele e Kieran Mulroney foi contratado para escrever o guião para um filme da Liga da Justiça, que foi bem-recebido pela Warner, o Estúdio de cinema proprietário da DC. Depois de um primeiro contacto com o realizador Jason Reitman, que não se quis envolver num projecto destas dimensões, George Miller, o realizador da série Mad Max, foi o escolhido para levar a Liga da Justiça ao cinema. Embora Miller tenha começado imediatamente a trabalhar no casting para o filme, a greve dos argumentistas de Hollywood acabou por obrigar a suspender a produção do filme até inícios de 2008. Terminada a greve, Miller pretendia começar a filmar imediatamente na Austrália, a sua terra-natal, mas divergências entre o Comité de Cinema Australiana e a Warner Bross, impediram o estúdio de conseguir os benefícios fiscais pretendidos, as filmagens foram transferidas para o Canadá, após mais alguns meses de atraso. Entretanto, o sucesso do primeiro Batman de Christopher Nolan levou o estúdio a apostar antes em filmes individuais dos heróis, o que levou à suspensão do filme da Liga.
Foi então que George Miller se decidiu afastar do projecto e regressar à série Mad Max e o projecto voltou à estaca zero, com o argumentista Will Beall a ser contratado para escrever um novo filme da Liga. Até que, face ao sucesso de Homem de Aço, o filme de Zack Snyder que relançou o Super-Homem no cinema, o Estúdio contratou David Goyer, que tinha escrito, com Christopher Nolan, a Trilogia do Cavaleiro das Trevas que Nolan dirigiu, e que também colaborou em Homem de Aço, para escrever um filme que juntasse Batman e Super-homem e apresentasse os heróis que vão formar a futura Liga da Justiça, ao público. Esse filme foi Batman v Super-Homem e, além de revelar Gal Gadot como a Mulher-Maravilha, dá um vislumbre dos restantes três membros que irão formar a Liga: Flash, Aquaman e Ciborgue, sendo anunciado em 2014 que o filme da Liga da Justiça seria uma história em duas partes, dirigidas por Snyder e com estreias previstas para Novembro de 2017 e Junho de 2019.
Finalmente, em Abril de 2016, começaram as filmagens dirigidas por Zack Snyder, que acabaria por se afastar do projecto, já na fase de pós-produção, devido a problemas familiares (o suicídio da filha), assumindo o realizador Joss Whedon - que já tinha escrito algumas cenas adicionais - as rédeas do filme nesta fase final de montagem e a filmagem de algumas cenas adicionais. Tendo em conta que Joss Whedon foi o responsável por levar os Vingadores, da Marvel, ao grande ecrã, com o sucesso que se sabe, não há grandes dúvidas de que ele é o homem certo no lugar certo.
Já quanto ao resultado final da junção dos talentos de Snyder e Whedon, com o carisma dos maiores heróis da DC, o leitor ainda terá de esperar uma semana para o poder ver numa sala de cinema perto de si.

A COLECÇÃO

1 – Liga da Justiça: Nova Ordem Mundial
Quinta-feira, 09 de Novembro
Argumento – Grant Morrison
Desenhos – Howard Potter
No arranque desta colecção, o lendário escritor Grant Morrison renova a Liga da Justiça numa série de aventuras épicas, que permitem explorar os tremendos poderes dos maiores heróis da DC, face a ameaças tão ou mais poderosas do que eles. No arranque da etapa em que Morrison e o desenhador Howard Potter criaram a versão definitiva da Liga da Justiça, a maior equipa de super-heróis do mundo terá de enfrentar o misterioso Hiperclã, que se propõe dominar a Terra para seu bem, eliminando a Liga, e, mais tarde, vê-se literalmente envolvida num conflito entre anjos e demónios!

2  – Liga da Justiça:  O Vírus Amazo
Quinta-feira, 16 de Novembro
Argumento -  Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok
Prosseguindo com a publicação em Portugal das aventuras da Liga da Justiça da fase Novos 52, assinada por Geoff Johns, o principal arquitecto do Universo DC, na BD e também no cinema, este segundo volume coloca a Liga contra uma ameaça impossível de vencer pela força: um misterioso vírus mortal.
Esse vírus espalhou-se por Metrópolis, infectando todos os que encontra, incluindo os próprios membros da Liga. O seu efeito... dar superpoderes a qualquer doente, antes de finalmente o matar. A Liga da Justiça tem de correr contra o tempo para encontrar o Paciente Zero e uma cura para a misteriosa infecção, com a ajuda de Lex Luthor, que tinha sido o responsável pela criação do dito vírus.

3 – Liga da Justiça – O Prego: Teoria do Caos
Quinta-feira, 23 de Novembro
Argumento – Alan Davis
Desenhos – Alan Davis e Mark Farmer
Por falta de um prego, perdeu-se um reino... Alan Davis, célebre desenhador veterano dos comics, que aqui se revela também um escritor talentoso, leva-nos a explorar um mundo alternativo em que, devido a um furo num pneu que impede os Kent de estar no local certo à hora certa, quando a nave que transportava o jovem Kal-El se despenhou no Kansas, o Super-Homem nunca existiu. É nessa realidade distópica profundamente transformada pela ausência do Super-Homem, em que Lex Luthor controla a comunicação social e os super-heróis são proscritos, que a Liga da Justiça está prestes a enfrentar o seu maior teste. Um teste mortal, que irá pôr à prova o seu poder e moralidade e que, desta vez, terá de ser superado sem a ajuda do Homem de Aço.

4  – Liga da Justiça: A Guerra de Darkseid 1
Quinta-feira, 30 de Novembro
Argumento – Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok e Francis Manapul
Explorando as imortais criações de Jack Kirby na série o Quarto Mundo, a invasão de Darkseid e das forças de parademónios de Apokolips, deu início ao relançamento do universo DC da Linha Novos 52. Agora, as sementes plantadas por Geoff Johns irão eclodir no final explosivo dessa fase, com o regresso de antigas ameaças e o nascer de novos perigos. Ilustrada pela superestrela em ascensão Jason Fabok, A Guerra de Darkseid, que coloca os heróis da Liga da Justiça no centro do conflito entre Apokolips e Nova Génese, marca o fim de um mundo e o início de outro.

5  – Liga da Justiça: A Guerra de Darkseid 2
Quinta-feira, 07 de Dezembro
Argumento – Geoff Johns
 Desenhos –  Jason Fabok e Francis Manapul
O impensável aconteceu! Darkseid, o todo-poderoso senhor de Apokolips e vilão supremo do Universo DC está morto às mãos do Antimonitor e Batman, Super-Homem, Flash, Shazam e Lanterna Verde foram transformados em divindades omnipotentes, mas os planos da sua filha, treinada desde a infância para o destruir, ainda estão por revelar. O Antimonitor encontra-se em metamorfose, a Liga da Justiça foi corrompida, e os membros sobreviventes do Sindicato do Crime ainda têm uma palavra a dizer. Neste segundo e último volume desta saga épica, que encerra a colecção dedicada à Liga da Justiça, a Guerra de Darkseid atinge o seu clímax, e o Universo DC terá o seu Renascimento.
Textos publicados originalmente no jornal Público de 07/11/2017