sexta-feira, 27 de maio de 2016

A caminho de Beja, para o XII Festival Internacional de BD


Se há evento ligado à BD que faço questão de não falhar, é o Festival de BD de Beja, que começa precisamente esta noite e dura até 12 de Junho. Como sempre, o primeiro fim-de-semana é o mais importante, pois é aquele em que estão todos os autores convidados, entre portugueses e estrangeiros. É também a altura dos lançamentos e apresentações de livros e de programas editoriais.
Eu, para além de estar por lá durante o fim-de-semana, a conviver e a aproveitar a gastronomia e os vinhos alentejanos, vou também estar à conversa com dois autores de que gosto particularmente. Edmond Baudoin, no sábado, entre as 17h e as 17h30m, e Eduardo Risso, entre as 21h e as 21h30m. Neste caso, para os resistentes que preferirem ouvir falar de BD a ver a Final da Champions.
O Programa completo do Festival, organizado com a simpatia e eficácia do costume por Paulo Monteiro e a sua equipa, que este ano troca a Casa da Cultura, pelo Teatro Pax Júlia, bem no centro histórico, pode ser consultado aqui. Mas há desde logo destaques que se impõem, como a exposição e o lançamento dos Vampiros de Filipe Melo e Juan Cavia e as presenças de Paco Roca, um dos mais interessantes autores espanhóis da actualidade, que se estreia num Festival português, Eduardo Risso, Edmond Baudoin, Henrique Magalhães e Marcelo D' Salete, entre os autores estrangeiros
Quanto a mim, se o tempo o permitir, conto aqui deixar um punhado de imagens de mais uma edição do mais simpático  Festival de BD nacional.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Os Vampiros - Texto de antevisão para o blog galego Metrópoles Delirantes


Este ano, a propósito do Dia das Letras Galegas, o blog galego Metrópoles Delirantes convidou uma série de críticos de BD a escolherem um livro para destacar no Blog. Este ano, para além dos críticos e bloguers galegos, o convite foi estendido a dois críticos portugueses.
O Pedro Cleto, que escreveu sobre O Poema Morre, de David Soares e Sandra Oliveira, e eu, que escrevi sobre Os Vampiros, o novo livro de Filipe Melo e Juan Cavia, que vai ser lançado no sábado no Festival de BD de Beja.
Com um limite bastante rígido de 200 palavras, o texto que podem ler a seguir é apenas uma primeira abordagem , sem spoilers , a um livro cujo processo acompanhei de perto e que merece um destaque bem maior, pelo que voltarei a ele depois do Festival de Beja.
Aqui fica o texto escrito para as Metrópoles Delirantes:

Os Vampiros, de Filipe Melo e Juan Cavia

Conhecidos graças à série Dog Mendonça e Pizzaboy, o maior sucesso da BD portuguesa dos últimos cinco anos, a dupla Filipe Melo e Juan Cavia regressa à Banda Desenhada com Os Vampiros, uma novela gráfica de grande fôlego que será lançada no final de Maio no Festival de BD de Beja.
Centrada no destino de um grupo de comandos portugueses destacados na Guiné, enviado para uma missão secreta no Senegal, que se revelará uma viagem ao coração das trevas, Os Vampiros é claramente um passo em frente no percurso dos dois autores. Apesar do título poder evocar o universo sobrenatural das aventuras de Dog Mendonça, essa evocação é enganadora.
Este livro é algo completamente diferente, onde o terror é agora sobretudo psicológico e tremendamente humano, sem o humor presente em Dog Mendonça. Se quisermos estabelecer um paralelo com o cinema, área em Filipe Melo também dá cartas (tal como Dog Mendonça, Os Vampiros também começou por ser um guião para cinema) podemos dizer que, se Dog Mendonça estava mais próximo de um Indiana Jones, ou das Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim, Os Vampiros é o Platoon, ou talvez até mais, o Apocalipse Now de Melo e Cavia.
Uma obra tremendamente ambiciosa e perturbadora, sobre o horror da guerra e os demónios que existem dentro de cada homem, muitíssimo bem contada e maravilhosamente desenhada por um Juan Cavia que se revela igualmente um colorista de excepção. O ano ainda agora vai a meio, mas não tenho grandes dúvidas que Os Vampiros é a melhor BD portuguesa de 2016.

domingo, 15 de maio de 2016

Darwyn Cooke (1962-2016)


Vão-se os melhores! No caso de Darwyn Cooke, a notícia foi tão brutal como inesperada... Na sexta-feira, a mulher de Cooke anunciou no blog do autor que ele estava a receber cuidados paliativos, para uma forma muito agressiva de cancro e, cerca de 24 horas depois, anunciava o seu falecimento.
Com uma carreira que se iniciou na animação, Cooke era um dos mais talentosos desenhadores da actualidade e um extraordinário narrador, com um estilo de uma elegância nostálgica e um aspecto "vintage" inconfundíveis.
De uma obra vasta e muito conseguida, destacam-se as adaptações dos romances de Richard Stark, da série Parker, o primeiro dos quais a Devir editou em Portugal, e o magnífico The New Frontier, uma revisitação nostálgica da origem da Liga da Justiça, que o próprio adaptou para um excelente filme de animação, mas não podemos esquecer também a sua colaboração com Ed Brubaker na série Catwoman, a sua releitura do Spirit, de Will Eisner (a única a estar à altura do trabalho de Eisner), as colaborações com Justin Gray e Jimmy Palmiotti na série Jonah Hex e a sua participação decisiva na série Before Watchmen.
O seu último trabalho, a mini-série Twilight Children, em que colabora com Gilbert Hernandez, embora interessante e muito bem ilustrado, não está entre o melhor dos dois autores, mas Cooke estava a trabalhar numa mini-série para a Image, chamada Revengeance, que não se sabe ainda em que estado de adiantamento estava e se chegará alguma vez a sair.
O que está disponível, e é indispensável, é  o livro Graphic Ink: The DC Comics Art of Darwyn Coooke, uma artbook, magnificamente ilustrado, que mostra bem a qualidade estética, a elegância e o sentido de composição do malogrado autor. Um dos nomes maiores dos comics americanos de quem, o punhado de imagens que vou postar a seguir, fazem uma pálida justiça.

















sexta-feira, 13 de maio de 2016

Super-Heróis DC 15 - Esquadrão Suicida: Nós que Vamos Morrer



E, a fechar a semana, aqui vai o texto do volume que fechou esta segunda colecção dedicada à DC. Seguem-se a segunda edição das Novelas Gráficas e a edição portuguesa de Watchmen. Ou seja, muita coisa sobre a qual irei escrever e que aqui publicarei.

ANTES DE CHEGAR AO CINEMA, 
O ESQUADRÃO SUICIDA FECHA A COLECÇÃO SUPER-HERÓIS DC

Super-Heróis DC Vol 15
Esquadrão Suicida: Nós que Vamos Morrer
Argumento –  John Ostrander
Desenhos – Luke McDonnell
Quinta, 12 de Maio
Por + 9,90 €
A três meses de chegar às salas de cinema, num dos filmes mais aguardados do ano, o Esquadrão Suicida é o protagonista do volume final da colecção que o Público e a Levoir dedicaram aos Super-heróis da DC Comics.
Mostrando como as diferenças entre os heróis e os vilões são cada vez mais difusas, os membros do Esquadrão Suicida são, na sua maioria, criminosos que aceitam missões arriscadas, em troca de uma redução da pena. O conceito de grupo secreto do Governo Americano, formado por criminosos, para levar a cabo missões suicidas, de cuja existência em caso de fracasso, o governo podia facilmente negar ter conhecimento, não é propriamente novo, tendo sido explorado em filmes como Doze Indomáveis Patifes, de Robert Aldrich, ou Sacanas Sem Lei, de Quentin Tarantino, mas é cheio de potencialidades.
E é precisamente esse potencial que John Ostrander vai explorar na segunda versão do Esquadrão Suicida (a primeira versão, de 1959, era constituída apenas por heróis que combatiam monstros), cujo primeiro arco de histórias este volume recolhe. Esta novo Esquadrão Suicida, nasceu durante a mini-série Legends, de 1986 (também escrita por Ostrander) e ganhou rapidamente um título próprio no ano seguinte, que Ostrander escreveu durante 67 números, até ao seu cancelamento, em 1992, contando com a colaboração de Luke McDonnell nos desenhos da maioria dessas histórias.
Embora a formação do grupo vá variando, fruto das necessidades específicas de cada missão e dos elementos que vão caindo em combate, o Pistoleiro, Encantadora, Beladona, Capitão Bumerangue e Tigre de Bronze, são os vilões que, sob a coordenação do Coronel Rick Flagg Jr., formam o núcleo duro do Esquadrão Suicida nas histórias incluídas neste volume. Uma formação que apresenta algumas variações de elenco em relação ao Esquadrão do cinema, com destaque para a ausência da Arlequina, a namorada do Joker, criada por Paul Dini e Bruce Timm para a série de animação do Batman.
Antes de ver o filme, aqui fica o convite ao leitor para acompanhar o Esquadrão Suicida em três missões mortais, que passam por atacar um grupo terrorista islâmico na sua própria fortaleza, deter uma invasão de Apokolips e libertar uma escritora dissidente soviética de um hospital-prisão, na Rússia de Gorbatchov.
Texto publicado originalmente no jornal Público de 06/05/2016

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Super-Heróis DC 14 - Super-Homem e Mulher-Maravilha: O Par Perfeito



O CASAL MAIS PODEROSO DO MUNDO

Super-Heróis DC Vol 14
Super-Homem & Mulher-Maravilha: O Par Perfeito  
Argumento – Charles Soule
Desenhos – Tony S. Daniel
Quinta, 5 de Maio
Por + 9,90 €
Uma das mudanças mais importantes que a linha Novos 52 veio introduzir na história do Super-Homem, foi apagar a relação do Homem de Aço com Lois Lane, da continuidade oficial da personagem, fazendo com que um namoro que se prolongou por mais de 50 anos e que até deu em casamento, desaparecesse da cronologia oficial do Universo DC da Era Novos 52.
Já em 1969, o escritor de ficção científica Larry Niven, no seu famoso ensaio Man of Steel, Woman of Kleenex, provava a impossibilidade física de uma mulher normal resistir a uma relação sexual com um ser superpoderoso como o Super-Homem, pelo que um romance entre o Super-Homem e a Mulher-Maravilha, nesse aspecto, surge como mais lógico e natural. E a verdade é que, embora nunca antes concretizada na cronologia oficial, essa ligação entre os dois mais poderosos heróis do Universo do Universo DC foi explorada em histórias alternativas, como Kingdom Come, ou no Dark Knight Strykes Again, de Frank Miller, onde os dois têm uma filha.
Já na linha Novos 52, essa relação foi evocada por Geoff Johns, logo nas páginas da revista da Liga da Justiça, na história que abriu esta colecção, para em 2013 sair finalmente uma nova revista, Superman/Wonder Woman, protagonizada pelo casal mais poderoso do mundo. Calhou ao argumentista Charles Soule e ao desenhador Tony S. Daniel a honra de retratar a primeira relação romântica “oficial” entre os  dois heróis. Uma relação que se torna pública precisamente em Par Perfeito, a história que preenche o penúltimo volume da colecção Super-Heróis DC
Assim, para além de terem de enfrentar ameaças à altura dos seus poderes, como o Apocalipse e o General Zod, o Super-Homem e a Mulher-Maravilha, têm que gerir o impacto que a revelação do romance deles tem junto da opinião pública, dividida entre o fascínio exercido pelo “casal perfeito” e o medo de quem acha que, juntos, os dois seriam incontroláveis.
Uma complicada equação, que as origens dos dois heróis (extraterrestre e divina) e o seu passado, tornam ainda mais complexa,
As relações amorosas nunca são fáceis, sobretudo entre seres todo-poderosos que encaram de maneira diferente a sua dimensão humana, mas são precisamente essas dificuldades que trazem interesse à história. Ou não acabassem todos os contos precisamente na parte em que os amantes “viveram felizes para sempre”…
Texto publicado originalmente no jornal Público de 29/04/2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Super-Heróis DC 13 - Novos Titãs: O Contrato de Judas



Este grande clássico também não teve no Público o espaço que justificava. Na verdade, este foi o texto mais curto que escrevi para esta colecção. De qualquer maneira, apesar de algo datado em alguns aspectos, vale muito a pena e finalmente está disponível em Portugal. 

O CONTRATO DE JUDAS: 
O CLÁSSICO DE WOLFAN E PÉREZ CHEGA AO PÚBLICOSuper-Heróis DC Vol 13
Novos Titãs: O Contrato de Judas  
Argumento –  Marv Wolfman
Desenhos – George Pérez 
Quinta, 28 de Abril
Por + 9,90 €
Por mais estranho que isso possa parecer nos dias de hoje, em 1984, havia um título protagonizado por jovens heróis que chegou a vender mais do que as revistas do Batman e do Super-Homem. Esse título era a revista dos Novos Titãs e os responsáveis por esse sucesso, tão inesperado como fulgurante, foram o argumentista Marv Wolfman e o desenhador George Pérez.
Grupo composto pelos parceiros adolescentes dos principais heróis da DC, como Robin, Kid Flash e Aqualad, os Titãs surgem pela primeira vez em 1964, na revista The Brave and the Bold e dois anos depois ganham um título próprio que, com altos e baixos, se manteve em publicação até 1976. A revista seria relançada em 1980, como The New Teen Titans, e o sucesso foi imediato, por força do talento conjunto de Wolfman e Pérez que, nos 50 números em que colaboraram, constroem uma saga épica, cheia de reviravoltas e emoção, que culmina com este Contrato de Judas.

Uma história em que os leitores descobrem, estupefactos, que existe um traidor infiltrado no grupo de jovens heróis, que está a ajudar Slade Wilson, o Exterminador, na sua missão de eliminar os Novos Titãs.
Clássico incontornável da história da DC e ponto mais alto da passagem dos autores pela revista dos Novos Titãs, O Contrato de Judas está finalmente em português!
Texto publicado originalmente no jornal Público de 22/04/2016

terça-feira, 10 de maio de 2016

Super-Heróis DC 12 - Batman: O Regresso do Joker

Como prometido, prossegue a publicação diária dos textos para a Colecção Super-Heróis DC que faltava colocar no blog, com O Regresso do Joker, um dos melhores livros desta colecção que não teve o espaço que merecia no texto do Público. neste caso, não é grave, pois o editorial também é meu. Um editorial que, curiosamente, foi escrito para a primeira colecção da Levoir dedicada à DC e que na altura acabou por não sair, pois o livro foi vetado pela Panini, por na altura estarem a ser distribuidas nas bancas as sobras das edições brasileiras que traziam as histórias do Batman do Snyder e do Capullo. Mais de um ano depois, o texto foi finalmente publicado, mas com pequenos cortes impostos pela DC.

JOGO DE MÁSCARAS

No mais conseguido dos filmes que fez para Hollywood, John Woo, o mestre do cinema de Hong Kong que revolucionou os filmes de gangsters, com obras como The Killer, ou A Better Tomorrow, filma uma intriga em que Nicolas Cage, no papel de um criminoso e John Travolta, como o polícia que o persegue, trocam literalmente de cara, e assumem a vida um do outro, transformando na sua máscara, o rosto do seu inimigo. Esse filme chama-se Face Off e esse título encaixaria como uma luva à história do Batman que vão ler de seguida, pois se no filme de Woo o rosto do rival se transforma na máscara de cada um dos protagonistas, o que permite a Travolta e a Cage jogar com os tiques de representação do parceiro, o Joker aqui vai ainda mais longe e transforma o seu próprio rosto na sua máscara.
Na sequência da reformulação das revistas do universo DC com o lançamento da linha Novos 52, o maior dos vilões desse universo, o Joker, esteve ausente das páginas da principal revista do Batman durante um ano, enquanto, como já vimos nesta colecção, Scott Snyder e Greg Capullo enriqueciam a mitologia do Cavaleiro das Trevas, introduzindo a Corte das Corujas, uma sociedade secreta que controlava os destinos de Gotham há mais de uma centena de anos. Apenas terminada essa saga, o Joker regressou pelas mãos de Snyder e Capullo, numa das mais perturbadoras histórias do Batman de sempre, em que a tensão psicológica e o terror atingem níveis muito elevados.
Como o próprio Snyder refere numa entrevista, “o que aconteceu foi que a DC queria afastar o Joker para dar espaço a novos vilões que estavam a ser criados no âmbito da linha Novos 52, e eu disse-lhes que tinha uma ideia para uma história do Joker mais à frente. Tony (S. Daniel, o escritor da revista Detective Comics) tinha-se lembrado de um par de maneiras de fazer o Joker desaparecer por uns tempos. Falámos sobre essas diferentes hipóteses, de que ambos gostávamos e chegámos à conclusão que a história que mais lhe interessava contar, podia encaixar muito, muito bem na minha história”.
E foi assim que, no nº 1 da nova revista Detective Comics, em Novembro de 2011, o Joker se deixa capturar pelo Batman e é levado para o Asilo Arkham, onde convence o Dollmaker a remover-lhe cirurgicamente o rosto. Rosto que é deixado pregado como uma relíquia na parede da sela, enquanto o Joker, tal como uma serpente que deixa para traz a antiga pele, desaparece deixando o que resta da sua face na mão das autoridades.
Só no nº 12 da revista Detective Comics, numa história curta de James Tynion IV, um jovem escritor lançado por Snyder no mundo dos comics, ilustrada por Szymon Kudranski, cujo título The Tell Tale Face, remete para The Tell Tale Heart o conto de terror de Edgar Alan Poe, o peso da presença da cara do Joker na esquadra de Gotham é evocado, numa história que prepara o leitor para o eminente regresso do sorridente vilão, cujo rosto descarnado é escondido pelas sombras e que, por isso foi escolhida para abrir este volume.
Assim, depois de um ano desaparecido, planeando o seu regresso, o Joker está de volta, para atacar o Batman através daqueles que lhe são queridos, mas primeiro vai recuperar o seu rosto, numa impressionante sequência, em que, jogando com as sombras e sugerindo muito mais do que mostram, Snyder e Capullo criam momentos de puro terror. Momentos que culminam, no final do primeiro capítulo, com a revelação da nova imagem do Joker, em que o rosto que perdeu se transforma na sua máscara, uma máscara presa à carne viva por correias de couro. Uma imagem fortíssima, que não consegue deixar de evocar um ícone do terror cinematográfico, o personagem Leatherface do filme Texas Chain Saw Massacre, de Tobe Hopper.
E se virmos bem, mais do que uma saga de super-heróis, este O regresso do Joker, é uma história de terror psicológico, o que acaba por ser natural, pois tanto Scott Snyder como Greg Capullo têm grandes ligações ao género. Capullo estreou-se na BD ilustrando Gore Shriek, um comic de terror para adultos, enquanto Snyder, ainda antes de se dedicar à BD, se estreou como escritor em 2006 com Voodoo Heart, uma recolha de contos de terror, dois dos quais foram selecionados por Stephen King para a antologia The Best American Short Stories, de 2007. O mesmo Stephen King que vai colaborar com Snyder em American Vampire, a série que este último lançou na Vertigo em 2010 e que o tornou um nome popular e prestigiado junto dos leitores de comics.
Mas, embora crie uma história que acentua o lado negro do Cavaleiro das Trevas, Snyder não esquece o contributo dos autores que o antecederam para a mitologia da personagem e do seu maior inimigo. Assim, se o título original desta saga, Death of the Family, remete para o clássico Death in the Family, de Jim Starlin e Jim Aparo, em que o Joker mata Jason Todd, o segundo Robin, essa não é a única das grandes histórias com o Joker a ser evocada. Ao colocar o Joker a reencenar alguns dos seus crimes mais famosos, Snyder homenageia histórias clássicas, como The Killing Joke, de Alan Moore e Brian Bolland, já publicado na 1ª série dedicada ao Universo DC, The Man who Laughs, de Ed Brubaker e Doug Mahnke e o incontornável Asilo Arkham de Grant Morrison e Dave McKean, também já editado pela Levoir. O que não impede que este Regresso do Joker, pela forma como explora a relação do Batman com os seus amigos e aliados mais próximos e como estes, ao tornarem-se alvos preferenciais do Joker, se revelam a sua maior vulnerabilidade, se aproxime até mais de outro título publicado já publicado pela Levoir, em que a participação do Batman é bastante limitada. Refiro-me à Crise de Identidade, de Brad Meltzer e Rags Morales, que mostrava que a maior fragilidade dos super-heróis residia na incapacidade de proteger aqueles que amam e lhes são próximos, dos ataques dos seus inimigos.
Se o talento de Snyder para escrever histórias do Batman inesquecíveis, já não é surpresa para ninguém desde o magnífico Black Mirror, a escolha de Greg Capullo para ilustrar o Batman na principal revista da linha Novos 52, foi recebida com surpresa, pois o desenhador, cuja carreira está sobretudo associada à sua colaboração com Todd McFarlane na série Spawn, durante perto de vinte anos, estava longe de ser uma escolha óbvia para desenhador do Cavaleiro das Trevas.
Mas a verdade é que Capullo revelou-se um dos melhores desenhadores do Batman deste século, adaptando o seu estilo, bastante mais legível sem a arte-final de McFarlane, às necessidades da personagem e influenciando a própria narração de Snyder. Um escritor que, embora habituado a escrever argumentos extremamente detalhados, em que nada é deixado ao acaso, foi gradualmente dando maior autonomia a Capullo, que nesta história assume a principal responsabilidade pela planificação e colabora também na própria evolução da história. Como refere Snyder, “no fim de contas, o que Greg (Capullo) traz para a história não é só o que está na página, em termos artísticos. De um ponto de vista visual, ele discute a história comigo e contribui com ideias. Ele é realmente o co-autor, o co-criador das histórias. Quem gosta deste Batman devia agradecer ao Greg Capullo, porque ele é fundamental em fazer do Batman aquilo que é aqui.”
O efusivo endosso de Snyder não ficou por aqui: “O Greg Capullo é um mestre da expressão. Ele é mesmo, mesmo bom a fazer com que as personagens contem a história através de expressões faciais e gestos, e também é mesmo, mesmo bom tanto em sequências de acção como em cenas estáticas. Com o Greg, em vez de ter personagens a conversar longe do leitor, tento sempre mantê-las próximas, porque sei que ele é óptimo a acrescentar subtilezas às expressões delas”.
Conciliando tradição e modernidade, Scott Snyder e Greg Capullo construíram uma das melhores histórias do Batman da última década, trazendo uma dimensão ainda mais icónica ao mais carismático dos vilões do Universo DC. Uma história única, tão sombria como espectacular, que os leitores portugueses também vão poder descobrir já a seguir.

Super-Heróis DC 11 - Flash e Lanterna Verde: O Audaz e o Destemido


Na semana em que chega às bancas o último volume da colecção Super-Heróis DC, aproveito para pôr a escrita em dia e publicar aqui os textos que ainda faltam. Por isso, esta semana, teremos um texto por dia, dedicado aos volumes da colecção ainda não publicados neste Blog. Aqui fica o primeiro.

FLASH E LANTERNA VERDE SÃO O AUDAZ E O DESTEMIDO

Super-Heróis DC Vol 11
Flash & Lanterna Verde: O Audaz e o Destemido
Argumento – Tom Peyer e Mark Waid
Desenho – Barry Kitson e Tom Grindberg
Quinta, 14 de Abril
Por + 9,90 €
Companheiros na Liga da Justiça, o Flash e o Lanterna Verde são dois dos mais carismáticos super-heróis do Panteão da DC, que vão dividir o protagonismo no volume da Colecção super-Heróis Dc que chega às bancas na próxima quinta-feira. Um volume preenchido com uma história cujo título evoca a mítica revista The Brave and the Bold, em cujas páginas os dois heróis se conheceram pela primeira vez, no nº 28, de 1960.
Desde Jay Garrick e Alan Scott nos anos 40, até Wally West e Kyle Rainer no século XXI, vários heróis vestiram o uniforme do Flash, ou usaram o anel do Lanterna Verde, mas para a grande maioria dos leitores, Barry Allen e Hal Jordan são o Flash e o Lanterna Verde definitivos e foram por isso os escolhidos por Mark Waid, Tom Peyer e Barry Kitson para protagonizarem esta história intemporal, que cobre todas as facetas da riquíssima história do Flash e do Lanterna Verde, e da amizade única que os une.
Publicada originalmente entre 1999 e 2000, como uma mini-série em 6 volumes, The Brave and the Bold viu a luz numa fase da história da DC em que tanto Barry Allen (que se sacrificou durante a Crise nas Trevas Infinitas, uma saga já publicada numa anterior colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC) como Hal Jordan, estavam mortos, sendo pensada como evocação nostálgica, em que não falta um toque de humor, da riquíssima trajectória dos mais importantes Flash e Lanterna Verde da história da DC.
Uma história que o argumentista Mark Waid conhece como ninguém e que vai homenagear, com o auxílio de Tom Peyer no argumento e do britânico Barry Kitson nos desenhos, em aventuras em que os dois heróis encontram os seus antecessores da Golden Age (o Flash e o Lanterna Verde dos anos 40), defrontam os seus principais inimigos e, sobretudo, revisitam algum dos mais importantes momentos da sua história, em episódios onde não faltam as piscadelas de olho aos fãs de longa data. Piscadelas que passam pela própria estrutura de cada história, dividida em três capítulos, como era norma nos anos 60 e por pormenores como os nomes das ruas no mapa que o Lanterna Verde dá ao Flash no capítulo 1, que evocam os principais criadores que escreveram ou desenharam as aventuras dos heróis ou longo destas décadas.
Mas a mais bela homenagem acontece no capítulo 4, dedicado a Neal Adams e Denny O’Neil em que Waid revisita a fase incontornável do Lanterna Verde Arqueiro Verde de Adams e O’Neil, durante a década de 70 (de que os leitores puderam ler uma selecção de histórias no volume Inocência Perdida, na primeira colecção dedicada á DC), com Barry Kitson a ceder temporariamente o lápis a Tom Grindberg, de modo a imitar melhor o traço único de Neal Adams.
Texto originalmente publicado no jornal Público de 08/04/2016