quarta-feira, 26 de maio de 2010

Iron Man regressa ao Cinema


Praticamente dois anos depois do primeiro filme, eis que Iron Man regressa às salas de cinema, novamente interpretado por Robert Downey Jr., mas desta vez na companhia de Mickey Rourke e Sam Rockwell, que interpretam os vilões de serviço, e Scarlet Johansson, na sua primeira aparição como a super-heroina e Agente da SHIELD, Natasha Romanoff, a Viúva Negra.
Depois do sucesso, comercial e crítico, do primeiro filme, que conciliava a acção e os efeitos especiais que se esperam de um block buster de Verão, com um humor que tem faltado a outras adaptações da Marvel, as expectativas para esta sequela eram grandes. Os excelentes números de bilheteira confirmam a expectiva do estúdio e a crítica também tem sido generosa mas, pessoalmente, acho que falta a este filme a frescura do primeiro, apesar de os vilões de serviço, Mickey Rourke como Ivan Vanko, um cientista russo que vai enfrentar Tonny Stark como Whiplash, e Sam Rockwell como o milionário e rival de Stark, Justin Hammer, darem muito boa conta do recado.
O carisma de Robert Downey Jr. continua enorme, embora sem o efeito surpresa do primeiro filme e o elo mais fraco do filme em termos de actores é mesmo Scarlett Johansson, cujo papel como Viúva Negra é pouco mais do que decorativo (embora há que concordar que a rapariga é mesmo muito decorativa…), apesar de uma boa cena de acção. Mas a sensação que dá é que a preocupação em ir estabelecendo as pistas para o futuro filme dos Vingadores, acaba por atrapalhar um pouco o fluir da narrativa, não obstante Samuel L. Jackson ir muito bem no papel de Nick Fury, agora com um papel bastante maior do que no primeiro filme, em que aparecia apenas na cena extra no final da ficha técnica.
Ou seja, ao contrário do primeiro, este é um filme feito a pensar mais nos fãs da Marvel, do que no grande público. Há a preocupação de gerir o universo Marvel no cinema de uma forma coerente, com personagens como Nick Fury e a Viúva Negra a funcionarem como elemento de ligação entre diferentes filmes, num processo que irá culminar com o filme dos Vingadores. Por enquanto, as referências e as piscadelas de olho aos fãs da Marvel, são várias, com destaque para as alusões ao Capitão América., que vai chegar ao cinema em 2011. Apesar do cuidado com os fãs, não me parece que o grande público, com um conhecimento mais do superficial dos heróis da Marvel, saia defraudado, pois o humor continua presente e as cenas de acção, com destaque para o combate épico de Iron Man e Man Machine contra dezenas de robots teleguiados por Ivan Vanko, estão espectaculares.

Para terminar, resta-me dar um conselho aos fãs da Marvel. Não abandonem a sala mal o filme acaba e fiquem até ao fim da longa ficha técnica, pois só assim poderão ver a cena final, em que é aberto o caminho para o filme do Poderoso Thor, o próximo super-herói da Marvel a chegar ao grande ecrã.
(“Iron Man 2”, de John Favreau, com Robert Downey Jr., Mickey Rourke e Scarlett Johansson, Marvel Studios/ Paramount, em exibição em Coimbra nos cinemas Lusomundo Dolce Vita e Lusomundo Coimbra Fórum)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 22/05/2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Imprensa Canalha


Num tempo em que muitos se rendem à impressão digital, ou trocam a edição em papel pelo suporte virtual da Internet, ou dos e-books, ainda há quem cultive o livro como objecto artesanal, recuperando velhas técnicas de impressão, da gravura à serigrafia.
É o que acontece com a Imprensa Canalha, uma pequena editora independente de Lisboa, que trata cada edição como um objecto único, tanto em termos de concepção como de produção. Um projecto amador, cujas edições, sem distribuição no circuito comercial, só podem ser adquiridas mediante subscrição, em acontecimentos como as Feiras Laicas ou em algumas Livrarias especializadas.
O cérebro (e as mãos) por detrás da Imprensa Canalha, pertencem a um homem de Coimbra, José Feitor, que aí nasceu em 1972 e se licenciou na Faculdade de Letras da UC. Mas foi já na cidade de Lisboa que surgiu, em 2001, o seu anterior projecto, o saudoso fanzine Zundap, publicação amadora cuja numeração aleatória (o número a aparecer na capa de cada edição era escolhido ao acaso) irritava sobremaneira os completistas. Com uma mancha gráfica limpa e um predomínio do texto sobre a imagem, nos primeiros números essencialmente a cargo de Feitor, a Zundap terminou a sua corrida em 2005, com um nº 100, onde havia lugar para a música, de Hank Williams a Caetano Veloso, mas também para a Banda Desenhada, com uma entrevista a Marjane Satrapi, a autora de Persepolis e uma BD de Artur Varela, nome esquecido para cuja divulgação a Zundap assumiu um papel importante.
Encostada a Zundap na garagem, chegaria a vez do projecto mais ambicioso da Imprensa Canalha que, nas palavras do seu fundador é “um projecto editorial independente que se propõe publicar material impresso de natureza gráfica. Partindo de uma lógica de produção e distribuição que se radica no mundo dos fanzines, a Imprensa Canalha propõe-se optimizar gradualmente as suas publicações sem perder de vista as suas premissas enquanto entidade alternativa de edição.”
A primeira edição da Imprensa Canalha, em 2006, foi o fanzine Néscio, uma “revista portuguesa de idâias” (sic), que tinha como propósito fazer um exercício gráfico de observação e comentário ao quotidiano do país, que se revela uma “fonte inesgotável de inspiração, tanto no que diz respeito aos conteúdos como às imagens”. Impresso a laser a preto e branco, com capa de cartolina, Néscio não se afasta em termos de produção do que é habitual nos fanzines, incluindo o Zundap, não deixando de revelar um toque de apuro e um cuidado extra que se tornarão imagem de marca da Imprensa Canalha, neste caso dado pelo CD Amálgama Sonora Nacional, (Portugal, de Hermínia Silva aos Ocaso épico), uma colagem sonora feita por Filipe Leote, que acompanha a edição. A gradual optimização das produções da Imprensa Canalha é bem visível em Babinski, o quarto título lançado, numa cuidada edição, em que a alta gramagem do papel e o formato pouco habitual do livro, no chamado “formato italiano”, sobre o deitado, valorizam as notáveis ilustrações de Luís Henriques, autor que venceu em 2007 e 2009 o prémio para o Melhor Desenhador Português, no Festival de Banda Desenhada da Amadora. Um belíssimo livro, que se revelou também um sucesso comercial, com a tiragem de 500 exemplares praticamente esgotada.
Alternando formatos e autores, com José Feitor a assegurar pela sua parte três títulos, Mundo dos Insectos, Animais! e Raças Humanas, que constituem uma trilogia que traça “uma dissertação gráfica à volta da natureza humana, na sua interacção com os outros animais e consigo própria”, a Imprensa Canalha já tem 12 edições publicadas em três anos, estando a caminho um 13º título, Satanic Holidays/Days of Celebration, de José Cardoso. O mais ambicioso dos títulos lançados, até agora, é Derby, uma edição em grande formato, toda impressa em serigrafia, por método directo (com as imagens a serem desenhadas directamente em quadros de serigrafia) que reúne10 ilustradores, cinco de Lisboa (André Lemos, João Maio Pinto, Filipe Abranches, Júcifer e Luís Henriques) e cinco do Porto (Marco Mendes, Miguel Carneiro, Nuno de Sousa, Carlos Pinheiro e José Cardoso), num duelo gráfico Norte/Sul, tal como os duelos futebolísticos para que o título remete (embora erradamente, pois um derby é um duelo entre duas equipas da mesma cidade, ou da mesma região). Revelando a aposta em diferentes materiais e formatos, Portugal, 1973 e Flims, são dois DVDs que recolhem pequenos filmes de Artur Varela, criador multimédia que volta a ser editado por Feitor, depois do fanzine Zundap, enquanto que Cabeça de Ferro, uma antologia sobre a Revolução Industrial, que além do próprio Feitor, conta com a colaboração de ilustradores como Filipe Abranches, Luís Henriques, João Maio Pinto e Richard Câmara, está encadernada com parafusos e tem como banda sonora o CD Amálgama Sonora Industrial, uma colagem sonora de Filipe Leote.
E o catálogo da Imprensa Canalha vai alargar-se ainda mais, com a criação de uma colecção dedicada à literatura infantil, onde escritores e ilustradores convidados, se associam para criar um livrinho de formato quadrado (12 cmx12 cm) para crianças, impresso em serigrafia a duas cores. O primeiro volume já está a ser escrito por Valter Hugo Mãe e conta com ilustrações de Rosa Baptista.
Mas os projectos de José Feitor nesta área não se ficam pela Imprensa Canalha. Acabada de criar está a Oficina do Cego, uma associação cultural sem fins lucrativos, fundada em 2009, que tem como objectivo “a promoção das artes gráficas, através da prática e da divulgação de diferentes técnicas de impressão, da formação no âmbito das técnicas e da sua história, da edição de autor em pequenas tiragens.”
Esta associação que se perspectiva como “laboratório para a produção de livros de artista e objectos impressos afins, em todas as suas vertentes, integrando todas as suas fases de prossecução”, conforme pode ler-se no seu manifesto/nota de apresentação, agrupa, além de uma série de ilustradores que já têm colaborado com a editora, como João Maio Pinto e Luís Henriques, e de António Miguel Coelho, responsável pelo Atelier de Serigrafia Mike Goes West, os “teóricos” Pedro Vieira de Moura e Sara Figueiredo Costa.
Resta esperar para ver o que este colectivo vai fazer em termos da exploração das inúmeras possibilidades da impressão artística, mas tendo em conta os nomes envolvidos e o excelente trabalho feito até agora pela Imprensa Canalha, não restam grandes dúvidas que o objectivo da Associação de “contribuir para uma qualidade acrescida na paisagem da edição de autor em Portugal”, será plenamente cumprido.
Texto originalmente publicado no nº 28 da revista "Rua Larga", editada pela Reitoria da Universidade de Coimbra em Abril de 2010. Agradecimentos ao Pedro Dias da Silva pelo convite e ao José Feitor pelas correcções.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Morreu Frank Frazetta


Na passada segunda-feira, dia 10 de Maio, faleceu Frank Frazetta, o mais importante ilustrador de fantasia do século XX, com uma obra consistente também em termos de Banda Desenhada e que, a par com Jack Kirby, terá sido o artista que mais influenciou a cultura popular americana em geral e o mundo dos comics em particular.
Falecido aos 82 anos, num hospital da Florida, na sequência de um ataque cardíaco, Frazetta estava já retirado e, ao que consta, num estado de saúde bastante debilitado. Aquando da morte da sua mulher, Ellie em 2009, que tinha criado um museu dedicado à obra do seu marido, numa propriedade da família, na Pensilvânia, a disputa entre os filhos pelo espólio do artista, que envolveu até a prisão de um deles, apanhado pela polícia a tentar tirar algumas das obras do pai do Museu, durante a noite, parece confirmar os rumores de que Frank Frazetta sofria de demência senil, estando incapaz de assegurar a gestão e manutenção da sua obra.
Nascido em Brooklyn em 1928, Frazetta iniciou a sua carreira como autor de Banda Desenhada aos 15 anos, trabalhando como assistente do desenhador Bernard Baily, tendo publicado diversos trabalhos em pequenas editoras, antes de colaborar com a EC Comics e com a DC, mas, com a excepção d e "Th'unda" e da série “Johnny Comet”, que escreveu e desenhou, o grosso do seu trabalho em Banda Desenhada foi feito como assistente de Al Capp em “Li’l Abner” e de Dan Barry em “Flash Gordon”.
Mas, para lá da Banda Desenhada, a que voltaria na revista “Creepy” da editora Warren, em meados da década de 60, o que tornou o nome de Frazetta inesquecível para os fãs da fantasia e da ficção científica, são as pinturas e ilustrações que fez para capas de livros, com destaque para as reedições de “Conan”, de Robert E. Howard, em que a imagem criada por Frazetta, que confessou anos mais tarde que nunca tivera paciência para ler os livros de Howard, serviu de modelo para a maioria das interpretações de Conan, na BD ou no cinema.
Frazetta foi também autor de cartazes para filmes de Roman Polansky, Clint Eastwood e até Quentin Tarantino e Robert Rodriguez (é dele o cartaz de "From Dusk Till Dawn"), actividade em que se estreou em 1965 com a ilustração para o cartaz do filme escrito por Woody Allen, “What’s New Pussycat”, trabalho que, segundo o próprio Frazetta, lhe permitiu ganhar numa tarde de trabalho, o mesmo que ganhava num ano, durante o início de carreira.
Senhor de uma técnica pictórica apuradíssima, Frazetta conciliava o rigor do traço com o equilíbrio da composição, que normalmente seguia uma estrutura triangular, para criar imagens que atraiam instantaneamente o olhar do leitor e que contavam, elas próprias, uma história muitas vezes superior ao material escrito que lhe servia de ponto de partida. Daí que a editora Image tenha lançado recentemente um punhado de revistas, com histórias tendo como ponto de partida as mais icónicas imagens de Frazetta, como “The Death Dealer”, em que, mais uma vez, o resultado final fica muito aquém das ilustrações de Frazetta que as inspiraram.
Verdadeiro virtuoso da ilustração, tanto em termos do desenho anatómico como no trabalho de cor, Frazetta era um talento em estado puro, com uma facilidade no traço espantosa, de tal forma que, depois de ter tido um AVC em 1995, que o deixou incapaz de usar a mão direita, Frazetta, que era dextro, passou a desenhar e pintar com a mão esquerda com os mesmos resultados.
Nas suas imagens, de grande dinamismo, coexistiam uma grande sensualidade, aspecto que já tive ocasião de referir aqui e aqui, e uma grande violência e dramatismo, com as cenas de combate que pintou a serem tão inesquecíveis como as princesas que e guerreiras que nelas apareciam.
Influência evidente em autores e ilustradores tão diferentes como Simon Bizzley, Mark Schultz, Mike Mignola ou Neal Adams, Frazetta tem sido sucessivamente redescoberto pelas novas gerações de leitores, criadores e coleccionadores, não admirando, por isso, que uma das ilustrações para uma capa de de Conan tenha sido vendida por um milhão de dólares, num leilão realizado em Novembro de 2009.
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 15/05/2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Kick-Ass, da BD para o Cinema


Estreado há pouco mais de 2 semanas em Portugal e ainda em exibição em Coimbra, nos cinemas do Fórum Coimbra, “Kick-Ass” é mais uma adaptação de uma Banda Desenhada que chega ao grande ecrã. Escrita por Mark Millar (que já tinha visto outra série sua, “Wanted”, adaptada ao cinema) e desenhada por John Romita Jr. (com quem Millar já tinha colaborado em “Wolverine Enemy of the State”), “Kick-Ass”, a BD que está inédita em Portugal, aborda o que aconteceria se um adolescente normal sem quaisquer poderes, decidisse seguir o exemplo das histórias que lê nas revistas de comics e combater o crime vestido como um super-herói.
Uma premissa que não é nova, mas que é aqui tratada de uma forma diferente, simultaneamente realista (a violência tem consequências e o herói sofre-as bem na pele), mas cheia de piscadelas de olho aos leitores de comics de super-heróis. A revista, editada pela Icon, a linha da Marvel dedicada aos projectos autorais, foi um enorme sucesso de vendas, precisamente porque os leitores se identificaram com Dave, o adolescente “nerd”, que veste um fato de esqui verde e amarelo e decide combater o crime como Kick-Ass.
Tendo em conta a inacreditável violência da história, representada de forma bastante gráfica, seria difícil arranjar um estúdio disposto a produzir o filme, sem impor grandes alterações, mas também aqui Mark Millar teve sorte, pois Mattew Vaughn, o produtor dos primeiros filmes de Guy Ritchie e realizador de “Stardust”, a partir de um conto de Neil Gaiman, comprou os direitos logo depois de ter lido o argumento dos dois primeiros números. Como o próprio refere: “Estávamos a fazer o filme ao mesmo tempo que os comics iam saindo. Escrevemos o guião em três semanas e filmámos tudo em três meses”
Com Vaughn a adaptar o comic em conjunto com Jane Goldman, com quem já tinha colaborado em “Stardust” e a funcionar também como director e produtor, o filme foi produzido e financiado de forma independente, com o apoio de alguns amigos poderosos de Vaughn, como Brad Pit, que surge como produtor, e só posteriormente se procurou um Estúdio que o distribuísse, o que permitiu manter intactas as características únicas do filme, como a personagem da “Hit-Girl”, uma menina de 11 anos mais mortífera do que um exército de ninjas e com uma linguagem capaz de fazer corar um carroceiro… Se o leitor gostou do “Kill Bill” de Tarantino, irá certamente adorar esta personagem, interpretada de forma espectacular por Chloe Moretz.
Bastante fiel à BD, com excepção do final, bastante menos sangrento e mais pirotécnico no cinema, o filme conta com Nicolas Cage, fã assumido de BD que, depois do Superman de Tim Burton que nunca passou da pré-produção, e do papel principal no indigente “Ghost Rider”, tem finalmente oportunidade de concretizar o sonho de fã e entrar num bom filme baseado numa BD, desempenhando o papel de Big Daddy, um ex-polícia que, incentivado pelo exemplo de Kick-Ass, decide arranjar um fato de super-herói e combater o crime pelas próprias mãos.
Se o personagem de Kick-Ass tem o Homem-Aranha como inspiração óbvia (mas sem os grandes poderes que trazem grandes responsabilidades), já o Big Daddy é uma mistura de Punisher e Batman, aspecto que o uniforme usado no filme acentua.
Filme de fãs de BD, feito para fãs de BD, Kick-Ass é um excelente e contagiante divertimento, que tem o grande mérito de não se levar demasiado a sério. Se puderem leiam também o livro de Millar e Romita Jr, mas isso não é indispensável para poder apreciar o filme de Mattew Vaughn.
(“Kick-Ass: O Novo Super-herói”, de Mattew Vaughn, com Nicolas Cage, Aaron Johnson e Chloe Moretz, EUA/GB, cor, 117 min)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 8/05/2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

E agora, algo completamente diferente... e Glorioso!


Peço desculpa por esta pequena interrupção futebolística. A Banda Desenhada volta dentro de (poucos) dias. Até lá, fiquem com as melhores imagens do Benfica Campeão.

sábado, 8 de maio de 2010

O Regresso de Bernard Prince II


aqui falei do novo álbum de Bernard Prince, o 18º da série, em que Hermann está a trabalhar com o seu filho Yves H. como argumentista. Agora surge finalmente a capa do novo livro, "Menaces sur le Fleuve", que tem data de saída em França anunciada para Julho de 2010. E o próprio Yves revelou num fórum de discussão que, se este álbum vender bem, há projectos para continuar a série, mas numa versão mais actual e mais liberta da influência de Greg, ficando este 18º álbum como o último do ciclo gregiano. O que podem ser boas notícias, ou não. Vamos esperar para ver o que Yves consegue fazer com as personagens neste "Menaces sur le Fleuve"...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Combate Ilustrado


Chegou às livrarias há poucos meses o livro “O Combate Ilustrado”, obra que, apesar de não ostentar qualquer imagem na capa ocupada por um lettering rosa fluorescente sobre um fundo branco, contém no seu interior centenas de ilustrações de alguns dos maiores nomes da Banda Desenhada e ilustração nacional. Jornal publicado pelo Partido Socialista Revolucionário (PSR), uma das forças políticas que esteve na origem do Bloco de Esquerda, o “Combate” acolheu nas suas páginas um número impressionante de ilustradores e desenhadores que, por militância, ou amizade pelos editores do jornal, encheram as páginas do jornal com imagens e histórias desenhadas.
O livro que motiva este texto, recolhe uma selecção dos trabalhos de ilustração e BD publicados no “Combate”, entre 1986 e 2007, numa escolha coordenada por Jorge Silva, grande responsável pela abertura do “Combate” à ilustração, que assina também a nota de abertura e o arranjo gráfico do livro. E o trabalho de Jorge Silva como ilustrador é uma das agradáveis surpresas deste livro. Indiscutivelmente um dos melhores designers portugueses, Silva foi também um ilustrador extremamente versátil, como o provam os inúmeros trabalhos seus reproduzidos neste “Combate Ilustrado”.
A presença de Jorge Silva como Director de Arte e de João Paulo Cotrim como editor fez com que encontremos nas páginas do “Combate” vários nomes que assumirão grande importância em termos da Banda Desenhada nacional, como Nuno Saraiva (com várias ilustrações e uma deliciosa história sobre as afinidades entre Santana Lopes e Zita Seabra), Fernando Relvas (que criou a Ovelha Negra, a mítica mascote do PSR), Renato Abreu, Richard Câmara, Pedro Burgos, ou João Fazenda, de quem escolhi uma ilustração para acompanhar este texto.
Desconheço se os critérios que presidiram à escolha das ilustrações e Bandas Desenhadas presentes neste “ O Combate Ilustrado” foram apenas estéticos, ou ditados por questões mais pragmáticas, como a dificuldade de acesso a imagens com qualidade suficiente para reprodução, mas uma rápida análise à listagem de todos os ilustradores que publicaram no “Combate” entre 1986 e 2007, reproduzida no fim do livro, permite detectar as ausências neste livro de autores como Alex Gozblau, Filipe Abranches e José Carlos Fernandes.
No caso de José Carlos Fernandes, é mesmo a confirmação de uma relação complicada com o jornal “Combate”, publicação que chegou a vetar uma história sua. Mas deixemos que seja o próprio a contar esta história edificante, que mostra que, por vezes, a censura surge de onde menos se espera: “Ora aqui vai a história da vez em que fui vítima de “implacável censura política”: nos tempos (já lá vão uns 17 ou 18 anos) em que não tinha livros publicados e divulgava as minhas BDs em fanzines e revistas a título “benévolo” (como dizem os franceses), submeti material à LX Comics, que entretanto se extinguiu. O director da LX Comics, que também movia cordelinhos noutras publicações, propôs-me que publicasse antes o material no Combate, orgão informativo do então PSR. Assim aconteceu com uma primeira BD, chamada “Dessert Storm”, que misturava Rodolfo Valentino com a I Guerra do Golfo, mas o mesmo já não aconteceu com a segunda, “O dia em que o capitalismo caiu”. Foi recusada por Francisco Louçã, que não gostou que a dita BD brincasse com a figura de Lenin (esse Santo Homem!), embora a BD satirizasse também o capitalismo e o consumismo.
Espero com esta história pungente poder conquistar um lugar na Galeria dos Mártires da Liberdade de Expressão em Portugal.”
Tendo em conta que há vários autores representados por mais do que uma ilustração, a começar pelo próprio Jorge Silva, não deixa de ser pena as ausências atrás citadas. Não que isso não invalide a oportunidade e o interesse do “Combate Ilustrado”, que nos permite descobrir (ou redescobrir) trabalhos menos conhecidos de grandes nomes da ilustração e BD.
(“O Combate Ilustrado: de 1986 a 2007, Vários Autores, Edições Combate, 228 pags, 20.00 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 01/05/2010