quarta-feira, 26 de março de 2014

Batman no CNBDI na próxima quinta-feira


Este mês, nas habituais Às Quintas falamos de BD, os 75 anos de Batman vão estar em destaque.
Eu vou lá estar, em muito boa companhia de José de Freitas e Luís Salvado, para abordarmos a história do mais carismático super-herói dos Comics americanos. Da importância de Bill Finger e Jerry Robinson na criação do universo de Batman, aos contributos de Neal Adams e Frank Miller na sua modernização, passando pela sua presença na televisão e no cinema, até à tardia chegada aos quiosques e livrarias nacionais, tudo será tratado. Vai ser a partir das 21h de quinta-feira, dia 27 de Março, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora. Apareçam!

quarta-feira, 19 de março de 2014

As 10 Melhores BDs que li em 2013 - Parte 2





















6 - Hawkeye, de Matt Fraction e David Aja, Marvel

Herói de segundo plano da Marvel, que ganhou outro destaque graças à sua presenção no filme dos Vingadores, Hawkeye durante muitos anos não passou de uma cópia manhosa do Arqueiro Verde da DC, com a agravante de ter um uniforme bastante ridículo, que felizmente acabou por ser alterado na BD para ficar mais parecido com o filme. Mas este Hawkeye, parafraseando os Monty Phyton, é algo completamente diferente. A mais inovadora e divertida série da Marvel, que conjuga um argumento centrado na vida civil de Clint Barton, quando este não está a combater o crime ao lado dos Vingadores, com a arte extraordinariamente estilizada e elegante de David Aja, que por vezes conta com a colaboração de outros desenhadores como Javier Pulido.Classe e elegância são os adjectivos que melhor definem esta série.





















7 - Le Roi des Mouches, Mezzo e Pirus, Albin Michel 

Com a série em três volumes Le Roi des Mouches, os franceses Mezzo e Pirus vão ainda mais longe na exploração do seu mundo muito particular, marcado por uma planificação cerrada, que acentua a sensação de opressão, onde se cruzam as influências de Charles Burns, David Lynch, David Cronemberg  e Brett Easton Ellis. Tão fascinante como perturbador.




















8 - Os Labirintos da Água, de Herberto Helder e Diniz Conefrey, Quarto de Jade

Já tive oportunidade de falar aqui deste livro, pelo que não me vou alongar mais. Perfeita articulação entre a poesia de Herberto Helder e a força das imagens de Diniz Conefrey, este Os Labirintos da Água é pura poesia desenhada.




















9 - Saga, de Brian K. Vaughn e Fiona Staples, Image

A nova série do criador de Ex Machina e Y, the Last Man mistura Romeu e Julieta com Star Wars, mas neste caso o resultado final consegue ser superior à mera soma das partes. Com personagens tão estranhas como cativantes, fantásticos diálogos de Brian K. Vaughn e um excelente trabalho gráfico de Fiona Staples, esta série tem conhecido um sucesso crescente. Sucesso mais do que merecido.




















10 - Sex Criminals, de Matt Fraction e Chip Zdarsky , Image

Para mim, a grande surpresa de 2013, esta série vem confirmar  a qualidade e diversidade do actual catálogo da Image, editora que tem sabido explorar muito bem o espaço no mercado que o sucesso comercial de The Walking Dead lhe abriu. A nova proposta de Matt Fraction gira em torno de uma rapariga que descobre que o tempo para em seu redor quando tem um orgasmo e que depois de descobrir um rapaz com a mesma capacidade, decidem  usar esses poderes para roubar um Banco e conseguir dinheiro para salvar a livraria em que trabalha. É essa premissa que explica o Criminals do título, mas a parte do Sex, enquanto reflexo das emoções humanas, acaba por ser bem mais importante. Alternando um registo intimista, com muito humor e um ligeiro toque de fantasia, esta série confirma a versatilidade da escrita de Fraction e o seu talento para escolher os parceiros, pois o traço com um toque europeu de Chip Zdarsky, um desenhador vindo da ilustração publicitária, é delicioso e o seu excelente trabalho de cor só o valoriza mais.

segunda-feira, 17 de março de 2014

300: O Início de um Império



Sete anos depois da estreia nos cinemas de 300, o filme de Zack Snyder que adaptava a BD de Frank Miller sobre a batalha das Termópilas que opôs 300 guerreiros espartanos ao poderoso exército persa do Imperador Xerxes, chega às salas de cinema o filme 300: O início de um Império, desta vez com Zack Snyder, ocupado com a rodagem de O Homem de Aço, apenas como produtor, cedendo a realização a Noam Murro.
Embora decorra no mesmo universo de 300, este filme que estreou em Portugal no passado dia 6 de Março, não é exactamente uma sequela, nem uma prequela, embora partes do filme decorram tanto antes, como depois dos acontecimentos descritos em 300. Neste novo filme, a perspectiva é mais global e, em vez de se centrar num único combate, apresenta uma visão de conjunto das Guerras Médicas, os confrontos entre gregos e persas, de que a batalha das Termópilas foi um momento importante, mas não único.

Assim, a história de 300: O Início de um Império” começa em 490 A.C., com a batalha de Maratona e termina em 480 A.C. com a batalha de Salamina, em que a armada grega, comandada pelo general ateniense Temístocles derrota a frota persa de Xerxes. Temístocles é mesmo o protagonista deste filme, tal como Xerxes, cuja ascensão a Imperador/Deus dos Persas é explicada aqui. Mas quem rouba completamente o filme é Artemísia, uma mulher guerreira de origem grega interpretada por Eva Green, que comanda as tropas de Xerxes.  Embora a Artemisia do filme seja uma vitima dos gregos, que a escravisaram e que um chefe Persa, transformou numa formidável guerreira, que vai ter um papel decisivo da transformação de Xerxes de príncipe herdeiro num Deus vivo, a Artemísia do filme é (vagamente) inspirada numa figura histórica.  Uma nobre de ascendência grega, Artemísia I de Cária, que após a morte do marido assumiu o comando do Reino de Halicarnasso, que era aliado dos Persas e, nessa qualidade, participou na armada persa, comandando cinco navios do seu reino, tendo a sua corajosa actuação na batalha de Salamina sido elogiada pelo historiador Heródoto.

Não primando pelo rigor histórico, tal como o primeiro filme, este novo “300” é visualmente espectacular, com cenas de acção muito bem coreografadas e melhor filmadas, mas que depois do primeiro filme e da série “Spartacus” ter usado essa mesma estética quase à exaustão, já não surpreende minimamente o espectador. Do mesmo modo, Sullivan Stapleton, como Temístocles, não tem o carisma do Leónidas de Gerard Butler e a narração em voz off de Lena Headey (a famosa Cersei Lannister da série “Game of Thrones”, que regressa no papel de mulher do Rei espartano Leónidas, num papel bastante mais desenvolvido) que dá o enquadramento histórico da acção, é irritantemente explicativa e redundante para um público que não seja o público americano médio.

Mesmo assim, quem gostou do primeiro “300”, não deverá ficar desiludido com esta nova viagem estilizada à Antiguidade Clássica segundo Frank Miller. Muito especialmente graças ao desempenho carismático de Eva Green, a belíssima actriz francesa que irá regressar ao universo de Frank Miller ainda este Verão, no papel de Ava, a mulher fatal protagonista do segundo filme da série “Sin City”.
Quanto aos fãs de Frank Miller (se ainda os houver, depois de “Holy Terror” e do filme do “Spirit”..), resta esperar que o desenhador termine a mini-série “Xerxes”, que serviu de ponto de partida a este “300: o Início de um Império”, para se poder discutir se é melhor o filme, se o livro…
 (“300: O Início de um Império”, de Noam Murro, com Rodrigo Santoro e Eva Green, Warner Bross/ Legendary Pictures, 2014. Em exibição em Coimbra nos cinemas Zon Lusomundo Dolce Vita e Fórum Coimbra)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 14 de Março de 2014

quarta-feira, 12 de março de 2014

As 10 Melhores BDs que li em 2013 - Parte 1




Ao contrário do ano passado, em que consegui colocar a minha lista online logo no início de Janeiro, desta vez foi preciso esperar quase três meses... Mas, mesmo  com grande atraso, pelo qual peço desculpa aos leitores (se os houver...) deste blog, aqui esta ela!.
Como sempre, a lista refere-se a livros que li em 2013, independentemente da data original de publicação. Também como habitualmente, a lista é apresentada por ordem alfabética, não estabelecendo qualquer hierarquia entre os títulos que a integram.
Mantendo a tradição, aqui ficam os cinco primeiros títulos. Os restantes serão postados durante a próxima semana.



















1 - Ardalén, de Miguelanxo Prado, Asa

No regresso à BD após anos de ausência, Miguelanxo Prado assina um dos melhores e mais ambiciosos trabalhos da sua carreira. Complexa e poética reflexão sobre a memória, repleta de imagens belíssimas, como é habitual no autor, Ardalén fecha com chave de ouro a trilogia marítima de Prado, iniciada com Traço de Giz e prosseguida com De Profundis. Imperdível!



















2 - Billy Bat, de Naoki Urasawa e Takashi Nagasaki, Pika

 Decididamente, Naoki Urasawa é um dos mais fascinantes criadores a trabalhar no campo da BD. Seja no Ocidente, ou no Oriente. Desta vez, Urasawa, que volta a contar com Takashi Nagasaki, que já tinha trabalhado com ele em Pluto, como co-argumentista, conta a história de Kevin Yamagata, um desenhador americano de origem japonesa, que descobre que a sua mais popular criação, um morcego detective chamado Billy Bat, pode ter sido inconscientemente copiada de um desenho que viu no Japão, enquanto lá esteve a cumprir o serviço militar. No seu regresso ao Japão, para encontrar o criador original de Billy Bat, Yamagata vê-se envolvido numa complexa conspiração que lhe pode custar a vida e descobre que o símbolo de Billy Bat estava presente em momentos-chave da história da humanidade, marcando a vida de personagens como Judas Iscariotes, São Francisco Xavier, Lee Harvey Oswald e até Neil Amstrong, que ao chegar à Lua descobre traçado numa cratera lunar o símbolo de Billy Bat. Ainda em curso de publicação no Japão, este parece ser o projecto mais ambicioso de Urasawa e, até agora, tão viciante quanto Monster, ou Pluto




















3 - Chew, de John Layman e Rob Guillory, Image 

Apesar dos vários prémios e das excelentes críticas, confesso que só no ano passado, quando Chew já tinha passado os 30 fascículos, dos 60 previstos, é que decidi prestar a devida atenção a esta divertida série da Image. O motivo da demora foi o traço caricatural de Rob Guillory, que devo confessar, não me entusiasmou nada...
Mas a verdade é que o desenho funciona bem no contexto desta história policial, tão divertida como delirante, protagonizada por Tony Chu, o detective cibopata, cuja capacidade de sentir a vida inteira daquilo que ingere, se revela muito útil no seu trabalho. Passada num futuro próximo, em que uma estirpe especialmente potente da gripe das aves provocou milhões de mortes e a proibição da venda e consumo de carne de frango, Chew é uma das séries mais originais em publicação no mercado americano.



















4 - El Heroe, de David Rubin, Astiberri

Depois de obras mais intimistas como El Circo del Desaliento, o autor galego David Rubin lançou-se no ambicioso projecto de transpôr a lenda de Hércules para a BD. Só que conta as façanhas do herói da mitologia grega como se fosse um comic de super-heróis desenhado por Jack Kirby, com resultados tão inesperados como estimulantes, muito por força do grande talento narrativo de Rubin que, terminados os dois volumes de El Héroe, já usou o mesmo processo noutro clássico da mitologia. a saga de Beowulf, desta vez em parceria com Santiago Garcia, que adaptou o poema épico.


















Fatale, de Ed Brubaker e Sean Phillips, Image

Depois de terem revolucionado o policial negro com Criminal, Brubaker e Phillips regressam às histórias policiais num registo bastante menos clássico, em que a intriga policial se articula com o terror, num ambiente inspirado pelos contos de H. P. Lovecraft. A protagonista desta história, inicialmente prevista para 12 episódios, mas que afinal, vai ter 24, é Josephine, ou Jo, a "femme fatale", cuja capacidade de sedução sobrenatural acaba por se revelar uma maldição. O grande truque de Brubaker nesta série consiste em alternar a perspectiva e contar a história do ponto de vista da mulher fatal, que só o é porque precisa de sobreviver. Exemplo perfeito da total empatia de dois grandes criadores no auge das suas capacidades, Fatale tem tudo para agradar aos fãs do policial como do fantástico.   

domingo, 9 de março de 2014

ALIAN RESNAIS (1922-2014), O CINEASTA QUE GOSTAVA DE BANDA DESENHADA



Nome maior do cinema francês e uma das figuras de proa da Nouvelle Vague, o cineasta Alain Resnais, falecido em Paris no último sábado, dia 1 de Março, com 91 anos, duas semanas depois do Festival de Cinema de Berlim ter premiado o seu último filme, Aimer, Boire e Chanter, era um grande apreciador de Banda Desenhada e a sua obra cinematográfica reflecte isso mesmo.

São essas ligações entre Alain Resnais e a BD, que na generalidade os obituários dos jornais ignoraram, que aqui vos deixo. Grande leitor de Banda Desenhada, não só francesa, como americana, Resnais está ligado às primeiras manifestações ocorridas em França, durante a década de 60 do século XX no sentido da legitimação cultural da BD, integrando como vice-presidente o C.E.L.E.G. (Centro de Estudos sobre as Literaturas de Expressão Gráfica), uma instituição dedicada ao estudo e divulgação da BD, criada em 1962 por Francis Lacassin e a que, além de Resnais estiveram ligados outros cineastas com grandes ligações à BD, como Fellini e Jodorowsky.
Na revista trimestral Giff-Wiff, editada pelo C.E.L.E.G., o cineasta publicou artigos sobre a série Dick Tracy e uma extensa entrevista com Lee Falk, o criador de Mandrake e do Fantasma, que anos mais tarde, Vasco Granja traduziu em capítulos na edição portuguesa da revista Tintin.


A admiração de Resnais por Lee Falk é visível desde logo no documentário sobre a Biblioteca Nacional de França, Toute la Memoire du Monde, de 1956, onde, no meio do espólio da Biblioteca aparece uma revista do Mandrake, de Lee Falk, que pertencia não à Biblioteca Nacional, mas à colecção pessoal do realizador. O mesmo realizador que citava frequentemente em entrevistas a série Mandrake como uma das principais influências do filme O Último Ano em Marienbad, mesmo que essa influência não seja nada evidente para o espectador… Entre os projectos cinematográficos não concretizados de Resnais, estão uma adaptação do álbum de Tintin, A Ilha Negra, nos anos 50 e dois filmes para o mercado americano, na década de 80, com argumento de Stan Lee, o co-criador da maioria dos heróis da Marvel.

Mas, embora nunca tenha adaptado directamente nenhuma Banda Desenhada ao cinema, Alain Resnais recorreu por diversas vezes a criadores de BD nos seus filmes. O primeiro foi Enki Bilal que, para além do cartaz e dos cenários pintados em vidro de A Vida é um Romance, assinou também o cartaz de O meu Tio da América, o filme anterior do cineasta.
Também o desenhador Floc’h, que é autor do retrato de Resnais que encima este texto, assinou os cartazes e os separadores das cenas de Fumar/Não Fumar, de 1993, e de É Sempre a Mesma Cantiga, de 1997 enquanto que, mais recentemente, foi o desenhador Blutch, vencedor do Grande Prémio de Angoulême em 2009. que assinou os cartazes de As Ervas Daninhas, de 2009 e do último filme de Resnais, Aimer, Boire e Chanter, para o qual fez também diversas ilustrações que funcionaram como separadores de capítulos.

Mas o filme que melhor traduz o amor do cineasta pela Banda Desenhada é I Want to Go Home, de 1989, que tem como protagonista um cartoonista americano que viaja para Paris para participar num Festival de Banda Desenhada. Esse filme, onde Gerard Depardieu aparece disfarçado de Popeye, conta com argumento do cartoonista americano Jules Feiffer, que foi responsável pelos argumentos de algumas das melhores histórias do “Spirit”, de Will Eisner e assinou durante décadas, cartoons para o New York Times e a Village Voice.
Versão Integral do texto publicado no Diário As Beiras de 08/03/2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

Sin City 2 - Finalmente o primeiro trailler!




Mais de cinco anos depois do primeiro filme, eis que Sin City vai regressar finalmente ao grande ecrã, num filme dirigido novamente por Robert Rodriguez e Frank Miller, que tem como prato principal A Dame to Kill For, o segundo volume da série, cuja edição portuguesa da Devir tive o prazer de traduzir em 2004. Depois de se ter falado em Angelina Jolie e em Rose McGowan, a actriz escolhida para a Mulher Fatal que dá nome ao livro, acabou por ser a francesa Eva Green que, curiosamente, tem também o papel principal em 300, O Início de um Império, filme que estreou hoje em Portugal e que também tem por base uma BD de Frank Miller. Quanto a Sin City 2, ainda não há data oficial para a estreia em Portugal, mas não deverá ser muito distante da estreia nos EUA a 22 de Agosto. Enquanto e não, aqui fica o primeiro trailler, para vos abrir o apetite.