quinta-feira, 25 de abril de 2019

Batman 80 Anos 10 - Batman: 80 Anos de Aventuras

DE BOB KANE A TOM KING: 80 ANOS EM 8 HISTÓRIAS

80 Anos de Batman Vol 10
Batman: 80 Anos de Aventuras
Argumento – Vários Autores
Desenhos – Vários Autores
Quinta, 25 de Abril
Por + 11,90 €
A terminar com chave de ouro a colecção dedicada aos 80 anos de aventuras do Cavaleiro das Trevas, temos um volume antológico criado em exclusivo para esta colecção, que chega aos quiosques de todo o país no próximo dia 25 de Abril. Uma data simbólica para uma edição também simbólica, pelo modo como cobre o passado, presente e futuro do Homem-Morcego, em oito histórias representativas de diferentes fases da personagem.
Uma viagem no tempo, que começa com a origem do Batman pelos seus criadores originais, Bob Kane e Bill Finger, publicada em 1940 no nº 1 da revista Batman e prossegue pela fase de Sheldon Moldoff, através de Robin Morre ao Amanhecer, uma história escrita por Bill Finger, bem representativa do Batman dos anos 50 e 60, com intrigas mais próximas da ficção científica do que do policial e o alargar da Batfamília, aqui representada por Ace, o Batcão. A antologia continua com o regresso à dimensão mais sombria do Cavaleiro das Trevas nos anos 70, representada por duas histórias ilustradas por Neal Adams e Jim Aparo. A primeira, A Casa que Assombrou Batman, é escrita por Len Wein, o criador do Monstro do Pântano, apresentando um clima sobrenatural para uma intriga que tem uma explicação racional, mas que assenta como uma luva ao realismo heróico de Neal Adams, aqui contando com o veterano Dick Giordano na arte-final. Já O Cadáver que se Recusava a Morrer, traz-nos um dos melhores momentos da dupla Bob Haney/Jim Aparo na revista The Brave and the Bold, numa história em que um Batman em morte cerebral conta com a ajuda do Átomo para salvar uma mulher em perigo.
A Noite não tão Silenciosa da Harley Quinn é um pequeno divertimento de Natal escrito por Paul Dini, o criador da Harley Quinn e (muito bem) ilustrado por Neal Adams, que assim está presente nesta antologia com duas histórias separadas por mais de 40 anos.
Quem também repete a dose é Tom King, o actual escritor da principal revista do Cavaleiro das Trevas. Antes de se tornar um escritor premiado, com romances na lista de best-sellers do New York Times, Tom King trabalhou como agente da CIA, como oficial de operações de contra terrorismo, tendo estado destacado no Iraque após a queda de Saddam Hussein, experiência que lhe serviu de inspiração para o livro O Xerife da Babilónia, já publicado em Portugal pela Levoir. Tendo tido a ingrata missão de substituir Scott Snyder como escritor da revista principal do Batman, King tem-se saído com distinção desse desafio, conquistando tanto o público como a crítica, através de histórias plenas de humanidade, como as duas que fecham o último volume desta colecção. Alguns Desses Dias, em que King conta com a arte de Lee Weeks e Michael Lark, é uma belíssima história de amor. O amor entre Batman e a Catwoman, desde o seu primeiro até ao último beijo. Já em Força Verdadeira, uma pequena pérola de apenas três páginas, King conta com o basco Mikel Janin, um dos desenhadores habituais da série mensal, para explicar ao leitor o que realmente faz de Batman um herói.
Publicado originalmente no jornal Público de 20/04/2019

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Batman 80 Anos 9 - O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar Vol 2

QUANDO A VIDA IMITA A ARTE

80 Anos de Batman Vol 9
Batman: O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar Vol 2
Argumento e Desenhos – Frank Miller
Quinta, 18 de Abril
Por + 11,90 €
A conclusão do regresso do Batman crepuscular de Frank Miller, concretiza-se neste segundo volume que chega aos quiosques de todo o país na próxima quinta-feira, 18 de Abril. Um volume final, em que a complexa intriga que envolve a maioria dos membros da Liga da Justiça e outros personagens bem mais obscuros da DC se cruza com a dura realidade do ataque terrorista às Torres Gémeas em 11 de Setembro de 2001, que chocou a América e o mundo. Um acontecimento real, que Frank Miller que tinha acabado de regressar a Nova Iorque acompanhou do seu estúdio em Manhattan e que acabou por influenciar decisivamente a evolução desta história. Uma história que começou como uma homenagem de Miller aos heróis e vilões do universo DC, para se tornar, tal como aconteceu com O Regresso do Cavaleiro das Trevas - que espelha o clima dos anos da Guerra Fria, o medo da guerra nuclear e a presidência de Reagan - um reflexo da época em que a história foi feita.
Como o próprio Miller refere numa entrevista à revista The Comics Journal, o que começou como uma paródia, acabou por se transformar numa tragédia, pelo modo como a vida imitou a arte: “este foi um livro que foi seriamente perturbado, bem a meio da história. Começou como uma brincadeira. Uma coisa do género, “vamos pegar em todos esses personagens do universo DC e construir uma paródia bem divertida”. E então aconteceu o 11 de Setembro e eu tinha acabado de desenhar uma cena em que um Batmóvel voador atravessa um arranha-céus e rebenta com a baixa de Metrópolis. Foi um choque! Não podia continuar a história sem abordar o tema. Por isso, tive de parar e recomeçar adoptando um tom mais sombrio. Não sei bem como, mas apercebi-me que, de certa maneira, em termos dramáticos, quanto mais negra é a história, mais divertida se torna, porque ao fim de algum tempo tens de te rir. Um riso nervoso, mas que não deixa de ser riso, pois é impossível analisar o horror que vivemos de uma forma racional. Então, as ideias visuais começaram a brotar, como a ideia do Batman com as orelhas da máscara partidas e só três dentes. Não resisti a fazer isso.”
Um dos contributos de Frank Miller neste livro para o universo DC foi a criação de Lana, a filha superpoderosa do Super-Homem e da Mulher-Maravilha. Resultado da união entre os dois mais poderosos heróis da DC, relação essa que se tornará canónica durante a fase dos Novos 52, a personagem de Lana irá ser uma das protagonista de DKIII.: The Master Race a continuação, ainda inédita em Portugal, deste O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar, que assinalou o regresso de Frank Miller após alguns anos afastamento de afastamento, motivado por doença.
Obra tão controversa como incontornável, O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar confirma a vontade de arriscar, por parte de um autor que nunca descansou à sombra dos louros conquistados - e obras como Ronin, 300, O Regresso do Cavaleiro das Trevas, Batman: Ano Um, Sin City e Demolidor: Renascido já seriam mais do que suficientes para lhe assegurar um lugar no panteão dos melhores autores de comics de todos tempos - e que procurou explorar novos caminhos, mesmo que esses caminhos não sejam necessariamente aqueles que a maioria dos seus leitores esperava que ele seguisse.
Publicado originalmente no jornal Público de 13/04/2019

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Dylan Dog regressa a Portugal em dose dupla


Depois do lançamento no Coimbra BD, na presença do autor Fábio Celoni, chegou finalmente esta quarta-feira às bancas O Velho que Lê, primeiro volume de uma Colecção regular dedicada a Dylan Dog, o herói de culto criado por Tiziano Sclavi. Infelizmente, ao contrário do que estava previsto, na quarta-feira anterior já tinha sido distribuído Até que a Morte vos Separe, o segundo volume desta colecção, cujo lançamento oficial vai ter lugar apenas no último fim-de-semana de Abril, nas Jornadas do Clube Tex Portugal, na presença do desenhador Bruno Brindisi e cuja distribuição em bancas estava prevista apenas para a segunda semana de Maio.
Ou seja, os nossos planos originais de distribuir O Velho que Lê na segunda semana de Março, logo após ao seu lançamento no Coimbra BD e Até que A Morte vos Separe dois meses depois, foram irremediavelmente alterados, primeiro por um atraso na gráfica, que só conseguiu entregar menos de 100 exemplares de cada volume a tempo do Coimbra BD e depois por um erro da VASP que distribuiu o volume 2 antes do volume 1...
A razão porque vos estou a contar estes pormenores, é porque, mesmo tendo traduzido e prefaciado a maioria das anteriores edições nacionais do detective do pesadelo, publicada pela Levoir, estas edições da G Floy que inauguram a nova Colecção Aleph, dedicada à BD europeia, têm para mim um significado especial, pois é um projecto em que, tanto eu, como o José de Freitas e o Mário João Marques, que traduziu O Velho que Lê, investimos pessoalmente a vários níveis.
A escolha de uma história do Fábio Celoni para abrir a Colecção prendeu-se com a possibilidade de o podermos ter presente para o lançamento, o que é sempre útil em termos de divulgação e de vendas, mas a qualidade do trabalho de Celoni, um dos raros desenhadores de Dylan Dog que escreve as histórias que desenha, faziam com que ele estivesse na short-list dos autores a publicar. Uma lista onde estão também obviamente Corrado Roi, Giampiero Casertano, Angelo Stano e Giovanni Freghieri.
Tivemos a sorte de, além de um grande autor, o Fábio Celoni ser também uma pessoa adorável, de quem podemos dizer que ficámos amigos. Com um traço barroco, em que são visíveis as influências de Alberto Breccia (vejam-se as semelhanças fisionómicas entre  Ozra, o velho que dá nome ao livro e Ezra Wiston, o narrador de Mort Cinder de Breccia e Oesterheld) Celoni constrói uma belíssima  história sobre o amor à literatura e o drama da solidão na terceira idade, onde não faltam referências a clássicos literários como Moby Dick, O Feiticeiro de Oz, ou  Alice no País das Maravilhas, na melhor tradição do próprio Tiziano Sclavi, que nunca se coibiu de encher as suas histórias de referências, sejam literárias ou cinematográficas.
O mesmo Sclavi que assina a par com o desenhador Angelo Stano, a  história que completa este volume, A Pequena Biblioteca de Babel, um pequeno divertimento borgesiano de apenas 16 páginas, tão simples quanto genial, sobre os estranhos acontecimentos que afectam uma pequena aldeia na Cornualha, onde Dylan Dog se encontrava de férias com uma amiga.
Se O Velho que Lê é uma historia em que o fantástico está presente, já Até que a Morte vos Separe é uma história em que os elementos fantásticos estão praticamente ausentes, podendo os poucos que existem ter uma explicação científica, ou não passarem de um sonho de Dylan. Uma característica comum a outra grande história de Dylan Dog, Johnny Freak, assinada pelos mesmos autores - Mauro Marcheselli na ideia original e Tiziano Sclavi no desenvolvimento - que assinaram também outra das minhas histórias preferidas do investigador do pesadelo, Un Lungo Addio, que espero ter oportunidade de publicar em Portugal.
Episódio especial, publicado por ocasião do décimo aniversário da série, Até que a Morte vos Separe é uma história de amor trágico (como são as melhores histórias de amor) que nos desvenda um pouco do passado de Dylan Dog, enquanto era agente da Scotland Yard, ilustrada por Bruno Brindisi, no seu estilo extraordinariamente legível e eficaz, de uma elegância insuperável. Publicada originalmente a cores, optámos por publicá-la a preto e branco, não só por razões económicas, mas também por acharmos que o preto e branco permite apreciar melhor o traço de Brindisi.
Dois livros com características bem diferentes, mas de grande qualidade, que dão bem ideia da diversidade da série Dylan Dog, um clássico de culto italiano, que, aos poucos, começa ter a devida divulgação em Portugal.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Batman 80 Anos 8 - O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar Vol 1

O CAVALEIRO DAS TREVAS DE FRANK MILLER REGRESSA 

80 Anos de Batman Vol 8
Batman: O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar Vol 1
Argumento e Desenhos – Frank Miller
Quinta, 11 de Abril
Por + 11,90 €
Nos próximos dois volumes da colecção dedicada aos 80 anos de Batman, que se cumpriram precisamente no passado dia 30 de Março, vai estar em grande destaque o autor que mais contribuiu para a popularidade do Cavaleiro das Trevas, através de duas histórias absolutamente seminais, publicadas na década de 80, mas que ainda hoje se mantém como clássicos incontornáveis. Essas histórias são O Regresso do Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um e o seu autor é, como já terão adivinhado, Frank Miller.
Depois de ter publicado esses dois clássicos na colecção dedicada aos 75 anos do Homem Morcego, a Levoir lança agora em dois volumes O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar, a inesperada sequela que assinala o regresso de Frank Miller ao universo distópico e futurista de um Batman envelhecido, que regressa ao activo para combater o crime.
Publicada originalmente entre 2001 e 2002, quinze anos após a publicação da saga original, como uma mini-série em três edições de luxo, O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar surpreendeu aqueles que esperavam uma continuação linear do primeiro Cavaleiro das Trevas. Embora a acção desta sequela decorra apenas três anos depois da aparente morte de Bruce Wayne, no mundo real passaram-se quinze anos. Quinze anos em que o mundo mudou e Frank Miller também, algo que é bem evidente no traço estilizado de Miller, cada vez mais longe do realismo do início da sua carreira, mas sobretudo nas cores de Lynn Varley, habitual colorista - e à época, casada com Frank Miller - que aqui troca as cores a aguarela, que tão bem usou em Ronin, O Regresso do Cavaleiro das Trevas e 300, pelas cores digitais do Photoshop. Cores propositadamente artificiais, que acentuam a dimensão artificial desse mundo aparentemente perfeito, onde reina a paz e a harmonia, mas onde até o próprio Presidente dos Estados Unidos da América não passa de um holograma. É essa utopia de fachada que vai ser destruída por um regressado Batman, que vai reunir todos os seus aliados para combater a ameaça de Lex Luthor.
Outra diferença fundamental de O Cavaleiro das Trevas Volta a Atacar para o seu antecessor, é a presença alargada do panteão da DC, com personagens como Jimmy Olsen, Brainiac, Lex Luthor, Shazam, o Flash, Lanterna Verde, o Átomo, o Questão e Diana, a Mulher-Maravilha, que estiveram ausentes em O Regresso do Cavaleiro das Trevas, a serem fulcrais no evoluir da intriga desta história, em que a Trindade dos maiores Heróis da DC, constituída pelo Batman, Super-Homem e Mulher Maravilha, brilha a grande altura, tal como Carrie Kelley, a Robin de O Regresso do Cavaleiro das Trevas, que se mantém como braço direito do Batman, mas agora enquanto Catgirl.
Se em termos gráficos, o registo escolhido pode não ser consensual, em termos narrativos, não há dúvidas quanto ao virtuosismo de Miller. Basta ver a forma como gere a presença do Batman, que permanece nas sombras durante bastante tempo, para surgir finalmente em toda a sua glória apenas no final do primeiro livro, para voltar a enfrentar o Super-Homem.
Publicado originalmente no jornal Público de 06/04/2019

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Batman 80 Anos 7 - Batman Black & White: Os melhores Contos Noir

Desde que comecei a trabalhar na Devir, em inícios da década de 2000, que me tenho batido pela edição desta série em Portugal, o que esteve quase a acontecer em 2003, no nº 6 da revista Comix, de que era director editorial... se esse número tivesse chegado a sair... Quase vinte anos depois, ele aqui está e eu deixo-vos com o texto que escrevi para o Público a apresentá-lo.

UM HERÓI A PRETO E BRANCO

80 Anos de Batman Vol 7
Batman Black & White – Os Melhores Contos Noir
Argumento – Vários Autores
Desenhos – Vários Autores
Quinta, 4 de Abril
Por + 11,90 €
A colecção dedicada aos 80 anos do Cavaleiro das Trevas prossegue com a publicação, na próxima quinta-feira, dia 4 de Abril, de um volume mítico, Batman Black & White, título perfeitamente elucidativo do conteúdo desta premiada antologia que convidou os melhores desenhadores do mundo dos comics (e não só) a explorarem as imensas possibilidades estéticas e narrativas do preto e branco em histórias de oito páginas.
A ideia, tão brilhante quanto arriscada, pois à época era ponto assente no mundo da edição de comics que o preto e branco não vendia, apesar de honrosas excepções como o Sin City, de Frank Miller, partiu do editor Mark Chiarello que, para além de ter sido editor e director de Arte da DC até há bem pouco tempo, é também colorista e desenhador de BD, tendo assinado títulos como Batman/Houdini: The Devil’s Workshop, uma história da linha Elseworlds escrita por Howard Chaykin. Chiarello, que trabalhou durante 26 anos na DC, antes de ser afastado já em 2019, lembrou-se de criar uma antologia de histórias do Batman a preto e branco, inspirada em revistas como a Creepy e a Eerie. Estas revistas da editora Warren, que recuperaram a herança da E.C Comics, de Bill Gaines, publicaram durante a década de 70 alguns dos melhores trabalhos de sempre de autores como Frank Frazetta, Bernie Wrightson, Ricard Corben e Steve Ditko. Histórias incontornáveis, na sua maioria escritas e editadas pelo mítico Archie Goodwin, de quem Chiarello tinha sido assistente na Marvel, antes de vir trabalhar para a DC, e que assina igualmente alguma das histórias de Batman Black & White.
Para estar à altura dos títulos da editora de James Warren e conquistar os leitores, a antologia editada por Chiarello tinha uma estratégia simples: chamar os maiores nomes da BD de todas as latitudes, muitos dos quais nunca tido qualquer contacto com o Batman, ou com qualquer outro super-herói, para criarem a sua própria versão do Batman.
O resultado foi uma mini-série de 4 números, publicados entre Junho e Setembro de 1996, recolhendo vinte contos noir de oito páginas cada, que inclui no argumento veteranos como Dennis O’Neil, Archie Goodwin, Jan Strnad, Chuck Dixon e Neil Gaiman, para além de grandes nomes da BD mundial que escrevem as próprias histórias, histórias essas que lhes dão a possibilidade de explorar, cada um à sua maneira, os diversos registos possibilitados pelo preto e branco. Em termos gráficos, o elenco é absolutamente de luxo, incluindo desenhadores habituados ao mundo dos comics de super-heróis, como Joe Kubert, Bruce Timm, Howard Chaykin, Walt Simonson, Simon Bisley, Klaus Janson, Matt Wagner, Bill Sienkiewicz, Kevin Nowlan, e Brian Stelfreeze. Artistas com um percurso mais autoral, como Ted McKeever, Kent Williams, Jorge Zaffino, Ted Kristiansen, Gary Gianni e Richard Corben, o mestre da BD underground e figura de proa da revista Metal Hurlant, que teve aqui a oportunidade de relançar a sua carreira, trabalhando com personagens que não criou, mas a que deu o seu toque pessoal, como o Batman.
Mas a grande surpresa desta antologia é a presença de autores de outras latitudes, como o japonês Katshuiro Otomo, o mestre da BD e animação japonesa, criador do mítico Akira, o italiano Tanino Liberatore, desenhador de RanXerox e o argentino José Muñoz, criador, com o seu compatriota Carlos Sampayo do detective Alack Sinner e da biografia em BD da cantora Billie Holiday, também já publicada em Portugal numa parceria Público/Levoir. Mas vejamos o que o prório Muñoz disse sobre essa história, numa entrevista que lhe fiz em 2001: “fui contactado por um editor da DC, Marc Chiarello, um tipo muito simpático, que me convidou a escrever e desenhar uma história curta com o Batman. Como não tinha vontade de escrever a história, disse-lhe que falassem com Archie Goodwin, que é um escritor cujo trabalho admiro, para ser ele a escrever a história. Goodwin aceitou e fez-me uma história verdadeiramente por medida! Nunca falei com ele, mas vê-se que estudou o meu trabalho. É uma história de jazz, em que Batman aparece apenas um segundo, na última vinheta.”
Além dessas vinte histórias curtas, a edição inclui ainda ilustrações de estrelas como Moebius – que escreveu e desenhou uma divertidíssima história, em que fazia uma análise psicanalítica do Batman, que a DC não se atreveu a publicar, tendo acabado por só sair anos depois na revista Penthouse Comix - Frank Miller, Neal Adams, P. Craig Russel, Jim Lee, Alex Toth e Barry Windsor-Smith.
A arriscada aposta de Chiarello acabou por se revelar um sucesso tremendo, ganhando dois prémios Eisner e um prémio Harvey e dando origem a mais três antologias com o mesmo título, publicadas em 2001, 2004 e 2013 e diversas vezes reeditadas. Finalmente, em 2019, os leitores portugueses vão poder descobrir este marco incontornável nas oito décadas de história do Cavaleiro das Trevas.
Publicado originalmente no jornal Publico de 30/03/2019