quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Poderosos Heróis Marvel 11 - Demolidor: Partes de um Todo


E aqui fica o último editorial que escrevi para esta colecção. Uma das minhas histórias favoritas do Demolidor, que tive também o prazer de traduzir. O texto do Público, surge, como habitual nos volumes em que escrevo o editorial, apenas em imagem.

O DEMÓNIO E AS MULHERES


Estamos em 1998. A Marvel, que tinha acabado de declarar falência, decide encomendar à companhia independente Event Comics, de Joe Quesada e Jimmy Palmiotti, a produção das histórias de quatro personagens da Casa das Ideias, cujas revistas tinham sido canceladas, ou estavam em franca decadência: Demolidor, Justiceiro, Pantera Negra e Inumanos. Nascia assim a linha Marvel Knights, que relançou essas e outras personagens, em histórias como princípio, meio e fim, assinadas por autores de prestígio, alguns deles vindos dos comics independentes, ou de outros media, como Kevin Smith, recrutados por Quesada e Palmiottti para insuflar uma nova vida na editora. O sucesso da linha Marvel Knights foi tal que Joe Quesada foi nomeado editor-chefe da Marvel dois anos depois, em 2000 e o título que mais contribuiu para esse rápido sucesso, foi precisamente a série Daredevil.
Não por acaso, foi neste título que os dois editores se envolveram mais directamente, assegurando logo a arte do primeiro arco de histórias desta segunda série do Demolidor, cujos primeiros oito números foram escritos pelo cineasta Kevin Smith, que assim se estreou como argumentista de BD, com a saga Guardian Devil. Depois do sucesso de Guardian Devil, que trouxe a revista do Demolidor de volta à lista dos 10 títulos mais vendidos, onde não estava desde os tempos de Frank Miller, e com Smith de volta aos filmes, era preciso encontrar alguém capaz de o substituir.
Entre os vários autores que Quesada e Palmiotti contactaram inicialmente para trabalhar na linha Marvel Knights, estava David Mack. Nascido em 1972, em Cincinatti, no Ohio, Mack é o autor da série Kabuki, publicada inicialmente pela editora Caliber. Uma série que escreve e desenha, num estilo único, em que a linha se mistura com a pintura e a colagem, ficando bem patente a sua formação como designer, na forma como trata a página como um todo e como o texto e o desenho dialogam e se completam.
Precisamente por estar muito ocupado com a série Kabuki, que nessa altura ia ser relançada na Image, Mack não pôde aceitar o convite de Quesada para assumir um dos títulos à sua escolha da linha Marvel Knights, mas já não foi capaz de recusar um segundo convite, desta vez para ilustrar algumas capas e escrever uma história do Demolidor.
É essa história que poderão ler nas páginas seguintes e que assinala a estreia de Mack na Marvel. Uma estreia que lhe permitiu realizar um sonho de criança, pois o autor descobriu o Demolidor de Frank Miller quando tinha nove anos e foram essas histórias que o levaram a pensar pela primeira vez em contar, também ele, histórias através das imagens. E a influência do trabalho de Miller na escrita de Mack, é algo que o próprio é o primeiro a assumir, dizendo:
“As únicas histórias do Demolidor que li, foram as histórias do Frank Miller. Adorei essas histórias, quando era miúdo. Por isso, quando me convidaram para escrever uma história, para mim foi acima de tudo escrever sobre o personagem que li quando era miúdo. A caracterização psicológica do Rei do Crime que faço em Partes de um Todo é muito baseada no Rei do Crime das histórias de Frank Miller, pois esse é o único Rei do Crime que conheço.”
Mas a verdade é que, Wilson Fisk, o Rei do Crime, de David Mack, que nesta história divide o protagonismo com o Demolidor, é muito mais do que uma simples cópia do vilão que Miller tornou um dos mais importantes do Universo Marvel. É uma personagem de corpo inteiro, cujo passado é explorado pela primeira vez, de uma forma que vai ser replicada na série televisiva do Demolidor que a Marvel produziu para a Netflix. E muitos dos elementos dessa caracterização, Mack foi buscá-los à sua própria infância. Como o autor refere numa entrevista: “trouxe muito das experiências pessoais da minha infância, para escrever a infância do Rei. Muitas das memórias de infância de Fisk são as minhas.
O hamster e a roda que rodava toda a noite; as discussões entre os pais; o ter de rapar a cabeça devido a uma infestação de piolhos; os passos pesados do pai na escada quando regressava do trabalho, tarde na noite; os desenhos com os retratos de família no frigorífico; o calçar os sapatos do pai, enquanto ele dormia no sofá; aprender os nomes dos presidentes nas notas de dólares (…) a ambição de fazer as coisas acontecer. Todos esses detalhes da psicologia do jovem Wilson Fisk nascem da minha experiência directa, de coisas que vivi em primeira mão.”
Mas, para além de desenvolver a infância de Fisk, o contributo de David Mack para a mitologia do Demolidor passa também pela criação de Maya “Cavalo Louco” Lopez. A mulher por quem Matt Murdock se apaixona e que, enquanto Eco, vai tentar matar o Demolidor.
Face à morte de Karen Page na história anterior, havia necessidade de criar um novo interesse amoroso para Matt Murdock. Com Maya, Mack criou uma amante que é simultaneamente um inimigo, algo que não é propriamente uma novidade para o Homem sem Medo, um herói conhecido pela sua relação complicada com as mulheres, como o atestam as suas ligações tumultuosas com Elektra e até com Typhoid Mary.
Esse é um aspecto da personalidade de Murdock, que foi criado sem mãe, que Mack tem bem presente e que aborda na sua história. Como refere: “A sua mãe esteve ausente da sua vida. Por isso, ele passa a sua vida adulta saltando de mulher para mulher, tentando encontrar a pessoa que o compreende e que o complete. Cada uma dessas mulheres preenche uma lacuna da sua vida. Elektra representa a sua juventude, a Viúva Negra é a sua companheira no combate ao crime, e por aí em diante. Mas nenhuma consegue identificar-se com ele a todos os níveis. Nenhuma consegue compreender completamente o natural dificuldade em abarcar o mundo na sua totalidade, causada pela sua cegueira.”
Sendo surda, Maya, tem também necessariamente uma perspectiva limitada da realidade total e o facto de ter visto o seu pai morrer de um modo violento, faz dela uma alma gémea de Matt e, graças às maquinações de Fisk, a única pessoa capaz de o derrotar.
Em termos gráficos, Quesada e Palmiotti asseguram a arte da história, como já tinha acontecido no arco de Kevin Smith, mas o seu desenho altera-se, adaptando-se como uma luva à forma específica de narrar e planificar de Mack, que está na origem do sucesso da série Kabuki. Por exemplo, a forma como Maya vê o mundo, como a morte do seu pai a marcou, é transmitida através de desenhos de criança, que dialogam na página com o realismo barroco habitual ao traço de Quesada, do mesmo modo que a página se fragmenta, com a divisão tradicional em tiras e quadrados, a darem lugar a uma concepção mais orgânica da página, em que o próprio texto se torna um elemento importante do desenho.
O resultado é visualmente deslumbrante e muito inovador, aproveitando o melhor de ilustradores como Dave McKean, ou Bill Sienkiewicz, e abrindo caminho às experiências posteriores de J. H. Williams III, entre outros. O próprio David Mack é o primeiro a não poupar nos elogios a Quesada, dizendo: “Joe pegou no melhor da minha planificação e do meu estilo narrativo e misturou-o com a sua própria sensibilidade artística, dando origem a uma espécie de novo estilo artístico híbrido. Adorei o resultado! Continua a ser, para mim, o melhor trabalho que Joe Quesada alguma vez fez”
Face ao muito trabalho que tinham como editores, tanto Quesada, como Palmiotti, acabaram por ceder o lugar respectivamente, a David Ross e a Mark Morales, no desenho. Mas essa mudança, que passou praticamente despercebida aos leitores menos atentos, acabou por não afectar o equilíbrio estético do livro, que conserva uma apreciável homogeneidade, face ao rigoroso trabalho de planificação de Mack e ao excelente trabalho de Richard Isanove na cor.
O resultado final é uma das melhores histórias do Demolidor. Uma história que dá a descobrir aos leitores portugueses, o génio de David Mack.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Poderosos Heróis Marvel 10 - Wolverine: Ilha da Morte

Mais uma vez, deixo-vos com o editorial que escrevi para este volume, com a particularidade de o texto que aqui publico é a versão integral. Face às limitações de espaço dos editoriais de cada volume, que não devem ultrapassar os 7.000 caracteres, tive que fazer alguns cortes. Aqui fica então a versão integral do texto que só poderão ler mesmo aqui. Quanto ao texto do Público sobre este volume, basta carregar na imagem para o ler.

 WOLVERINE NA TERRA SELVAGEM

Na vasta geografia fictícia do universo Marvel, poucos lugares há que evoquem mais a aventura em estado puro do que a Terra Selvagem. Criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1965, no nº 10 da revista X-Men, a Terra Selvagem é um mundo tropical, criado por extraterrestres e escondido na Antárctida, onde sobrevivem as mais variadas espécies pré-históricas, com destaque para os dinossáurios.
Um mundo fora do tempo, muito da linha de outros espaços fictícios que encontramos em clássicos da literatura e do cinema, como Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, O Mundo Perdido, de Conan Doyle, ou A Terra que o Tempo Esqueceu, de Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan, que nas aventuras do homem macaco criou outros locais exóticos povoados por dinossáurios, como é o caso de Pellucidar, que foi cenário de várias aventuras do Rei da Selva. Isto, sem esquecer naturalmente a Skull Island, uma ilha no Pacífico, criada em 1933 pelo cineasta Merian C. Cooper para berço de Kong, o gorila gigante protagonista do filme King Kong.
Governada por Ka-zar e pela sua companheira Shanna, a mulher-demónio, a Terra Selvagem tem servido de palco para as aventuras dos mais variados heróis da Marvel, mas geralmente tem funcionado mais como mero cenário, do que como verdadeiro personagem das histórias. Até que chegou Frank Cho.
Nascido em Seul, na Coreia do Sul, em 1971, Frank Cho veio para os Estados Unidos com os seus pais e os dois irmãos quando tinha seis anos. O ilustrador norte-americano de origem coreana começou a sua carreira na BD em inícios da década de 90, com a tira de imprensa University 2 para o jornal da Universidade de Maryland onde estudou. Depois de se formar, decidiu continuar a trabalhar no formato tira, mas desta vez a nível nacional, contactando para o efeito diversos syndicates (empresas responsáveis pela produção, venda e distribuição das tiras de imprensa pelos diferentes jornais).
O Creators Syndicate gostou do que viu e propôs-lhe pegar nas personagens de University 2 e transformá-los em animais, passando a acção de um campus universitário, para uma reserva animal. Nascia assim Liberty Meadows, série que contratualmente deveria durar quinze anos, mas que Cho escreveu e desenhou apenas durante cinco anos, até se fartar da censura do editor e da pressão de ter produzir uma tira diária e decidir continuar a série, editando-a ele próprio em formato comic book, com total liberdade.
Embora nesta fase já fizesse capas ocasionalmente para a Marvel e outras editoras, foi o seu trabalho na série Liberty Meadows que levou o editor Axel Alonso a convidá-lo a desenhar uma mini-série de Shanna The She-Devil – uma heroína da selva, na linha da Sheena, Queen of the Jungle, criada pelos estúdios de Will Eisner e Jerry Iger  em 1937, quatro anos antes do aparecimento da Wonder Woman - para a Casa das Ideias. Um convite que lhe permitiu desenhar as duas coisas de que mais gosta: aventuras na selva e mulheres sensuais. E se as mulheres sensuais já eram a imagem de marca do seu trabalho, o gosto de Cho pelas aventuras em cenários exóticos também já se manifestava na série Liberty Meadows, onde criou Scheky, the Monkey King e Mighty Shmoe Pong, duas tiras dentro da tira, que homenageavam respectivamente Tarzan e King Kong (mas também Mighty Joe Young, outro gorila gigante do cinema, bastante menos popular do o King Kong) e que terão sido decisivas para Alonso se lembrar dele.
Assim, Frank Cho, que tinha concorrido para um trabalho como desenhador de Tarzan e tinha sido rejeitado por um editor da Dark Horse, que ainda hoje deve lamentar o seu erro, tinha finalmente em Shanna a oportunidade de concretizar um sonho de desenhador. Um sonho que acabou por ter um certo sabor amargo, apesar do grande sucesso da mini-série, pois a história foi pensada para a linha Max (uma linha mais adulta da Marvel, onde a nudez é permitida) mas acabaria por sair na linha Marvel Knights, o que obrigou Cho a redesenhar praticamente todas as páginas que já tinha desenhado, para cobrir pudicamente o corpo escultural de Shanna…
Finalmente, em Janeiro de 2013, a nova revista Savage Wolverine, um dos títulos lançados no âmbito da linha Marvel Now! deu a Cho a oportunidade de regressar à Terra Selvagem com total liberdade e autonomia. Mas deixemos que seja o próprio autor a contar como tudo se passou:
“Axel Alonso (o editor-chefe da Marvel) chamou-me depois do Avengers Vs. X-Men #0 ter sido lançado e perguntou-me se eu queria trabalhar com o Wolverine, e eu não hesitei, pois o Wolverine é um dos meus personagens favoritos do Universo Marvel. Perguntei-lhe quem ia ser o argumentista e ele respondeu-me, “És tu!” Fiquei sem palavras, mas o Axel lembrou-me que a primeira vez que me contratou foi como desenhador e argumentista e que estava muito entusiasmado com o que eu poderia fazer. Disse-lhe que voltaria a falar com ele dentro de algumas semanas e que entretanto ia ver se tinha alguma história do Wolverine dentro de mim, que me apetecesse contar e merecesse ser contada.
Fui vasculhar os meus arquivos, a ver se alguma das sinopses que tinha se adaptava à personagem do Wolverine. Há anos que tenho por hábito apontar ideias e desenvolver sinopses para possíveis histórias. Foi assim que me lembrei de uma história fixe que mistura o Indiana Jones com os mitos de Cthulhu em que andava a trabalhar há anos. Modifiquei-a de maneira a transformá-la numa história do Wolverine. O Axel adorou a história e disse-me para começar a trabalhar.” (…)
“Sempre me interessei por histórias com um toque se terror sobrenatural. Sou um grande fã de Edgar Rice Burroughs e de Robert Howard e, em certa medida, de H.P. Lovecraft. Esta história era algo em que eu andava a trabalhar há anos, mas ainda não tinha encontrado uma maneira de contar a história como queria. Até que a Marvel me ofereceu esta oportunidade e quando juntei o Wolverine e a Shanna na história, por mais estranho que pareça, tudo encaixou como uma luva”.
O resultado é uma aventura com um toque clássico, que reinventa personagens tradicionais da Marvel, como o Man Thing, dando-lhe um toque lovecraftiano e em que é evidente o prazer de Cho a desenhar aquilo que mais gosta. Um prazer que passa também para o leitor.
Para além de Wolverine e de Shanna, cujo companheiro Ka-Zar, prima pela ausência, Cho junta à sua história mais dois personagens da Marvel, que contribuem para os momentos mais divertidos do livro: Amadeus Cho e o Incrível Hulk. Amadeus Cho, ao contrário do que o nome pode indicar, não é um alter-ego do autor, mas sim um adolescente com a inteligência de um génio, criado por Greg Park e Takeshi Miyazawa em 2006, e que aqui é responsável pelos mais divertidos diálogos. Já o Hulk, é responsável por um humor mais físico, pois nesta história sofre maus-tratos de fazer inveja ao Wile E. Coyote, dos desenhos animados da Warner. Além para além de ter o Wolverine a espetar-lhe as garras no cérebro, ainda acaba devorado por uma baleia pré-histórica…
Curiosamente, Amadeus Cho vai ser o novo Hulk, na mais recente renovação da Marvel, em que o gigante verde já não é Incrível, mas Completamente Espectacular. Não por acaso, os responsáveis por esta mudança são o argumentista Greg Park, e o desenhador… Frank Cho.
Embora mantenha o seu esquema tradicional de composição, com a página geralmente construída em torno de uma imagem forte, que ocupa o espaço principal (aquilo a que o desenhador chama “the money shot”), é evidente a grande preocupação de Cho em inovar em termos de planificação. Mas, mais uma vez, deixemos que seja o próprio desenhador a explicar:
“Saio da minha zona de conforto e jogo com o tamanho e a planificação das vinhetas – de maneira a que a disposição das vinhetas ajude a contar a história em termos gráficos. Por exemplo, quando o Wolverine cai dos céus, uso grandes vinhetas verticais para enfatizar a grande altura de que ele está a cair e intercalo uma série de vinhetas mais pequenas para dar a noção da confusão, à medida que o Wolverine vai batendo nos ramos das árvores, até chegar ao chão, no meio da selva.”
Com uma planificação dinâmica e de grande eficácia,e um traço tão elegante como sensual, Frank Cho mostra bem toda a sua qualidade como desenhador.
Veja-se o uso criterioso que faz da dupla splash page: São apenas duas ao longo de toda a história, mas absolutamente sublimes. No capítulo três, uma elaborada cena de combate, cujo equilíbrio e dinamismo da composição, pedem meças a Frazetta e, no capítulo quatro, uma belíssima imagem do Wolverine a preparar-se para enfrentar três gorilas gigantes.
Imagens de grande força e espectacularidade, para cujo impacto muito contribui o excelente trabalho de cor de Jason Keith. E Cho ainda tem tempo de homenagear um dos seus mestres, Frank Frazetta, dando a um dos guerreiros da Terra Selvagem uma máscara de animal que o deixa muito parecido com o Jaguar God, personagem de vários quadros de Frazetta.
Nas páginas seguintes, podem acompanhar o Wolverine e Frank Cho no seu regresso à Terra Selvagem, numa história épica, onde a natureza é luxuriante, os cenários grandiosos, as mulheres são belas e selvagens e os gorilas e os dinossáurios assustadores.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Poderosos Heróis Marvel 9 - Capitão América: Sonhadores Americanos

Neste volume, o editorial também é da minha autoria. Por isso, aqui o deixo, em vez do texto do Público, que surge apenas em imagem, mas que pode facilmente ser lido, por quem carregar na imagem.
O REGRESSO DO HERÓI


Depois de termos assistido ao início do percurso de oito anos de Ed Brubaker como argumentista da série Captain America, em O Soldado de Inverno - a saga em dois volumes que abriu a colecção Universo Marvel - este volume da colecção Poderosos Heróis Marvel permite-nos acompanhar o início daquele que foi o capítulo final desse percurso inesquecível, que marcou profundamente a história de Steve Rogers, bem como os leitores. Um percurso iniciado em Janeiro de 2005, quando Brubaker substituiu Robert Kirkman, o criador de The Walking Dead, como argumentista do Capitão América, no número um da quinta série da revista do Sentinela da Liberdade.

Nascido em 1966, nos EUA, Ed Brubaker começou a sua carreira como autor completo, escrevendo e desenhando histórias policiais para editoras independentes, como a Dark Horse, antes da Vertigo, a linha mais adulta e alternativa da DC, publicar algumas séries que assinou como argumentista e que lhe abriram as portas da DC, editora com que assinou um contrato de exclusividade em 2000. Brubaker teve então a oportunidade de explorar a fundo o universo do Batman, em aventuras bem mais próximas do policial negro do que das tradicionais histórias de super-heróis, mantendo uma tendência de reinvenção do género noir, já patente nos seus trabalhos anteriores de menor visibilidade.
O seu primeiro trabalho para a Marvel foi precisamente a série do Capitão América, onde, para além de ter introduzido elementos característicos das histórias de espionagem, trouxe de volta ao Universo Marvel James Buchanan Barnes, o jovem pupilo do Capitão, mais conhecido por Bucky - que os leitores julgavam morto desde o final da Segunda Guerra Mundial, na sequência dos eventos que colocaram Steve Rogers em estado de animação suspensa, congelado no meio do Árctico, até ser descoberto pelos Vingadores. Mas a verdade é que Bucky não só não tinha morrido, como tinha sido salvo pelo exército soviético, que lhe fez uma lavagem cerebral e o transformou numa verdadeira máquina de matar, o Soldado do Inverno.

De um anacrónico “sidekick”, Bucky vai tornar-se numa personagem fulcral da série, que acaba mesmo por substituir Steve Rogers no papel de Capitão América, depois do Sentinela da Liberdade original ser morto na sequência dos acontecimentos da Guerra Civil, a saga publicada numa anterior colecção da Levoir, que colocou em confronto directo os principais heróis da Marvel. Bucky mostrou ser digno de usar o uniforme e o escudo do Capitão América, honrando a herança de Steve Rogers, mas, como o leitor bem sabe, a morte raramente é definitiva nas histórias de super-heróis e o (esperado) regresso de Steve Rogers ao mundo dos vivos acabou naturalmente por acontecer na mini-série Captain America: Reborn, escrita também por Brubaker. Mas isso não impediu Bucky de continuar a ser o Capitão América, até ser aparentemente morto durante a saga A Essência do Medo, também já publicada pela Levoir, e Steve Rogers se ver forçado a pegar novamente no escudo e voltar a vestir o uniforme listrado. Um regresso natural, sobretudo tendo em conta a estreia nesse ano do filme do Capitão América, realizado por Joe Johnston, que levou ao relançamento da revista do Capitão América, em Julho de 2011, com um sexto volume, cujos primeiros cinco números são ocupados precisamente por Sonhadores Americanos, a história que poderão ler nas páginas seguintes.

Mantendo o toque inconfundível de Brubaker, este regresso não deixa de ter características muito próprias, com o clima das histórias de espionagem a dar lugar a um registo de aventura em estado mais puro, com dimensões paralelas, um adolescente capaz de abrir portais para outras dimensões, robots gigantes e muita acção. Mas o que se mantém constante é a importância do passado na vida de Steve Rogers: mesmo que o funeral de Peggy Carter logo no início da história pareça indicar o fim de um ciclo, o passado de Steve Rogers durante a Segunda Guerra Mundial vai voltar para o atormentar na figura de Richard Bravo, um espião americano submetido nos anos vinte a um tratamento experimental semelhante ao programa do super soldado - que criou o Capitão América - que passou os últimos sessenta anos preso numa dimensão paralela, de onde saiu para descobrir que o sonho americano imaginado durante a Segunda Guerra Mundial tinha dado origem a uma realidade bem mais próxima do pesadelo.
A dar vida a esta história de Brubaker está um nome bem conhecido dos leitores das colecções que a Levoir dedicou à Casa das Ideias: Steve McNiven, O desenhador de origem canadiana, que se estreou na BD no início da década de 2000, desenhando a série Meridian e outros trabalhos para a editora CrossGen, rapidamente passou para a Marvel, onde se tornou um dos desenhadores mais populares da editora, graças ao seu espectacular trabalho em livros como Wolverine: Velho Logan e Guerra Civil, já publicados em Portugal pela Levoir. McNiven mostra aqui mais uma vez todo o seu virtuosismo, em páginas com uma planificação extremamente dinâmica e variada, que ajuda ao ritmo infernal de uma história movimentada e visualmente espectacular.
No último número da série, o desenhador canadiano conta com a ajuda de Giuseppe Camuncoli, desenhador italiano extremamente versátil, que tem dividido o seu talento entre o mercado americano, onde trabalhou tanto para a Marvel como para a DC, e o mercado europeu, onde também deixou a sua marca, seja a desenhar a série Dylan Dog ou a continuação da série Os Escorpiões do Deserto, de Hugo Pratt, o criador de Corto Maltese.
A completar este volume, temos três histórias curtas, extraídas da revista Captain America #616, número especial comemorativo dos setenta anos da criação, por Jack Kirby e Joe Simon, do Capitão. Um número cronologicamente anterior à história que o antecede, cuja acção decorre numa fase em que Steve Rogers, já regressado ao Universo Marvel, ainda não tinha decidido reassumir as funções de Capitão América e em que Bucky Barnes, o Soldado do Inverno, estava preso numa prisão russa. Duas dessas histórias recapitulam, cada uma à sua maneira, a carreira do Capitão América, o que, no caso da história ilustrada por Travis Charest, que tem aqui um breve regresso à BD, é feito em apenas uma página. A terminar, temos A Exposição, a única história deste volume que não é escrita por Brubaker. Uma história tão peculiar como curiosa, escrita por Franklin Tieri e ilustrada por Paul Azaceta, em que Steve Rogers investiga um marchand de arte que tem um segredo que o próprio desconhece…

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Poderosos Heróis Marvel 8 - Homem-Formiga: Um Mundo Pequeno


DEPOIS DO CINEMA, O HOMEM-FORMIGA ESTREIA-SE 
NA COLECÇÃO PODEROSOS HERÓIS MARVEL

Poderosos Heróis Marvel, Vol. 8
Homem-Formiga: Um Mundo Pequeno
Argumento – Stan Lee, David Michelinie e Tim Seeley
Desenho – Jack Kirby, John Byrne e Tim Seeley
Quinta, 10 de Setembro + 8,90 €

O próximo volume da colecção Poderosos Heróis Marvel assinala a estreia em Portugal do mais recente herói da Marvel a chegar ao cinema: o Homem-Formiga. Uma estreia que se dá num volume antológico que recolhe as aventuras de estreia dos diferentes homens que vestiram o fato do Homem-Formiga: Henry Pym, Scott Lang e Eric O’Grady.
Criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby em 1962, no nº 27 da revista Tales to Astonish, Henry “Hank” Pym, o Homem-Formiga original, era um cientista que descobriu uma formula que lhe permitia reduzir a sua massa e altura a dimensões microscópicas. Essa primeira história, que no fundo era uma adaptação não assumida do conto The Shrinking Man, de Richard Matheson, de 1956, levado ao cinema com grande sucesso no ano seguinte por Jack Arnold, não previa uma continuação, mas o sucesso junto dos leitores levou Stan Lee a promover o rápido regresso de Henry “Hank” Pym. O que aconteceu logo no nº 35 da revista Tales to Astonish, em que Hank Pym tem que usar a sua invenção para deter um grupo de espiões e decide passar a combater o crime como o Homem-Formiga. São essas duas primeiras aventuras, assinadas por Lee e Kirby que abrem o volume dedicado ao Homem-Formiga.
Um dos grandes cientistas do Universo Marvel, Hank Pym foi o responsável pela criação do robot Ultron e do andróide Visão, mas a sua carreira como Homem-Formiga foi relativamente curta, acabando por ceder o seu uniforme e o capacete que lhe permite comunicar com as formigas, a outra pessoa, Scott Lang. Um homem que roubou o fato de Homem-Formiga para poder salvar a vida da sua filha, mas que acabaria por assumir o papel de Homem-Formiga, com a bênção do seu mentor, Hank Pym, o Homem-Formiga original. É precisamente Scott Lang, o segundo Homem-Formiga, criado por David Micheliene e John Byrne em 1979, na história que podemos ler neste volume, que é o protagonista do mais recente filme da Marvel, acabado de chegar às salas de cinema.
Finalmente, este oitavo volume da colecção Poderosos Heróis Marvel, traz ainda uma aventura do terceiro Homem-Formiga, Eric O’Grady. Protagonista de uma história em três partes, escrita e desenhada por Tim Seeley em 2011, em que o novo Homem-Formiga tem de combater o crime ao lado de Hank Pym, o Homem-Formiga original, que assumiu a identidade secreta de Vespa, em memória de Janet Pym, a sua falecida mulher, que foi a Vespa original.
Três etapas marcantes na história de um herói incontornável do Universo Marvel, reunidas num único livro, assinado por alguns dos maiores nomes que passaram pela Casa das Ideias. Um livro que permite ao leitor conhecer melhor o último poderoso herói da Marvel a chegar ao grande ecrã.
Publicado originalmente no jornal Público de 04/09/2015

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Evocando Oesterheld, no Dia de la Historieta


Desde 2009, que na Argentina o dia 4 de Setembro é legalmente considerado como o Dia de la Historieta, o dia da Banda Desenhada na Argentina. Uma data escolhida por ter sido a 4 de Setembro de 1957 que saiu o primeiro número da revista Hora Cero, onde se começou a publicar El Eternauta, a obra-prima de Oesterheld e Solano Lopez. Associando-me às comemorações, aproveito para recuperar aqui o pósfacio que escrevi a edição de Mort Cinder, publicada na colecção Novela Gráfica. A abrir, coloquei uma citação de um General argentino, que não descobri a tempo de sair no livro, mas que traduz na perfeição o clima de absoluto terror que a Junta Militar instalou na Argentina e que custou a vida a perto de 30.000 pessoas, entre as quais Oesterheld e as suas filhas.. 

"Primeiro mataremos todos os subversivos,  depois todos os que colaboraram com eles, em seguida mataremos todos os seus simpatizantes, depois os indiferentes e finalmente mataremos os tímidos."

General Ibérico Saint-Jean, Comandante Militar da Província de Buenos Aires, 
num discurso proferido em 1977

O TRÁGICO DESTINO DA FAMÍLIA OESTERHELD

Na famosa entrevista que concedeu a Carlos Trillo e Guillermo Saccomano em inícios da década de 70 e que em Portugal foi publicada por capítulos na revista Tintin, Hector Germán Oesterheld, quando lhe perguntaram porque tinha morto alguns dos heróis que criou, respondeu que a morte é a grande personagem que ninguém aproveitava devidamente. Infelizmente, na sua história familiar, a morte teve o papel principal, num drama terrível, em que o toque fantástico das aventuras de Mort Cinder deu lugar a uma intriga tão real como cruel, escrita de forma canhestra por um bando de assassinos fardados.
Tendo sido raptado no bairro de La Plata, em Buenos Aires, em 27 de Abril de 1977, por elementos ligados à junta Militar que governava o país, Oesterheld nunca mais voltou a ser visto. Anos mais tarde, em 1979, o jornalista italiano Alberto Ongaro -  que, com Hugo Pratt, fez parte do famoso Grupo de Veneza, um punhado de autores italianos que foi trabalhar para a Argentina nos anos 50 - ao tentar descobrir o paradeiro do escritor, foi-lhe dito que Oesterheld tinha sido morto por ter escrito “a mais bela biografia de Ché Guevara jamais feita”.
Embora bastante poética, essa não terá sido a razão principal do “desaparecimento” de Oesterheld, pois mesmo que a biografia do Ché, que o escritor criou em 1968 para o traço de Alberto Breccia e do seu filho Enrique, tenha sido proibida pela Junta Militar que assumiu o poder na Argentina em 1976, a verdade é que, para além de algumas ameaças veladas, nem o “velho” Breccia, nem o jovem Enrique, chegaram a ser verdadeiramente incomodados pelos militares.
Já Oesterheld, para além das posições ideológicas bem evidentes nas suas histórias, era membro activo da guerrilha Montonera, um movimento rebelde de esquerda, tal como as suas quatro filhas, tendo passado à clandestinidade em 1976, logo a seguir ao golpe de estado militar. Terá sido esse o principal motivo para que a sua família se tornasse um alvo fácil para a Junta Militar, acabando por engrossar a lista de perto de trinta mil “desaparecidos” que mancham com o seu sangue essa página negra da história argentina.
A primeira a “desaparecer” foi a sua filha Beatriz, de 19 anos, sequestrada a 19 de Junho de 1976 e executada pouco depois, tendo sido o corpo entregue à mãe a 7 de Julho, para que a sepultasse. Dias antes, a 4 de Julho, Elsa, a mulher de Oesterheld soube pelos jornais que a sua filha Diana, de 23 anos, que estava grávida de seis meses, tinha sido morta, juntamente com o marido. O filho de ambos, Fernando, então com um ano, acabaria por ser entregue aos avós paternos.
Seguir-se-ia o sequestro do seu marido, em Abril de 1977 e, em final desse mesmo ano, recebeu uma carta da filha, Estela, de 24 anos, a contar-lhe que a irmã, Marina, de 18 anos e grávida de oito meses, tinha sido morta um mês antes. No dia em que Elsa recebeu essa carta, já a sua filha Estela estava morta, tendo sido assassinada, junto com o marido.
Martin, o filho de Estela, então com 3 anos, seria entregue à avó por dois dos carcereiros de Oesterheld, que tinham proporcionado um último encontro entre o avô e o neto em El Vesubio, uma das prisões clandestinas por onde Oesterheld passou. Sabe-se que ainda estaria vivo em Janeiro de 12978, pois Eduardo Arias, outro prisioneiro, recorda-se de se cruzar com um Oesterheld muito debilitado fisicamente, no centro de detenção El Vesubio, a que os prisioneiros chamavam ironicamente o “Sheraton”, devido às péssimas condições que tinha. Calcula-se que tenha sido assassinado pouco tempo depois, mas o seu corpo, tal como os de milhares de outras vítimas da ditadura militar, nunca foi encontrado.
Em pouco menos de dois anos, Elsa Sanchéz Oesterheld viu os militares levarem-lhe nove membros da família, entre marido, filhas, genros e netos. Apenas conseguiu recuperar dois netos e enterrar uma das filhas. Os restantes “desapareceram” para sempre.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Poderosos Heróis Marvel 7 - X-Men: Caixa Fantasma


WARREN ELLIS DÁ NOVA VIDA AOS X-MEN

Poderosos Heróis Marvel, Vol. 7
X-Men: Caixa Fantasma
Argumento – Warren Ellis
Desenho – Simone Bianchi
Quinta, 03 de Setembro + 8,90 €

O próximo volume da colecção Poderosos Heróis Marvel, assinala o regresso de dois criadores já conhecidos dos leitores: Warren Ellis e Simone Bianchi. Autores que vêm dar uma nova vida à mais popular equipa de heróis da Marvel, os X-Men. Ellis, que os leitores já conhecem de Homem de Ferro: Extremis, e Bianchi, que ilustrou Wolverine: Evolução, tiveram aqui o difícil desafio de suceder ao autor e cineasta Joss Whedon (conhecido principalmente por ser o realizador dos filmes dos Vingadores) e ao desenhador John Cassaday, responsáveis por um dos maiores sucessos comerciais e críticos dos anos recentes da Marvel, com a série Astonishing X-Men. Uma fase tão marcante como popular, que abriu uma nova era dos X-Men, em que Emma Frost passou a ser a líder dos mutantes, e cujo sucesso não era fácil de replicar.
Em 2008, a Marvel confiou ao britânico Warren Ellis a espinhosa missão de continuar essa fase de Whedon em Astonishing X-Men, relançando a equipa de uma maneira particularmente adequada para permitir que os novos leitores pudessem seguir com facilidade a saga dos mutantes. É precisamente Caixa Fantasma, a primeira das três histórias que Ellis escreveu para esse relançamento, que preenche o volume que chega às bancas na próxima quinta-feira. Um volume que apresenta algumas novidades aos leitores das aventuras dos X-Men.
Os mutantes têm agora uma nova base de operações, trocando a escola para mutantes de Nova Iorque criada pelo Professor Xavier, por um novo quartel-general, em São Francisco. Têm também uniformes e equipamento novos e uma equipa reformulada, que inclui um novo membro, a jovem japonesa Hisako Ichiki, com o nome de código, Armadura. Mas o principal desafio que se apresenta aos X-Men, consiste em lidar com as consequências do dia-M, o dia em que a Feiticeira Escarlate desactivou os genes-X de milhões de membros da raça mutante, deixando apenas 198 indivíduos dessa raça com os seus poderes (um acontecimento que os leitores portugueses puderam acompanhar em Dinastia de M, o primeiro volume da segunda série que o Público e a Levoir dedicaram à Casa das Ideias).
Tudo começa com uma mera operação policial em São Francisco, onde é descoberto o cadáver em chamas de um novo tipo de mutante. Acontecimento que vai dar origem a uma complexa e movimentada aventura, que passa por um cemitério de naves alienígenas em Chaparanga, onde os X-Men defrontam um inimigo poderoso e encontram um estranho artefacto: A Caixa Fantasma. Esse misterioso objecto, que dá nome ao livro, é um dispositivo que permite abrir portais para outras dimensões. Dimensões paralelas onde se encontram raças hostis e poderosas, que vêm na Terra um alvo apetecido.
Se Warren Ellis, cria uma história cativante, com aventura e emoção, a que não falta um toque de humor, sobretudo nos diálogos de Emma Frost, não podemos deixar de referir o extraordinário trabalho do desenhador italiano Simone Bianchi. Nascido em 1972 na Itália, em Lucca, Bianchi estreou-se na Marvel com Evolução, a história do Wolverine que pudemos ler na colecção Universo Marvel, mas este volume deixa perceber claramente a grande evolução do seu traço. Há um cuidado maior nos pormenores, mantendo-se inalterável um excelente sentido de composição, que lhe permite pensar a página e a dupla página com um a unidade estética autónoma, sem que com isso a narrativa perca legibilidade. E a escala cósmica e multidimensional desta aventura, proporciona-lhe algumas paisagens futuristas. Imagens complexas, que possibilitam espectaculares composições de dupla página, que acentuam a dimensão épica desta história.
Publicado originalmente no jornal Público de 28/08/2015