segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Regresso de Adèle Blanc-Sec


Depois das experiências da Bertrand, na década de 80 do século XX, e da Witloof, em 2003, já está nas livrarias a terceira tentativa de publicação em português da série "As Aventuras de Adéle Blanc-Sec", de Jacques Tardi, desta vez pela mão da Asa, que assim junta mais um clássico da BD ao seu bem recheado catálogo.
Apesar de ser a série mais popular de um dos mais prestigiados autores franceses de BD, Jacques Tardi, "Adéle Blanc-Sec" nunca conheceu em Portugal um sucesso sequer aproximado do obtido em França, o que fez com que as duas tentativas anteriores de publicar a série em Portugal, tenham fracassado comercialmente.

Daí a estranheza nesta aposta arriscada da Asa, ainda mais quando os volumes editados pela Witloof ainda se encontram nas livrarias a preço de saldo, mas que terá como possível explicação a tentativa de "apanhar boleia" da adaptação ao cinema feita por Luc Besson, que conheceu grande sucesso em França e que já está comprada para exibição em Portugal, mesmo que ainda não se saiba quando chegará às salas de cinema portuguesas...
Mas, considerações comerciais à parte, é de aplaudir a aposta da Asa numa excelente série, que recupera para a BD o mistério e o suspense dos folhetins do século XIX, com uma heroína, Adéle, com um comportamento muito à frente do seu tempo, que bebe, fuma e dispara com um homem.
O primeiro volume editado pela Asa, é um volume duplo que recolhe os dois primeiros álbuns da série, "Adèle e o Monstro" e " O Demónio da Torre Eiffel", em que Adèle enfrenta respectivamente, um pterodáctilo e uma seita de adoradores do demónio, que se escondia nas catacumbas de Paris. Para além da acção, do humor, e das peripécias rocambolescas, o trabalho de Tardi destaca-se pelo rigor da reconstrução histórica da Paris dos anos 10 do século XX, em que decorre a acção.

Agora, resta esperar que se cumpra o ditado, que diz que à terceira é de vez e que a edição da Asa consiga ter o sucesso que faltou às tentativas anteriores, de modo a podermos finalmente ler em português a totalidade das aventuras de Adéle, que em França conta já com nove álbuns publicados e um décimo (o volume final da série) a caminho.
(“Adele Blanc-Sec” Volume 1, de Jacques Tardi, Edições Asa, 98 pags, 21,70 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 6/11/2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

The Walking Dead


Apesar da febre dos vampiros provocada pela série Twilight e que até chegou às televisões nacionais, dando origem a telenovelas juvenis com vampiros (!?) os zombies são outra criatura fantástica que também tem conhecido um certo ressurgimento público recente, visível em filmes como "Zombieland" e em livros como "Pride and Predjudice and Zombies", em que Seth Grahame-Smith pega no texto clássico de Jane Austen e acrescenta-lhe zombies e cenas gore. Mas é na Banda Desenhada (BD) que o regresso dos zombies se mais tem feito notar, através de séries como "Marvel Zombies", "Victorian Undead" (em que Sherlock Holmes enfrenta zombies na Londres vitoriana), "Z.M.D., Zombies of Mass Destruction" e a mais recente "I, Zombie", da Vertigo, o ramo adulto da DC Comics, que albergou títulos como o Sandman, de Neil Gaiman.

Mas a mais interessante série de zombies em BD e a que maior sucesso tem conhecido ao longo dos últimos anos é, sem dúvida "The Walking Dead", de Robert Kirkman, Tonny Moore e Charles Adlard. Publicada mensalmente pela editora Image desde 2003, Walking Dead tem quase 80 números publicados, a maioria já reunidos nos 12 trade paperbacks (volumes encadernados que recolhem 6 números cada) actualmente disponíveis. Escrita por Robert Kirkman, argumentista responsável por séries como "The Battle Pope", "Invincible" e "Astounding Wolf-Man", "The Walking Dead" é uma série a preto e branco, com desenhos de Tonny Moore nos 6 primeiros números e a partir do nº 7, do inglês Charlie Adlard, com Clif Rathburn a assegurar as tramas e os cinzentos, para além das cores das capas.
O protagonista da série é Rick Grimes, um polícia de uma cidadezinha do Kentucky que, depois de ter sido baleado, entra em coma, despertando algum tempo depois numa cama de hospital, para descobrir que foi abandonado à sua sorte, num hospital pejado de zombies famintos. O ponto de vista do leitor é o mesmo de Rick, que nunca chega a saber o que motivou o aparecimento dos zombies, ou até que ponto se trata de um problema que afecta apenas os Estados Unidos, ou se se trata de uma pandemia a nível mundial.

Depois de vaguear pela cidade infestada de zombies, Rick encontra Glenn, um jovem batedor ao serviço de um grupo de sobreviventes, onde estão a mulher e o filho de Rick, que tinham abandonado a cidade para irem para Atlanta, local recomendado como seguro pelas autoridades, numa fase inicial da epidemia, em que se pensava que a mesma podia ser contida.
A dinâmica desse grupo de sobreviventes, e a forma como a personalidade dos seus membros vai evoluindo face a uma realidade hostil e dramática, acaba por ser o fulcro da série, que pega num grupo de pessoas normais sujeitas a circunstâncias excepcionais e analisa as suas reacções num mundo em que confortos como a televisão, telemóveis, ou Internet são apenas recordações. Ou seja, na prática, The Walking Dead (TWD) começa no momento em que os filmes de zombies costumam terminar, mas é esse mesmo o objectivo de Kirkman, que declarou numa entrevista: “Para mim, a pior parte dos filmes de zombies é o fim. Sempre quis saber o que acontece a seguir. Mesmo quando todas as personagens morrem no fim… gostava que o filme continuasse. (…) A ideia em Walking Dead é continuar a acompanhar as personagens, neste caso, Rick Grimes, enquanto for humanamente possível. Quero que The Walking Dead seja a crónica de vários anos da vida de Rick. NUNCA nos questionaremos sobre o aconteceu a Rick a seguir, pois vamos assistir a esses acontecimentos. The Walking Dead vai ser o filme de zombies que não tem fim. Bem… pelo menos, não nos tempos mais próximos.”

Apesar da constante presença ameaçadora dos zombies (que nunca são tratados por esse nome ao longo da série), que provocam várias baixas no grupo, a que se vão juntando novas personagens que vão encontrando pelo caminho, a maior ameaça acaba sempre por vir do próprio homem, disposto a tudo para sobreviver e liberto de quaisquer restrições legais e morais. O próprio Rick que, como polícia, é alguém habituado a respeitar e a fazer cumprir a lei, acaba por fazer coisas que vão contra tudo o que acreditava, quando está em causa a sobrevivência dos que lhe são próximos.
Série de grande violência, que nunca é gratuita, mesmo que por vezes ultrapasse quase os limites do suportável, TWD alterna as cenas de acção, com os momentos mais introspectivos, alternâncias de ritmo estudadas por Kirkman de forma a aumentar o impacto das sequências de maior dramatismo. O leitor de TWD já sabe que a calma precede sempre a tempestade e que, com a excepção de Rick, qualquer um dos outros personagens pode morrer na página seguinte.

Ao longo dos sete anos que a série já leva de publicação, o grupo de sobreviventes viu morrer muitos dos seus membros e ganhou outros, como Michone, uma negra que maneja uma espada samurai com perícia mortal e que rapidamente se tornou das mais carismáticas personagens da série. Além disso, no seu deambular pelas estradas da América, em busca de um lugar seguro onde viver em paz, sucedem-se os encontros com outros sobreviventes, que por vezes se revelam um perigo bem maior do que os próprios zombies. Sem nunca conseguir encontrar uma “terra prometida” onde possa viver em paz, o grupo de sobreviventes parece condenado a errar eternamente numa América devastada, o que deixa a dúvida se o título da série, “The Walking Dead”, se refere aos zombies, ou ao grupo de sobreviventes liderados por Rick Grimes.

O sucesso crescente da série que, ano após ano, continua a ganhar novos leitores e a esgotar sucessivas reedições, despertou o interesse de Hollywood e TWD tornou-se também uma série de televisão, produzida pela AMC, canal responsável pela premiada série Mad Men. Depois de ter anunciado a produção de um episódio piloto, escrito e dirigido pelo realizador Frank Darabont, responsável por filmes como The Shawshank Redemption, ou The Green Mile, o Estúdio decidiu avançar para uma primeira série de seis episódios, que tem tido excelentes audiências, confirmando as grandes expectativas que a AMC tem para a série. Expectativas partilhadas pela Fox, que adquiriu os direitos de distribuição fora dos EUA e que começou a exibir a série a nível mundial, dois dias apenas após a estreia nos EUA, estando a passar também no cabo em Portugal, no canal principal da Fox.
Kirkman, que é produtor executivo da série da AMC, prometeu uma série televisiva “110% fiel à BD em termos de espírito e ambiente”, mas que nunca será uma transposição, quadrado a quadrado da Banda Desenhada. E os episódios já exibidos até agora (o 4º episódio, escrito por Kirkman, passou ontem nos EUA e vai ser emitido pela Fox em Portugal na terça-feira, 23 de Novembro) mostram que Kirkman tem razão. Para além de algumas alterações menores em termos da sequência dos acontecimentos, surgem personagens novas, como Merle (que aparece na última imagem deste post) e Daryl, os dois irmãos “redneck”, que estão assumir grande destaque. Alternando uma boa caracterização psicológica das personagens, servidas por bons actores (o inglês Andrew Lincoln, que faz de Rick Grimes, é excelente), com muita acção e excelentes efeitos especiais a cargo de Greg Nicotero, a série está a ser um grande sucesso tanto de crítica, como de audiências, estando já assegurada uma segunda temporada, desta vez, de 13 episódios.

Quanto a Robert Kirkman, apesar do seu grande envolvimento na série, como produtor executivo e argumentista, soube resistir ao “canto de sereia” de Hollywood, continuando a ter na Banda Desenhada a sua grande prioridade, para felicidade dos milhões de leitores em todo o mundo, incluindo Portugal, onde a Devir acabou de lançar o primeiro volume, que seguem religiosamente The Walking Dead, tanto na BD, como agora, na TV.
Este texto tem por base os artigos publicados no nº 8 da revista "Bang" e no "Diário As Beiras" de 30/10/2010, com uma actualização a propósito da série de televisão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lucky Luke contra Pinkerton


Prosseguindo a colaboração com o jornal “Público”, a Asa distribuiu no passado dia 18 de Outubro com o jornal, o álbum “Lucky Luke contra Pinkerton”, a mais recente aventura do cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra, lançada em França três dias antes, numa edição que conta com uma capa exclusiva desenhada por Achdé, de propósito para o mercado português. Uma estratégia comercial que a Asa tem seguido também com outras séries e que no caso deste último Lucky Luke vai mais longe do habitual, com três capas diferentes, duas delas exclusivas para Portugal, acompanhando as edições do Público e da FNAC, ficando a capa da edição francesa, que encima este post, reservada para a edição destinada ao mercado tradicional de livrarias.

Falecido em 2001, Morris, tal como Jacobs e ao contrário de Hergé, não deixou instruções expressas para que o seu herói morresse com ele, pelo que foi com naturalidade que a série continuou sem o seu criador original. A dupla escolhida pela editora Dargaud para prosseguir a série foi Laurent Gerra no texto e Achdé no desenho, autores que em 2004 se estrearam com “Lucky Luke no Quebeque”, álbum que veio trazer um novo fôlego a uma série bem necessitada dele, com resultados bastante superiores aos de Morris na fase final.
Neste quarto álbum post-Morris, o humorista Laurent Gerra cede o lugar a dois escritores franceses de sucesso, Daniel Pennac e Tonino Benacquista. Embora tenham construído uma sólida carreira no campo da literatura, os dois escritores e amigos de longa data, não são propriamente neófitos no campo da Banda Desenhada. Pennac assinou com Tardi o álbum “La Debauche”, que foi editado em 2000 em Portugal pela Terramar, com o título “A Sacanice”, enquanto Benacquista colaborou com Ferrandez, Barral e Berlion, na adaptação à BD de romances seus e em histórias originais. Mas a verdade é que, apesar da experiência, Pennac e Benacquista saem-se pior do que o novato Gerra nos três álbuns que assinou.
A história que coloca o velho cowboy solitário Lucky Luke contra a modernidade representada por Pinkerton e pela sua agência de detectives, cumpre o habitual “cadernos de encargos” da série. Temos uma personagem histórica, a presença dos Dalton e de Rantanplam, as tiradas de Jolly Jumper e as cenas de tiroteio habituais e alguns momentos de (relativo) humor, mas tudo soa demasiado requentado e a quilómetros da época de ouro em que Goscinny assinava os argumentos das aventuras do cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra. Achdé manifesta o seu profissionalismo habitual, enchendo as páginas de pormenores deliciosos, mas a história que ilustra está longe de deslumbrar. Esperemos que a próxima incursão de Pennac e Benacquista pela BD corra melhor…
(“Lucky Luke contra Pinkerton”, de Achdé, Pennac e Benacquista, Edições Asa, 48 pags, 9,99 €)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 23/10/2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dragon Ball Regressa a Portugal


Depois do “Astroboy”, de Tezuka, a Asa volta a apostar num clássico do mangá com a edição da série “Dragon Ball”, de Akira Toriyama. Já editada anteriormente em Portugal pela Planeta Agostini, em 2000 e 2001, numa edição para os quiosques, a série regressa agora numa mais cuidada edição para as livrarias.
Dragon Ball, antes de ser uma série de animação que teve um sucesso estrondoso em Portugal, começou por ser um mangá (nome dado à BD no Japão) de sucesso que permitiu ao seu jovem autor, Akira Toryama firmar a sua posição no competitivo mercado japonês. Na origem de “Dragon Ball”, série cuja pré-publicação se iniciou em Novembro de 1984 nas páginas da revista “Shonen Weekly Jump”, estão “Dragon Boy”, um projecto anterior de Toryama que narra as andanças de um jovem guerreiro que conta com a ajuda de um pequeno dragão saído de uma bola de cristal, e a lenda chinesa de Sun Wu Kong, “O Rei Macaco”, que já foi alvo de outras adaptações à BD, entre outros, por Milo Manara.
Son Goku, o jovem guerreiro ingénuo de cauda de macaco e coração puro é pois o protagonista de uma saga épica, cheia de personagens carismáticos e que, à boa maneira japonesa, se prolonga por 42 volumes de quase 200 páginas cada, em que o ponto de partida inicial, a busca das sete bolas de cristal cuja junção permite evocar o espírito de um poderoso dragão, cedo dá lugar a uma série de combates ritualizados, integrados num percurso iniciático que permitirá aos personagens sujeitos a treinos violentíssimos, ascender aos estatuto de super-guerreiros. Mas, complementando a acção, para além do humor, existem toda uma série de relações sentimentais e familiares, que se vão desenvolvendo ao longo da série e que não tem grande paralelo nos congéneres ocidentais, onde estes elementos mais “telenovelescos” geralmente estão ausentes.
Tal como já acontecia com a anterior edição da Planeta Agostini, a edição da Asa também respeita o original japonês, até na forma como está impressa, inversa aos padrões ocidentais, com a história a ler-se de trás para a frente e, dentro de cada página, da direita para a esquerda. Algo que vai exigir algum esforço de adaptação da parte dos leitores, mas que não deve ser impedimento para descobrir esta divertida série e verificar até que ponto a série televisiva é, ou não, fiel ao mangá que lhe deu origem. Agora convém ver se a Asa consegue manter um ritmo de publicação regular, indispensável para poder manter os leitores presos a uma série de grande fôlego, que se prolonga por 42 números.
(“Dragon Ball” de Akira Toryama, Edições Asa, 190 pags, 9,50 € cada volume)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 16/10/2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Gerónimo Stilton chega à BD


Provavelmente, o nome “Geronimo Stilton” pouco dirá à maioria dos leitores desta secção, mas se esses leitores tiverem filhos entre os 8 e os 12 anos, a situação será certamente diferente! É que o rato Gerónimo Stilton, além de jornalista e director do jornal “O Eco dos Roedores” é actualmente uma das mais populares personagens da literatura infantil.
Criada em 2000 por Elisabetta Dami, uma escritora italiana de livros infantis, que assina os seus livros como se fosse o próprio Stilton a escrevê-los, a série “Gerónimo Stilton” conheceu um sucesso estrondoso, com mais de 40 títulos publicados em 35 linguas, incluindo o português, com a Editorial Presença a publicar a série a um bom ritmo.
Mas além dos romances, as aventuras de Geronimo Stilton chegaram a outros suportes, como a televisão, com uma série de animação de 26 episódios que estreou em Itália em 2009 e também passou em Portugal, na RTP 2 e no Canal Panda, e a Banda Desenhada, com uma série de álbuns de formato europeu (capa dura e 48 páginas a cores), que são precisamente o que motiva este texto.
Com efeito, desde Outubro do ano passado que a Editora Planeta tem publicado as aventuras em BD de Gerónimo Stilton, tendo já lançado três volumes, com um quarto anunciado para o próximo mês de Novembro.

De “À Descoberta da América”, o primeiro álbum, até “Trafulhices no Coliseu”, passando pelo “Segredo da Esfinge”, o esquema é sempre o mesmo, Gerónimo e os seus amigos (incluindo a sua irmã, Tea, que também tem direito à sua própria série de BD), são obrigados a viajar no tempo para impedirem os Gatos Piratas de alterar o curso da História, o que os leva a embarcar com Cristovão Colombo rumo ao Novo Mundo, acompanhar a construção da Esfinge de Gizé no Egipto e desmontar uma conspiração que pretendia derrubar o Imperador Tito, na Roma Antiga. Ou seja, uma forma agradável de ensinar História aos leitores mais novos, concretizada com profissionalismo e eficácia.
(“Gerónimo Stilton 1: à Descoberta da América”, de Elisabetta Dami e Lorenzo de Pretto, Planeta Júnior, 48 pags, 12,80 €
“Geronimo Stilton 2: O Segredo da Esfinge”, de Elisabetta Dami e Gianluigi Fungo, Planeta Júnior, 48 pags, 12,80 €
“Geronimo Stilton 3: Trafulhices no Coliseu”, de Elisabetta Dami e Studio Wasabi, Planeta Júnior, 48 pags, 12,95 €)
Texto originalmente publicado no "Diário As Beiras" de 9/10/2010