sábado, 24 de novembro de 2012

Danças com Zombies


Depois de Osvaldo Medina, com “A Fórmula da Felicidade” a Kingpin dá a descobrir mais um grande desenhador, oriundo do meio da animação, a talentosa Joana Afonso que assina aqui o seu primeiro projecto de grande fôlego na BD, em colaboração com Nuno Duarte, no argumento.

Ambientado no Portugal salazarista dos anos 60, “O Baile” acompanha a investigação de um agente da PIDE, o inspector Rui Brás, numa aldeia de pescadores perto da Nazaré, onde os mortos voltam do mar para levar consigo os vivos. Ou seja, estamos perante um conto de terror, com laivos de policial, com zombies, onde, como bem salienta Filipe Melo no prefácio, são visíveis as influências do filme “The Wicker Man” e do “Dagon”, de Lovecraft, mas que ganha um toque de portugalidade e originalidade, ao transpor a acção para o Portugal do Estado Novo.
Argumentista experiente de televisão e membro das produções Fictícias, Nuno Duarte mostra mais uma vez que sabe contar uma história em Banda Desenhada, com grande eficácia e personagens com substância, algo que “A Fórmula de Felicidade” já tinha deixado perceber. Mas o trunfo maior deste livro é a arte de Joana Afonso. Extremamente personalizados e com um toque caricatural (vejam-se os narizes à Pinóquio), os desenhos de Joana Afonso, “primeiro estranham-se e depois entranham-se”, como diria o Poeta. Neste caso, a sua arte ajuda e muito à criação de uma atmosfera surreal e de um clima de tensão, que explode em momentos de puro terror. Com uma paleta dominante de tons de terra, algo inesperada numa história em que o mar tem grande importância, Joana Afonso, revela-se para além de uma grande desenhadora e narradora, uma excelente colorista.
Em suma, uma bela estreia, de uma desenhadora cujo currículo na BD se limitava a duas ou três histórias curtas na revista Zona, numa história interessante e bem contada (e não há assim tantas quanto isso no panorama rarefeito da BD nacional), que nos faz aguardar com ansiedade pelos novos projectos destes dois criadores a seguir com atenção. (“O Baile”, de Nuno Duarte e Joana Afonso, Kingpin Books, 49 pags, 10,99 €)
Versão integral do texto publicado no Diàrio As Beiras de 23/11/2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Caçador de Autógrafos II: Edmond Baudoin


Enquanto não escrevo sobre o Festival da Amadora (estou a preparar um post de balanço, a publicar durante a próxima semana) aproveito a presença de Baudoin na Amadora durante o fim de semana passada, para ressuscitar uma rubrica deste blog, que tem estado algo esquecida: Caçadores de Autógrafos. Neste caso, com os diferentes desenhos que Baudoin me fez ao longo do tempo, desde o Festival de Angoulême, em 1998 e 2000, até ao Festival da Amadora deste ano, passando pelo Salão Lisboa de 2001. E uma primeira constatação é óbvia. Baudoin aplicou-se muito mais nos desenhos feitos em portugal, do que nos do Festival de Angoulême, onde a pressão do público é muito maior. Mas, como uma palavra vale mais do que mil imagens, aqui ficam os belíssimos desenhos de Baudoin, um autor tão simpático como virtuoso.

Angoulême, 1998

Angoulême, 2000

Lisboa, 2001

Amadora, 2012

Amadora, 2012