quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Hermann - Grande Prémio em Angoulême


Ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, este ano, o Grande prémio de Angoulême foi anunciado ainda antes do Festival começar. Da lista final de três autores, Alan Moore, Claire Wendling e Hermann, a escolha dos autores de BD votantes acabou por cair em Hermann, que vemos na imagem acima, a receber o troféu das mãos de Katshuiro Otomo, o anterior vencedor.
Independentemente de ser grande admirador do desenhador belga, esta parece-me a escolha óbvia, pois Wendling, apesar de ser uma extraordinária ilustradora, não tem uma carreira na BD que justifique uma distinção destas e Moore já declarou por diversas vezes que não estava interessado em receber o Prémio.
Autor de Jeremiah e das Torres de Bois Maury, para além de dezenas de histórias soltas, ilustrador de Comanche e de Bernard Prince - série cuja colecção, distribuída com o jornal Público, chega ao fim no mesmo dia em que lhe é atribuido o Grande Prémio de Angoulême - Hermann  é um vencedor mais do que merecido e esta distinção só peca por tardia. E o facto de só agora ter acontecido, justifica-se pelos anti-corpos que Hermann, pela sua frontalidade, tinha junto do colégio dos anteriores vencedores, que durante muitos anos escolheu o vencedor do Grande Prémio.
Grande desenhador, notável aguarelista e extraordinário contador de histórias, Hermann, aos 77 anos, permanece em grande forma e extremamente activo, tendo acabado de lançar um novo álbum, Old Pa Anderson que, diz quem já leu, está ao nível dos seus melhores trabalhos.
Felicitando Hermann que, como pôde constatar quem com ele contactou no Festival de Beja, até é uma pessoa de trato bem agradável, deixo-vos com as declarações do próprio sobre o merecido prémio que consagra uma carreira de mais de quarenta anos ao mais alto nível.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A Caminho de Angoulême

Mantendo a tradição que, neste caso, felizmente que ainda é o que era, lá vou mais mais uma vez ao Festival de Angoulême. Num ano marcado pela polémica em torno da ausência de mulheres nos candidatos ao Grande prémio, que a organização resolveu de forma canhestra, juntando Claire Wendling, uma excelente ilustradora, mas que já não faz BD há mais de 20 anos, à lista final de candidatos, não faltam motivos de interesse para o visitante.
Desde logo a presença, rara, de Katshuiro Otomo, o criador de Akira e autor do magnífico cartaz, cheio de pormenores deliciosos, Mas também não faltam grandes exposições, como a dedicada a Morris, o criador de Lucky Luke, a Hugo Pratt e ao seu Corto Maltese, para além evidentemente, da mostra dedicada a Otomo.
No início de Fevereiro, podem contar com a habitual reportagem fotográfica aqui no blog, mas como este ano, por razões de trabalho, vou ter de ir com o computador atrás, contém também com algumas notícias em directo, durante o Festival.
Vemo-nos por aqui.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

As 10 Melhores BDs que li em 2015 - Parte 2


Aqui está finalmente a segunda e última parte desta lista. Estive indeciso entre a série Undertaker e Sykes, dois excelentes Westerns, mas acabei por optar por Sykes, pela descoberta de um grande desenhador, Dimitri Armand. A nova série de Jason Aaron e R. M. Gera, The Goddamned, também esteve quase a entrar nesta shortlist, mas ainda apenas saíram dois números desta nova série e algumas séries não cumprem as expectativas cridas pelos primeiros números. Basta pensar  na série Sex Criminals, que começou de forma espectacular, mas decaiu muitíssimo nos últimos tempos...


6 - Pepe, Vols 1 a 5, Carlos Giménez, Panini
Embora seja conhecido principalmente como o melhor desenhador de sempre da Vampirella, José (Pepe) Gonzalez foi muito mais do que isso. Foi um fabuloso ilustrador, com uma capacidade única para desenhar mulheres e uma personagem fascinante, com uma vida de boémia e um lado sombrio que os seus desenhos não revelavam. Seu companheiro na agência Selecciones Ilustradas de Josep Toutain, Carlos Giménez que já tinha contado esses tempos em BD na série Los Professionales, volta ao tema, socorrendo-se das suas memórias, dos depoimentos de quem conheceu Pepe ao longo da vida e de um exaustivo trabalho de investigação, para criar este biografia monumental de Pepe Gonzalés. O artista, mas sobretudo o homem.



7 - Sykes, Dubois e Armand, Signé/Lombard
Decididamente, o Western na BD franco-belga vive uma nova época de ouro. Basta pensar nas séries Bouncer e Undertaker e, sobretudo, neste Sykes. Escrito por  Pierre Dubois, um escritor mais conotado com a fantasia, graças às dúzias de livros e BDs que dedicou ao tema, este belíssimo Western parte de uma história clássica de vingança  a que o soberbo traço de Dimitri Armand, um artista tão talentoso como versátil (é o desenhador da nova versão de Bob Morane) dá uma dimensão superlativa. Em suma, uma boa história, muito bem contada e melhor desenhada.


8 - The Sandman: Overture, Neil Gaiman e J. H. Williams III, DC/Vertigo 
Muito aguardado pelos fãs, este regresso de Neil Gaiman a Sandman, cumpre as altíssimas expectativas criadas. Gaiman fecha o ciclo, com grande eficácia e elegância, contando uma história que nos mostra como Morfeus foi parar na situação difícil em que se encontra no início da série, mas quem mais brilha é a arte de J.H.Williams III, um fabuloso ilustrador, que consegue superar o seu extraordinário trabalho gráfico em Promethea e Batwoman. Tão talentoso como versátil e criativo, Williams tem aqui um trabalho absolutamente sublime, de uma beleza avassaladora.


9 - The Sculptor, Scott McCloud, SelfMadeHero
O regresso de Scott McCloud à BD, depois de três livros sobre BD, entre os quais o incontornável Understanding Comics, faz-se com este The Sculptor. Um belo romance gráfico com quase quinhentas páginas, que, apesar de por vezes resvalar para a lamechice, é uma muito bem construída reflexão sobre o amor, a morte e a criação artística, marcada por algumas soluções narrativas, tão interessantes como inovadoras



10 - Tungsténio/ Talco de Vidro, Marcelo Quintanilha, Polvo 
Marcelo Quintanilha é um dos mais interessantes autores brasileiros da actualidade e os dois livros, que juntei numa única entrada, por os ter lido de seguida e terem vários pontos de contacto, confirmam-no. Tungsténio é um policial negro passado na Baía e Talco de Vidro é um drama psicológico, mas em ambos os casos, a qualidade dos diálogos e da voz off, que me lembrou a escrita de Rubem Fonseca, e o talento narrativo, com algumas soluções gráficas muito interessantes para mostrar a perturbação da personagem de Talco de Vidro, mostram um autor completo, com um perfeito domínio da linguagem da BD.  

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As 10 Melhores BDs que li em 2015 - Parte 1


Ao contrário do ano passado, em 2016 consegui que esta lista das melhores Bandas Desenhadas que li pela primeira vez em 2015, ficasse disponível logo no início de Janeiro.
Num ano tão recheado, tanto em quantidade como em qualidade, de grandes livros, não foi fácil escolher dez títulos. Acabei por optar por estes dez, mas quase podia ter escolhido outros tantos.
Aqui fica a primeira parte da lista, ordenada por ordem alfabética. Para a semana, fica prometida a segunda, e última, parte.

1 - Alias: A.K.A. Jessica Jones, Bendis e Gaydos, Marve/Max
Confesso que, na altura em que saiu, não senti grande interesse em ler esta série. Só este ano, graças à excelente série Jessica Jones, da Netflix, decidi corrigir o erro.O traço de Michael Gaydos, que me parecia demasiado estático e pouco atraente, funciona perfeitamente nesta série, articulando-se harmoniosamente com os diálogos de Brian Michael Bendis, aqui ao seu melhor nível.
Embora mantendo um nível geral muito alto, a série tem momentos geniais, como o episódio, inteiramente pintado por Gaydos, em que Jessica é contratada por J. Jonah Jameson para investigar o Homem-Aranha para o Daily Bugle, ou o último arco de histórias, que serviu de base à série da Netflix.
2 - DKIII: The Master Race, Miller, Azzarello, Kubert e Janson, DC Comics
Tendo em conta os últimos trabalhos de Frank Miller, havia fundados receios quanto a este terceiro Dark Knight. Mas Miller, que parece ter vencido a doença que o afectou nos últimos anos, regressou à BD cheio de energia e em grande forma. Rodeado de uma equipa de luxo, onde se destaca o argumentista Brian Azzarello, que assina a história ao lado de Miller, e o arte-finalista Klaus Janson, que volta a trabalhar com Miller 30 anos depois, DKIII mostra, por enquanto (apenas saíram 2 dos 8 capítulos da série) estar à altura da história original, criando uma continuação que não esquece o Dark Knight Strykes Again, actualizando o universo criado por Miller para o século XXI. Bem escrito, bem desenhado (por um Andy Kubert que faz uma síntese bem interessante entre o Miller do Dark Knight e o Miller do Sin City, sem abdicar do seu estilo próprio) melhor narrado e superiormente produzido, DKIII, não podendo ter o impacto da história original, não desmerece em nada em nada o recheado currículo dos autores envolvidos.
3 - Kong, the King, Osvaldo Medina, Kingpin Books
Osvaldo Medina já tinha mostrado ser um dos mais produtivos e versáteis desenhadores nacionais, mas neste Kong, the King afirma-se como autor completo, contando uma história de mais de cem páginas inteiramente sem palavras, recorrendo apenas ao desenho.
Variação sobre o filme King Kong, com o gorila gigante a ser substituído por um guerreiro selvagem, Kong é uma história tão simples como eficaz, com eventuais laivos autobiográficos, contada com a mestria narrativa ímpar, que revela um autor com um perfeito domínio da linguagem da Banda Desenhada.
4 - La Casa: Crónica de una Conquista, Daniel Torres, Norma Editorial
Fruto de seis anos de trabalho, entre a pesquisa, concepção e o desenho final, La Casa é um projecto tão ambicioso como conseguido, de tratar a evolução dos edifícios como espaço de vivência ao longo da história, recorrendo ao texto, à ilustração e à Banda Desenhada, que marca o regresso em grande de Daniel Torres às Livrarias.
Obra monumental, de quase 600 páginas, divididas por 26 capítulos, La Casa reúne uma série de relatos, em que o grafismo, a planificação e o ritmo narrativo se vão alterando conforme as épocas, tendo como protagonista a casa, enquanto um espaço interior habitado por personagens . Um espaço de memória que, nas palavras do autor, surge como "teatro da vida privada, cenário de paixões, marco de ruídos e silêncios e lugar de aprendizagem  e de recordação". O resultado é um livro extraordinário e inclassificável
5 - Le Rapport de Brodeck Vol 1, Manu Larcenet e P. Claudel, Dargaud
Depois de Blast!, Manu Larcenet volta a surpreender os leitores com esta adaptação de um romance de Philippe Claudel, vencedor do Prémio Goncourt em 2007.Escritor e cineasta, Claudel que recusou diversas propostas de adaptação cinematográfica do seu livro, não hesitou a dar luz verde a Larcenet, para adaptar o seu livro à BD. E o resultado é espectacular. Usando um preto e branco de alto contraste, Larcenet constrói uma história sombria, de grande tensão psicológica, revelando um extraordinário talento gráfico que o seu registo caricatural, em obras como Le Combat Ordinaire, ou Le Retour à la Terre não deixavam antever.Um livro tão belo como perturbador, que mostra um Larcenet cada vez melhor desenhador e um verdadeiro mestre do preto e branco.
Continua...