sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Harley Quinn 3 - O Fim da Macacada

Com este post, chega ao fim a mini-colecção da Harley Quinn e também os meus posts de 2017. Um ano em que, mais uma vez, acabei por escrever menos do que contava neste Blog. Vemo-nos em 2018!

DE CONEY ISLAND A SAN DIEGO

Harley Quinn: O Fim da Macacada
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Marco Failla e vários
Quinta, 28 de Dezembro, Por + 10,90 €
Depois de dois volumes passados em Coney Island, Nova Iorque, os horizontes da Harley Quinn alargam-se consideravelmente neste terceiro e último volume da mini-colecção que o Público e a Levoir lhe dedicaram.
Com efeito, a aterragem da Poderosa, como se de um meteorito se tratasse, na praia de Coney Island vem introduzir a dimensão mais super-heróica do Universo DC que tem estado praticamente arredada da série, com a excepção da presença da Hera Venenosa, cuja relação ambígua com a Harley foi finalmente clarificada por Palmiotti e Conner. A presença da Poderosa permite aos autores gozar com os clichés habituais das histórias de super-heróis, desde os uniformes nada práticos e demasiado reveladores, as anatomias quase impossíveis e as identidades secretas, numa história em que a Harley se aproveita da amnésia da Poderosa para a convencer de que são uma dupla de super-heroínas. E é a combater o crime ao lado da Poderosa, que Harley vai parar a um Planeta desconhecido, governado pela Rainha Eidijamon, que não aceita muito bem o facto de Harley lhe matar o seu amante terrestre. Mas as aventuras espaciais de Harley e da Poderosa, desenhadas por Marco Failla de modo a permitir a Chad Hardin manter o ritmo de publicação mensal, não se ficam por aqui, pois a dupla tem ainda que enfrentar o Lorde Manos, um ditador cósmico que conta no seu exército com uma criatura que parece uma fatia de pizza com cogumelos… Esta delirante aventura serve para os autores parodiarem as sagas cósmicas da DC e Marvel, escritas por autores como Jack Kirby e Jim Starlin, sendo fácil ver no Lorde Manos uma homenagem ao Thanos de Jim Starlin, que surgiu como a resposta da Marvel ao Darkseid de Jack Kirby, que os leitores bem conhecem de anteriores colecções da DC.
Terminada a breve parceria com a Poderosa, o resto do livro prossegue com histórias afastadas da cronologia habitual da revista, como é o caso de Infelizes para Sempre, história pertencente ao evento Future’s End, que nos mostra o Universo dos Novos 52, cinco anos depois do seu início. Uma realidade alternativa, em que Harley vai parar a uma ilha misteriosa depois de um desastre de avião. Uma ilha onde o Joker é adorado como um Deus pelos nativos, o que possibilita aos autores concretizarem o sonho de muitos leitores, com o casamento da Harley com o Joker, que assim faz a sua espectacular estreia na série. Mas, como não podia deixar de ser, o casamento de sonho da Harley acaba por se transformar num pesadelo, quando descobre que os nativos a querem sacrificar num vulcão…
Finalmente, para encerrar em beleza esta colecção, Harley volta a derrubar a “quarta parede” de forma espectacular, numa história onde decide ir à Comic Con de San Diego para falar com um editor que publique o seu comic (desenhado na realidade por Amanda Conner) e encontrar os seus editores e criadores. Um final tão divertido quanto épico, que para além da participação especial de autores como Jim Lee, Paul Dini e Bruce Timm como personagens, conta com a arte de inúmeros artistas convidados, como Paul Pope, Javier Garrón, Damion Scott, Amanda Conner, John Timms, Marco Failla e Dave Johnson.

Publicado originalmente no jornal Público de 23/12/2017

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia



Depois da pièce de resistance que foi Os Vampiros, Filipe Melo e Juan Cavia regressam à BD com dois belos aperitivos, Majowski e Sleepwalk, reunidos no livro Comer/Beber, lançado em meados deste mês na Comic Con Portugal, onde a dupla de criadores tem sido uma presença regular.
Na origem deste projecto, diferente até no formato de histórias (mais ou menos) curtas, por oposição aos relatos de maior fôlego, como a trilogia de Dog Mendonça e, sobretudo, Os Vampiros, está um convite de Carlos Vaz Marques para que Melo e Cavia produzissem uma BD para o nº 9 da revista Granta, que tinha precisamente como tema Comer e Beber. Embora a pretensão dos autores fosse fazer, não uma, mas duas histórias para a Granta, os condicionamentos dos prazos de produção da própria revista limitaram (temporariamente) a ambição dos autores e apenas Sleepwalk, a primeira das duas histórias previstas, foi publicada na revista, completando-se o projecto meses depois, com a publicação do mini-livro que motiva este texto e que reúne, embora numa ordem diferente à que o próprio título faria esperar, Majowski e Sleepwalk, as duas histórias profundamente humanas dedicadas à comida e à bebida, ou mais exactamente a uma tarte de maçã e a uma garrafa de champanhe.
Passada na Alemanha nazi, durante a Segunda Guerra Mundial, Majowski parte de uma história real, contada por Beatrice Schilling, a avó de arquitecta e cantora (e amiga do Filipe) Nádia Schilling, sobre uma garrafa de champanhe que o seu avô, proprietário de um dos melhores restaurantes de Berlim, guardou para beber numa noite especial. Já Sleepwalk é uma história de ficção, que podia muito bem ser um filme de série B americano, ou a letra de uma canção de Bruce Springsteen, sobre um homem que faz uma longa viagem pelos Estados Unidos para levar uma tarte de maçã a um amigo.
Para mim, a mais conseguida das duas histórias, é Sleepwalk, cujo ritmo lento e contemplativo e a utilização de uma música como título, tem paralelismo com Os Vampiros. Muito bem contada e magnificamente desenhada, Sleepwalk sugere mais do que mostra, obrigando o leitor a pensar e tirar as suas próprias conclusões, um pouco à semelhança do que também acontecia em Os Vampiros. Além disso, toda a estética da história remete-nos para uma América cinematográfica, que vai de David Lynch a Wim Wenders, que nos leva a pensar que, mais até do que alguns projectos anteriores de Melo e Cavia, pensados originalmente para o cinema, também esta BD daria uma belíssima curta-metragem. Algo que, tendo em conta as ligações da dupla ao cinema, quem sabe se não se virá um dia a concretizar…
Majowski, usando uma metáfora apropriada ao tema, é uma bebida que precisava de mais tempo de maturação e também de mais páginas para ser contada, de modo a que a história pudesse respirar melhor. Se os horrores sofridos pelos judeus em território alemão são bem conhecidos, em Majowski surgem demasiado em pano de fundo, o que, provavelmente, não teria acontecido se os autores tivessem tido mais tempo e mais espaço para a história. Do mesmo modo, o momento surreal (mas que aconteceu na realidade) do elefante que deambulava por entre os destroços da Berlim bombardeada, teria outro impacto se a sua presença não se limitasse apenas a dois quadrados. Também em termos de planificação há diferenças entre as duas histórias. Se Sleepwalk tem um fôlego cinematográfico, já Majowski está mais próximo de uma série televisiva, com panorâmicas pontuais que permitem ao leitor identificar os locais, passando-se o resto da história em estúdio, em interiores filmados em planos médios e grandes planos.
Finalmente, a opção por um formato inferior ao A5, e até ao da revista Granta original, não deixa que o desenho respire devidamente, algo mais evidente até em Majowski, pelo que me parece que o livro só teria a ganhar em ser impresso num formato superior - antes de o receber em papel, já tinha tido oportunidade de ler o livro num Tablet com um ecrã de doze polegadas e a arte não só aguentou perfeitamente essa ampliação, como até beneficiou dela) - até porque o facto de se tratar de uma edição com tiragem limitada, encareceu bastante o produto final, o que, acredito que mesmo assim não irá afastar os muitos leitores fiéis da dupla.
Em conclusão, e voltando às metáforas culinárias, Comer/Beber é como aqueles pratos de nouvelle cuisine: requintado, extremamente saboroso e bem apresentado, mas a exiguidade da dose (neste caso, do tamanho do livro) faz com que o preço que o cliente vai pagar por ele pareça demasiado elevado…
Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 72 págs, 15€

domingo, 24 de dezembro de 2017

FELIZ NATAL!

Mantendo a tradição, aqui vai o meu habitual Post de Natal, como sempre usando uma referência da BD. Desta vez, quem vos deseja as Boas Festas, é Dylan Dog, o popular personagem criado por Tiziano Sclavi que este ano se estreou finalmente em edição portuguesa, na colecção Novela Gráfica.
E, como este Blog não dispensa a informação útil, deixo-vos com um instrutivo diagrama, em que Dylan e Groucho explicam como se pode usar as decorações natalícias para combater um apocalipse zombie.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Harley Quinn 2 - Miúdas Sem Regras

HARLEY E HERA CONQUISTAM CONEY ISLAND

Harley Quinn: Miúdas sem Regras
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e Marco Failla
Quinta, 21 de Dezembro, Por + 10,90 €
Depois de ajudar Sy Borgman a eliminar a rede de antigos espiões do KGB infiltrados em Nova Iorque e a resolver antigas questões pendentes durante mais de 50 anos, o que implicou, entre outros momentos memoráveis, uma visita ao Jardim Zoológico, Harley regressa a casa onde a espera a Hera Venenosa. 
Criada em 1966, por Robert Kanigher e Sheldon Moldoff, Pamela Isley, a Hera Venenosa apareceu pela primeira vez no nº 181 da revista mensal do Batman, mantendo-se desde então como um dos principais vilões do universo do Cavaleiro das Trevas, mesmo que desde as mudanças operadas com a Linha Novos 52, apareça mais como uma anti-heroina, numa posição de equilíbrio precário entre o crime a legalidade, um pouco na linha da própria Harley Quinn  e da Catwoman, outras duas mulheres fatais do Universo DC, com quem costuma interagir.
E se a amizade entre Harley e Pamela já vinha sendo explorada desde os tempos da série de animação Batman the Animated Series, na fase de Palmiotti e Conner, a relação entre as duas vai mais além, sendo descrita pelo próprio Jimmy Palmiotti como “uma relação sentimental sem os constrangimentos da monogamia”, o que vem confirmar a bissexualidade de Harley Quinn.
Mas não é só em relação às opções sexuais da sua protagonista que Harley Quinn é uma série pouco convencional. Também a forma como a violência (extrema) é tratada, está mais próxima dos desenhos animados dos Looney Toons, no seu exagero, do que das histórias de super-heróis tradicionais. Ou seja, embora essa violência tenha consequências, é apresentada de uma forma tão extrema, que chega a ser divertida. Um pouco na linha do que costuma fazer Garth Ennis, em séries como o Preacher, na BD, ou Quentin Tarantino no cinema.
E por falar em cinema, não faltam também as referências cinematográficas nos argumentos de Palmiotti e Conner, a começar pelo próprio Tarantino, logo no capítulo três deste volume, onde há uma homenagem, mais ou menos óbvia, aos filmes Pulp Fiction e Kill Bill. Aliás, este terceiro capítulo é claramente aquele em que os autores mais longe levam o jogo referencial, que além do cinema, com as homenagens aos filmes de Tarantino e ao Rollerball e Fight Club, conta com uma participação muito especial da chefia criativa da própria DC, presente numa reunião ultra-secreta num arranha-céus de Manhattan, que é bombardeado pelo engenhoso sistema criado por Tony Grande para reciclar os excrementos das centenas de cães e gatos que Harley resgatou no primeiro volume. Nessa divertida sequência é possível reconhecer Dan Didio (com uma camisa azul com símbolos do Super-Homem), Jim Lee e Geoff Johns, os três mais poderosos editores da DC que, uma vez que esta cena não foi cortada, revelam ter sentido de humor…Embora o trabalho gráfico de Marco Failla e sobretudo de Stéphane Roux, que ilustra o capítulo final que reconta a origem da Harley Quinn, seja atraente e eficaz, muito do sucesso desta fase da Harley Quinn repousa nos ombros de Chad Hardin, o desenhador principal da série. Excelente desenhador, Hardin consegue um equilíbrio perfeito entre eficácia narrativa, espectacularidade, erotismo, humor e legibilidade, que está ao alcance de poucos.
Publicado originalmente no jornal Público de 16/12/2017

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Apresentação da colecção Harley Quinn

O FABULOSO DESTINO DE HARLEY QUINN

Quem poderia imaginar que uma personagem criada inicialmente para ter apenas uma participação esporádica num episódio da série de televisão Batman: The Animated Series acabaria por se tornar, 25 anos depois da sua estreia, numa das mais conhecidas personagens do Universo DC. Uma personagem que só é ultrapassada em popularidade, que não em vendas, pela trindade Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha  e que chegou a estar presente simultaneamente em três revistas mensais –Harley Quinn, Harley and her Gang of Harleys e Suicide Squad -  para além de diversas mini-séries e números especiais. Uma personagem que é também a mais recriada pelos cosplayers (fãs que se mascaram em público das suas personagens favoritas) nos grandes Festivais de comics, como a San Diego Comic Con, ou a nossa Comic Con Portugal, que decorre esta semana em Matosinhos, e que chegou também ao cinema com igual sucesso, graças à excepcional interpretação da actriz Margot Robbie no filme Esquadrão Suicida.

Tudo em começou em 1992, no episódio Joker’s Favor da série de desenhos animados, Batman: The Animated Series criada por Dini e Timm, mas o que estava inicialmente previsto como uma aparição esporádica de uma ajudante do Joker vestida de Arlequim, que saia de dentro de um bolo, acabou por se transformar numa presença regular da série, face à imediata e extraordinária popularidade de Harley Quinn. Como refere Bruce Timm: “Quando o Paul (Dini) me falou em criar uma namorada para o Joker, eu achei que era boa ideia, por isso metemo-la no episódio Joker’s Favor.
Mas foi só quando a vimos, já animada, no ecrã, que toda a gente se apaixonou instantaneamente por ela. Era uma combinação da personalidade, da voz – a voz da actriz Arleen Sorkin – e do visual. É uma personagem fantástica. Apercebemo-nos logo que tínhamos acertado em cheio. Por mais que eu não quisesse usá-la muito, pois o seu lado mais divertido interferia com o nosso objectivo de tornar o Joker mais sinistro, a verdade é que todos adorávamos a personagem e por isso, o Paul enfiou-a em todos os episódios do Joker.”
A passagem da animação para a BD dá-se em 1993 no nº 12 da revista Batman Adventures, mas é no ano seguinte, com a novela gráfica Batman: Amor Louco, de Dini e Timm, história já publicada numa anterior colecção da Levoir, que a sua popularidade verdadeiramente explode pela primeira vez. Tudo começou com um convite de Denny O’Neil, um dos melhores escritores do Batman de sempre e então editor das revistas do Cavaleiro das Trevas, feito durante um almoço no San Diego Comic Con, para que Timm e Dini apresentassem uma proposta à DC para uma BD. Foi então que Paul Dini se lembrou de explorar a origem da Harley Quinn, que nunca tinha sido abordada na série de animação, revelando que Harley era inicialmente a Dra. Harleen Quinzel, uma Psiquiatra do Asilo Arkham, que acaba por se apaixonar pelo Joker, sendo arrastada por ele para o mundo da loucura, acabando por se transformar em Harley Quinn, a Arlequina, a sua namorada e cúmplice.
Para além da sua participação em aventuras do Batman, ao lado do Joker, com quem tem uma relação no mínimo complicada, em que é vítima de abusos e maus-tratos, Harley Quinn vai também integrar o novo Esquadrão Suicida, formar as Gotham City Sirens, com a Hera Venenosa e a Catwoman e ganhar a sua própria revista, mas a mudança que lhe garantiu um aumento exponencial de popularidade deu-se em 2013, já dentro da linha Novos 52, quando Jimmy Palmiotti e Amanda Conner, uma dupla de autores que são também marido e mulher, revitalizaram a personagem afastando-a de Gotham City e do Joker, numa nova revista, cuja fase inicial serve de base a esta colecção em três volumes.
Não foi a primeira vez que Harley Quinn teve a sua própria revista, pois já entre entre 2001 e 2003 tinha protagonizado uma série mensal que durou 38 números, em que colaboraram autores como Terry Dodson e Karl Kesel, mas esta nova série, em que surge com a nova imagem que ganhou na Linha Novos 52, mais próxima da que lhe conhecemos no cinema, do que do fato de Arlequim que envergou até então, teve um sucesso incomparável.
A mudança operada por Palmiotti e Conner na revista da Harley Quinn, foi tão simples como eficaz, fazendo-a abandonar o Joker e um passado ligado ao crime, recomeçando a vida noutro lugar: neste caso, Coney Island, um espaço que um nova-iorquino como Palmiotti, que nasceu no Brooklyn, conhece bem e que se revela o cenário perfeito para aventuras tão delirantes como divertidas, que incluem espiões na reforma, um texugo empalhado (que conversa com a heroína…) e heroínas e vilãs como a Poderosa e a Hera Venenosa (que, ficamos a saber pelo próprio Palmiotti, tem uma relação não-monogâmica com a Harley, cuja bissexualidade é assumida).

E com uma nova cidade, vem uma nova vida, com novos amigos, novos vizinhos e novos interesses amorosos, que os leitores poderão descobrir nesta colecção, mesmo que o seu passado com o Joker volte por vezes para a atormentar, como acontece numa das histórias do volume dois. Nas palavras de Jimmy Palmiotti: “Nós sabemos perfeitamente que ela tem esse passado. Não tentámos fazer como se esse passado nunca tivesse existido. Mas eu acho que é realmente importante que uma personagem possa crescer e é isso que nós estamos a tentar fazer com a Harley. Fazê-la crescer, ter novos relacionamentos, dar-lhe responsabilidades. E essa é outra razão porque ela é fantástica. Em Gotham não passava de um personagem secundário, enquanto que agora, que está em Coney Island, é ela a protagonista.
A colaboração entre os dois argumentistas é tão harmoniosa como o seu casamento e Amanda Conner descreve-a nestes termos: “sempre que me perguntam como é que escrever a Harley, respondo assim “o Jimmy constrói a casa e depois eu pinto-a e decoro-a”. Por isso, é mesmo um trabalho de equipa Eu não saberia exactamente o que fazer sem uma estrutura tão bem construída. Sabem, o Jimmy constrói mesmo casas fantásticas”
Fundamental para a nova casa que Pamiotti e Conner construíram para a Harley Quinn é o trabalho gráfico de Chad Hardin, o vencedor de um concurso internacional, em que participaram vários desenhadores portugueses, para escolher o desenhador de Harley Quinn. Hardin, contando com a colaboração ocasional de Stephane Roux e John Timms, cria uma Harley tão sexy como divertida, enchendo as pranchas de detalhes engraçados, que fornecem um nível de leitura suplementar. Mas tal como acontecia na série Jonah Hex, Palmiotti não perde uma oportunidade de colaborar com os melhores desenhadores do mercado. Algo bem patente na história publicada no Harley Quinn nº 0, que abre esta colecção, ou na aventura passada na Comic Con de San Diego, no volume 3, em que está igualmente patente, outra característica fulcral desta série: o uso da metalinguagem, através do quebrar constante da “quarta parede”, com a própria Harley, consciente de que é uma personagem de BD, a conviver com os seus criadores e com os editores e autores da DC, que se tornam eles próprias personagens destas mesmas histórias.
Mas o melhor elogio ao trabalho de Palmiotti e Conner, vem do próprio Bruce Timm, o criador da Harley Quinn, que refere: “o Jimmy e a Amanda inventaram uma excelente versão da Harley que a mantém relevante para os leitores actuais. Mantém a diversão e mantém-na divertida. É sempre fiel à personagem e é sempre nova. Adoro realmente ser surpreendido, como os outros leitores, em cada novo número e descobrir o que é que eles inventaram desta vez.”
Ironicamente, o momento em que a etapa de Palmiotti e Conner na Harley Quinn chega finalmente em Portugal coincide com o fim dessa etapa nos E.U.A, pois no dia 20 chega às Livrarias de Comics americanas, o nº 38 da série mensal, que é último escrito pela dupla, que será substituída pelo escritor Frank Tierry. Uma etapa de quatro anos, iniciada em Agosto de 2013, no mesmo mês do seu casamento, que agora chega ao fim porque, como refere Palmiotti: “Achámos que talvez fosse uma boa altura para fazer uma pausa, ir em Lua-de-mel, talvez gastarmos um com o outro algum do dinheiro que ganhámos, e termos tempo livre para gozar a vida e conhecermo-nos melhor. Adoramos a personagem, mas sabemos que, por vezes, estás a trabalhar num livro e as vendas caem e a personagem deixa de ser popular. Por isso, achámos melhor fazer uma pausa agora, que a personagem está no auge da sua popularidade.”
Para Amanda Conner, que desenhou mais de 100 capas da Harley Quinn, esta paragem é uma oportunidade de voltar ao seu principal amor: o desenhar BD. Algo de que teve de abdicar devido ao seu trabalho como co-argumentista numa série que, durante algum tempo, chegou a sair quinzenalmente.
Mais do que um “Adeus”, os autores dizem “Até Já” a Harley Quinn, pois ideias para novas aventuras da personagem são coisas que não lhes faltam. Como Palmiotii confessa: “o caderno onde a Amanda guarda os seus esboços e ideias para novas histórias da Harley Quinn é do tamanho de uma bíblia”. Ou seja, não faltam boas ideias para um eventual regresso, para além da garantia da DC de que seriam recebidos de braços abertos.

1 – Harley Quinn: À Solta na Cidade
14 de Dezembro
Argumento – Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e outros
Como é que uma rapariga se pode descobrir a si mesma no meio da confusão do Universo DC? Nada mais fácil que falar com os artistas que a desenham e escrevem, e impor algumas regras!  Esta aventura surreal ilustrada por alguns dos maiores nomes dos comics, dá o ponto de partida para a nova vida de Harley Quinn, escrita por Jimmy Palmiottti e Amanda Conner. No início desta nova série, Harley herda de um dos seus pacientes no Asilo Arkham, um prédio de habitação e comércio em Coney Island, Nova Iorque, o que lhe dá a oportunidade perfeita de recomeçar a vida longe de Gotham e do Joker. Mas, os impostos e os custos de manutenção do edifício são elevados e as rendas pagas pelos peculiares inquilinos não cobrem estes custos, o que obriga Harley a voltar a trabalhar como psiquiatra num lar de idosos de dia, e integrar uma equipa de Roller Derby à noite, para poder pagar as contas. Se a isto juntarmos os inúmeros assassinos que aparecem, atraídos por uma recompensa de dois milhões de dólares pela sua cabeça e uma rede de antigos espiões do KGB, que vai ajudar Sy Borgman, um agente reformado da CIA, a desmantelar, vemos que a nova vida de Harley está bastante preenchida.

2  – Harley Quinn: Miúdas sem Regras 
21 de Dezembro
Argumento -  Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin, Stéphane Roux e Marco Failla
Russos e ursos, assaltos a bancos, peças de teatro e jogos de Roller Derby. Descoberto o mistério sobre quem lhe tinha colocado a cabeça a prémio, há ainda muito com que Harley Quinn se pode entreter, para variar do seu enfadonho negócio de ser proprietária de um edifício em Coney Island, Nova Iorque! Sobretudo se conseguir juntar um grupo de amigas e não se deixar limitar por nenhumas regras. Regras que não existem no clube de combate clandestino que Harley descobriu, onde mais ganhas consoante os adversários que derrubares. Com um agente como Sy Borgman, o velho espião cheio de partes biónicas, a representá-la, Harley tem tudo para arrasar… em todos os sentidos.
Neste segundo volume, há ainda espaço para recontar, numa perspectiva diferente,  a origem secreta de Harley Quinn, numa história ilustrada por Stéphane Roux.

3  –Harley Quinn: o Fim da Macacada
28 de Setembro
Argumento –  Jimmy Palmiotti e Amanda Conner
Desenhos – Chad Hardin e outros
A Poderosa é atirada do seu mundo alternativo para a Terra, e não se lembra de quem é. Uma oportunidade perfeita para Harley Quinn se transformar finalmente naquilo que ela sempre quis ser... uma super-heroína. Num futuro alternativo, Harley sofre um acidente de avião e vai parar a uma ilha tropical, onde o Joker é adorado como um Deus e parece querer fazer dela novamente a sua princesa. Isto se os indígenas locais não os sacrificarem antes, para apaziguar a fúria do vulcão…
Finalmente, numa história onde volta a derrubar a “quarta parede”, Harley decide ir à Comic Con de San Diego para falar com um editor que publique o seu comic, e encontrar os seus editores e criadores. Um final tão divertido quanto épico, que conta com a arte de inúmeros artistas convidados, como Paul Pope, Javier Garrón, Damion Scott, Amanda Conner, John Timms, Marco Failla e Dave Johnson.
Textos publicados originalmente no jornal Público de 14/12/2017

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Liga da Justiça 5 - A Guerra de Darkseid 2

O FIM DE UMA ERA 

Liga da Justiça: A Guerra de Darkseid Vol. 2
Argumento – Geoff Johns
Desenhos – Jason Fabok, Francis Manapul e Ivan Reis
Quinta, 07 de Dezembro, Por + 10,90 €
Com a publicação da segunda e última parte de A Guerra de Darkseid, chega ao fim a colecção que o Público e a Levoir dedicaram à Liga da Justiça, por ocasião da estreia dos maiores heróis da DC no cinema. Uma colecção que, com a excepção de clássicos como Nova Ordem Mundial e O Prego: Teoria do Caos se centrou no trabalho incontornável de Geoff Johns com a Liga. Um trabalho que leva o conceito de épico a níveis poucas vezes vistos e que os leitores portugueses tiveram o privilégio de poder acompanhar na íntegra, através das diversas colecções dedicadas aos heróis da DC que foram saindo nos últimos quatro anos.
O primeiro volume de A Guerra de Darkseid tinha terminado com alguns dos membros da Liga da Justiça transformados em Deuses. Assim, Batman, que conquistou a Metron a cadeira de Mobius, tornou-se o Deus do Conhecimento; o Super-Homem, o Deus da Força; o Flash, O Deus da Morte; o Shazam, o Deus dos Deuses; o Lanterna Verde, o Deus da Luz; e Lex Luthor, o Deus de Apokolips. Mas, se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente e o novo estatuto de divindade vai transformar profundamente os maiores heróis da DC, fazendo-os perder a sua dimensão humana. Para os fazer reencontrar a humanidade perdida e combater os planos de Graal, a filha de Darkseid que, depois de matar o pai, tomou posse da sua mais poderosa arma, a equação antivida, os restantes membros da Liga, a que se juntou Barda, a mulher de Scott Free, o Sr. Milagre, vão precisar de aliados. Mesmo que sejam aliados improváveis como os membros do Sindicato do Crime, Ultra-Homem, Supermulher e Coruja, Reflexos distorcidos dos maiores heróis do mundo, vindos de um mundo paralelo destruído pelo Antimonitor, os membros do Sindicato do Crime combateram a Liga da Justiça em histórias como Terra Dois, de Grant Morrison e Frank Quitely, o clássico que inaugurou a primeira colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC, em 2013.
Uma das características das histórias de super-heróis passa pelo eterno recomeço das histórias e dos confrontos, em que nada é definitivo, muito menos a morte, fazendo jus à velha máxima do Príncipe de Falconeri no livro O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (que muitos conhecem graças ao fabuloso filme de Visconti), que diz que “é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma”.  Mas, no caso desta história, as mudanças, mesmo que temporárias vão afectar profundamente o Universo DC, pondo fim à era dos Novos 52, que tem estado em destaque nestas colecções, para dar lugar à mais recente versão do Universo DC, a DC Rebirth.
Mas ao abrir as portas do futuro do universo DC, de que é um dos principais arquitectos, Geoff Johns não esquece o seu passado e os grandes autores que contribuíram para ele, como Grant Morrison e, sobretudo, o “Rei”Jack Kirby. O universo que o King criou na Saga do Quarto Mundo (de que pudemos ter um vislumbre numa anterior colecção), com o eterno conflito entre Nova Génese e Apokolips, onde nasceram personagem incontornáveis como Orion, Metron, o Sr. Milagre e Barda, Steppenwolf, Desaad, Kalibak e a encarnação suprema do mal que é Darkseid, estão na génese desta Guerra de Darkseid e de todo o (inesquecível) percurso de Johns como escritor da Liga da Justiça.
 Publicado originalmente no jornal Público de 02/12/2017