domingo, 26 de junho de 2011

Corto Maltese na América Latina

Depois de “Mu”, eis que as edições Asa lançam mais dois álbuns de Corto Maltese nas livrarias, 3 meses depois da edição em capa dura desses títulos ter estado à venda nas lojas da FNAC.”Sob a Bandeira dos Piratas” e Longínquas Ilhas do Vento” recolhem 6 das 11 histórias de 20 páginas passadas na América Latina que Hugo Pratt desenhou para a revista francesa “Pif” entre 1970 e 1973, em que Corto assume o papel de protagonista. Histórias essas, posteriormente recolhidas em dois álbuns, “Sous le Signe du Capricorne” e “Corto Toujours un peu plus Loin” (que em Portugal saiu com o título “Corto Maltese na Amazónia”, quando foi publicado pelas Edições 70, em inícios da década de 80).
Curiosamente, “Sob a Bandeira dos Piratas” recolhe as três últimas histórias de “Sous le Signe du Capricorne”, o que tem como consequência que, quem descubra a série pela primeira vez, fique sem saber muito quem são aquelas personagens (de Tristan Bantan a Boca Dorada, passando pelo Professor Steiner, ou Morgana) ou a que se refere a conversa entre Corto Maltese e Boca Dorada, nas páginas iniciais de “Uma Águia na Selva”… Até porque o volume seguinte, “Longínquas Ilhas do Vento” traz as primeiras 3 histórias do álbum seguinte, “Corto Toujours un Peu Plus Loin”, ficando as duas últimas histórias desse álbum por publicar.
Mas pondo de lado, o peculiar critério seguido pela Asa para a ordem pela qual edita a série, estes dois álbuns são altamente recomendáveis, sobretudo comparados com “Mu”, a última aventura de Corto Maltese. A qualidade dos diálogos, a elegância do traço de Pratt (que as cores suaves de Patrícia Zanotti não abafam) a riqueza das personagens, o sopro da aventura em cenários exóticos, tudo isso faz destas histórias verdadeiras pérolas. E, apesar de ainda estar a “apalpar terreno” em termos das aventuras de Corto Maltese, Pratt não tem medo de quebrar as convenções. Veja-se a primeira página de “Um Negócio de Bananas”em que Pratt utiliza os seus famosos “zooms”, dando a ideia que são os canos das armas que falam. Uma sequência que abre caminho a outras semelhantes em “As Etiópicas” e “Corto Maltese na Sibéria”.
Apesar destas reticências quanto à ordem de publicação da série, é bom não esquecer o mais importante. Aos poucos, as aventuras de Corto Maltese voltam a estar disponíveis em português, suprindo assim uma grave lacuna em termos da edição nacional de BD.
(“Corto Maltese: Sob a Bandeira dos Piratas”, de Hugo Pratt, Asa, 96 pags, 24,50 €
“Corto Maltese: As Longínquas Ilhas do Vento”, de Hugo Pratt, Asa, 96 pags, 24,50 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 25/06/2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

X_Men regressam às origens no cinema

Estreou no dia 9 de Maio em todo o país, o filme “X-Men, O Início”, em que Matthew Vaughn reinicia o “franchise” X-Men no cinema, com excelentes resultados, criando aquele que já muitos consideram como o melhor filme de sempre baseado em personagens da Marvel.
Vaughn, que esteve quase para dirigir o filme “X-Men” 3 e que não é estranho ao universo dos super-heróis, género que abordou no filme “Kick Ass”, leva-nos até ao início da década de 60 do século XX, em plena crise dos mísseis de Cuba, que quase ia provocando a 3ª Guerra Mundial, para, através de uma intriga bem ancorada na realidade histórica, nos mostrar o primeiro encontro entre Magneto (cujo passado como prisioneiro em Auschwitz, já abordado no primeiro filme dos X-Men, é aqui desenvolvido) e o Professor Xavier e o nascimento dos X-Men.
Com a excepção de Hugh Jackman, numa tão curta como divertida aparição como Wolverine, todos os personagens da série são interpretados por novos actores. E, a esse nível, o casting foi certeiro, pois tanto Michael Fassbender, notável, como James MacAvoy estão perfeitos como Magneto e Professor Xavier, mesmo que este seja um Professor X muito diferente do que conhecemos da BD e dos outros filmes. Do lado dos vilões, Kevin Bacon como Sebastian Shaw e January Jones (que conhecemos da série “Mad Men”) como Ema Frost, também se revelaram escolhas acertadas.
Quanto ao argumento, que por vezes não respeita a continuidade dos filmes anteriores, nem da BD, é de uma eficácia surpreendente, sobretudo se nos lembrarmos que Vaughn e a sua colaboradora habitual Jane Goldman, tiveram pouco tempo para trabalhar com uma história que já tinha sido reescrita, pelo menos, por seis argumentistas diferentes…
Feliz cruzamento entre um filme de super-heróis e os filmes de James Bond da fase Sean Connery, “X-Men, O Inicio” é o perfeito recomeço para uma série que estava a começar a perder gás de uma forma preocupante e uma boa maneira de passar duas horas divertido numa sala de cinema. A ver sem reservas e, já agora, escusam de ficar até ao fim do longuíssimo genérico, porque desta vez não nenhuma daquelas cenas-extra a que a Marvel nos foi habituando nos seus filmes.
(“X-Men, O Início”, de Mathew Vaughn, com Michael Fassbender, James MacAvoy, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence e January Jones, Twentieth Century Fox, 2011
Em exibição em Coimbra nos cinemas Zon Dolce Vita e Coimbra Fórum)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 18/06/2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Transeforme, as metamorfoses de Moebius na Fundação Cartier

Depois de ter exposto dois cadernos de croquis de Moebius, em 1999, no âmbito da exposição 1 Monde Reél, mostra que explorava as ligações entre a realidade, a ficção e a ficção científica, a Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, regressou ao universo de Jean (Moebius) Giraud, com Transeforme, uma grande mostra que ocupou todo o espaço da Fundação entre 12 de Outubro de 2010 e 13 de Março de 2011.
Subordinada ao conceito da metamorfose, bem presente na obra de Moebius, a mostra da Fundação Cartier fez justiça ao impressionante universo visual de Moebius, através de uma grande exposição, com uma forte componente multimédia, que foi um sucesso junto do público e da crítica especializada. Espalhada por dois pisos do edifício da Fundação Cartier, a mostra estava dividida em duas partes. A primeira, correspondente ao piso térreo, está dividida em seis núcleos, correspondendo aos principais personagens que marcam a obra de Jean Giraud, incluindo o próprio Moebius, que abre o percurso expositivo com um núcleo de auto-retratos, centrado na série Inside Moebius. Segue-se Blueberry, Arzach, o Major Grubert, John Difool e Stel e Atan, os protagonistas da série Le Monde D’ Edena.
Em termos de exibição do material exposto, a exposição seguia aquela que deve ser a nova moda expositiva (pois já o novo Museu da BD em Angoulême segue esse mesmo esquema), com os quadros na parede a darem lugar a mesas-vitrine corridas, que permitem colocar lado a lado, pranchas originais, objectos e material impresso. Neste caso as mesas-vitrine tinham uma disposição que pretendia simular a forma do anel de Moebius, enquanto as fachadas de vidro do edíficio acolhiam grandes ampliações, com mais de três metros, de desenhos de Moebius. Do lado da entrada, a imagem a cores que foi usada no cartaz, do outro lado, reprodução de um desenho do port-fólio 40 Days dans le Desert B, numa demonstração evidente de como os desenhos de Moebius aguentam perfeitamente uma grande ampliação.
Ao ter, lado a lado com as versões impressas, os originais das principais obras de Moebius (a excepção é Les Yeux du Chat, cujos originais Moebius ofereceu como prenda de casamento a Jean-Pierre Dionet… e que este perdeu durante a lua de mel) um pormenor que realça imediatamente é que, ao contrário do que é habitual na maioria dos autores, os desenhos de Moebius muitas vezes são desenhados num formato inferior àquele em que vão ser publicados, algo evidente na série Arzach e nos cadernos do Major Grubert. Por outro lado, na série Blueberry, os formatos variam de álbum para álbum, embora a maioria seja desenhada em meias páginas em formato A3, como é o caso de Mister Blueberry, que podia ser lido num grande volume encadernado com as reproduções facsimiladas das pranchas originais.
Ainda no piso térreo, estava em exibição La Planète Encore, um filme de 8 minutos em 3D, baseado num episódio de Le Monde D’ Edena, e que, a seguir ao Avatar, de James Cameron, foi, de longe, a mais impressionante utilização da tecnologia 3D que tive ocasião de ver!
A segunda parte da exposição, que ocupava o piso subterrâneo, desenvolvia o tema da metamorfose na obra de Moebius, com uma das paredes, que a pintura transformou no Deserto B, a receber uma série de quadros de Moebius, enquanto a parede oposta estava ocupada por reproduções em muito grande escala dos desenhos de Le Chaseur Deprimé, a última aventura do Major Grubert, ficando a parede do fundo para outros trabalhos, como os desenhos sobre as faunas de Marte. Além disso, havia uma série de torres cúbicas que nasciam do chão e que tinham na face superior, reproduções de ilustrações de Moebius, iluminadas por trás, o que as tornava ainda mais espectaculares.
Nesta segunda parte da exposição, a componente multi-média ficava a cargo de Metamoebius, um filme documentário relativamente interessante, escrito e realizado por Damian Pettigraw, que tentava reproduzir, sem grande sucesso, o ambiente da série Inside Moebius e que estava à venda em DVD na loja da Fundação, no 2º piso. Uma loja onde, além dos livros de Moebius e do excelente catálogo, já esgotado, era possível comprar diverso mershandising moebiusiano, desde imãs para frigoríficos, lápis de cor, até livros para colorir, num bom exemplo de como a Fundação Cartier trabalha os diferentes públicos e explora comercialmente todas as potencialidades das exposições que promove.
Se em França, o facto de um autor de BD ter a sua obra exposta num museu com o prestígio da Fundação Cartier, já há muito que não é propriamente novidade (na altura em que visitei a exposição, em Dezembro, de 2010, só em Paris havia mais duas exposições de BD em Museus: a mostra Cent Pour Cent, em que participaram os portugueses António Jorge Gonçalves, Filipe Abranches e Luís Henriques, estava na Biblioteca Fornay; enquanto que a exposição Archi & BD: La Ville Dessinée, estava na Cité de l’Architecture et du Patrimoine), não deixa de ser verdade que esta exposição, até pelo impacto que teve em termos de comunicação social, ajudou a fazer chegar o fabuloso trabalho de Moebius junto de um público mais alargado do que o dos meros fãs da Banda Desenhada.
Texto originalmente publicado no BD Jornal nº 27, de Maio de 2011








terça-feira, 14 de junho de 2011

Um punhado de imagens do VII Festival de Beja

Terminou ontem mais uma edição, a 7ª, do Festival Internacional de BD de Beja. Momento portuno para um balanço desta edição e para aqui deixar um punhado de imagens do Festival, imagens essas tiradas com o Iphone, pois esqueci-me de levar a máquina fotográfica, e que, por isso, nem sempre terão a qualidade ideal...
Quanto ao Festival em si, continua a ser dos mais agradáveis em que já estive, pela convivência descontraída que permite entre o público e os autores.
Esse lado informal, evidente nas sessões de autógrafos, também tem o problema de não se conseguir identificar os autores menos conhecidos. Aconteceu-me isso com Bernardo Carvalho, o ilustrador que foi um dos fundadores da editora Planeta Tangerina, editora que publica os mais belos livros infantis feitos em Portugal, que acabei por não conseguir descobrir quem era e quase que me ia acontecendo o mesmo com Plabo Auladell, outro fantástico ilustrador de quem consegui um autógrafo mesmo á última da hora, graças à preciosa dica da Sara Figueiredo Costa (obrigado, Sara!) que mo descreveu como tendo um "(des)penteado à Nuno Markl"... O que só prova que os crachás que os autores trazem em Festivais como a Amadora, têm a sua utilidade!
De resto, tanto Loustal como Milazzo (os autores cujo trabalho mais me interessa e com quem mais contactei) estiveram à altura das expectivas, distribuindo autógrafos e simpatia.
Quanto à exposições, o facto da cenografia ser a mesma do ano passado,mostra que o tempo é de poupanças, mas a qualidade do material exposto compensava! Pela quantidade e qualidade do material exposto, destaque para as exposições de Fernando Relvas e Ivo Milazzo. No polo oposto, estavam as mostras dedicadas a Rui Lacas e aos Portugueses na Marvel, que mereciam um espaço maior que permitisse expor mais originais.
Referência ainda para os originais de Andrea Bruno, Loustal e Liam Sharp, para as páginas a preto e branco de Ricardo Cabral de "Evereste", que me fazem pensar que o livro teria ficado bem melhor a preto e branco e para o divertido vídeo que acompanhava a exposição dos 10 anos do Menino Triste, de João Mascarenhas.
Continuo a achar que a descentralização das exposições pela cidade não funciona e este ano, que não houve a tradicional visita das exposições ao fim do dia de sábado, confesso que a única exposição que vi fora da Casa da Cultura, foi a magnífica exposição de Bernardo Carvalho, na cave da Biblioteca Municipal José Saramago, mesmo em frente à Casa da Cultura.
Destaque para a evidente melhoria do Mercado do Livro, onde a oferta subiu exponencialmente em termos de quantidade e variedade. Uma boa notícia para os leitores e para os livreiros, pois pela parte que me toca, enquanto estive no Festival vi bastantes livros da Dr Kartoon a serem vendidos.
E aqui ficam então as imagens possíveis do 1º fim-de-semana, que me permitiu (re)encontrar inúmeros amigos e conhecidos da tribo da BD.



Pormenores da exposição de Fernando Relvas




Exposição de Ivo Milazzo



Exposição de Bernardo Carvalho na Biblioteca José Saramago



Portugueses na Marvel


Rui Lacas


Ricardo Cabral


Loustal


Pablo Auladell

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Elogio da dupla, a propósito de Ivo Milazzo

De Pratt a Manara, de Battaglia a Toppi, de Giardino a Magnus, de Buzelli a Gianni de Luca, de Liberatore a Crepax, passando pelas dezenas de artistas que todos os meses produzem milhares de páginas para as revistas da editora Bonelli, Itália é um verdadeiro viveiro de grandes desenhadores de Banda Desenhada, tal como o foi, durante o Renascimento, de pintores, escultores e arquitectos.
Ivo Milazzo, o mestre italiano que o Festival de BD de Beja traz finalmente a Portugal, é um desses Mestre dos fumetti, nome dado à BD em Itália. Um desenhador com uma carreira de quarenta anos, marcada pela diversidade de géneros, numa fase inicial, que abarca desde histórias de Tarzan para o mercado francês, até coisas tão díspares, como o Pato Donald ou Tio Patinhas, até Diabolik, antes de se decidir definitivamente pelo estilo realista, patente nos seus trabalhos para as séries Nick Raider e Mágico Vento, para só falar nas séries da Bonelli em que colaborou.
Mas, para mim, o nome de Ivo Milazzo, evoca imediatamente outro nome, o do argumentista Giancarlo Berardi, com quem forma uma das mais sólidas duplas dos fumetti, responsável, entre (muitas) outras coisas, pela série Ken Parker, único título da dupla editado em Portugal, primeiro na revista Selecções BD e posteriormente pela Asa, em dois belos álbuns a cores.
Criado em 1974, Ken Parker chegaria às bancas italianas com revista própria em 1977, numa arriscada (mas bem sucedida) aposta do editor Sérgio Bonelli num western diferente do Tex que lhe deu fama e fortuna. Um Western mais intimista, mais próximo da natureza, protagonizado por pessoas vulgares, que vivem os seus dramas como qualquer mortal. Mais do que um cowboy, Parker é um caçador, na linha da personagem interpretado por Robert Redford no filme Jeremiah Johnson, de Sidney Polack (que passou em Portugal com o título As Brancas Montanhas da Morte) a quem aliás vai buscar os traços fisionómicos.
Num mercado como o italiano, em que as equipas criativas alternam bastante, Berardi e Milazzo constituem um caso à parte, assumindo Ken Parker como um projecto marcadamente pessoal, que traduz os gostos e as referências cinematográficas e literárias dos seus criadores, alimentadas numa infância e adolescência passadas em grande parte nos cinemas de Génova.
Depois de ter descoberto com Ken Parker, o traço personalizado de Milazzo, um desenho extremamente depurado, mas de grande força plástica e rigor de composição, com um enorme dinamismo, na linha de outro grande mestre italiano, Hugo Pratt, voltei a encontrá-lo em Sangue no Colorado, um “Texone” escrito por Claudio Nizzi, em que o desenhador prova que está tão à vontade nas aventuras cheias de acção do ranger Tex, como a desenhar as aventuras mais intimistas do caçador Ken Parker.
Graças às edições da Mythos e da Ópera Gráphica, importadas do Brasil, pude ir matando saudades da dupla Berardi/Milazzo, em aventuras de Ken Parker, ou em histórias curtas sem heróis, como as recolhidas nos álbuns Contrastes e Noturno, mas do que li, os momentos mais inspirados desta dupla em perfeita sintonia, são duas histórias de Ken Parker: A Terra dos Heróis, uma pérola de metalinguagem, em que os autores surgem com personagens e o herói dialoga com os leitores, repleta de homenagens cinematográficas e Um Príncipe para Norma, em que o traço depurado de Milazzo dialoga com o desenho carregado de Giorgio Trevisan, numa belíssima homenagem a Marilyn Monroe.
Mais recentemente, voltei a encontrar o desenho de Milazzo, agora enriquecido pela cor directa, em Impeesa, uma biografia em BD de Baden Powell, o fundador do escutismo, escrita por Paolo Fizzarotti, mas, apesar da eficácia do argumento de Fizzarotti, confesso que senti alguma estranheza quando me apercebi que, na capa, ao lado do de Milazzo, estava outro nome que não o de Berardi…
Texto originalmente publicado no nº 7 da revista Splaft!, em Maio de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Marini regressa com As Águias de Roma


Num mercado, como o da BD nacional, em que os números de vendas são tratados como segredos de Estado, a única maneira de atestar o sucesso de uma série, ou autor, é ver se a editora continua a apostar nele, lançando com regularidade os seus livros.
Por esse prisma, o desenhador suíço Enrico Marini, de quem a Asa já publicou em Portugal as séries “Rapaces”, “Gipsy” e “O Escorpião”, tem certamente leitores fieis em Portugal, como o prova a saída, com apenas um mês de diferença dos dois volumes disponíveis de “As Águias de Roma”, série que assinala a estreia de Marini, como autor completo, assinando simultaneamente o texto e os desenhos desta série ambientada no Império Romano na época do Imperador Augusto.
Protagonizada por dois jovens, Marcus, filho de um oficial romano e Ermanamer, filho de um príncipe da Germânia, levado para Roma como refém e rebaptizado Caius Julius Arminius, que são criados juntos como irmãos, a história de “As Águias de Roma” segue esses dois personagens que, é fácil de perceber desde o começo, o destino vai colocar em confronto, tendo como pano de fundo a história de Roma, reconstituída com rigor e detalhe por Marini, aqui ao seu melhor nível em termos gráficos, tanto do desenho, sempre magnífico, como da aplicação da cor.
Apesar do evidente rigor da pesquisa histórica e da reconstituição da Roma Imperial, o ambiente histórico funciona sobretudo como pano de fundo, para uma história de amizade, onde não falta a acção e o sexo.
Ao contrário de uma série como “Murena”, de Dufaux e Delaby, que procura trazer a história de Roma para primeiro plano, Marini dá primazia à acção. E a verdade é que não se sai nada mal, fazendo um trabalho eficiente como argumentista e superlativo como desenhador.
Claro que podemos sempre pensar que esta história poderia ter outra dimensão, se tivesse sido escrita por Dufaux ou Desberg, dois argumentistas com quem Marini já trabalhou (respectivamente, nas séries “Rapaces” e “O Escorpião”) mas, a verdade é que, mesmo sem surpreender, ou muito menos deslumbrar, Marini é bem capaz de contar uma história em BD, sem necessitar de um argumentista.
(“As Águias de Roma I”, de Marini, Asa, 64 pags, 16,50 €
“As Águias de Roma II”, de Marini, Asa, 64 pags, 16,50 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 4/06/2011