terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Peanuts e os Smiths: uma mistura perfeita!


Há ideias assim! Tão simples quanto geniais. Lauren LoPrete, uma designer gráfica de Oakland, depois de ver um poster dos Smiths de 1986, onde aparecia Charlie Brown, o famoso miúdo criado por Charles Schulz para a série Peanuts, decidiu pegar em tiras dos Peanuts e substituir os diálogos de Schulz por pedaços de letras de Morrisey para as canções dos Smiths. E o resultado é surpreendentemente eficaz, pois a mistura dos universos, marcados pela mesma malaise existencial, resulta perfeitamente, convencendo até o próprio Morrisey, que foi o primeiro a vir defender Lauren, quando os advogados de Johnny Marr (Morrisey e Marr dividem os direitos sobre as canções dos Smiths) a intimaram a fechar o seu Tumblr, por violação dos direitos de autor.

O site de Laurem chama-se This Charming Charlie e pode ser visto aqui.
Eu aqui no blog, deixo-vos com um punhado de exemplos de como as letras de Morrisey encaixam que nem uma luva nos pequenos dramas de Charlie Brown, Snoopy, Lucy e Linus, os pequenos (anti) heróis criados por Charles Schultz, naquela que é (Bill Waterson e o seu Calvin que me desculpem) a melhor tira cómica de sempre.
NOTA - Este post é dedicado à memória da Patrícia, grande fã dos Smiths que está finalmente em paz.    



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL!

Como os clássicos nunca passam de moda, este ano escolhi para o habitual post natalício, este pormenor da página dominical de 17 de Dezembro de 1907 do Little Nemo, do grande Winsor McKay. 
Para todos os visitantes deste blog, aqui ficam os meus votos de um Feliz Natal, de preferência com muita BD no sapatinho, e de um excelente Ano de 2015!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

DC Comics recria cartazes de filmes famosos nas capas das suas revistas


Embora as revistas só cheguem às lojas de BD em Março de 2015, já circulam na Net as capas alternativas das principais revistas da DC, que recriam com os heróis da casa, como o Batman ou o Superman, alguns dos mais icónicos cartazes de cinema das últimas décadas. Cartazes de filmes como Matrix, Bullit, Forbiden Planet,  Enter the Dragon, 300 e muitos outros imediatamente reconhecíveis. Ao todo, são 22 capas alternativas, assinada por grandes nomes dos comics e da ilustração, como Gene Ha, Joe Quiñones e, sobretudo Dave Johnson e Bill Sienkiewicz, que, não por acaso assinam as minhas capas favoritas.
Mas como uma imagem vale mais do que mil palavras, deixo-vos aqui um bom punhado delas, com as recriações dos ilustradores escolhidos pela DC, lado a lado com os cartazes originais que lhes serviram de inspiração. Depois digam-me qual foi a de que mais gostaram.



                      Bill Sienkiewicz desenha a Mulher Maravilha numa homenagem ao filme 300




Dave Johnson substitui Steve McQueen pela Catwoman













terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Um punhado de Imagens da Comic Con Portugal 2014


Terminada a Comic Con é altura de fazer um balanço. E, na minha perspectiva foi um sucesso! Tanto como livreiro e como fã, superou as minhas expectativas e também as da organização, que em entrevistas dadas antes do evento apontava os 20 mil visitantes com o o número a atingir (ultrapassaram os 30 mil). Em termos comerciais, correu muito bem para a Dr. Kartoon e só não correu melhor porque houve vários títulos que esgotaram  e não tínhamos mais para vender e também porque mesmo ao nosso lado estava o stand da FNAC, que trouxe vários títulos que nós também trouxemos.
Claro que há muita coisa a melhorar e o tremendo afluxo de visitantes no sábado trouxe problemas que a organização teve dificuldade em resolver.
Não sei se não teria sido melhor concentrar a Comic Con em metade da Exponor, pois se a zona comercial estava muito bem composta em termos de ocupação, havia outras zonas que pareciam demasiado desertas, para além das longas distâncias que era preciso percorrer dentro da Exponor. A zona infantil, por exemplo, estava afastada de tudo e eu só no domingo é que me apercebi da sua existência.
Também as acessibilidades em termos de transportes precisam de ser afinadas, com uma articulação com a CP e os STCP, de modo a haver mais autocarros e até comboios especiais com autocarros directos, como há para alguns Festivais de Verão.
De resto, a   parte das exposições resumia-se a uma interessante ExpoSyfy, organizada pelo canal SyFy, que tinha material original bastante interessante e uma exposição de BD, sem originais, colocada num local de passagem, mas sem grande destaque. Também num local de passagem, mas estrategicamente melhor colocado, estava um dos espaços de que mais gostei no Festival: a Artists Alley, onde era possível contactar directamente com os autores (o Lisbon Studio estava lá em peso)  e comprar-lhes directamente livros, prints e até originais.

Tal como na Comic Con de San Diego (a única onde estive) o peso  da BD é abafado pelo destaque dado aos filmes e às séries, mas a verdade é que muito do público que foi a Comic Con para ver os seus autores favoritos, acabou por comprar livros de BD nos diversos stands presentes. Destaque para o cosplay, com imensa gente mascarada e com disfarces muito bem conseguidos, que não se limitavam às personagens de anime. Havia supe-rheróis, personagens de TV, zombies,  um batalhão de Storm Troopers, que todos os dias às seis da tarpe, realizava um Imperial March, com Darth Vader e Princesa Leia, um sósia do Sheldon da Teoria do Big Bang e até um Obelix.
A aposta no mercado espanhol também se revelou certeira, pois havia imensos espanhóis na Comic Con que ajudaram em muito aos impressionantes números de visitantes. E a esse nível ibérico foi interessante verificar o reatar de pontes entre o Porto e a Galiza, que o saudoso Salão do Porto tão bem cultivou, com Melo Melowsky, um dos responsáveis do Salão da Coruña e proprietário da Livraria Banda Deseñada, em Vigo, a dar um apoio decisivo na organização da parte da BD.
Com tanta gente e filas para tudo, nem sequer pensei em ver os artistas de televisão e mesmo autógrafos de BD, fiquei-me pelo de Miguelanxo Prado e apenas porque lhe entreguei o livro e ele trouxe-mo no dia seguinte autografado, não tendo precisado de ficar em filas.
Tanto como livreiro, mas sobretudo como fã, valeu a pena ter estado na Comic Con e para o ano conto lá estar outra vez. Um evento destes fazia falta a Portugal, pois como o desenhador Jorge Coelho sintetizou de forma lapidar, a partir de agora "temos um Festival "Indy" em Beja, um Festival "europeu" na Amadora e uma Comic Con no Porto".



                                                   A animação no stand da Kingpin
             Filipe Melo e Juan Cavia numa sessão de autógrafos no stand da Dr. Kartoon
                      Sara, a simpática "menina do IPad, que nos fez companhia no Stand









quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Universo Marvel 20 - Vingadores vs X-Men Vol. 2: E então restou Um


No dia em que começa a sair com o jornal Público a nova colecção de Banda Desenhada dedicada à série XIII, de Jean Van Hamme e William Vance e é anunciada pela Levoir uma colecção de 10 volumes comemorativa dos 75 Anos do Batman, a iniciar em Janeiro, pareceu-me mais do que altura de recuperar o último texto de divulgação da colecção Universo Marvel que escrevi para o Público. Como a colecção do Batman vai ser distribuída com o jornal Sol, não contará com textos de apoio no jornal, mas não faltarão os editoriais assinados por mim, que aqui publicarei.
Antes disso e passada a Comic Con, onde estarei com a Dr Kartoon, espero começar a pôr as críticas de livros em dia, em textos escritos expressamente para este blog, que nos últimos tempos tem servido quase só para recuperar textos feitos originalmente para outros locais. 


O COMBATE FINAL ENTRE VINGADORES E X-MEN  FECHA A COLECÇÃO UNIVERSO MARVEL

UNIVERSO MARVEL VOL 20
Vingadores Vs X-Men  Vol 2 – O Dia da Fénix
Argumento – Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman e Matt Fraction
Desenhos – John Romita Jr., Olivier Copiel e Andy Kubert

É já na próxima quinta-feira que chega ao fim esta fascinante viagem de vinte semanas pelo Universo Marvel, com o confronto final entre os maiores grupos de heróis da Casa das Ideias: os Vingadores e os X-Men.
Divididos sobre a destino a dar a Hope Summers, a primeira mutante a nascer após os acontecimentos dramáticos de Dinastia de M, que hospeda em si o poder destruidor da Força Fénix, capaz de reduzir a cinzas mundos inteiros, os maiores heróis do Universo Marvel vão degladiar-se numa luta sem quartel, que não deixará nada como antes.
Com Scott Summers, o ciclope, a deixar-se dominar pelo seu lado mais sombrio da força, o combate vai escalar em violência e espectacularidade e mais heróis e vilões se juntam à contenda. E se no final, a Terra acaba por conseguir resistir ao poder destruidor da Força Fénix, que já tinha destruído Jean Grey na mais mítica das aventuras dos X-Men, A Saga da Fenix Negra, já publicada numa anterior colecção, também desta vez nem todos os heróis sobreviverão e um dos mais importantes personagens do Universo Marvel vai tombar às mãos de um herói que ajudou a formar.
Um final épico, à altura de uma colecção feita de grandes sagas e que neste capítulo final reúne numa mesma história cinco dos maiores argumentistas da actualidade, como o são Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman e Matt Fraction, colaborando de forma harmoniosa numa história inesquecível, que fecha com chave de ouro um importante capítulo da história do Universo Marvel e abre as portas para a nova fase, conhecida por Marvel Now!
Texto publicado originalmente no jornal Público de 14/11/2014

E assim me despeço (por agora) do Universo Marvel, mas o regresso dos (super)heróis começa já em Janeiro com o Batman, numa colecção a não perder!



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Textos Editoriais Marvel NOW! 5 - Homem-Aranha Superior 9

Na semana em que chegou às bancas a última edição mensal da Marvel publicada pela Panini Espanha no mercado português, aqui deixo o quinto e último texto que escrevi para essas revistas, sem saber na altura que seria o último. 
Esta não foi a primeira aventura da Panini Espanha na edição da Marvel em Portugal, pois em meados da década de 2000 tinham lançado dois ou três livros, entre os quais Os Eternos de Neil Gaiman e Romita Jr, em edições produzidas pela equipa da BD Mania e que apenas tiveram distribuição nas lojas FNAC.
Esta segunda tentativa não teve vida muito mais longa e acabou pelos mesmos motivos: fracas vendas, motivadas por uma escassa divulgação e por uma distribuição deficiente, que nem sequer previa a distribuição nas livrarias, ou a encomenda de números atrasados. Extinguiram-se assim, de forma ainda mais discreta do que começaram, as revistas que davam a conhecer aos leitores portugueses com uma qualidade muito superior à das edições brasileiras, a fase mais recente do Universo Marvel, deixando várias histórias por terminar. 
O futuro (próximo) dirá se alguém vai voltar a pegar na Marvel em Portugal em termos de publicações mensais, mas a fase Marvel Now! em português de Portugal, acabou agora. 
Resta-me agradecer ao José de Freitas, meu antigo patrão na Devir e amigo de sempre, o convite para colaborar neste projecto, escrevendo rigorosamente sobre o que me apeteceu e quando me apeteceu.   


ASSUSTADORA SIMETRIA

Tyger Tyger, burning bright, 
In the forests of the night; 
What immortal hand or eye, 
Could frame thy fearful symmetry?

Assim começa Tyger, o famoso poema de William Blake que, para além de ser o mais conhecido trabalho do poeta inglês, foi sendo objecto de citação e homenagem em diversos media, desde a música - servindo por exemplo de letra a uma canção dos Tangerine Dream - até ao cinema e televisão, e principalmente, a Banda Desenhada. Aqui, além de ser citado ao longo do 5º capítulo de Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons intitulado precisamente Fearful Simetry, está também em grande destaque no clássico A Ultima Caçada de Kraven, uma história do Homem-Aranha, de J. M. De Matteis e Mike Zeck, recentemente editada em Portugal pela Levoir, numa colecção distribuída com o jornal Público. A história, que teve precisamente como título de trabalho Fearful Simetry, usa abundantemente o poema de Blake, numa versão ligeiramente modificada, em que o tigre (tyger) dá lugar à aranha (spyder), que funciona como uma espécie de mantra, que pontua e ilumina os momentos mais importantes da narrativa,
E foi precisamente a (re)leitura de A Última Caçada de Kraven para escrever o editorial desse volume, que me chamou a atenção para os grandes pontos de contacto entre o clássico de De Matteis e Zeck e a saga do Homem-Aranha Superior, criada por Dan Slott, que podem ler nesta revista. Comparando as duas histórias, há diversos elementos em comum  que revelam essa simetria. Uma simetria que, não sendo propriamente assustadora, não deixa de ser, no mínimo, curiosa…
A verdade é que a história de um vilão que mata o herói e assume o seu lugar, está longe de ser propriamente original. O próprio De Matteis já em meados da década de 80, tinha proposto à Marvel uma mini-série de Wonder Man, em que este era enterrado e acabava por conseguir libertar-se da campa, mas o editor Tom De Falco rejeitou a proposta, o que levou o escritor a reformular a história e e levá-la à DC, transformada numa aventura do Batman, em que o Joker mata o Batman, o que o deixa curado… Mais uma vez, a proposta seria rejeitada, neste caso, por ter alguns pontos de contacto com A Piada Mortal, que Alan Moore estava a preparar na altura. Só quando De Matteis reformulou novamente o conceito e o levou outra vez à Marvel, transformado numa aventura do Homem-Aranha, é que a história foi finalmente aceite, com o sucesso que conhecemos.
Outro exemplo é dado por Mark Millar em Wolverine: O velho Logan, também editado em Portugal pela Levoir, em que o Caveira Vermelha, depois de matar o Capitão América, não só assume o seu lugar, mas passa a usar o uniforme do Capitão, como símbolo da vitória final sobre o seu maior adversário
Mas, no caso da história de Dan Slott, há mais do que um ponto de partida semelhante, até porque o Kraven de De Matteis é o primeiro a considerar-se “superior” ao Homem-Aranha original, quando refere “Massacrei a Aranha. Transformei-me nela. Cacei como a aranha caça… consumi as suas presas. Provei que sou superior a ela em todas maneiras.” Ou seja, tanto Kraven, como o Dr. Octopus não se contentam em vencer e matar o Homem-Aranha. Decidem ocupar o seu lugar e desempenhar a sua missão, mas de uma forma mais eficiente, sem as restrições morais que afectam Peter Parker, e que por isso, eles consideram superior. Algo que os resultados iniciais da actuação de ambos, parece confirmar.
A grande diferença está na motivação de ambos e na forma como se relacionam com Peter Parker, o homem por trás da máscara do Homem-Aranha. Kraven vê o Homem-Aranha como um símbolo, não tendo qualquer interesse em descobrir a identidade secreta do herói. Apenas pretende derrotá-lo e tomar o seu lugar, o que consegue, mas a vitória deixa-o de tal forma vazio que considera que já não tem mais nenhum motivo para viver…
 Já o Dr. Octopus quer ocupar literalmente o lugar de Peter Parker, em todos os sentidos (mesmo que resista à tentação de se envolver com Mary Jane…) e a sua actuação é bastante mais linear e lógica do que a do emotivo Kraven, tal como o seu empenho em cumprir as funções do Homem-aranha de uma forma superior é bem mais acentuado. Esta diferença é natural, pois se Peter Parker e Sergei Kravinoff pouco têm em comum, já Parker e Otto Octavius são personalidades simétricas que optaram por caminhos diferentes (o caminho do mal, no caso do Dr. Octopus), mas ambas têm bem a noção de que grandes poderes implicam grandes responsabilidades. Responsabilidades que Otto Octavius não tem enjeitado, usando o corpo e os poderes de Peter Parker com os mesmos objectivos, mas com uma eficácia superior.
Texto originalmente publicado no nº 9 da revista Homem-Aranha Superior, de Ourtubro de 2014.

sábado, 22 de novembro de 2014

Universo Marvel 19 - Vingadores Vs X-Men Vol1: O dia da Fénix


VINGADORES E X-MEN NUM CONFRONTO 
QUE VAI MUDAR A FACE DO UNIVERSO MARVEL


UNIVERSO MARVEL VOL 19
Vingadores Vs X-Men  Vol 1 – O Dia da Fénix
Argumento – Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman e Matt Fraction
Desenhos – John Romita Jr., Olivier Copiel e Andy Kubert

 A colecção Universo Marvel aproxima-se do fim com a publicação da primeira parte da saga que concretiza o sonho de milhares de fãs da Marvel que sempre imaginaram como seria um confronto entre os Vingadores e os X-Men, os dois maiores grupos de heróis da Casa das Ideias.
 Este confronto, muitas vezes imaginado mas só agora concretizado é a consequência lógica dos acontecimentos que os leitores do Público poderam acompanhar em sagas como Dinastia de M, que reduziu drasticamente a população de mutantes, ou Vingadores, o fim de uma Era. Sagas inesquecíveis que alteraram profundamente o equilíbrio de forças do Universo Marvel, levando a uma profunda reorganização de que o Argumentista Brian Michael Bendis foi o principal arquitecto e que se concretiza finalmente nesta história, em que o regresso da Força Fénix, que levou à morte de Jean Grey na sequência do clássico A Saga da Fénix Negra, publicada numa anterior colecção dedicada à Marvel, vai levar ao confronto entre os X-Men, liderados por Scott Summers, o Ciclope e por Emma Frost, após a morte do Professor Xavier e os Vingadores, em cujas fileiras está Wolverine que durante décadas foi o mais popular dos X-Men e que agora se vê forçado a defrontar os seus antigos companheiros
E se esta saga, cuja primeira parte poderemos ler na próxima quinta-feira, reúne os maiores heróis da Marvel, em termos de talento criativo a situação não é muito diferente, pois é difícil reunir numa mesma história argumentistas do calibre de Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman e Matt Fraction. Nomes que estão indiscutivelmente entre os maiores escritores a trabalhar no mercado americano de BD, com um trabalho de altíssima qualidade que não se restringe às histórias de super-heróis.
Em termos gráficos, o talento também está à altura da importância do acontecimento, como o atesta a presença de um dos maiores Ilustradores da Marvel das últimas décadas: John Romita Jr., desenhador que ao longo de uma carreira de mais de 40 anos já passou pelas principais séries da Marvel e que aqui tem mais uma oportunidade de voltar a desenhar os principais heróis da Casa das Ideias, reunidos numa história épica. Mas Romita Jr. não é o único desenhador a ilustrar este confronto entre os Vingadores e os X-Men, contando com a companhia inspirada de Olivier Coipel, nome bem conhecido dos leitores destas colecções graças ao seu trabalho em Dinastia de M, Thor renascido e Cerco, e ainda de Adam Kubert, filho do lendário Joe Kubert, que mais uma vez prova estar à altura do legado do pai.
Em suma, um elenco de luxo para uma história à altura, que encerra com chave de ouro esta movimentada viagem pelo Universo Marvel.
Texto publicado no jornal Público de 07/11/2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Universo Marvel 18 - Wolverine: Evolução


UNIVERSO MARVEL VOL 17
Wolverine: Evolução
Argumento - Jeph Loeb
Desenhos - Simone Bianchi

Este foi o último editorial que escrevi para a colecção Universo Marvel. Um texto que surge no blog mais tarde do que o costume, porque o Amadora BD não me deixou grande tempo para actualizações. Mas passada esta fase mais complicada, que se prolonga por este fim-de-semana graças ao Fórum Fantástico, prometo actualizar o blog com maior frequência.



DA ORIGEM DAS ESPÉCIES

Jeph Loeb, um dos criadores mais presentes nas diversas colecções que a Levoir tem dedicado aos super-heróis americanos regressa neste volume com uma história que explora mais a fundo a relação entre Wolverine e Dentes de Sabre, que têm aqui um violento e espectacular confronto final, numa história que procura ainda fazer alguma luz sobre as origens misteriosas dos dois personagens, cujos destinos parecem estar entrelaçados.
Quando Wolverine surgiu pela primeira vez na revista americana The Incredible Hulk 180, no ano de 1974, ninguém sabia o que o destino reservava a esta personagem.
Nessa história, em que Wolverine se alia ao Hulk para derrotar Wendigo, o misterioso herói já se gabava constantemente das suas habilidades, em especial das suas garras letais cobertas por adamantium, ficando célebre a frase: “ sou o melhor naquilo que faço”. A palavra mutante ainda não tinha entrado do vocabulário dos leitores e esta primeira aparição com o seu uniforme azul e amarelo não foi o suficiente para o classificar com sendo herói ou vilão. Mas foi a sua inclusão nos X-Men, pela mão de Len Wein em Giant Size X-Men # 1, e o posterior destaque que Chris Claremont lhe dá, aquando da remodelação do grupo de mutantes que o deu verdadeiramente a conhecer aos leitores. A partir desse momento, Logan, o homem misterioso que nada sabia do seu passado, rapidamente conquistou os leitores, tornando-se rapidamente o mais popular dos X-Men, estatuto que Eu, Wolverine, a mini-série de Claremont e Frank Miller ajudou a consolidar.
Já Dentes de Sabre surge pela primeira vez no nº 14 da revista Iron Fist, criado por Claremont e John Byrne, surgindo como adversário recorrente de Danny Rand, o Punho de Ferro. Só quando Claremont aproveitou a personagem como inimigo dos X-Men, na saga Massacre Mutante, de 1986, e declarou retroativamente que o Dentes de Sabre que Danny Rand enfrentou em Iron Fist # 14 era um mero clone, com capacidades inferiores ao original, é que Dentes de Sabre surge como Némesis de Wolverine. Uma relação de dois mutantes com capacidade regenerativa e com uma acentuada dimensão animal e selvagem, que Wolverine procura sublimar e controlar e que Dentes de Sabre assume sem quaisquer restrições. A forma como os dois mutantes funcionam como negativo um do outro, é acentuada numa entrevista em Claremont declara que a relação entre eles é uma relação de “pai e filho. É por isso que Dentes de Sabre sempre considerou Logan como uma fraca cópia em relação ao seu original. O outro elemento fulcral da minha abordagem da relação entre eles, foi que, em toda a vida deles, Logan nunca conseguiu derrubar Dentes de Sabre num combate sem regras”.
Esta saga explora o capítulo final do confronto entre os dois mutantes, que descobrimos ser resultado de uma guerra eterna entre diferentes ramos da evolução humana, após a descoberta de vestígios arqueológicos que provam a existência de um ramo lupino, de que Wolverine e Dentes de Sabre são descendentes e que através do misterioso Romulus pretende recuperar a posição perdida na cadeia evolutiva.
Mas o grande destaque deste volume vai para o trabalho do desenhador italiano Simone Bianchi. Nascido em 1972 na Itália, em Lucca, cidade que alberga desde 1966 o mais antigo Festival de Banda Desenhada europeu. Grande fã dos super-heróis americanos, que já desenhava ainda antes de saber ler ou escrever, Bianchi publicou a sua primeira tira cómica aos 15 anos, no jornal Il Tirreno, iniciando uma colaboração regular com a imprensa, publicando cartoons e ilustrações. Decisivo para a sua carreira na BD foi o encontro em 1994, com Claudio Castellini - famoso desenhador italiano, que para além do seu trabalho para a editora Bonelli, onde era um dos desenhadores regulares de Dylan Dog, desenhou também Conan e o Surfista Prateado para a Marvel - que se tornou seu professor e mentor, ajudando-o a arranjar trabalho na indústria em editoras como a Phoenix, Comic Art e a Bonelli. Uma estreia promissora que lhe permitiu ver o seu trabalho exposto pela primeira vez no Festival de Lucca de 1998 e desenhar uma aventura do bárbaro Conan para a Marvel Italia no ano seguinte.
Para além da BD e de uma série de ilustrações para capas de discos e de revistas e de trabalhos como consultor visual para empresas de publicidade, estúdios de animação em 3D e companhias produtoras de role play como a Fantasy Flight Games para quem trabalhou na concepção do jogo Dragonstar, Bianchi inicia também uma interessante carreira como professor, primeiro como assistente de Ivo Milazzo (o criador de Ken Parker) numa cadeira de Banda Desenhada na Academia de Belas-Artes de Carrara e mais tarde, como professor a tempo inteiro da disciplina de Anatomia na Banda Desenhada, da Scuola Internazionale di Comics de Florença.
2004 revelou ser um ano decisivo para Bianchi, pois a sua estreia em álbum dá-se em Janeiro desse ano com Ego Sum, título editado em Portugal pela Vitamina BD, que lhe valeu o prémio de melhor desenhador em Lucca e uma presença no Festival de Angoulême do mesmo ano para promover a edição francesa do seu livro, onde conheceu Sal Abbinanti, o agente de Alex Ross, que se torna também seu agente. Nesse mesmo Verão vai viver para Nova Iorque, onde conhece o desenhador Mike Bair, que o apresenta ao editor Peter Tomasi, que lhe propõe trabalhar com Grant Morrison, na mini-série Shining Knight, integrada no ambicioso projecto Seven Soldiers of Victory, em que Bianchi trabalha lado-a-lado com ilustradores como J. H. Williams III, Cameron Stewart e Frazer Irving.

Embora tenha ilustrado antes algumas capas da revista X-Men Unlimited, a sua estreia como desenhador de uma série regular da Marvel, dá-se em 2007, com a história que têm nas mãos, uma saga em seis capítulos escrita por Jeph Loeb, estreada no nº 50 da revista do Wolverine. E o próprio Leb é o primeiro a não poupar nos elogios a Bianchi, dizendo: “como fã de BD estou sempre à espera do próximo grande artista. Quando Bianchi apareceu, o seu trabalho era tão dinâmico e imaginativo. Já vi algumas páginas de Simone para o Wolverine e posso garantir que ninguém está preparado para aquilo. Vai deixar toda a gente de boca aberta. É óptimo para mim poder contribuir para o início da carreira de um artista que vai ser uma superestrela.”
Uma opinião certamente partilhada pela editora que não hesitou em lançar os números de Wolverine desenhados por Bianchi numa versão a preto e branco, que permitisse apreciar devidamente a fabulosa técnica de aguada do desenhador italiano, que revela igualmente um excelente sentido de composição, pensando a página e a dupla página com um a unidade estética autónoma, sem que com isso a narrativa perca legibilidade.