terça-feira, 27 de janeiro de 2015

domingo, 18 de janeiro de 2015

75 Anos de Batman 1 - Batman: O Longo Halloween Vol 1


Como tem sido habitual, aqui deixarei os textos editoriais que escrevi para a colecção dedicada aos 75 Anos do Batman, que a Levoir está a lançar com o jornal Sol. O primeiro foi precisamente este, dedicado a um dos meus livros favoritos da dupla Jeph Loeb/Tim Sale.

BATMAN ANO DOIS

Se o leitor for um fã de cinema, encontrará certamente algo de familiar nas primeiras páginas deste livro. Com efeito, a imagem de Bruce Wayne, envolto nas sombras a dizer a Carmine Falcone, o Padrinho da principal família mafiosa de Gotham, que acredita na sua cidade, na página inicial desta história, não pode deixar de evocar no leitor cinéfilo, a cena de abertura do filme O Padrinho, de Francis Ford Coppola, que começa precisamente com a frase “acredito na América” dirigida a Vito Corleone, o Padrinho do romance de Mario Puzo, que inspirou o filme de Coppola.
Para além do Carmine Falcone desenhado por Tim Sale ter parecenças físicas com o Vito Corleone superiormente interpretado por Marlon Brando, o facto de ambas as cenas terem lugar durante a festa de casamento de um parente do chefe mafioso, não deixa dúvidas sobre a óbvia homenagem que Loeb e Sale quiseram prestar ao filme de Coppola. Uma homenagem tão merecida como arriscada, pois pode levar a inevitáveis comparações entre o clássico do cinema e a BD de Loeb e Sale. Mas a verdade é que, tal como O Padrinho tem um lugar de destaque no cânone do cinema americano do século XX, também The Long Halloween é presença indiscutível na lista das 10 melhores histórias do Batman de sempre.
Na anterior coleção da Levoir dedicada à DC, pudemos apreciar o trabalho de Tim Sale com o Batman, numa série de histórias soltas escritas por diferentes argumentistas, mas isso foi apenas um aperitivo para a "piece de resistance" que se vai seguir: o primeiro trabalho de grande fôlego da dupla Loeb/Sale protagonizado pelo Cavaleiro das Trevas. Um marco na história dos Comics americanos cuja influência é evidente na trilogia cinematográfica de Christopher Nolan.
Mas não negando os méritos do trabalho de uma dupla de criadores em perfeita sintonia, convém não esquecer o papel fundamental do editor Archie Goddwin em The Long Halloween, que Loeb é o primeiro a salientar, na entrevista que lhe fez o cineasta Kevin Smith para o programa de rádio Fatman on Batman. Aí Loeb refere que foi o mítico editor e argumentista a ir buscar a dupla para as revistas do Batman, numa fase em que o trabalho dos dois criadores para a DC se limitava à sua passagem pela série Chalengers of the Unknow, convidando-os a criar uma história de Halloween para a revista Legends of the Dark Knight, de que Godwin era o editor. Essa história foi Fears e a DC gostou tanto do resultado que resolveu lançar à história num número especial em "prestige format" (formato mais luxuoso, com papel de gramagem superior, lombada e capa cartonada, usado pela primeira no The Dark Knight Returns de Frank Miller), em vez de a espalhar por três Comics, como era habitual.
Uma aposta arriscada, tento em conta que tanto Loeb como Sale eram ainda relativamente desconhecidos, mas que se revelou ganhadora, tanto em termos críticos como comerciais. Seguiram-se mais dois especiais de Halloween nos anos seguintes (Madness e Ghosts, posteriormente reunidos, com Fears, no livro Haunted Knights), até que Goodwin, enquanto tomava o pequeno-almoço com Loeb, durante a Comic Con de San Diego, de 1995, se lembrou que podia ser interessante aplicar esta lógica a uma história que durasse o ano inteiro, sugerindo ainda o nome The Long Halloween, para essa história.
Para Loeb, que naquela época, além do seu trabalho no cinema e na televisão, estava também a escrever a série Cable para uma editora rival, não era fácil ter disponibilidade para aceitar o desafio, mas quando Goodwin lhe disse que tinha falado com Frank Miller e que este não se opunha a que alguém usasse os Falcone e os Maroni, as duas famílias mafiosas que Miller tinha criado em Ano Um, Loeb percebeu que não podia perder a oportunidade de explorar os primeiros anos de actividade de Batman, numa história que homenageasse simultaneamente o trabalho de Miller e os clássicos do filme noir.
Nascia assim The Long Halloween, uma história em 13 partes, pensada para funcionar simultaneamente como uma intriga policial clássica e como a continuação do Ano Um de Miller e Mazzucchelli, com a acção a decorrer seis meses depois dos acontecimentos de Batman: Ano Um. E se em Ano Um é Jim Gordon quem assume o principal protagonismo, agora, seguindo uma sugestão de Mark Waid, Loeb e Sale vão contar o processo de transformação de Harvey Dent no Duas Caras.
O resultado é uma história que mistura ingredientes do romance policial clássico, com o Film Noir e os filmes de gangsters, sem esquecer a mitologia do Cavaleiro das Trevas e a colorida galeria de vilões do Batman, que Sale teve carta-branca para reformular graficamente. A esse nível a mudança mais notável é a do Calendar Men, um dos mais obscuros (e também dos mais ridículos) vilões do Batman, que Sale já tinha tido oportunidade de desenhar numa história de Alan Grant - publicada em Portugal em Contos do Batman, volume pertencente à segunda colecção que a Levoir dedicou à DC Comics - e que aqui surge completamente transformado. Um personagem muito mais misterioso e sombrio, que da sua cela no Asilo Arkham vai dando pistas a Batman que o ajudem a descobrir a identidade do misterioso Holliday, o assassino dos Feriados. No fundo, um papel muito semelhante ao de Hannibal Lecter em relação à agente Clarice Sterling no filme The Silence of the Lambs, de Jonathan Demme.
Articulando de forma muito equilibrada o mistério e o suspense das boas histórias policiais, com a acção e as personagens hiperbólicas das histórias de super-heróis clássicas e o ambiente sombrio das histórias de gangsters, O Longo Halloween conquista o leitor de forma inapelável, tanto pela história como pela arte, com Tim Sale a aproveitar muito bem a grande quantidade de páginas disponíveis para brilhar nas sequências de acção e nas belas páginas duplas.

Terminado este primeiro volume, todos dados estão lançados e a intriga está em marcha. Agora só resta ao leitor esperar uma semana pela conclusão desta história épica, para conhecer finalmente a identidade do misterioso Halloween.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Je Suis Charlie

É a notícia do dia, o ataque à sede do jornal satírico francês Charlie Hebdo, esta manhã em Paris, que provocou 12 mortos, entre os quais Charb, o director do jornal e os cartoonistas Cabu, Tignoux e Wolinski, decano da caricatura francesa e Grande Prémio de Angoulême em 2005. As paródias que o jornal e os seus cartoonistas faziam com todas as religiões valeram-lhes vários processos e um atentado à bomba em 2011, como represália de terem publicado em França as caricaturas de Maomé. Mas hoje os extremistas religiosos foram ainda mais longe e dois ou três homens armados entraram no jornal e abateram a sangue frio 10 jornalistas e cartoonistas e dois polícias, tendo provocado mais de uma dezena de feridos.
Não vai ser fácil ao Charlie Hebdo, privado do seu director e dos seus principais ilustradores, sobreviver a este duro golpe, mas é importante que o faça em nome da liberdade de expressão e para mostrar ao mundo que o terror desta vez não venceu. E a verdade é que neste momento, todos somos Charlie Hebdo, como o demonstram este punhado de cartoons feitos por autores de Banda Desenhada, que escolhi entre as várias dezenas que circulam na Net, demonstrando a solidariedade da classe artística para com estes mártires da liberdade de expressão.

                                                             Zep

                                             Geluck

                                              Boulet

                                                        Baudoin

                                             Joann Sfar

                                              Falcato

                                               Benjamin Lacombe