terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um punhado de imagens da exposição Cartografias da Memória e do Quotidiano

É já no próximo domingo, 4 de Março, que termina a Exposição Cartografias do Quotidiano e da Memória, mostra que marca a presença da Banda Desenhada e da Ilustração na programação da Capital Europeia da Cultura, Guimarães 2012.
Embora os outdoors com as imagens criadas pelos seis ilustradores convidados vão continuar nas ruas de Guimarães até meados de Abril, a exposição essa, termina a 4 de Março. Mas este último fim-de-semana vai ser em grande, com a presença dos autores no dia 3, na Sociedade Martins Sarmento, para uma mesa-redonda e para o lançamento do catálogo. catálogo esse coeditado pela Imprensa nacional r. KarCasa da Moeda e que terá distribuição comercial nas Livrarias, como a Dr Kartoon. Aqui fica a sugestão para aproveitarem esta última oportunidade de visitar a exposição e algumas imagens da mesma para vos abrir o apetite...



Ulli Lust




João Fazenda


Denis Deprez



Anke Feuchtenberger



Marco Mendes


Nuno Sousa

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Scott Pilgrim em português

Num mercado como o português, em que é bastante frequente as editoras deixarem cair as séries por falta de vendas, é sempre de louvar quando uma editora consegue publicar uma série, ou coleção, na íntegra. Por isso, a Booksmile está de parabéns pela forma como tratou a série “Scott Pilgrim”, título com que se estreou na edição de Banda Desenhada.
Criada pelo canadiano Bryan Lee O’Malley para a editora independente norte-americana Oni Press, que publicou os seis volumes entre 2004 e 2010, “Scott Pligrim” é uma divertida série juvenil, que relata as aventuras pessoais e sentimentais de Scott Pilgrim, um jovem adulto que tem uma Banda Rock e que se apaixona por uma misteriosa rapariga, Ramona Flowers e que, para a conquistar vai ter que enfrentar os seus 7 maléficos ex-namorados. Ou seja, no fundo, “Scott Pilgrim” é uma comédia romântica, mas tratada como um jogo de computador, em que cada antigo namorado de Ramona que Scott tem que vencer, constitui um nível a ultrapassar.
Esta inesperada e divertida fusão de referências Pop, da BD à música, ao cinema e aos jogos de computador, constitui uma das razões do sucesso da série, que tão bem soube captar o “zeitgeist” (espírito do tempo) da juventude ocidental do início do século XXI, num registo gráfico estilizado, de grande sensibilidade e eficácia, que faz uma curiosa fusão entre o mangá japonês e os comics americanos. Se o formato dos livros segue o dos mais populares mangás (livros de pequeno formato, com mais de 100 páginas a preto e branco por volume) o traço de O’Malley vai buscar elementos narrativos e gráficos (como os grandes olhos) ao mangá, mas o seu traço, extremamente sintético e caricatural, tem uma personalidade muito própria.
O sucesso comercial da série de Bryan Lee O’Malley cedo levou a que fosse adaptada aos jogos de computador (o que tem lógica, pois os jogos de computador são uma das influências mais evidentes de “Scott Pilgrim”) e ao cinema, num divertidíssimo filme de Edgar Wright que, embora tendo tudo para se tornar um filme de culto, infelizmente, não teve o sucesso comercial merecido.
O mesmo parece ter acontecido com a edição portuguesa, que rapidamente passou de uma tiragem inicial de 5.000 exemplares, nos dois primeiros números, para 1.500 exemplares nos restantes, com o inevitável aumento de preço de capa que uma tiragem menor implica. Também por isso, é de louvar a persistência da editora, que apesar das vendas abaixo das expectativas, nunca deixou cair a série, que, com a edição do sexto e último volume em finais de 2011, aí está disponível na íntegra para quem a quiser ler em português. Uma leitura muito divertida e altamente aconselhável.
(“Scott Pilgrim”, de Bryan Lee O’Malley, Booksmile, 6 volumes, 8,50 € a 10,99 € por volume)
Versão integral do twxto publicado no Diário As Beiras de 24/02/2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Alix na Ibéria

Depois de ter reeditado os primeiros álbuns com jornal Público a editora Asa regressa à série Alix com a edição de “O Ibero”, vigésimo sexto título da série e um dos álbuns produzidos já depois da morte de Jacques Martin, embora tendo por base uma sinopse do criador de Alix, que deixou vários argumentos escritos para que os desenhadores possam continuar as séries após a sua morte, que ocorreu em Janeiro de 2010.
Narrando as aventuras de um jovem gaulês adoptado por Roma, Alix foi uma das séries fundadoras da revista Tintin Belga, em 1948, tendo sido abundantemente publicada em Portugal na versão portuguesa da revista “Tintin” e em álbum pelas Edições 70 que, durante os anos 80, lançaram 19 títulos da série em pouco menos de 10 anos, cabendo à Asa, pegar no facho a partir de 2002, primeiro de forma pouco consequente, reeditando alguns volumes de forma mais ou menos alietória, ao sabor das co-edições. Isso parece estar a mudar recentemente, pois, para além de ter reeditado os primeiros 16 álbuns da série, numa edição conjunta com o Jornal Público, em meados de 2010, em finais de 2011, chega às livrarias este “O Ibero”, em que uma equipa constituída por Christophe Simon, François Maingoval e Patrick Weber, dá continuidade às aventuras do jovem gaulês protegido de Júlio César.
Misturando a intriga política com elementos dramáticos que vão conduzir a uma tragédia, “O Ibero” está ao nível dos melhores álbuns escritos por Jacques Martin, que aliam o rigor documental a uma intriga complexa, em que os jogos de poder provocam sempre vítimas. Neste caso, Alix recebe de César uma propriedade na Hispania, para se instalar como um colono, embora o verdadeiro objectivo deste presente de César seja dar a Alix as condições de acompanhar no local os contactos entre as tropas de Pompeu e os chefes iberos, como Tarago, o ibero que dá nome ao livro, que tudo vai sacrificar (até a família) à causa do seu povo.
Em termos gráficos, a máquina revela-se bem oleada, embora a dimensão industrial esteja bem patente no facto de as cores terem sido feitas por cinco pessoas diferentes… Ainda assim, a dupla Cristophe Simon e Patrick Weber dá bem conta do recado, conseguindo um bom equilíbrio entre o rigor documental dos cenários e o dinamismo das cenas de acção. A nível do tratamento das feições das personagens nota-se um afastamento da estética imposta por Jacques Martin, mesmo assim, menos evidente do que em “La Cité Engloutie”, o álbum seguinte da série (ainda inédito em português), em que o desenho é assegurado apenas por Patrick Weber.
(“Alix: O Ibero”, de Jacques Martin, Simon, Maingoval e Weber, Edições Asa, 48 pags, 12,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 18/02/2012

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O regresso de Mutts

A Devir, neste seu regresso em força à edição de BD, não podia arranjar melhor maneira de começar o ano de 2012, do que com “Os Nossos Mutts”, 5º volume da popular série de Patrick McDonnell, que a Devir, depois de conseguir os direitos da série, anteriormente editada pela BaleiAzul tem vindo a editar de forma não tão regular como os seus leitores gostariam, apesar da louvável preocupação em manter todos os volumes disponíveis.
Digno sucessor de “Calvin & Hobbes e uma das mais populares e premiadas séries da actualidade, “Mutts” parte de uma receita de sucesso que prima pela simplicidade, consistindo na narração de uma forma divertida e poética, do dia à dia de Earl e Mooch, um cão e um gato vizinhos e que desenvolvem uma bela amizade, feita de pequenos prazeres. Revelando o amor do seu autor pelos animais, “Mutts” tem a beleza das coisas simples, feita de um humor ternurento que nos aquece o coração.
Herdeiro de uma vasta tradição de comic-strips, Patrick McDonnel é também um especialista na obra de George Herriman , o autor de “Krazy Kat” cuja influência está patente em “Mutts”, até na maneira de falar de Mooch, o que não tira qualquer originalidade a esta bela série. Nas tiras reunidas neste livro, correspondentes ao ano de 2000 (pois, o atraso com que a série sai em Portugal é de mais de 10 anos…), além da ida de Earl ao veterinário, o grande destaque vai para as “histórias do abrigo”, uma série de tiras quase de serviço público em que McDonnell alerta os seus leitores para os muitos animais abandonados que estão nos canis à espera de adopção.
Mais um volume imperdível, sobretudo para quem gosta de animais, só sendo pena que as páginas dominicais não sejam publicadas a cores, pois o trabalho espectacular de McDonnell nessas páginas, em que explora os vastos recursos do seu traço em divertidas homenagens a momentos marcantes da História da Arte, merecia poder ser devidamente apreciado pelos leitores.
(Mutts 5: Os nossos Mutts”, de Patrick McDonnell, Devir,128 pags, 12,99 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 11/02/2012