segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Jacques Martin, morreu o criador de Alix


Depois de Tibet no dia 3 este primeiro mês de 2010 vê também partir Jacques Martin, o criador de Alix e Lefranc, falecido esta quinta-feira, 21 de Janeiro, numa clínica suíça, aos 88 anos de idade. Último sobrevivente da chamada “escola de Bruxelas”, ligada à revista “Tintin” onde esteve desde a primeira hora, ao lado de Hergé e Edgar Pierre Jacobs, Jacques Martin que, tal como Jacobs também trabalhou nos estúdios Hergé, é considerado como o grande mestre da Banda Desenhada histórica, género a que consagrou a maioria da sua produção, com a excepção de Lefranc, um jornalista aventureiro cujas aventuras com um toque de fantástico e de ficção científica, passadas nos anos 50, se aproximavam (até no carisma do mau da fita, Axel Borg) da série “Blake e Mortimer”, de Jacobs.
Nascido em Estrasburgo, em 1921, Martin estreou-se na Banda Desenhada em 1946 na revista belga “Bravo”, por onde também passou Jacobs, a quem se juntaria mais tarde na revista “Tintin”, em cujas páginas nasceu Alix, um jovem gaulês adoptado pelos romanos que, ao lado do seu amigo Enak, um órfão de origem egípcia, percorre o Império romano, na época de Júlio César. Paradigma da ficção histórica cuidadosamente documentada, a série “Alix” rapidamente conquistou os leitores, abrindo caminho a uma carreira de sucesso, que contou com mais de 15 milhões de álbuns vendidos ao longo de 60 e poucos anos de actividade.
Para além de Alix e Lefranc, Martin criou vários outros heróis, cujas aventuras decorriam em épocas históricas concretas, personagens cujas histórias apenas escrevia deixando o desenho para outros autores. É o caso de Jhen, cujas aventuras decorrem durante a Guerra dos Cem anos, desenhado por Jean Pleyers; de Arno, contemporâneo das guerras napoleónicas, cujos primeiros álbuns foram desenhados por André Juillard; das séries “Orion” e “Keos”, ambientadas respectivamente na Grécia antiga e no Egipto faraónico; e da série “Lois”, desenhada por Olivier Pâques, passada na França de Luís XIV.
Jacques Martin, que progressivamente se foi afirmando mais como argumentista do que desenhador (além das séries que criou, escreveu ainda um episódio de Corentin, de Paul Cuvelier, que este não chegou a desenhar e que Martin adaptaria para o álbum de Alix, “Les proies du volcan”) acabaria por abandonar de vez o desenho nos finais dos anos 80, na sequência de sérios problemas de visão que o deixaram quase cego.
Coube então a uma equipa de colaboradores, como Gilles Chaillet, Rafael Moralles, Christophe Simon, André Taymans, ou Thierry Cayman, assegurar o desenho das séries criadas por Martin, com resultados relativamente desiguais. Actualmente, Martin apenas supervisionava as séries, que já nem sequer escrevia e que, por isso lhe irão naturalmente sobreviver, como era sua vontade.
Em Portugal, “Alix” foi presença constante nas páginas da edição nacional da revista Tintin, tendo as Edições 70 editado mais de uma dezena de álbuns da série, durante as décadas de 70 e 80. Posteriormente a Asa reeditou alguns desses álbuns ao mesmo tempo que editou outros (poucos) títulos mais recentes, mas a grande maioria da série não está actualmente disponível em português, situação que se deverá alterar com a colecção que as Edições Asa vão lançar em Março com o jornal Público e que inclui 16 álbuns de “Alix”, escritos e desenhados por Jacques Martin.
Texto originalmente publicado no Diário as Beiras de 23/01/2010

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