segunda-feira, 17 de maio de 2010

Morreu Frank Frazetta


Na passada segunda-feira, dia 10 de Maio, faleceu Frank Frazetta, o mais importante ilustrador de fantasia do século XX, com uma obra consistente também em termos de Banda Desenhada e que, a par com Jack Kirby, terá sido o artista que mais influenciou a cultura popular americana em geral e o mundo dos comics em particular.
Falecido aos 82 anos, num hospital da Florida, na sequência de um ataque cardíaco, Frazetta estava já retirado e, ao que consta, num estado de saúde bastante debilitado. Aquando da morte da sua mulher, Ellie em 2009, que tinha criado um museu dedicado à obra do seu marido, numa propriedade da família, na Pensilvânia, a disputa entre os filhos pelo espólio do artista, que envolveu até a prisão de um deles, apanhado pela polícia a tentar tirar algumas das obras do pai do Museu, durante a noite, parece confirmar os rumores de que Frank Frazetta sofria de demência senil, estando incapaz de assegurar a gestão e manutenção da sua obra.
Nascido em Brooklyn em 1928, Frazetta iniciou a sua carreira como autor de Banda Desenhada aos 15 anos, trabalhando como assistente do desenhador Bernard Baily, tendo publicado diversos trabalhos em pequenas editoras, antes de colaborar com a EC Comics e com a DC, mas, com a excepção d e "Th'unda" e da série “Johnny Comet”, que escreveu e desenhou, o grosso do seu trabalho em Banda Desenhada foi feito como assistente de Al Capp em “Li’l Abner” e de Dan Barry em “Flash Gordon”.
Mas, para lá da Banda Desenhada, a que voltaria na revista “Creepy” da editora Warren, em meados da década de 60, o que tornou o nome de Frazetta inesquecível para os fãs da fantasia e da ficção científica, são as pinturas e ilustrações que fez para capas de livros, com destaque para as reedições de “Conan”, de Robert E. Howard, em que a imagem criada por Frazetta, que confessou anos mais tarde que nunca tivera paciência para ler os livros de Howard, serviu de modelo para a maioria das interpretações de Conan, na BD ou no cinema.
Frazetta foi também autor de cartazes para filmes de Roman Polansky, Clint Eastwood e até Quentin Tarantino e Robert Rodriguez (é dele o cartaz de "From Dusk Till Dawn"), actividade em que se estreou em 1965 com a ilustração para o cartaz do filme escrito por Woody Allen, “What’s New Pussycat”, trabalho que, segundo o próprio Frazetta, lhe permitiu ganhar numa tarde de trabalho, o mesmo que ganhava num ano, durante o início de carreira.
Senhor de uma técnica pictórica apuradíssima, Frazetta conciliava o rigor do traço com o equilíbrio da composição, que normalmente seguia uma estrutura triangular, para criar imagens que atraiam instantaneamente o olhar do leitor e que contavam, elas próprias, uma história muitas vezes superior ao material escrito que lhe servia de ponto de partida. Daí que a editora Image tenha lançado recentemente um punhado de revistas, com histórias tendo como ponto de partida as mais icónicas imagens de Frazetta, como “The Death Dealer”, em que, mais uma vez, o resultado final fica muito aquém das ilustrações de Frazetta que as inspiraram.
Verdadeiro virtuoso da ilustração, tanto em termos do desenho anatómico como no trabalho de cor, Frazetta era um talento em estado puro, com uma facilidade no traço espantosa, de tal forma que, depois de ter tido um AVC em 1995, que o deixou incapaz de usar a mão direita, Frazetta, que era dextro, passou a desenhar e pintar com a mão esquerda com os mesmos resultados.
Nas suas imagens, de grande dinamismo, coexistiam uma grande sensualidade, aspecto que já tive ocasião de referir aqui e aqui, e uma grande violência e dramatismo, com as cenas de combate que pintou a serem tão inesquecíveis como as princesas que e guerreiras que nelas apareciam.
Influência evidente em autores e ilustradores tão diferentes como Simon Bizzley, Mark Schultz, Mike Mignola ou Neal Adams, Frazetta tem sido sucessivamente redescoberto pelas novas gerações de leitores, criadores e coleccionadores, não admirando, por isso, que uma das ilustrações para uma capa de de Conan tenha sido vendida por um milhão de dólares, num leilão realizado em Novembro de 2009.
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 15/05/2010

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