E aqui fica um aviso para os visitantes que forem de Portugal: no Viñetas respeitam mesmo a hora da siesta tão tipicamente espanhola. Entre as 14h e as 18h todos os espaços de exposição estavam fechados, tal como as lojas da Rua da BD, o espaço junto ao Kiosco Alfonso, onde estão instalados os stands das editoras e das livrarias galegas.
Contando com o Kiosco Alfonso como núcleo principal, as exposições estavam espalhadas também por outros lugares próximos, como a Fundacion Barrié, ou novo edifício Palexco, situado junto ao mar e também para outros lugares mais distantes, como a Torre de Hércules, símbolo icónico da Coruña, onde estava uma exposição dedicada aos 20 anos de cartazes do festival, que incluía o magnífico cartaz de Das Pastoras para a edição deste ano, que não tive oportunidade de visitar.
Mas as melhores exposições estavam no Kiosco Alfonso, o coração do Festival, que albergava pranchas originais (e impressões digitais) de Dave Mckean, Ralph Meyer, Eduardo Risso, Julie Rocheleau e o galego Kiko da Silva.
Mckean apresentou os quatros projectos de BD em que está a trabalhar neste momento e que, com excepção de Black Dog, ainda não foram publicados e que além de Caligaro, um projecto em que o desenhador trabalha desde a sua passagem pelo Festival de BD de Beja, inclui também um projecto feito em parceria com Roger Dean, o conhecido ilustrador das capas dos discos de bandas de rock sinfónico como os Yes.
Ralph Meyer concentrou a sua exposição na série Undertaker, o popular Western criou com Dorrison e que é um dos melhores exemplares actuais da BD de aventura clássica franco-belga e os seus originais a preto e branco são magníficos, tal como as suas pinturas a cores. Eduardo Risso apresentou uma exposição antológica, que incluía trabalhos mais antigos como Parque Chas, ou Fulú, até títulos mais recentes como Moon Shine, ou Torpedo 1972, em que retoma o famoso (anti)herói de Abuli e Bernet. Mas, para mim, a grande surpresa da exposição de Risso, foram os magníficos originais a cores de 1950, uma história de 2010 que, presumo, terá sido a sua última colaboração com Carlos Trillo.
Se Meyer, McKean e Risso são autores cujo trabalho conheço bem, já Kiko da Silva, de quem conhecia apenas o divertido O Inferno do Desenhador, foi uma muito agradável surpresa, pela qualidade e versatilidade do seu trabalho, que não se limita ás duas dimensões da BD. Outra belíssima surpresa foi o trabalho (inteiramente digital) da canadiana Julie Rocheleau, que tem feito carreira na BD franco-belga e que revela um traço de grande elegância, excelente sentido de composição e um trabalho de cor tão inesperado como espectacular.
A nível das exposições que visitei, destaque ainda para a mostra dedicada os 10 Anos do Prémio Nacional del Comic, que incluía várias obras já publicadas em Portugal, como A Arte de Voar, de Altarriba e Kim, Ardalém, de Miguelanxo Prado, Rugas, de Paco Roca, e Blacksad: Amarillo, de Guarnido e Diaz Canales.
A parte comercial, para além de dar para perceber que, entre franceses, japoneses e americanos, praticamente tudo o que de importante se publica no mundo está disponível em espanhol, mas as minhas compras centraram-se na BD espanhola em geral e na BD galega em particular. E aqui, merece destaque a revista La Resistência, publicada pela editora Dibbuks, que neste sexto número tem 128 páginas de BD e recolhe histórias de mais de uma vintena de autores.
Mas para além dos espaços do Festival, a BD está bem presente na Coruña, seja através das estátuas de personagens de BD (algumas bastante mais conseguidas do que outras), seja nos grafittis, ou num espaço como a Pulperia de Melide, um restaurante onde servem exclusivamente polvo à galega, cujas paredes estão decoradas com desenhos dos autores que passaram pelas Viñetas do Atlântico.
Uma escultura de Blacksad, junto a um dos núcleos do Viñetas
O fantástico trabalho de Julie Rocheleau
1950. A última (?) colaboração de Trillo e Risso
Black Dog, de Dave McKean
Original de Bardin, de Max, um dos vencedores do Prémio Nacional de Comic
Uma parede da Pulperia de Melide cheia de desenhos
Algumas das BDs que trouxe da Coruña
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