sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Novela Gráfica III 8 - Vapor

AS TENTAÇÕES DO EREMITA

Novela Gráfica III – Vol. 8
Vapor
Argumento e Desenho – Max
Sexta, 18 de Agosto
Por + 9,99€
Nome maior da novela gráfica espanhola, distinguido com o Prémio Nacional Del Comic em 2007, o catalão Max é mais um dos autores que vê finalmente o seu trabalho editado em livro em Portugal graças à colecção Novela Gráfica, onde será dado à estampa no próximo dia 18 de Agosto, o livro Vapor, um dos seus trabalhos mais recentes, que relata a tentativa de ascensão do eremita Nicodemos (ou nick, para o gato mosh) a uma realidade espiritual superior, num estranho deserto onde não faltam as distracções, nem as tentações...
Se as lacunas da edição nacional que estas colecções têm ajudado a corrigir são bem evidentes, no caso de Max, nascido Francesc Capdevila em 1956, em Barcelona, essa lacuna era ainda mais escandalosa, pois Max já esteve presente por diversas vezes nos Salões de Banda Desenhada do Porto, Beja, Amadora e Lisboa e a revista Quadrado (tanto na primeira como na segunda série) publicou várias histórias curtas suas, tal como aconteceu com a mítica revista brasileira Animal, onde os leitores portugueses mais atentos aos quiosques puderam descobrir, entre outras histórias memoráveis, a série Peter Pank, uma versão iconoclasta do Peter Pan de James Barrie, popularizado pelo filme dos estúdios Disney.
Com uma carreira profissional iniciada no início da década de 70 no fanzine El Rollo Enmascarado, onde participaram também Nazario e Mariscal, Max vai estar ligado à formação da revista El Vibora em 1979, onde publica Gustavo, o seu primeiro (anti) herói, criado dois anos antes para o fanzine Muérdago e a trilogia dedicada a Peter Pank, que lhe valeu o prémio de Melhor Obra no Saló del Còmic de Barcelona de 1988 para El Licantropunk, o segundo capitulo das aventuras de Peter Pank.
Apesar de publicar directamente em França e ter uma carreira como ilustrador que o levou, entre outros sítios, à capa da revista New Yorker, Max nunca abandonou uma atitude interventiva em relação à actualidade, consubstanciada na revista Nosostros Somos los Muertos, que editou, com Pere Joan, entre 1995 e 2007.
Tal como o seu estilo evoluiu de um registo marcado pela obra de Robert Crumb para um estilo mais limpo e redondo, próximo da “linha clara” franco-belga, também essa colagem interventiva à actualidade dá gradualmente lugar a trabalhos mais introspectivos, em que a dimensão onírica e surreal ganha um peso cada vez maior. Uma evolução que se inicia em El Prolongado Sueño del Sr. T e que continua no premiado Bardin, el Superrealista com quem este Vapor, apesar de um registo gráfico ainda mais depurado, partilha o cenário do deserto, transformado num palco teatral de uma comédia surreal.
Com efeito, o deserto onde Bardin encontra o Cão Andaluz de Buñuel e Dali, acaba por ser o mesmo onde o eremita nick procura a paz de espírito, através do jejum e da oração em Vapor e onde as personagens dos quadros de Bosch deambulam em O Tríptico dos Encantados, o livro sobre Hieronimus Bosch que Max fez para o museu do Prado em 2016.
Cruzamento, tão inesperado como conseguido, entre o Krazy Kat, de George Herriman, o filme Simão do Deserto, de Buñuel e as Tentações de Santo Antão, de Bosch, Vapor é uma óptima porta de entrada para a obra de Max.
Publicado originalmente no jornal Público de 12/08/2017

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