sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Novela Gráfica III 6 - K.O. em Telavive


NA CABEÇA DE ASAF HANUKA

Novela Gráfica III – Vol. 6 
K.O. em Telavive
Argumento e Desenhos – Asaf Hanuka
Sexta, 04 de Agosto
Por + 9,99€
Uma das preocupações das colecções de Novelas Gráficas que têm saído com o Público desde 2015, tem sido mostrar que a Banda Desenhada de qualidade não se limita às produções franco-belgas, americanas, ou japonesas. Criadores de países mais periféricos em relação aos grandes centros de produção de BD, como a Argentina, Brasil, Espanha e Itália têm estado presentes em todas as colecções e, agora chegou a vez de alargar ainda mais os horizontes, até à Banda Desenhada israelita, de que K.O. em Telavive, de Asaf Hanuka é um digno representante.
Embora não tão conhecido como a sua compatriota Rutu Modan (Exit Wounds e The Property), Asaf Hanuka tem várias obras publicadas no Ocidente, tanto a solo, como em colaboração com o seu irmão gémeo, Tomer, embora, neste caso, o método de colaboração seja naturalmente muito diferente do dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá (presentes na série II das Novelas Gráficas com Daytripper), pois Tomer vive em Nova Iorque desde os 22 anos, enquanto Asaf continua a viver em Telavive.
Nascido em Telavive em 1974, Asaf Hanuka estudou BD na escola Émile Cohn, em Lyon, em França e estreou-se profissionalmente enquanto cumpria o serviço militar obrigatório, ilustrando histórias curtas do escritor israelita Edgar Keret, com quem voltaria a colaborar em Pizzeria Kamikaze, obra nomeada para os Prémios Eisner de 2007. Além das colaborações com o seu irmão Tomer, com quem criou a série Bipolar e a novela gráfica The Divine, Hanuka trabalhou também com o escritor francês (e colaborador habitual de Tardi) Didier Daeninckx em Carton Jaune, uma BD editada em França em 1999. Mas a actividade do autor não se limita apenas à BD, pois além de ter participado (tal como o seu irmão Tomer) no filme de animação Waltz with Bashir, Asaf Hanuka tem também uma carreira de sucesso como ilustrador, tendo publicado em revistas como a Rolling Stone, Fortune, New York Times, Wall Street Journal, Time, Forbes e Newsweek, entre outras.
K.O em Telavive nasceu em 2010 como uma página semanal publicada em Calcalist, uma revista de negócios israelita, a convite do editor Amir Ziv, com quem Hanuka já tinha trabalhado. Como o próprio refere: “Começou como uma BD autobiográfica sobre a dificuldade da nossa família em encontrar um lugar para morar em Tel Aviv. Depois de alguns meses a fazer a página, o ângulo financeiro ficou um pouco aborrecido e então comecei a escrever sobre o que me aconteceu durante a semana. O editor aceitou essa mudança e até a encorajou. Eu lembro-me de uma vez em que enviei uma história agradável com um final bonito e ele me disse que o meu trabalho é mais interessante quando é sombrio e um pouco enigmático. Ou seja, tive o seu apoio total para fazer o que queria.” Também em termos gráficos essa liberdade é evidente, com o autor a alternar uma estrutura tradicional de nove quadrados por página, com vistosas imagens de página inteira, tudo servido por um excelente e inesperado trabalho de cor, que tem também uma função narrativa importante.
Retrato irónico, divertido e onírico de um ilustrador que é simultaneamente, marido, pai e cidadão israelita, com tudo o que isso implica, K.O em Telavive funciona também como uma forma quase terapêutica do autor confrontar os seus medos e frustrações. Nas palavras do próprio Hanuka: “A melhor maneira que tenho de lidar com alguma coisa, é tentar dividi-la em nove quadrados e encontrar algum tipo de lógica narrativa. Uma vez que está na página, o monstro, que estava escondido nas sombras, é menor porque agora está visível. Isso ajuda-me a ter uma perspectiva e a perceber o que realmente está a acontecer. Às vezes eu acabo uma página e nem tenho certeza sobre o que é exactamente, mas sinto-me aliviado. É assim que sei que funciona.”
Texto publicado originalmente no jornal Público de 29/07/2017

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