quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sandman 6: Fábulas e Reflexões


OS IMPERADORES, O VIAJANTE E OS FILHOS DO SONHO

Sandman – Vol. 6 
Fábulas e Reflexões
Argumento – Neil Gaiman
Desenho – Bryan Talbot, Stan Woch, Shawn McManus, Collen Doran, Jill Thompson
Quinta, 10 de Novembro
Por + 11,90€
Confirmando a alternância entre grandes sagas que fazem avançar a narrativa global e histórias curtas que permitem explorar aspectos distintos da relação entre o Domínio do Sonho e o mundo Desperto, Fábulas e Reflexões, o sexto volume da série Sandman que chega às bancas na próxima quinta-feira, centra-se no modo como os percursos individuais de diferentes personagens históricas são afectados pelo encontro com o Mestre dos Sonhos.
Agosto, Termidor e Três Setembros e um Janeiro, os três contos que abrem o livro, para além de terem em comum serem histórias que têm títulos com nomes de meses (Termidor era o equivalente ao mês de Julho no novo calendário que a Revolução Francesa tentou implementar) centram-se na relação de três diferentes Imperadores com Morfeu. Seja o maior Imperador romano, Augusto, em Agosto, mês que lhe deve o nome, Robespierre, um dos principais responsáveis pela Revolução Francesa e pelo banho de sangue que se lhe seguiu em Termidor e o Imperador Norton, em Três Setembros e um Janeiro, título inspirado no do filme Quatro Casamentos e um Funeral, cujo argumentista, Richard Curtis, é amigo de Gaiman.
Por mais estranho do que possa parecer, Joshua Abraham Norton, o primeiro (e único) Imperador dos Estados Unidos é um personagem com existência real, cuja incrível história inspirou também Goscinny numa aventura de Lucky Luke, O Imperador Smith, e que aqui é o alvo inconsciente de uma disputa entre três dos Eternos, em que a força do sonho se revela superior ao desespero e à tentação.
Também o explorador Marco Polo encontra Morfeu no deserto, numa história que, alem de nos explicar o porquê de Morfeu também ser conhecido por Sandman, mostra-nos como o tempo se escoa de modo diferente nas faldas do domínio do Sonho, onde existem lugares suaves, onde as fronteiras entre o sonho e a realidade são porosas e a geografia dos sonhos se intromete na realidade.
Na história mais importante do livro, A Canção de Orfeu, Gaiman recupera uma lenda da mitologia clássica, o mito de Orfeu, para incorporar Orfeu e Eurídice no universo da série, num conto  que vai ter consequências decisivas para o destino de Morfeu e em que descobrimos que Orfeu é filho de Morfeu e da musa Calíope. Finalmente, em O Parlamento das Gralhas, Daniel, o filho de Lyta Hall que Morfeu disse que viria buscar, faz a sua primeira vista ao Domínio do Sonho.
Em termos gráficos, os destaques deste volume vão para Bryan Talbot, o autor de História de um Rato Mau, que assina os desenhos de Agosto e de A Canção de Orfeu, com grande rigor e um domínio perfeito da narrativa, e para Jill Thompson que, na sua estreia na série cria uma versão infantil dos Eternos transbordante de “fufura”, cujo estrondoso sucesso junto dos leitores levou a que protagonizassem duas histórias autónomas, Little Endless Storybook e Delirium’s Party, escritas e desenhadas por Jill Thompson.
Publicado originalmente no jornal Público de 04/11/2016

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