PELA ESTRADA FORA
Sandman – Vol. 7
Vidas Breves
Argumento - Neil Gaiman
Desenho – Jill Thompson, Vince Locke
Quinta, 17 de Novembro
Por + 11,90€
Depois dos maravilhosos interlúdios que foram as histórias curtas de Fábulas e Reflexões, a jornada de Morfeu volta a ocupar o centro do palco em Vidas Breves, capítulo que dá início ao último acto da série e que os leitores poderão descobrir no capítulo 7 da premiada série de Neil Gaiman, disponível a partir da próxima quinta-feira.
Reflexão sobre a mudança e a brevidade da vida, Vidas Breves dá destaque a dois dos Eternos, Sonho e Delírio, na sua busca por outro irmão, Destruição, que abandonou as suas funções e desapareceu no mundo desperto. Assim, na aparência estamos perante a mais linear das histórias, centrada numa viagem on the road de Sonho e Delírio pelos Estados Unidos da América, em busca das pessoas que possam conhecer o paradeiro de Destruição.
Um capítulo que se serve sobretudo para fazer avançar a história central, fazendo convergir diversos fios da intriga para a intricada tapeçaria tecida pelo autor, pois como o próprio Gaiman refere: “Vidas Breves, fornece informações sobre como e porquê Destruição abandonou o seu cargo e a família; conta como Orfeu consegue finalmente morrer; concretiza o objectivo de Desejo de conseguir com que o Sonho derrame o sangue da família, o que já vem da história do Imperador Norton e da Casa de Bonecas; e revela também muito sobre a Delírio… que é um dos raros personagens que chega ao fim desta história mais ou menos incólume.”
Mas, como é habitual em Gaiman, nem tudo é tão simples como parece, e muitos dos (aparentemente) meros mortais que encontramos ao longo da história e que vão sendo mortos para evitar que Morfeu descubra o paradeiro de Destruição, são na verdade Deuses que perderam os seus poderes quando deixaram de ter quem os adorasse e que, longe do esplendor de outrora (sobre)vivem escondidos no meio da humanidade, como Ishtar, a deusa do sexo da Babilónia, que agora dança como stripper num bar decadente. Um tema que Gaiman irá explorar posteriormente de forma mais profunda e complexa no seu romance American Gods, que está a ser adaptado à televisão pelo canal americano de cabo Starz, numa série de grande orçamento com estreia marcada (possivelmente também em Portugal) em 2017.
Em termos gráficos, este é um dos volumes mais consistentes da série, sendo inteiramente desenhado por Jill Thompson, com o apoio de Vince Locke na passagem a tinta. Thompson, que já tinha desenhado O Parlamento das Gralhas, a história final do volume anterior e que empresta o corpo e o rosto a Etain, a rapariga que consegue fugir do seu apartamento antes dele explodir, faz um excelente trabalho no tratamento das personagens, dando grande expressividade ao rosto e aos gestos de Delírio e tem sequências de grande beleza, como o céu estrelado sob o qual os Eternos conversam, ou a sequência em que as gotas do sangue que escorre das mãos de Morfeu, se transformam em flores vermelhas ao cair no chão.
Publicado originalmente no jornal Público de 11/11/2016
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