Sandman – Vol. 8
A Estalagem do Fim do Mundo
Argumento – Neil Gaiman
Desenho –Michael Allred, Gary Amaro, Mark Buckingham, Steve Leialoha, Vince Locke, Bryan Talbot e Michael Zulli
Quinta, 24 de Novembro
Por + 11,90€
Prosseguindo a alternância, que se tornou uma imagem de marca da série Sandman, entre volumes com histórias curtas e outros com narrativas mais longas centradas na jornada de Morfeu, A Estalagem do Fim do Mundo, volume a ser distribuído na próxima quinta-feira em todo o país, recolhe um punhado de histórias curtas, que confirmam Gaiman como um mestre da short story, também na BD.
Mas, ao contrário do que acontece em Terra do Sonho e Fábulas e Reflexões, desta vez há um dispositivo narrativo a unir todas essas histórias, com excepção de Ramadão, publicada originalmente na revista Sandman nº 50, que na edição americana foi incluída no volume 6 e que na versão portuguesa surge neste volume, por uma questão de equilíbrio de páginas entre cada volume e por, em termos da cronologia da série, ser a estória que precede o final de Vidas Breves (que termina no Sandman nº 49) e antecede A Estalagem… (que começa no nº 51 da edição americana).
Mas voltando ao tal dispositivo narrativo que agrupa todas as estórias, em A Estalagem… temos um grupo de viajantes refugiados numa estalagem, que contam histórias um aos outros para passarem o tempo. Se o conceito soar familiar ao leitor mais atento é porque este esquema narrativo remonta ao século XV e aos Canterbury Tales, de Geoffrey Chaucer, uma influência que o próprio Neil Gaiman é o primeiro a admitir, referindo: “agradava-me a ideia de usar um dos mais velhos dispositivos narrativos da história da literatura inglesa. Se vais roubar, é melhor roubares os melhores e os Canterbury Tales estão definitivamente nessa categoria.”
Assim, neste volume, temos histórias sobre cidades que sonham, fadas, monstros marinhos e necrópoles, e estórias dentro das histórias, que permitem a Gaiman e ao alargado leque de colaboradores que ilustram estas histórias, homenagear diversos géneros e autores, em singelos contos magnificamente construídos, em que as referências literárias mais ou menos explicitas, não perturbam em nada o fluir da narrativa.
E outra prova do génio de Gaiman, está na escolha do desenhador certo para cada história. Basta ver como o traço etéreo de Alec Stevens se revela perfeito para Um Conto de Duas Cidades que, apesar do título que remete para Dickens, é o mais borgesiano texto de Gaiman, ou como Michael Zulli, desenhador que estará em destaque no último volume da série, ilustra O Leviatã de Hob, uma história que recupera o fascínio da vida no mar dos romances de Conrad e Melville.
Publicado originalmente no jornal Público de 18/11/2016
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