domingo, 9 de outubro de 2016

Sandman 1: Prelúdios e Nocturnos


SANDMAN DE NEIL GAIMAN 
FINALMENTE EM PORTUGAL, EM EDIÇÃO INTEGRAL

Sandman
Vol 1 - Prelúdios e Nocturnos
Argumento - Neil Gaiman
Desenhos – Sam Keith, Mike Dringenberg e Malcon Jones III
Quinta, 06 de Outubro
Por + 11,90 €
No ano em que se completam vinte anos sobre o fim da publicação original em revistas mensais, Sandman, a série de culto de Neil Gaiman chega finalmente a Portugal em versão integral, suprindo assim mais uma grave lacuna da edição nacional de Banda Desenhada. São onze volumes inéditos em Portugal - com a excepção do primeiro e do terceiro - que o Público e a Levoir dão a descobrir aos leitores portugueses, numa cuidadosa edição em capa dura que faz justiça à obra de Gaiman, um dos maiores e mais populares escritores do fantástico, seja na literatura, na BD, no cinema e na televisão, campos em que o prolífico escritor inglês tem espalhado o seu talento, sempre com grande sucesso.
 Primeiro grande sucesso de Gaiman, que antes de Sandman tinha assinado apenas Violent Cases e Orquídea Negra, duas novelas gráficas ilustradas pelo seu amigo Dave McKean, a série é, nas palavras do seu autor: “um conto acerca dos sonhos, uma história acerca das histórias. É acerca do sentido dos sonhos, da razão pela qual precisamos deles e deles talvez precisarem de nós. E é acerca do Rei dos Sonhos, que é chamado por muitos nomes durante a história.”
Publicada pela DC, a editora de Batman e Super-Homem, a série Sandman oferecia aos leitores habituais da editora algo de diferente e inesperado, mas que permitiu que Sandman conquistasse tanto os fãs dos super-heróis, como o público da fantasia e do terror, ou os apreciadores das novelas gráficas, género que só então começava a ganhar o devido reconhecimento, graças ao sucesso de títulos como Maus, Batman: O Regresso do Cavaleiro das Trevas, ou Watchmen. Dando novamente a palavra a Gaiman: “eu estava realmente na corda bamba. Queria que a série se parecesse suficientemente com uma revista de super-heróis, para permitir que as pessoas que gostam de super-heróis a lessem; e ao mesmo tempo queria que se parecesse também com uma revista de terror, para me permitir escrever as histórias de fantasia que eu estava interessado em escrever.”
A estratégia do escritor é bem evidente neste primeiro volume, marcado pelo registo do terror, mas que segue a estrutura clássica da viagem do herói. Uma estrutura linear que acompanha o percurso de Morfeu, o Mestre dos Sonhos, que começa a história como prisioneiro de um grupo de ocultistas ingleses, que pensavam ter capturado a Morte e que, depois de conseguir escapar ao seu cativeiro, tem de recuperar os símbolos do seu poder. Um percurso em que conta com o auxílio de outras personagens da DC, como a Liga da Justiça e John Constantine e Hettie Louca, criadas por Alan Moore na série Swamp Thing e que leva Morfeu até ao Inferno, onde encontra Lúcifer, A Estrela-da-Manhã, o anjo caído e Senhor dos Infernos que irá ter um papel fundamental ao longo da série e ganhará até uma série própria,

escrita por Mike Carrey com a bênção de Gaiman.
Indo buscar personagens e locais a diversas mitologias clássicas, à literatura e à história da DC, a que se juntam inúmeras personagens criadas por si, Gaiman constrói um mundo de fantasia tão fascinante como coerente, onde reina a família dos Eternos, constituída por sete irmãos, que são a corporização de conceitos, sentimentos e ideais como o Destino, a Morte (Death, no original), o Sonho (Dream, no original), a Destruição, o Desejo, o Desespero e o Delírio (que antes de enlouquecer, era o Deleite).  
Depois de recuperar o capacete, a bolsa com areia e o rubi que são os símbolos do seu poder, Morfeu tem de reconstruir o seu Domínio do Sonho, deixado ao abandono durante o seu cativeiro, mas antes, este primeiro volume termina com um momento de pausa entre o Sonho e a sua irmã, Morte, que é também um momento de viragem na série, que deixou de ser apenas uma série de aventuras fantásticas, vividas por criaturas com poderes para além da imaginação, para se concentrar nas relações humanas, pois apesar de todo o seu poder, os Eternos são uma família perfeitamente disfuncional, muita humana nos seus comportamentos.
Publicado originalmente no jornal Público de 30/09/2016

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