segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Jodorowsky explora o filão do Incal - Parte I


Depois de “Castaka” e a “Casta dos Metabarões”, a Vitamina BD acaba de editar mais dois álbuns que exploram o universo criado por Moebius e Jodorowsky na série “O Incal”, verdadeiro mito fundador do Universo em BD de Jodorowsky, que o argumentista chileno tem explorado das mais diversas formas, com diferentes desenhadores. Esses álbuns são “Os Quatro John Difool”, primeiro volume da série “Incal Final”, com desenhos do mexicano José Ladronn e “As Armas do Metabarão”, um álbum isolado ambientado no universo da série “A Casta dos Metabarões”, com desenhos de Travis Charest e Zoran Janjetov, de que falarei na próxima semana.
Conhecido em Portugal essencialmente pelo seu trabalho como argumentista de Banda Desenhada, Alejandro Jodorowsky é muito mais do que isso. Verdadeiro homem do Renascimento, este filho de judeus emigrantes russos, nascido no Chile em 1929, foi actor, mimo (discípulo de Marcel Marceau), tarólogo de renome, responsável com Philipe Camoin pela restauração do Tarot de Marselha, criador de uma nova técnica terapêutica chamada psicomagia, poeta, escritor, dramaturgo, encenador, fundador do grupo surrealista Panique (com Fernando Arrabal e Roland Topor) e realizador de cinema, que encontrou na BD a forma ideal de fazer chegar ao grande público as histórias que quer contar e que não conseguiu meios para o fazer no cinema.
Foi precisamente o falhanço da adaptação ao cinema do romance “Dune”, de Frank Herbert, que em 1975 lhe permitiu iniciar uma colaboração com a Moebius, na série O Incal. Obra que, conforme o próprio Jodorowsky refere: “representa tudo o que eu não consegui fazer em Dune. Há bocados inteiros do filme que foram inventados por mim. Eles estão todos no Incal.”
Depois dos 6 álbuns da série principal, desenhada por Moebius, a exploração do Universo do Incal continuou em várias direcções, com a prequela “Avant L’Incal” (Antes do Incal), desenhada por Zoran Janjetov, num estilo bastante colado ao de Moebius e com as séries paralelas “Les Technopéres” e “A Casta dos Metabarões”, que por sua vez deu origem à prequela “Castaka”, desenhada por Das Pastoras e a “As Armas do Metabarão”.
Em 2000, Jodorowsky lançou com Moebius a série “Aprés do Incal”, (prevista para 6 volumes, tal como os ciclos de “Incal” e “Antes do Incal”) que fecharia a trilogia dedicada ao Incal, mas que não passou do 1º volume, face à desistência de Moebius, o que levou Jodorowsky a repensar o projecto e a encontrar um desenhador que estivesse a altura de substituir Moebius. O artista que reuniu o consenso dos dois criadores foi o mexicano José Ladronn, que os leitores portugueses já conhecem da mini-série dos Inumanos publicada pela Devir em 2005 e que, para além de ter colaborado com Jodorowsky numa história curta publicada na última série da revista “Metal Hurlant”, já tinha desenhado as personagens da série “O Incal” nas capas que fez para a edição americana de “Avant L’Incal”.

E não há grandes dúvidas que a escolha não podia ser mais acertada. Basta reparar no pormenor que Ladronn põe em cada desenho e no seu excelente trabalho de cor, felizmente longe do colorido metálico usado na nova coloração do “Incal” e no “Depois do Incal”, desenhado por um Moebius pouco motivado e claramente em “piloto automático”.
Em termos de história ainda é cedo para saber o que nos vai trazer este “Incal Final”, que pouca coisa aproveita do argumento do descartado “Depois do Incal”, até porque Jodorowsky já declarou, numa entrevista à revista “Casemate, que o ciclo do “Incal Final” será composto por 6 álbuns, tal como os ciclos anteriores, ao contrário dos 2 volumes anunciados pela editora… Já quanto ao desenho, este novo ciclo está uns bons furos acima de “Avant L’Incal”, graças ao excelente trabalho de Ladronn, artista talentoso que faz uma interessante síntese entre os estilo mais “linha clara” usado por Moebius no “Incal” e o traço barroco de Juan Giménez, conseguindo criar algo novo e personalizado.
“Incal Final 1: Os Quatro John Difool”, de Jodorowsky e Ladronn, Vitamina BD, 64 pags, 14,50 €)
Texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 30/01/2010

3 comentários:

refemdabd disse...

Estou bastante curioso em ver o que é que isto vai dar, com tantas peripécias que já ocorreram. Os seis álbuns na vez dos dois anunciados pela Editora é uma boa notícia, pois, a meu ver, o Jodorowsky não é muito famoso a condensar histórias (ver "as Armas dos Metabarões"); de qualquer maneira, fico à espera da confirmação da Editora para estes seis álbuns.

Sempre imaginei o Jodorowsky como um Alan Moore em aspecto fisíco, mas é mais parecido com o género do Paulo Coelho. Os anos 70 não contam, pois eramos todos um tanto ou quanto estranhos :)

JML disse...

Caro refemdabd,
Embora o Jodorowsky seja conhecido por mudar muitas vezes de ideias, o plano actual é esse. Vamos a ver se a editora Humanoides se aguenta, ou se, como me parece mais provável, a série não vai parar à Delcourt.
As Armas do Metabarão tem outros problemas, mas vou falar sobre esse livro num dos próximos posts.

Nuno Amado disse...

Passarem de dois para seis álbuns parece-me excelente! Não sei é se a Vitamina BD fica satisfeita com essa notícia, pois em conversa com o editor ele disse que tinha avançado para essa série por serem apenas dois volumes...

Abraço