quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Colecção Novela Gráfica IV 11 - O Último Recreio

UM MUNDO SEM ADULTOS

Novela Gráfica IV – Vol. 11
O Último Recreio
Argumento – Carlos Trillo 
Desenhos – Horacio Altuna
Quarta-feira, 15 de Agosto
Por + 10,90€
No seu penúltimo volume, a série IV da Colecção Novela Gráfica acolhe O Último Recreio, um clássico da Banda Desenhada Argentina que, mais de 30 anos apoios a sua publicação original, mantém toda a sua frescura e pertinência. Penúltima colaboração da dupla Carlos Trillo/Horácio Altuna, dois criadores argentinos que tinham começado a trabalhar juntos em 1975, na série El Loco Chavéz, e que aqui atingem o seu ponto mais alto da sua carreira comum.
Nascido em Buenos Aires em 1943, e falecido em Londres em 2011, Trillo é um nome incontornável da BD mundial, não só pelo seu trabalho como argumentista (incontornável, tanto em termos de quantidade como de qualidade,) mas por toda uma vida ligada à BD, como argumentista, historiador e director de revistas.
Embora em Portugal apenas tenha saído uma pequena parcela da sua obra, ela é vastíssima, e incluí colaborações com os maiores desenhadores desse inesgotável filão que é a Argentina: de Alberto e Enrique Breccia, a Altuna e Juan Gimenez, passando por Carlos Meglia, Mandrafina, Eduardo Risso, Juan Bobillo, Lucas Varela e pelos espanhóis Fernando Fernandez e Jordi Bernet. Digno sucessor de Oesterheld, no exigente cargo de melhor argumentista argentino, Trillo conta aqui com um Altuna em verdadeiro estado de graça, bem patente na elegância e sensualidade do seu traço, na expressividade que dá aos rostos das crianças e na eficácia da sua planificação, ao serviço de uma distopia, que reflecte bem a época em que a história foi originalmente publicada, uma década de 80 em que a ameaça de uma guerra nuclear estava bem presente.
Publicado originalmente por capítulos em 1982 e 1983, nas páginas da revista 1984, da Toutain editor, O Último Recreio revela a capacidade de Trillo em se adaptar às necessidades do suporte (neste caso, uma revista mensal) construindo uma história complexa, em treze capítulos fechados, que podem ser lidos de forma separada, mas que formam uma história mais vasta. Algo a que estava bastante habituado, pois tanto na Argentina, como na Europa, a maioria das histórias que publicou, foram concebidas para serem publicadas inicialmente em revistas, sendo a posterior publicação em livro da história completa, um luxo que nem sempre se concretizava (no caso de O Último Recreio, os autores tiveram de esperar mais de seis anos até o editor Josep Toutain decidir lançar a história completa num livro. Livro esse que, ainda por cima, saiu com páginas trocadas...)
A história de O Último Recreio é fácil de resumir: Num mundo pós-apocalíptico, em que foi detonada uma bomba cujos efeitos devastadores atinge apenas aqueles que atingiram a maturidade sexual, os adultos desapareceram e os únicos sobreviventes são as crianças. Nesse ambiente sem outras regras para além das que se possam impor pela força e violência, aos sobreviventes resta apenas escolher se querem ser vítimas, ou executores.
Uma história bastante dura, que evoca o Senhor das Moscas, de William Golding, pela forma como as crianças são obrigadas a se comportar como adultos, mas que revela grande humanismo e sensibilidade na forma como trata um tema tão delicado, e que até termina com um final aberto, que deixa margem ao leitor para alguma esperança. Algo que está ausente em outros clássicos pós-apocalípticos da época, como Hombre, de Segura e Ortiz e Kraken, de Segura e Bernet.
Publicado originalmente no jornal Público de 11/08/2018

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