quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Colecção Novela Gráfica IV 9 - Gente de Dublin


A VIDA DE JAMES JOYCE SEGUNDO ALFONSO ZAPICO

Novela Gráfica IV – Vol. 9
Gente de Dublin
Argumento e Desenhos – Alfonso Zapico
Quarta-feira, 01 de Agosto
Por + 10,90€
Depois de Tatuagem, livro que adapta um romance de Manuel Vazquéz Montalbán e antes de O Jogador de Xadrez, obra que adapta o romance homónimo de Stefan Sweig, a Colecção Novela Gráfica volta a explorar as ligações entre a Banda Desenhada e a literatura, com Gente de Dublin, de Alfonso Zapico, o nono volume desta quarta série, que chega aos quiosques no próximo dia 01 de Agosto.
Ao contrário do que o nome parece indicar, não estamos perante uma adaptação do primeiro grande livro de James Joyce, Dubliners, uma recolha de contos ambientados em Dublin, que em português recebeu precisamente o título de Gente de Dublin, mas sim de uma biografia em BD do famoso escritor irlandês. Joyce, que nasceu em Dublin em 1882 e aí viveu até aos 22 anos, acabaria por abandonar a capital irlandesa para lá voltar apenas por duas vezes, e de forma relativamente breve, em 1909 e 1912, ano em que, com 30 anos, partiu definitivamente para nunca mais voltar. Embora tenha vivido em Trieste, Paris e Zurique, o escritor nunca abandonou sentimentalmente a Irlanda, que está bem presente na sua obra, muitas vezes da mesma forma nada benevolente como apreciava a obra dos escritores seus conterrâneos.
Se, por vezes, as biografias de personagens famosas acabam por cair um pouco na hagiografia, criando uma versão idealizada do biografado, essa acusação não pode ser feita a Alfonso Zapico. Bem pelo contrário… Separando perfeitamente o homem da obra, mesmo tendo consciência que as circunstâncias da vida de um homem acabam sempre por influenciar, mesmo que inconscientemente, essa obra, Zapico acaba por nos revelar James Joyce, o homem, tal como ele era: um indivíduo arrogante, com problemas sérios de alcoolismo, que se aproveitava dos amigos e da mulher que o acompanhou durante toda a sua vida, Nora Barnacle. O que o não impediu de (ou até talvez tenha contribuído para) escrever uma obra que é absolutamente seminal na literatura do século XX.
Alfonso Zapico, o autor deste trabalho monumental, que lhe valeu o Premio Nacional del Cómic em 2012, embora nascido nas Astúrias em 1981, é mais herdeiro da tradição clássica da BD franco-belga, do que da Novela Gráfica espanhola. A sua estreia profissional na BD deu-se em 2006, com La guerre du professeur Bertenev, publicado pelas Editions Paquet, e Gente de Dublin foi escrito e desenhado entre 2008 e 2011, graças a uma bolsa de criação que lhe permitiu residir durante um ano na Maison des Auteurs, em Angoulême, localidade que acolhe o mais famoso Festival europeu de BD. Muito bem documentado, com Zapico a efectuar um árduo trabalho de pesquisa e documentação por Dublin, Trieste, Paris e Zurique - as quatro cidades mais importantes na vida de Joyce – que deu origem a outro livro, La Ruta Joyce, caderno de viagem do processo criativo de Zapico, Gente de Dublin alia um extremo rigor e minúcia no tratamento dos cenários e na reconstituição histórica, a um tratamento semi-caricatural das personagens, que facilita a adesão do leitor, habituado desde sempre a este registo gráfico, a entrar na vida e obra de James Joyce.
Para além de ser uma excelente biografia, Gente de Dublin faz uma perfeita fusão entre a tradição franco-belga de autores como Franquin, ou Maurice Tillieux e a modernidade da Novela Gráfica espanhola.
Publicado originalmente no jornal Público de 28/07/2018

Sem comentários: