Sandman – Vol. 9
As Benevolentes - Parte 1
Argumento - Neil Gaiman
Desenhos – Marc Hempel, D’Israeli, Glyn Dillon e Charles Vess
Quinta, 01 de Dezembro
Por + 11,90€
Com o nono volume, que chega aos quiosques nacionais na próxima quinta-feira, a história de Sandman entra no seu acto final e o preço que Morfeu terá de pagar por derramar o seu próprio sangue – ao conceder ao seu filho Orfeu, o alívio da morte por que ele ansiava há séculos – vai ser muito alto.
Se dúvidas ainda houvesse de que a história de Morfeu, o Mestre dos Sonhos, é uma tragédia clássica, o capítulo decisivo, que ocupa os próximos dois volumes da série, dissipá-las-á de vez.
Pensada inicialmente para ser contada em seis capítulos, As Benevolentes acabou por ocupar treze números da série mensal, sendo de muito longe, a mais longa história de Sandman, o que fez com que, por uma questão de equilíbrio entre o tamanho dos volumes, fosse dividida em dois na edição portuguesa. Mesmo assim, os leitores portugueses apenas terão de esperar uma semana pelo desenlace da mais decisiva história da série, ao contrário de quem leu na altura a edição original americana, em que a história se prolongou por mais de um ano.
História extraordinariamente meticulosa, em que todas as peças do puzzle que Gaiman foi construindo de forma rigorosa ao longo da série, se encaixam finalmente no espaço previsto desde o início, As Benevolentes foi o maior desafio que Gaiman enfrentou até então enquanto escritor. Como o próprio refere numa entrevista, “quando comecei a escrever As Benevolentes, vi-me a mim próprio dentro de um camião muito, muito, grande, apontado a uma parede e a meter o pé no acelerador”. Mas, mostrando que tinha mãos para conduzir esse camião, o escritor evita o desastre com brilhantismo, construindo uma história fantástica a todos os níveis, que contribui de forma decisiva para a mitologia da série.
Falando de mitologia, As Benevolentes é o volume de Sandman em que a mitologia clássica está mais presente, começando logo nas Benevolentes, as Euménides, as Três Parcas que tecem o destino dos homens com os seus fios e que aqui aparecem com uma imagem de três simpáticas senhoras inglesas, a fiarem enquanto bebem o seu chá, mesmo que uma delas prefira acompanhar o chá com um rato morto, em vez de biscoitos de gengibre… E a imagem do fio da vida que se interrompe ao ser cortado por uma das Benevolentes está presente a abrir cada um dos capítulos, frisando a ideia que o destino de Morfeu está traçado e irá ser cumprido, tal como estava escrito no livro do seu irmão cego, Destino.
Em termos gráficos, Gaiman também optou por correr riscos. Numa fase em que a popularidade e prestígio da série lhe permitiriam ter qualquer desenhador que quisesse, Gaiman optou por Marc Hempel, cujo estilo expressionista está longe de ser consensual, mas que se adequa perfeitamente às necessidades de uma história carregada de emoções, em que as fronteiras entre o mundo real e a fantasia se esbatem.
Publicado originalmente no jornal Público de 25/11/2016
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