Como prometido, aqui fica a parte final do artigo sobre o trigésimo aniversário da série Dylan Dog, que saiu inicialmente na revista Bang! numa versão bastante mais reduzida. A primeira parte do texto pode ser lida aqui e a segunda, aqui. Espero que gostem do artigo e que em breve possamos ver Dylan Dog editado em Portugal. Afinal, os principais trabalhos de Alan More também só tiveram direito a edição nacional, trinta ou mais anos depois da sua publicação original...
Embora continuasse a ser a segunda mais popular série da Bonelli, logo a seguir ao cowboy Tex, a popularidade do detective do oculto foi caindo e a própria editora apercebeu-se de uma certa estagnação criativa, que levou a uma remodelação da série, coordenada por Roberto Recchioni. Recchioni que tinha sido o argumentista de Mater Morbi, história magnificamente ilustrada por Massimo Carnevale, que é considerada como uma das melhores aventuras de Dylan Dog da última década, contou com a bênção e supervisão do próprio Sclavi, no seu projecto de renovação da série.
Uma renovação de que os leitores italianos puderam ver os primeiros resultados em finais de Outubro de 2013, a partir do Dylan Dog nº 338, em que o inspector Bloch finalmente se reforma e vai viver para Wickedford, uma pequena e pacata cidade de província que, como seria de esperar nesta série, esconde terríveis segredos. A substituir Bloch na Scotland Yard temos o inspector Tyron Carpenter, que para além de ser contra a colaboração informal de Dog com a polícia, o que vem introduzir um elemento de tensão novo na série, conta com uma assistente paquistanesa e muçulmana, Rania Rakim que usa véu, dando um toque mais multicultural a uma série em que as novas tecnologias têm uma presença cada vez mais visível, sendo evidente a preocupação dos escritores em adaptarem o mais possível as aventuras de Dylan Dog à realidade do mundo contemporâneo. Assim não só o próprio Dylan, sempre avesso a essas tecnologias, passa a usar um smartphone, como ganha um novo Némesis em John Ghost, um milionário proprietário da Wolfconn, a empresa que domina o mercado dos smartphones, (ou seja, uma espécie de versão maléfica de Steve Jobs) que surge pela primeira vez no nº 341, onde há ainda espaço para uma curiosa homenagem a Alan Moore.
Também é visível uma evolução a nível dos argumentistas, com mais mulheres a juntarem-se a Paola Barbato, que se vai afirmando como a principal escritora da série. É o caso de Sílvia Mericone e Rita Poretto, duas fãs da série, que cresceram a ler Dylan Dog e que agora escrevem as suas aventuras.
Trinta anos depois da sua primeira aventura, Dylan Dog, está presente em força nos quiosques e nas colecções dos jornais, ao mesmo tempo que ganha um espaço cada vez maior nas livrarias. Nos jornais, depois do relativo fiasco da Collezione Storica a Colori, lançada com os jornais La Reppublica e L’Espresso, que recolhia por ordem cronológica, em versões coloridas, as histórias da revista original (e que já tinham sido reeditadas por diversas vezes, em diferentes formatos, o que pode explicar a fraca aderência dos leitores), a parceria com La Gazzetta dello Sport, iniciada com a colecção I Colori della Paura, que recolhe as histórias de Dylan Dog Color Fest , correu bastante melhor, tendo terminado no nº 54, por já não haver mais histórias para publicar, de tal maneira que o maior jornal desportivo italiano voltou imediatamente a colaborar com a Bonelli numa nova colecção Il Nero della Paura, que começou a sair em Julho deste ano, no mesmo dia em que terminou a colecção anterior. Nas livrarias, onde as histórias de Dylan Dog já estavam presentes através das recolhas em capa dura da editora Mondadori e das luxuosas edições da Bao Publishing, juntam-se agora as edições da própria Bonelli de algumas obras seleccionadas, como Dopo un Lungo Silenzio, título que assinala o regresso do seu criador, Tiziano Sclavi à escrita da série.
E o regresso de Sclavi é uma das melhores notícias deste 30º aniversário, pois Dopo un Lungo Silenzio, ilustrada por Giampero Casertano e lançada em finais de Outubro durante o Festival de BD de Lucca, é uma belíssima e sombria reflexão sobre o alcoolismo, que revela um Sclavi em grande forma e bastante contido nas referências à cultura Pop. Uma história incontornável, que teve direito a três edições diferentes: a edição dos quiosques com uma capa completamente branca, uma edição de luxo para as livrarias, que inclui o argumento completo de Sclavi e uma terceira edição, exclusiva da cadeia de Livrarias da Mondadori. E a editora Bonelli não deixou de comemorar devidamente a ocasião, através de uma série de iniciativas, como Dylan Dog Presenta, um ciclo de cinema em articulação com a Universal Itália, que culmina com a exibição de 30 Anni di Incubi, um documentário sobre a série, na noite de Halloween, uma nova adaptação radiofónica das aventuras de Dylan Dog, que incluirá também a mais recente história escrita por Sclavi e uma Dylan Dog Experience, (uma experiência interactiva, aproveitando um palácio abandonado no centro de Lucca que vai ser transformado em Hotel) apresentada também em Lucca.
Foi também em Lucca que foi revelada a alteração no responsável pelas capas da edição mensal, com Angelo Stano, que substituiu Claudio Villa a partir do nº 41, a dar lugar a Gigi Cavenago, ao fim de 26 anos e mais de 300 capas depois. Mas a grande novidade do Festival, foi o anúncio de que Tiziano Sclavi está a trabalhar numa nova série de Dylan Dog, chamada I Racontti di Domani, a lançar em 2017.
Ou seja, não restam dúvidas que trinta anos depois, Dylan Dog está mais vivo do que nunca e em muito boas mãos!
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