segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bórgia: o fim de um Império


Com a publicação de “Tudo é Vaidade”, 4º volume da série “Bórgia”, chega ao fim a viagem de Jodorowsky pela história de uma das mais importantes famílias do Renascimento Italiano, os Bórgia, cujos métodos de actuação fizeram dela uma Máfia “avant la lettre”. Resta agora esperar que a Asa, que editou estes dois últimos álbuns numa boa cadência, reedite agora o 1º volume, entretanto esgotado.
Depois da ascensão, narrada nos três álbuns anteriores, Este "Tudo é Vaidade" incide mais na queda da família Bórgia, cujo poder passará para as mãos do Cardeal Giulliano Della Rovere, futuro Papa Júlio II, cujo papado está a ser objecto de outra série de Jodorowsky, “Le Pape Terrible”, com desenhos de Theo.
Com Lucrécia mais em segundo plano, este último álbum centra-se sobretudo nas relações conturbadas entre Rodrigo, o papa Alexandre VI e o seu filho César, que serviu de modelo a Maquiavel para o famoso tratado “O Príncipe”. Misturando História e lenda, numa intriga com uma base histórica, mas muito ficcionada, protagonizada por personagens reais, como os Bórgia, Maquiavel, Savonarola e Leonardo Da Vinci, Jodorowsky cria um conto moral sobre a corrupção do poder e os meandros da religião e da política na Itália do século XVI, em que tudo era permitido.
A morte de Lucrécia, quase no início do livro, devido a problemas durante uma gravidez, é um de vários exemplos em como Jodorowsky manipula a cronologia e a realidade histórica por necessidades da intriga, pois na realidade Lucrécia morreu em 1519, enquanto o seu pai, Rodrigo Bórgia, tinha falecido em 1503.
Não poupando detalhes em termos de violência e devassidão, a história escrita por Jodorowsky não é, decididamente, para estômagos delicados, mas a elegância e o rigor do traço sensual de Manara, que não se poupa a pormenores nas cenas de conjunto e consegue equilibrar bem o erotismo e o “gore”, ajudam a tornar não só suportável, mas até atraente uma história que, vista friamente, é de puro horror.
Lidos em sequência, estes quatro álbuns formam um políptico fascinante da ascensão e queda da família Bórgia, embora se note um nítido acelerar da narrativa na parte final da história, contada através de um longo flash-back. Apesar dos seus excessos e desequilíbrios, a série “Bórgia” está entre os melhores trabalhos dos seus autores, muito por via do trabalho superlativo de Milo Manara, que não esconde o grande prazer que sente ao desenhar a Itália do Renascimento.
(“Bórgia Vol 4: Tudo é Vaidade”, de Manara e Jodorowsky, Edições Asa, 48 pags, 16,20 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 2 de Abril de 2011

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