segunda-feira, 9 de julho de 2018

Colecção Novela Gráfica IV 5 - O Farol/ O jogo Lúgubre

OS PRIMEIROS PASSOS DE UM GRANDE AUTOR

Novela Gráfica IV -   Vol. 5 
O Farol e O Jogo Lúgubre
Argumento e Desenhos – Paco Roca
Quarta-feira, 04 de Julho
Por + 10,90€
Depois de O Inverno do Desenhador, Os Trilhos do Acaso e A CasaPaco Roca, um dos mais importantes e premiados autores espanhóis da actualidade, regressa com naturalidade à colecção Novela Gráfica com um volume que recolhe duas histórias anteriores a Rugas, que foi o título que o lançou a nível internacional. São elas O Farol, de 2004, e O Jogo Lúgubre, de 2001. Trabalhos que surgem nas suas versões mais recentes, pois Roca, de cada vez que reedita um dos seus livros, faz questão de introduzir alterações.

O Farol, história que abre este quinto volume, tem como protagonista Francisco, um jovem soldado republicano que tenta escapar da guerra civil. Na sua fuga, ele vai ser salvo de morrer afogado por Telmo, o excêntrico faroleiro de um farol desactivado, num lugar isolado da costa, perto da fronteira com França. E é precisamente Telmo que vai guiar Francisco numa jornada iniciática pelos clássicos da literatura de aventura, de As Viagens de Gulliver, às 20.000 Léguas Submarinas, passando pela Ilha do Tesouro, até à Odisseia. Essa dimensão literária é acentuada pela citação que fecha a história, não identificada na BD, mas que, como Roca refere no prefácio, pertence ao conto de Jorge Luís Borges, História dos dois que sonharam, incluído no livro História Universal da Infâmia. Um belíssimo conto inspirado nas Mil e Uma Noites e que serviu também de inspiração a Paulo Coelho para o seu Alquimista. Publicado originalmente num registo de bicromia, em que ao preto e branco se junta um azul acinzentado, que nas edições mais recentes, como a da Levoir, passou a um azul mais marinho, O Farol é uma bela homenagem de Paco Roca às leituras da sua infância, uma canção em favor da liberdade e da imaginação.
Em O Jogo Lúgubre, o seu primeiro trabalho como autor completo, Roca fez uma incursão pelo terror. Como o próprio reconhece, o ponto de partida foi o Drácula de Bram Stoker, romance epistolar incontornável, cuja influência em O Jogo Lúgubre é evidente até no nome do protagonista, Jonás Arquero, tradução livre para espanhol de Jonathan Harker, o narrador do romance de Stoker.
Mas deixemos que seja o próprio Paco Roca a contar como tudo se passou: “Provavelmente o ponto de partida foi o romance Drácula, de Bram Stroker (…) Tentei perceber como Bram Stoker tinha conseguido converter um herói romeno real no ícone do terror que todos conhecemos. Pensei que se poderia usar esse tratamento com outra personagem real. Alguém misterioso, excêntrico, que nos pudesse inquietar. A primeira opção foi Gaudí, um homem solitário, muito religioso, ligado à maçonaria e que viveu os últimos anos de vida na catedral que estava a construir.
A história podia ser algo como O Fantasma da Ópera, ou O Museu de Cera, mas na Sagrada Família. Mas acabei por encontrar uma personagem que podia dar mais luta e com umas motivações que podia entender melhor. Além disso, ajustava-se perfeitamente ao Drácula. Era uma pessoa que vivia num lugar perdido e de difícil acesso, que escandalizava os seus habitantes, que o não percebiam e habitava uma casa velha junto a um cemitério. Uma personagem cuja moral estava à margem da sociedade da sua época e inclusive, como ele dizia, necessitava do contacto da sua terra natal para poder viver. Essa personagem era Dalí.”
Dalí que, por questões legais aparece com outro nome, mas que surge em O Jogo Lúgubre, de uma forma que certamente lhe agradaria, como agradará aos leitores de Roca.
Publicado originalmente no jornal Público de 30/06/2018

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