Novela Gráfica IV – Vol. 7
Destemidas
Argumento e Desenhos – Pénélope Bagieu
Quarta-feira, 18 de Julho
Por + 10,90€
Depois da libanesa Zeina Abirached, com A Dança das Andorinhas na segunda série, em 2016, a colecção Novela Gráfica volta finalmente a ter um título assinado por uma mulher, Destemidas, da francesa Pénélope Bagieu, um livro que recolhe as biografias de 15 mulheres notáveis.
O projecto de As Destemidas começou em 2016, num blogue do jornal francês Le Monde, em que todas as segundas-feiras, Pénélope Bagieu colocava online a biografia em Banda Desenhada de uma mulher destemida. A ideia não foi fácil de vender ao jornal, mas ao fim de 30 biografias, posteriormente recolhidas em dois livros, o primeiro dos quais corresponde à edição portuguesa do Público e da Levoir, o sucesso foi tal, que a série, já editada nos Estados Unidos, está actualmente a ser adaptada para uma série de animação televisiva, realizada naturalmente por uma mulher, a iraniana Sarah Saidan e a exibir pelo canal televisivo France 5.
Pénélope Bagieu que reside em Nova Iorque desde 2015, tem um bacharelato em Artes Decorativas e divide a sua actividade entre a BD, o cinema, a animação e uma banda rock de que é baterista. Mas foi precisamente o seu trabalho na BD, seja nos blogues ou em livro, que lhe valeu o grau de Cavaleiro de Artes e Letras, atribuído pelo Ministério da Cultura francês, em 2013.
Bagieu, descreve assim o processo de pesquisa que teve de realizar para Destemidas: “metade foi uma pesquisa biográfica detalhada e outra metade sem pesquisa alguma. Primeiro, assegurei-me de que todos os elementos que tinha estavam correctos e depois transformei a realidade. Tentei imaginar como é que as personagens teriam reagido aos acontecimentos. A tua função é fazeres com que os leitores gostem das personagens.” Personagens reais, tão diferentes como Clémentine Delait, a mulher barbuda; Nzinga (ou Ginga) a mítica rainha de Angola; Margaret Hamilton, a actriz que deu a cara à bruxa de O Feiticeiro de Oz, entre outras personagens aterrorizadoras; Patria, Adela, Monerva e Maria Teresa, as quatro irmãs Mirabal, mais conhecidas como Las Mariposas, que na República Dominicana do ditador Rafael Trujillo, pagaram com a própria vida a sua luta pela liberdade; Josephina van Gorkum, que na Holanda do século XIX lutou contra a Pilarização que impunha a separação entre católicos e protestantes; Lozen, a guerreira apache, irmã de Victorio, que se bateu ao lado de outro grande chefe apache, Geronimo; Annette Kellerman, a famosa nadadora e actriz, responsável pela modernização do fato de banho feminino; Delia Akeley, a exploradora cuja vida está ligada ao continente africano; Joséphine Baker, a famosa dançarina, actriz e cantora americana, que depois de ter feito carreira em Paris, regressa ao seu país para lutar pelos direitos cívicos e contra a segregação racial; Tove Jansson, a ilustradora finlandesa criadora dos Mumins; Agnodice, a primeira ginecologista da Grécia clássica; Leymanh Gbowee, activista liberiana pelos direitos das mulheres, que recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2011; Giorgina Reid, a senhora italo-americana, cuja perseverança e conhecimentos de arquitectura permitiram salvar o farol de Montauk, na ilha de Long Island, da erosão marítima; Christine Jorgensen, o primeiro e mais célebre transgénero americano, cujo exemplo público foi decisivo na luta pela identidade de género; e Wu Zetian, a primeira Imperatriz chinesa, cuja força e personalidade marcaram a história da China.
O resultado desta mistura entre investigação rigorosa e liberdade artística, são quinze biografias, leves e divertidas, desenhadas num estilo simples mas eficaz, de quinze mulheres de diferentes épocas, que deixaram a sua marca na História.
Publicado originalmente no jornal Público de 14/07/2018
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