Novela Gráfica IV – Vol. 6
Uma Irmã
Argumento e Desenhos – Bastien Vivès
Sexta, 04 de Agosto
Por + 10,90€
Depois de Polina, o seu trabalho mais premiado, publicado na colecção do ano passado, Bastien Vivès regressa à colecção Novela Gráfica com Uma Irmã, o seu mais recente trabalho.
Nascido em Paris em 1984, Vivès é um autor tão talentoso como produtivo e versátil, de tal maneira que aos 27 anos já tinha 11 livros publicados, tendo ganho o prémio Revelação no Festival de Angoulême em 2009, com Le Gout du Chlore e o prémio das Livrarias de BD, o Grande Prémio da Crítica da ACBD (a Associação de Jornalistas e Críticos de BD franceses) e o prémio Haxtur para a Melhor Novela Gráfica em Espanha, com Polina, que foi também adaptado (muito livremente) ao cinema, num filme que passou de forma discreta pelos cinemas portugueses.
Alternando as Novelas gráficas, com o manga europeu Last Man, ou títulos mais próximos do franco-belga tradicional, como a série história Pour L’Empire, com Merwan Chabane, ou La Grande Odalisque, um triller mesmo a pedir uma adaptação cinematográfica, Vivès tem-se afirmado como um dos grandes nomes da moderna BD franco-belga.
Uma Irmã, o livro de Vivès que motiva este texto, mostra bem o total domínio da narrativa em Banda Desenhada que Vivès conseguiu. Com um registo gráfico muito próximo do usado em Polina, este novo livro, sobre a descoberta da sexualidade por parte de um adolescente, pode provocar alguma controvérsia, nestes tempos em que impera o politicamente correcto.
Obra de ficção, mas onde é fácil procurar referências autobiográficas, Uma Irmã é contado na perspectiva de Antoine, um adolescente tímido de 13 anos, com grande talento para o desenho que descobre a sexualidade com Hélène, uma rapariga de 16 anos que vem passar férias com a família. Mas embora haja elementos que se inspiram nas férias de infância de Vivès, que também tem um irmão mais novo, como Titi e também passava a vida a desenhar, o livro não conta apenas coisas que o autor viveu, mas sobretudo, que gostaria de ter vivido. Como o próprio refere: “Antes de eu ter nascido, a minha mãe teve um aborto espontâneo. Foi uma coisa em que eu sempre pensei. Podia ter tido uma irmã mais velha. Tive uma infância muito feliz, muito acompanhado, que me deixou boas recordações. Mas ter uma irmã mais velha podia talvez ter-me ajudado na minha relação com as raparigas. O único modelo feminino que tinha em casa era a minha mãe. Gostaria de ter tido uma maior proximidade com as raparigas. E como fazer Banda Desenhada é satisfazer os seus sonhos, fazer nascer personagens, modificar um pouco a sua história, criei para Antoine uma experiência que gostaria de ter vivido...”
Mais do que uma história de amor, Uma Irmã é uma história de descoberta, marcada pela inocência dos dois irmãos, face a uma rapariga mais velha, como Hélène, que vai ajudar Antoine a conhecer um pouco do misterioso mundo feminino Dando mais uma vez a palavra a Bastien Vivès: “queria que eles tivessem algumas relações sexuais, mas sem passar verdadeiramente ao acto. Que eles se descobrissem um ao outro, como o poderiam fazer uma irmã mais velha e o seu irmão. Sem nada de violento, ou de agressivo entre eles. Os três juntos, vão formar uma pequena família onde a Hélène se vai sentir bem desde o início.”
Graficamente, o traço de Vivès estão cada vez mais depurado e sensual, transmitindo uma sensação de leveza e simplicidade. Um desenho diáfano a preto e branco (com o cinzento, como segunda cor, a dar volume) que sugere, mais do que mostra, como fica evidente em pormenores tão simples, como apenas desenhar os olhos das personagens quando é estritamente necessário para a narrativa, o que dá uma força muito maior a esses olhares. Também as cenas eróticas são tratadas com grande elegância e sobriedade, evitando cair num registo pornográfico, que seria muito mais difícil de evitar com um traço mais realista.
História de grande subtileza e ambiguidade sobre a adolescência, o desejo e o sentido de família, Uma Irmã confirma a maturidade e o talento de um grande autor.
Publicado originalmente no jornal Público de 07/07/2018
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