segunda-feira, 24 de julho de 2017

Novela Gráfica III 4 - Batman: Uma história Verdadeira

QUANDO UMA AVENTURA DE BATMAN 
PODE SER UMA HISTÓRIA AUTOBIOGRÁFICA

Novela Gráfica III
Vol. 4 
Batman, uma História Verdadeira
Argumento -  Paul Dini
Desenhos – Eduardo Risso
Sexta, 21 de Julho
Por + 9,99€
Escrita por Paul Dini, argumentista de BD e de televisão, produtor e realizador de cinema de animação e criador da Harley Quinn, a carismática namorada do Joker, que esteve em grande destaque no filme do Esquadrão Suicida, Batman, uma História Verdadeira, a novela gráfica que chega às bancas na próxima sexta-feira, é, e não é, uma história do Batman, do mesmo modo que é, e não é, uma autobiografia.
Exemplo perfeito de como as fronteiras entre os diferentes géneros de BD nem sempre são estanques, Batman, Uma História Verdadeira é um relato autobiográfico em que Batman e os outros personagens do universo de ficção da DC Comics têm um papel preponderante. Reflexão catártica de Dini sobre um acontecimento que mudou a sua vida: um assalto e agressão ocorridos em 1993, quando trabalhava em Batman, The Animated Series, e especificamente na primeira longa-metragem derivada dessa série animada, The Mask of the Phantasm, que o deixou com cicatrizes profundas, tanto a nível físico, como sobretudo mental, este livro estilhaça literalmente a "quarta parede" entre o criador e as suas criações, colocando o autor em constante diálogo com as personagens que costumava escrever e que vão acabar por ser a porta de saída da depressão em que se encontrava preso.
Esse trauma longamente reprimido, mas nunca esquecido, só seria tornado público numa entrevista recente ao podcast Fatman on Batman, do realizador de cinema Kevin Smith. E foi depois disso que Dini decidiu transformar a sua experiência traumática numa novela gráfica publicada pela Vertigo em 2016, que está nomeada para o prémio Eisner de Melhor História Baseada em Factos Reais, na San Diego Comic Com de 2017.
A dar vida às memórias de Dini neste relato desarmante de honestidade, está o mestre argentino Eduardo Risso, bem conhecido dos leitores portugueses graças aos títulos editados pela Levoir, como Parque Chas, Batman Noir e (em breve) 100 Balas, que confirmando todo o seu imenso talento, dá aqui provas de uma versatilidade inesperada, adaptando completamente o seu traço às necessidades específicas dos diferentes momentos da história. Mestre do preto e branco, como Batman Noir demonstra à saciedade, Risso ocupa-se pela primeira vez também da cor de uma história que desenhou, com resultados deslumbrantes, mas também extraordinariamente eficazes em termos narrativos.
A cor assume uma grande importância em termos da história que Dini quer contar e Risso utiliza-a com precisão, alternando o registo gráfico e o tratamento pictórico entre as cenas em que Dini fala com as personagens do universo do Batman e os momentos reais, tratados num estilo mais próximo do que lhe é habitual. Veja-se, por exemplo, as sequências da infância de Dini, em que o jovem Paul, quase transparente para os seus colegas de escola, vai ganhando cor quando entra no seu mundo de fantasia, habitado pelas personagens da televisão, do cinema da literatura e da BD que marcaram a sua vida.
Texto publicando originalmente no jornal Público de 15/07/2017

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