segunda-feira, 12 de julho de 2010

O regresso de Gaston Lagaffe


Depois de “Alix”, as edições Asa e o jornal Público recuperam outro personagem clássico da BD franco-belga, numa nova colecção a distribuir com o jornal. Desta vez, o escolhido foi Gaston Lagaffe, do genial André Franquin.
Criado em 1957, Gaston resultou de uma proposta, feita por Franquin a Yvan Delporte, então director da revista Spirou, de criar uma personagem “sem emprego, nem qualidades” que, ao fim de algum tempo a vaguear pela revista sem ter nada para fazer, se torna empregado de escritório e moço de recados na Editora Dupuis, onde é colega de Fantasio. Um emprego que não o impediu de prosseguir com aquilo que melhor sabe fazer, ou seja, nada! Lagaffe destaca-se do resto dos funcionários da editora em que trabalha pela sua grande capacidade inventiva, enorme preguiça e extraordinária aptidão para provocar confusões e fazer estragos com um mínimo de esforço, embora nunca de forma propositada. Peculiares características que lhe garantiram o sucesso junto dos leitores, sucesso esse que lhe assegurou a sua própria série, a partir de Dezembro de 1961.
Desde então, Franquin, que até 1968 contou com o apoio de Jidéhem na passagem a tinta e desenho dos cenários, escreveu e desenhou mais de 900 gags protagonizados por Gaston Lagaffe. Gags esses, que começaram por ser ilustrações soltas e que cedo evoluíram para a meia página e pouco depois a página inteira, com Gaston a conquistar rapidamente o seu espaço e a afirmar-se com um dos mais populares heróis da revista Spirou.
A popularidade de Gaston não se limitou ao mercado franco-belga, chegando também a Portugal, onde esse (anti) herói inactivo, depois da estreia na revista Foguetão em 1961, rebaptizado como Zacarias, e de algumas aparições nas páginas das duas séries da revista Spirou e do Jacaré, se tornou bem conhecido dos leitores portugueses graças às edições em álbum da Editora Arcádia, em inícios dos anos 80 e, um pouco mais tarde, da Meribérica, editora que nas décadas seguintes disponibilizou em álbum a quase totalidade das trapalhadas de Gaston, embora, com a excepção deste 1º volume, que foi o último que a Meribérica editou, com uma organização completamente diferente da seguida nesta edição da Asa com o jornal Público, que segue a mais recente edição francesa. As primeiras histórias recolhidas neste volume, apresentam a personagem e enquadram-na no seu pequeno mundo – o local de trabalho, a revista Spirou, e mais tarde o círculo dos seus amigos. A relação com Fantásio e com o seu emprego domina a maioria das histórias, tendo Franquin realçado a irascibilidade, perfeccionismo e mesmo alguma pomposidade de Fantásio, para melhor contrastar o carácter inanimado (e humano) de Gaston. A falta de sorte ou de jeito tem normalmente um desfecho violento ou infeliz para Fantásio, que se vai resignando à amizade com Gaston, nunca desistindo, contudo, de o tentar corrigir.
A colecção, de 18 títulos, começou a ser distribuída esta quarta-feira, com o primeiro volume a um preço especial de 2,50 €, ficando os restantes a 6,40 €, preço perfeitamente aceitável para um álbum de 48 páginas em capa dura.
(“Gaston”, de Franquin, Edições Asa/Público, 48 pags, 6,40 €. Todas as semanas em distribuição conjunta com o jornal "Público", entre 7 de Julho a 10 de Novembro de 2010)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 10/07/2010

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