terça-feira, 6 de julho de 2010

Astroboy em português!


Aproveitando a chegada aos cinemas nacionais da mais recente adaptação ao cinema de animação de “Astro Boy”, o pequeno robot criado pelo mestre da BD Japonesa, Osamu Tezuka, a Asa acaba de lançar em português a série “Astro Boy”. Esse lançamento é feito através de uma colecção em 3 volumes, distribuídos a um ritmo mensal, que recolhe alguns dos melhores episódios da série, proporcionando aos leitores nacionais uma pequena amostra do imenso talento do mais importante nome da BD japonesa, que em pouco mais de 40 anos de carreira, produziu mais de 150 000 páginas de BD e realizou mais de 60 filmes de animação.
Admirador confesso de Walt Disney, Tezuka estreia-se na BD em 1947, com “A Nova Ilha do Tesouro”, o 1º título de uma vastíssima obra que iria revolucionar claramente os “mangá” (nome pelo qual é conhecida a BD no Japão), tanto em termos estéticos como narrativos. Num Japão devastado pela guerra, as histórias de evasão e aventura fantástica e ficção científica, de que “Astroboy” é um dos exemplos mais populares, criadas por Tezuka, conquistaram facilmente um público em busca de emoção e divertimento, para além de criarem as bases do mangá tal como o conhecemos.
Para além de um estilo caricatural, em que é visível a influência dos artistas da Disney, de grande dinâmica e de grande legibilidade (portanto fácil de reproduzir em mau papel e de transpor para animação), que o aproxima da “linha clara” de Hergé, o traço de Tezuka tem como principal característica um grande detalhe e realismo no tratamento dos cenários, em oposição à estilização dos rostos (outro ponto em comum com o trabalho de Hergé) onde pontificam uns olhos enormes e muito abertos que, para a maioria do público ocidental são vistos como um sinal identificador do mangá. Outra característica inovadora da obra de Tezuka, e que se irá institucionalizar a partir dele, é a diferente forma de representar o movimento, com os personagens a aparecerem de forma nítida sobre um fundo representado por raios concêntricos (ao contrário do que sucede na BD ocidental em que os objectos em movimento aparecem desfocados contra um fundo nítido), o que para além de facilitar bastante o trabalho dos desenhadores (que assim escusam de desenhar os pormenorizados cenários) é facilmente apreendido pelo leitor.
A partir também da obra (monumental e incontornável) de Osamu Tezuka nasceu e floresce a actual indústria dos “mangá” e também da “anime”, pois, ao criar em 1961, a empresa de produção Mushi Productions, que se vai ocupar da adaptação à animação televisiva de algumas séries da sua autoria, Tezuka vai dar uma primeiro passo no sentido da ligação quase umbilical actualmente existente entre “manga” e “anime” (o cinema de animação japonês), que faz com que qualquer manga de sucesso seja automaticamente transposto para a animação, o que naturalmente, aconteceu também (já por diversas vezes) com “Astroboy.
Astroboy é um pequeno robot de aspecto humano, construído por um cientista louco, o Dr Temna, à imagem e semelhança do seu filho que tinha morrido num acidente, que vai ser abandonado pelo seu criador e vendido como escravo para um circo, até que outro cientista, o Doutor Ochanomizu, se apercebe das suas enormes possibilidades e o resgata, dando-lhe as condições para se tornar um dos robots mais poderosos da Terra. Criado em 1951, “Astroboy” cedo se tornou extremamente popular tanto no Japão como nos Estados Unidos, onde chegou através da série de animação dos Estúdios Mushi produzida nos anos 60. Aliás, o nome Astroboy foi-lhe dado pelos americanos, pois a designação original da série é "Tetsuwan Atom", o que significa "O Poderoso Átomo" e a popularidade da série nos EUA é atestada pela homenagem feita por Frank Miller e Geoff Darrow na série "The Big Guy e Rusty, the Boy Robot".
Desde então, Astro Boy tem sido alvo de inúmeras edições e reedições, o que é visível na introdução feita por Tezuka ao longo da própria história, que contextualiza a série para uma nova geração de leitores, dirigindo-se directamente a esses leitores, em mais uma prova do carácter inovador de uma série clássica, mas que envelheceu muito bem.
Parabéns à Asa pela escolha de Astroboy, que lhe permite estrear-se “a sério” (títulos anteriores, como a série “Warcraft”, embora adoptassem a estética “mangá”, não eram feitos por japoneses) na edição de mangá em Portugal, com uma bela edição que, além do mais, respeita o sentido de leitura original japonês.
(“Astro Boy” Vol 1, de Osamu Tezuka, Edições Asa, 224 pags, 8,00 €
“Astro Boy Vol 2, de Osamu Tezuka, Edições Asa, 208 pags, 8,00 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 3/07/2010

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