terça-feira, 8 de junho de 2010
Hans, o Cavalo Inteligente de Miguel Rocha
Das novidades editoriais lançadas durante o último Festival de Beja, aquela aguardada com maior expectativa, era o livro “Hans, o Cavalo Inteligente”, título escrito e desenhado por Miguel Rocha, que assinala o regresso da Polvo à edição. Depois do sucesso, crítico e comercial, de “Salazar” e de “A Noiva que o Rio Disputa ao Mar”, uma encomenda institucional da Câmara de Portimão, ainda sem distribuição comercial, ambos escritos por João Paulo Cotrim, Miguel Rocha volta a assinar os seus argumentos, com este “Hans, o Cavalo Inteligente”.
Antes de ser uma Banda Desenhada, Hans… foi uma produção teatral do Projecto Ruínas, de Montemor o Novo, com quem Miguel Rocha costuma trabalhar, tendo o texto da peça, escrito por Francisco Campos, servido de base à adaptação. Essa origem teatral é bem visível na forma como a BD está dividida, com cada capítulo a corresponder a cada um dos cinco actos da peça e a cortina, que se abre no início do primeiro capítulo e fecha no final, acentua essa dimensão teatral.
Graficamente, o trabalho de “Hans, o Cavalo Inteligente”, está na linha do registo utilizado em “Salazar”, com um complexo trabalho de preto e branco (realçado pela impressão a duas cores) e um uso repetido de padrões (as cortinas do primeiro capítulo e o papel de parede do capítulo 3) que ajuda a criar o ambiente. Embora longe da espectacularidade das cores de “Beterraba”, ou de “A Noiva que o Rio Disputa ao Mar”, o preto e branco tratado digitalmente de “Hans, o Cavalo Inteligente” confirma o virtuosismo gráfico de Miguel Rocha, embora o tratamento quase impressionista de algumas imagens e sombras, deixe intuir, mais do que ver, o que se está a passar.
A névoa que invade as imagens tem correspondência no argumento, também ele pouco linear e construído em torno de flash-backs. Em “Hans…” todos os detalhes contam, desde as personagens de “freak show” que aparecem nas badanas, e que devem pertencer ao espectáculo que vemos no primeiro capítulo, até aos anúncios de época no final do livro (na linha do que Alan Moore e Kevin O’Neill fizeram na “League of the Extraordinary Gentlemen”), que dão mais dados para a reconstituição de uma história muito pouco linear e contada em flash backs. Mais do que fornecer todos os dados, Miguel Rocha joga com a inteligência e curiosidade dos leitores. Resta é saber se não lhes estará a pedir demais…
(“Hans, o Cavalo Inteligente”, de Miguel Rocha, Edições Polvo, 96 pags, 12,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 5/06/2010
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