segunda-feira, 1 de março de 2010

Recordando Manfred Sommer, a propósito de Tex


Já está disponível nos quiosques portugueses, o nº 452 da revista “Tex”, que recolhe a primeira parte da última história completa desenhada pelo espanhol Manfred Sommer, falecido a 3 de Outubro de 2007, com 74 anos de idade. Um bom pretexto para voltar a evocar Sommer neste jornal, depois de já lhe ter dedicado um texto, a propósito do Tex Gigante nº 12 que deu início à sua colaboração com a editora Bonelli.
Nome grande da BD realista espanhola que, tal como os seus colegas, José Ortiz, Alfonso Font, Esteban Maroto e Victor De La Fuente, continuou a trabalhar em Banda Desenhada, graças à editora Bonelli, findo o boom das revistas de BD em Espanha nos anos 90, Manfred Sommer é conhecido em Portugal graças ao jornalista e correspondente de guerra Frank Cappa, interessante e carismática personagem publicada em Portugal em finais da década de 80, primeiro na revista “O Mosquito” e mais tarde em álbum pela Meribérica. Em inícios dos anos 90, Sommer tinha trocado a Banda Desenhada pela pintura, até que a persistência de Sérgio Bonelli o convenceu a regressar à BD para desenhar o ranger “Tex”, primeiro num Tex Gigante e, posteriormente, na revista mensal do ranger da Editora Bonelli.
Uma colaboração a que a morte pôs fim, mas que deu origem a alguns dos seus melhores trabalhos, em termos gráficos. Mesmo que esta não seja a última vez que Manfred Sommer desenhou o Tex, pois antes falecer já tinha desenhado mais de 90 páginas de uma nova história, que foi finalmente publicada no Almanaque italiano de 2009 (e que a Mythos publicou no Brasil no Almanaque Tex nº 37, ainda não distribuído em Portugal) depois de concluída pelo desenhador Massimiliano Leonardo, mais conhecido por Leomacs, “A Última Diligência” foi o seu derradeiro trabalho finalizado.
A história, escrita por Mauro Boselli, que termina apenas no nº 453 da revista “Tex”, coloca Tex em confronto com Scott Dunson, um ladrão de bancos inteligente e cuidadoso e apela bastante à versatilidade de Sommer, tão à vontade a desenhar as cenas nocturnas na cidade mineira abandonada de Silver Lodge, em que joga muito bem com as sombras para efeitos dramáticos, como as sequências em espaço aberto no deserto do Arizona, plenas de dinamismo e detalhe rigoroso. Igualmente competente nas cenas de acção, como no tratamento fisionómico das personagens, Sommer tinha também uma excelente técnica narrativa, bem visível na forma como, através da alternância de planos e de enquadramentos, torna mais agradável a leitura das cenas expositivas, em que o argumentista tenta passar o máximo de informação através dos diálogos, como acontece, por exemplo, entre as páginas 70 e 75. Pena que a sua morte tenha privado a Bonelli de um dos seus melhores desenhadores, privando-nos a nós leitores, do prazer de (re)ver um grande desenhador, que conseguiu manter intacto até ao fim da vida, todo o seu talento gráfico.
(“Tex nº 452: A Última Diligência”, de Boselli e Sommer, Mythos Editora, 114 pags, 2,90 €)
Versão alargada do texto publicado no Diário As Beiras de 27/02/2010

2 comentários:

carlos ruão disse...

penso que nunca te contei mas a minha primeira paixão quando era muito pequenino - antes dos super-heróis e coisas assim - eram estas histórias do Tex.
tinha paletes e paletes deles que depois vendi sabe-se lá a razão... talvez para comprar disquos.
não deixa de ser curioso que no sábado passado quando fui comprar o jornal olhei para um Tex na banca e fiquei a pensar: mas como será realmente aquilo ?
... coincidências !!!
abraço amigo

JML disse...

Por acaso, acho a personagem Tex relativamente desinteressante, apesar das histórias estarem bem feitas e terem normalmente excelentes desenhadores. A minha ligação à série fez-se por via dos desenhadores, não faz parte das minhas recordações de infância.
Mas devias experimentar ler algum agora, especialmente os Texs Gigantes, que geralmente, valem muito a pena.
Abraços,