segunda-feira, 8 de março de 2010
As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy
Depois de dois livros escritos por José Carlos Fernandes, a editora Tinta da China volta a aventurar-se na publicação de Banda Desenhada com “As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, uma surpreendente Banda Desenhada de Filipe Melo e Juan Cavia, que presta tributo ao cinema e à BD de temática fantástica e de terror, mas centrando a acção em Lisboa.
Projecto pensado inicialmente para o cinema, área onde Filipe Melo deu nas vistas, como argumentista e produtor de “I’ll See You in My Dreams”, o primeiro filme de zombies português, “Dog Mendonça…”, que iria ter Nicolau Breyner como protagonista, acabou por nunca passar da fase de produção. Perdeu o cinema nacional, mas ganhou a BD, pois o resultado é francamente conseguido, com qualidade suficiente para ombrear com o melhor que se faz no género, em França, Itália e Estados Unidos, como bem salienta John Landis no prefácio.
Tendo como protagonistas Eurico, um entregador de pizzas, Dog Mendonça, um investigador do oculto, ex-lobisomem, alcoólico e adepto do Benfica, que tem como assistente Pazuul, um demónio centenário num corpo de uma miúda adolescente e uma cabeça de gárgula, que fala pelos cotovelos (que já não tem…), a história de “As Extraordinárias Aventuras…” gira em torno do misterioso desaparecimento em Lisboa de centenas de crianças. Mistério que vai levar Eurico, o Pizzaboy, que entra em contacto com Dog Mendonça depois de uma gárgula lhe ter roubado a moto, a descobrir uma Lisboa secreta e subterrânea, povoada por monstros, demónios e outras criaturas mitológicas, refugiadas em Lisboa desde a 2ª Guerra Mundial e que agora se vêem ameaçadas por um mal bastante mais terreno.
Divertida homenagem ao cinema de terror e a Bandas Desenhadas como “Hellboy”, The Goon”, e “Dylan Dog” (claramente o modelo para a personagem de Dog Mendonça), a novela gráfica de Filipe Melo e Juan Cavia concilia a acção e o humor, dado não só pela personagem da cabeça de gárgula (uma ideia genial, desenvolvida com muita graça), mas também pelas inúmeras piscadelas de olho e homenagens ao cinema de Hollywood (do “Terminator” ao “Apocalipse Now”, passando pela série “Star Wars”, não faltam as referências).
O desenho de Juan Cavia, cujo traço caricatural evoca ligeiramente Humberto Ramos, funciona perfeitamente para esta história, em que a acção, o fantástico e o humor estão de braço dado. As expressões que desenha são divertidas, a planificação das páginas é espectacular e, além disso, trata com grande dinamismo as cenas de acção, não se poupando a pormenores (veja-se a dupla página em que as criaturas fantásticas, lideradas pelo Dog Mendonça lobisomem atacam os nazis). Quanto ao trabalho de cor de Santiago Villa, está à altura do resto, embora algumas páginas, especialmente na parte final, nos esgotos de Lisboa, estejam demasiado escuras.
Em relação à capa, sem qualquer imagem, algo pouco habitual num livro de BD, e com um lettering claramente inspirado no filme “Regresso ao Futuro”, poderá funcionar precisamente por ser diferente das outras, mas pessoalmente, preferia uma capa com imagens, até porque ao longo do livro não faltam imagens espectaculares que funcionassem bem como ilustração de capa.
Divertimento despretensioso, assumidamente série B, mas feito com grande profissionalismo, bem patente na quantidade de gente que aparece referida na ficha técnica, este é um livro que dá tanto gozo a ler, como o que terá dado a fazer aos seus autores. Cá ficamos impacientemente à espera da próxima aventura de Dog Mendonça e Pizzaboy, em que Filipe Melo já está a trabalhar!
(“As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 120 pags, 16,90 €
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 06/02/2010
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