
Ao contrário do que é habitual neste espaço, dedicado à Banda Desenhada, o livro que motiva este texto, embora publicado por uma editora que se tem dedicado a recuperar clássicos da Banda Desenhada, a Librimpressi, de Manuel Caldas, não é BD. É um poema de um grande escritor americano, traduzido por um dos nossos melhores poetas, ilustrado por um mestre da gravura.
O grande escritor é o mestre do fantástico e do macabro, Edgar Alan Poe, a tradução é de Fernando Pessoa e as gravuras são de Gustavo Doré. Três grandes nomes, reunidos numa cuidada edição, com o rigor a que Manuel Caldas nos habituou.
Se os contos de Poe já têm sido adaptados aos mais diversos suportes, do cinema à Banda Desenhada, no caso concreto do poema “The Raven”, encontramos adaptações ao teatro, ao cinema, à música, à animação e à Banda Desenhada.

Último trabalho de Doré, que morreu antes de ser publicada a edição de “O Corvo” com as suas ilustrações, esta obra revela um Doré com um traço mais expressionista e perfeitamente adequado ao ambiente opressivo do poema, que devia ser bastante próximo do estado de espírito do próprio Doré, a braços com uma depressão que se viria a revelar fatal.
Publicada simultaneamente em Portugal e Espanha, numa versão trilingue, em que o texto original em inglês, surge acompanhado pela tradução portuguesa de Fernando Pessoa e pela tradução castelhana do poeta venezuelano Juan António Pérez Bonalde, esta edição de Manuel Caldas, tendo em conta a qualidade da impressão, o prestígio dos autores e o preço acessível, tem tudo para ser um sucesso.
Esperemos que assim seja e que o sucesso comercial de “O Corvo” permita a Manuel Caldas continuar com o seu trabalho na recuperação dos clássicos da Banda Desenhada.
(“O Corvo”, de Edgar Alan Poe e Gustavo Doré, Librimpressi, 64 pags, 13,00 €)
Texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 13/03/2010
PS - Como sou simpático, e os visitantes deste blog merecem, além do poema de Poe lido por Christopher Walken, aqui vai também, graças ao mundo maravilhoso do You Tube, o filme Vincent, primeiro filme de Tim Burton, narrado pela voz única do grande Vincent Price, cujo nome ficou para sempre ligado ao de Poe, graças aos filmes realizados por Roger Corman que Price protagonizou.
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