segunda-feira, 22 de março de 2010

Asa e Público Recuperam as Primeiras Aventuras de Alix


Depois de "Os Passageiros do Vento" a Asa e o jornal "Público recuperam mais um clássico da Banda Desenhada franco belga, a série "Alix" de Jacques Martin. Uma série de que a Asa já tinha publicado 4 álbuns, mas que, só agora, passados quase vinte anos depois da publicação pelas Edições 70, que, durante os anos 80, lançaram 19 títulos da série, volta a ter os primeiros volumes novamente disponíveis em português.
E são precisamente os álbuns já editados pelas Edições 70, alguns dos quais já tinham saído antes na versão portuguesa da revista “Tintin”, que vão ser distribuídos com o jornal “Público”. Ou seja, com a excepção de “O Príncipe do Nilo” e “O Filho de Espártaco”, já editados pela Asa de forma autónoma, estão nesta colecção todos os álbuns escritos e desenhados por Jacques Martin entre 1948 e 1988, antes deste, afectado por graves problemas de visão, passar inteiramente o desenho da série para as mãos dos seus assistentes, como Rafael Morales, ou Cristophe Simon.
Publicado originalmente no "Tintin" belga, em 1949, "Alix, o Intrépido" mostra um Jacques Martin ainda a apalpar terreno, à medida que vai estabelecendo as bases da série. Não só em termos gráficos, com a estrutura demasiado carregada de 4 tiras por página a dar lugar nos álbuns posteriores a uma planificação mais arejada, mas sobretudo em termos do argumento, que Martin confessa que foi inventando à medida que a história ia sendo publicada.

Uma das influências perceptíveis (e assumida por Martin) é a do livro "Ben Hur", de Lewis Wallace, onde Martin foi buscar a cena inicial em que Alix, ao apoiar-se num muro faz cair um pedra sobre um general romano, cujo nome "Marsalla" evoca imediatamente o de "Messala", um dos personagens principais de Ben Hur... Se a isso juntarmos a cena da corrida de quadrigas, também decalcada de Ben Hur, percebemos o peso que o romance de Wallace, que o filme de 1959 com Charlton Heston imortalizou, teve nesta primeira aventura de Alix.
Outro aspecto interessante deste álbum, em que Enak, o eterno companheiro de Alix, não está ainda presente, é a personagem ambígua de Arbacés, um indivíduo tão pérfido como inteligente, que não esconde o seu fascínio por Alix e que vai adquirir uma tal popularidade junto dos leitores que o próprio Martin, se vê obrigado a matá-lo no final de “A Ilha Maldita”, 3º álbum da série, para que ele não roubasse o protagonismo a Alix.
Paradigma da BD histórica bem escrita e desenhada e melhor documentada, a série “Alix” merece ser descoberta por quem se interessa pela história da Antiguidade, tanto mais que alguns destes álbuns, como “As Legiões Perdidas”, O Espectro de Cartago”, ou “Iorix, o Grande”, são excelentes. Só resta saber se, para além dos leitores que cresceram com a revista “Tintin” e que provavelmente já terão a edição anterior das Edições 70, haverá, entre as novas gerações, leitores suficientes para garantir o sucesso desta nova colecção Público/Asa…
("Alix, o Intrépido”, de Jacques Martin, Edições Asa/Público, 64 pags, 4,95 €
Todas as quartas-feiras, de 17 de Março a 30 de Junho de 2010, em venda conjunta com o jornal "Público")
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 20/03/2010

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