segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Asteroid Fighters



Num mercado como o nacional onde, face à ausência de uma indústria de Banda Desenhada em Portugal, abundam as propostas de carácter autoral, não se pode falar propriamente em Banda Desenhada alternativa. Ao ser mais a regra do que a excepção, a BD alternativa deixa por não poder ser vista como tal, pois quase não há um “mainstream” em relação ao qual se possam apresentar alternativas.
Nos últimos tempos, tem-se notado por parte de alguns autores nacionais uma preocupação em alterar esse “status quo”, produzindo histórias de acção, deliberadamente comerciais e que vão buscar inspiração ao que se vai fazendo lá fora, no mundo dos comics americanos e do mangá japonês. Lançadas no último Festival da Amadora, edições como “Bang Bang Ultimate”, de Hugo Teixeira, “BRK” de Filipe Andrade e Filipe Pina e “Asteroid Fighters”, de Rui Lacas, são um reflexo evidente desta tendência.
E é precisamente o último destes títulos, “ Asteroid Fighters”, que motiva este artigo. Trabalho com que Rui Lacas regressa à BD depois do sucesso do álbum anterior, “Obrigada, Patrão”, editado em França e premiado como Melhor Álbum Português no Festival da Amadora de 2008, “Asteroid Fighters” troca o registo neo-realista de “Obrigada, Patrão” e dos álbuns anteriores de Lacas, pela acção e aventura, na melhor tradição dos comics americanos de super-heróis, ou do mangá japonês, com a série “Akira” à cabeça, com mutantes super-poderosos, ameaças globais e vilões maléficos e misteriosos.

Passada num futuro próximo, em que o maior perigo que a humanidade, finalmente unida, enfrenta é a constante chuva de asteróides que se abate sobre a Terra, o que levou à criação de uma força especial para os destruir, os Asteroid Fighters, a história criada por Lacas remete-nos para séries televisivas como “Heroes”, ou filmes como “Armagedon”, tudo revisto pelo humor de Lacas, que transformou alguns dos seus colegas do Lisbon Studio em personagens de BD.
Primeiro de uma série prevista para seis volumes, “O Início” apresenta uma grande diferença em relação ao 1º volume de “BRK”. É que aqui acontecem montes de coisas, numa narrativa “sempre a abrir”, que consegue transmitir bastante informação de forma eficaz. A outra grande diferença é que Lacas (felizmente) não se leva tão a sério como Andrade e Pina em “BRK”.
“Asteroid Fighters” é um divertimento inconsequente, mas também não pretende ser muito mais do que isso. E a conseguida história, que revisita vários clichés do género, está muito bem contada, graças ao traço personalizado de Lacas, tão à vontade nas cenas mais espectaculares, como no tratamento das expressões faciais das personagens. E há ainda o modo peculiar (e divertido) como Lacas usa as onomatopeias, bem patente na explosão que vitima Pepito.
Parabéns à Asa, que desta vez decidiu não esperar pela edição francesa para publicar este trabalho de Rui Lacas, e nós cá ficamos à espera do 2º volume, para saber se Takeshi vai conseguir salvar a Terra e os Asteroid Fighters conseguem descobrir algo mais sobre o misterioso inimigo que os está a tentar aniquilar.
(“Asteroid Fighters: Tomo 1 – O Início”, de Rui Lacas, Edições Asa, 78 pags, 15,0 €)

Texto publicado originalmente no Diário As Beiras de 12/12/2009

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