sexta-feira, 15 de junho de 2018

Colecção Bonelli 10 - Dylan Dog: Os Inquilinos Arcanos

No caso deste último volume da colecção Bonelli, o texto que saiu no jornal Público é apenas uma versão reduzida, a menos de metade, do texto que tinha escrito originalmente. Como felizmente na Net não existem problemas de espaço, deixo-vos com a versão integral do último texto da colecção da Levoir que me deu mais gozo co-coordenar. Uma colecção que dificilmente teria sido possível sem o apoio do José Carlos Francisco, Mário João Marques e (em menor escala) do Pedro Bouça e Pedro Cleto, a quem agradeço.


DYLAN DOG ENCERRA COLECÇÃO BONELLI

Colecção Bonelli - Vol 10 
Dylan Dog – Os Inquilinos Arcanos
Argumento – Sclavi, Mignaco e Baraldi
Desenhos – Roi, Breccia e Manara
Quinta-feira, 14 de Junho
Por + 10,90€
Depois de ter protagonizado o terceiro volume, com o clássico Johnny Freak, Dylan Dog regressa para encerrar esta colecção dedicada à editora Bonelli, num volume com prefácio do argumentista/pianista/compositor/realizador Filipe Melo - cuja série de culto, Dog Mendonça é uma assumida homenagem a Dylan Dog - que recolhe três histórias curtas a cores. A primeira, Os Inquilinos Arcanos, é uma história em três capítulos autónomos, mas que se completam, publicada originalmente na revista Comic Art, entre 1990 e 1991. Assinada por Tiziano Sclavi, o seu criador e por Corrado Roi, um dos melhores desenhadores da série Dylan Dog, Os Inquilinos Arcanos centra-se nos estranhos fenómenos que afectam um edifício em Londres, o condomínio Castevet, e que Dylan Dog vai investigar.
Apesar do número reduzido de páginas - para os padrões da Bonelli, em que as histórias têm normalmente 96 páginas - de cada capítulo, todos os elementos que caracterizam o trabalho de Sclavi estão presentes de forma concentrada, começando pelo humor negro, o toque surreal e as homenagens e citações. Na primeira história, O Fantasma do Terceiro Andar, cujo clima de paranóia vai beber muito ao filme O Apartamento, de Roman Polanski, as referências ao realizador são evidentes, começando na citação de Polanski que abre a história e terminando no nome, Trelkovski - que é o apelido do personagem interpretado pelo próprio Polanski em O Apartamento - que o porteiro dá a um inquilino que se chama… Kowalski, O mesmo sucede em O Apartamento nº 13, onde Sclavi homenageia simultaneamente o escritor Cornell Woolrich e o cineasta Frank Capra, cujo filme, Do Céu Caiu uma Estrela, os personagens vão ver ao cinema, numa história sobre um homem que descobre que não existe.  Comic Art, que lhe permite encaixar quatro tiras por prancha, em vez das três habituais nas revistas da editora italiana.
Ilustrada por Corrado Roi, que assegura também as belas e inesperadas cores, esta história em três partes tem também a singularidade de ser umas das raras aventuras de Dylan Dog em que este troca a habitual camisa vermelha, que se tornou a sua imagem de marca, por uma simples camisa branca. Em termos gráficos, o trabalho de Roi é fabuloso, perfeito na criação do ambiente opressivo das histórias e aproveitando muito bem o formato maior (do que o habitual formato Bonelli) da revista
As outras duas histórias que completam esta edição, foram publicadas na revista Dylan Dog Color Fest, um título mais experimental, que possibilita a autores que normalmente não colaboram com a Bonelli, a oportunidade de assinar histórias de Dylan Dog.
È o que acontece em O Grande Nevão, história que assinala a estreia do argentino Enrique Breccia (A Vida do Che, Tex: Capitan Jack) na Bonelli, aproveitada pelo argumentista Luigi Mignaco para fazer uma bela homenagem à mais importante BD argentina, El Eternauta, de Oesterheld e Solano Lopez, a história de um ataque extraterrestre a Buenos Aires, que começa precisamente com um nevão que mata todos aqueles que são tocados pelos flocos de neve.
Finalmente, em Bailando com um Desconhecido, Nives Manara ilustra uma história de fantasmas escrita por Barbara Baraldi. Uma história com uma sensibilidade bem feminina, escrita por uma leitura e fã de Dylan Dog que, tal como aconteceu com Paola Barbato, se tornou uma das principais argumentistas da série e ilustrada com uma delicadeza também feminina, mas que não esconde as claras influências do irmão, por Nives Manara, a irmã mais nova do mestre do erotismo, Milo Manara.
Três abordagens bem diferentes, que demonstram as infinitas possibilidades que uma personagem com Dylan Dog permite, tal como aconteceu com Tex no volume que abriu esta colecção. Uma bela colecção, que nos deu a conhecer um pouco melhor, a melhor editora italiana.
Versão integral do texto publicado no jornal Público de 09/06/2018

Sem comentários: