quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Torpedo 1936 - Volume 2

TORPEDO, OU O CINEMA NEGRO DE ABULÍ E BERNET

Torpedo 1936 – Vol. 2
Argumento – Enrique Sánchez Abulí
Desenhos – Jordi Bernet
Quinta, 08 de Fevereiro, Por + 11,99 €
A publicação da edição integral da série Torpedo 1936, prossegue na  próxima quinta-feira com a publicação do segundo de cinco volumes. Um volume que recolhe doze histórias assinadas pela dupla Abulí/Bernet, publicadas originalmente em Espanha em meados da década de 80, nas revistas Creepy e Comix Internacional da editora Toutain, incluindo Um Salário de Medo, aquela que foi a primeira aventura longa de Torpedo, quebrando assim a tradição das histórias curtas, entre as oito e as doze páginas, que marcava a série até então. Curiosamente, Um Salário de Medo foi também a primeira história da série a ser publicada a cores a nível internacional, para além de ter sido a última aventura de Torpedo a ser recolhida em livro em Portugal pelas edições Futura, onde saiu a preto e branco, pondo termo à edição das aventuras de Luca Torelli no nosso país, durante mais de dez anos, até a série ser novamente recuperada na segunda série da revista Selecções BD, nos inícios do século XXI, em episódios publicados tanto a cores como a preto e branco.
Mas além desse marco na história da série, este volume que abre com Rascal, história que relata o primeiro encontro entre Luca Torelli e o seu fiel ajudante Rascal, que na melhor tradição do Sancho Pança, funciona sobretudo como alívio cómico, inclui também A Dama dos Camelos, uma aventura em que Torpedo volta a encontrar Susan, a protagonista de Para Patife... Patife e Meio, a única mulher que o traiu e viveu para contar.
Apesar de a maioria das histórias deste volume terem sido publicadas inicialmente a cores - por motivos comerciais, pois na época o poderoso mercado francês apresentava alguma resistência à publicação de histórias a preto e branco - todas as reedições da série em versão integral optaram pelo preto e branco, que valoriza muito mais o traço único de Bernet. Artista que declarou numa entrevista que: “o branco é negro é o ideal para as histórias realistas, sobretudo as do género noir, de que Torpedo é um legítimo herdeiro. Gosto de acentuar o dramatismo, nas cenas que assim o exijam e, brincando com o preto e branco, consigo efeitos muito mais dramáticos do que com a cor. O preto e branco é bem mais simples e eficaz. É mais forte, directo, natural.”
Usando uma técnica de pincel seco, que cria manchas irregulares, que acentuam a força do seu jogo de sombras, Bernet cria páginas de grande beleza a que a posterior adição de uma cor meramente funcional apenas retirava brilho, pelo que os leitores só têm a ganhar ao lerem (ou relerem) a série em preto e branco.
Outra característica muito interessante nesta série, em que a violência e o humor (muito) negro, andam de braço dado, são as constantes ligações ao cinema, bem evidentes também neste segundo volume. Ligações que passam pelos trocadilhos nos títulos dos episódios, aspecto em que Abulí é imbatível, notórios em Dois Homens e um Desatino (título que remete para o filme Dois Homens e um Destino) Era um Vez em Itália (episódio dedicado à juventude de Luca Torelli, que evoca as obras-primas de Sérgio Leone) e West Sad Story, (homenagem evidente ao filme West Side Story), mas também pelas próprias histórias, como acontece em A Hiena Ri das 4 às 6, que se passa maioritariamente numa sala de cinema, onde está a ser exibido o filme Tarzan, the Ape Man, protagonizado por Johnny Weissmuller.
Publicado originalmente no jornal Público de 03/02/2018

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