Novela Gráfica III – Vol. 12
Os Trilhos do Acaso – Parte 1
15 de Setembro
Argumento e Desenho – Paco Roca
Por + 9,99€
Depois de O Inverno do Desenhador e A Casa, Paco Roca regressa ao convívio dos leitores portugueses com Os Trilhos do Acaso, obra que ocupará os volumes 12 e 13 desta terceira série da colecção Novela Gráfica. Obra monumental e de grande fôlego, o que implicou a sua divisão em dois volumes por questões editoriais, Os Trilhos do Acaso reconstrói a história de La Nueve, a companhia militar francesa integrada na segunda divisão do General Leclerc, que, sob o comando do Capitão Dronne foi a primeira a entrar em Paris, no final da II Guerra Mundial. Uma companhia que tinha a particularidade de ser formada maioritariamente por espanhóis republicanos, exilados em Marrocos, após a vitória de Franco, cuja história vamos descobrir através das recordações de Miguel Ruiz Campos, antigo combatente exilado em França, que Paco Roca entrevista.
Uma história apaixonante e esquecida, sobre a contribuição espanhola na Segunda Guerra Mundial, que Paco Roca conta com mestria, usando como protagonista, “um personagem verdadeiro, mas inventado”. Mas deixemos que seja o próprio Paco Roca a explicar melhor quem foi Miguel Ruiz: “Queria que fosse um soldado real porque as movimentações da maioria deles estão bem documentadas e não funcionava tão bem inventar um soldado. Estive indeciso entre vários. Um deles, que talvez tivesse sido o mais lógico, era Amado Granell, o tenente de La Nueve, mas morreu num acidente de carro nos anos setenta. A outra opção era cingir-me aos três que estavam vivos. Mas em primeiro lugar, esses três já tinham contado muitas vezes a sua vida; em segundo lugar, nenhum dos três esteve na libertação de Paris, e em terceiro lugar, custava-me muito cingir-me a uma pessoa que estivesse viva.
Ainda assim, descobri que um dos integrantes de La Nueve, Miguel Campos, era um tipo muito enigmático. Quase todo o que sabemos de La Nueve vem dos diários de campo do Capitão da companhia, Raymond Dronne, que na década de setenta os reescreveu e publicou. Ele fala de todos os espanhóis, sobretudo dos oficiais, e do resto não diz nada. E aquele de quem mais fala é de Miguel Campos, dizendo que, ainda que não fosse um militar de carreira — como todos os espanhóis, que estavam ali porque foram apanhados no meio da Guerra Civil e estavam ali metidos sem serem militares— tinha uma grande visão militar da estratégia, autoridade de comando, era muito valente e era capaz de infiltrar-se nas linhas inimigas para operações de sabotagem. Dedica-lhe bastantes páginas. E o melhor é que teve um final de vida muito misterioso e novelesco, porque desapareceu numa missão depois da libertação de Paris. Para alguns morreu ali, mas como não se encontrou o seu corpo, especulou-se muito sobre o que lhe teria acontecido. Especulou-se muito, mas como muitos espanhóis tinham nomes falsos — mudaram-nos porque tinham desertado da Legião Estrangeira ou tinham medo de que se fossem capturados afectasse as suas famílias— era impossível seguir o rastro de Miguel Campos. Pareceu-me um bom personagem novelesco e usei-o como protagonista para a minha história.”
Uma história que é contada a dois tempos, entre a actualidade e as décadas de 30 e 40, com as conversas entre o autor e Miguel Ruiz a preto e branco e as recordações do antigo combatente a cores, numa curiosa inversão do esquema tradicionalmente usado para os flashbacks. História, que neste primeiro volume, inclui a evacuação do porto de Alicante; a morte do poeta António Machado, autor do poema de onde Paco Roca tirou o título do seu livro; a passagem por um campo de trabalho; o exílio no norte de África; o alistamento no exército francês e o treino de guerra. Já para acompanhar o regresso à Europa de Miguel Ruiz e dos seus companheiros de La Nueve, o leitor terá de esperar até dia 22 de Setembro, dia em que estará à venda a segunda, e última, parte desta história épica.
Publicado originalmente no jornal Público de 09/09/2017
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