A MULHER-MARAVILHA DE GEORGE PÉREZ
CHEGA AO PÚBLICO
Mulher-Maravilha: Homens e Deuses
Argumento – LenWein e George Pérez
Desenhos – George Pérez
Quinta, 15 de Junho, Por + 11,90 €
De entre os inúmeros autores cujo talento ficou ligado às aventuras da Mulher-Maravilha, ao longo dos setenta e cinco anos de existência da Princesa Amazona, há um nome que brilha mais do que outros e que muitos leitores associam imediatamente à mais importante (e popular) heroína da DC: o de George Pérez
Nascido em Nova Iorque em 1954, George Pérez estreou-se na BD em 1973, como assistente do desenhador Rick Buckler, mas um ano depois já trabalhava regularmente para a Marvel. Apesar de ter trabalhado em séries como os Avengers e Fantastic Four, da Marvel, os trabalhos mais importantes da sua carreira foram publicados na DC, onde para além de ter desenhado a saga cósmica Crise nas Terras Infinitas, (já publicada numa anterior colecção que o Público e a Levoir dedicaram à editora de Batman e do Super-Homem) que revolucionou profundamente o universo da DC teve passagens memoráveis por séries como Teen Titans e sobretudo pela Mulher-Maravilha, cujas aventuras desenhou durante cinco anos inesquecíveis e cuja origem reinventou nas histórias que este volume, que chegará às bancas na próxima quinta-feira, recolhe.
Reunindo os sete primeiros números da segunda série da revista da Mulher-Maravilha, publicados originalmente entre Fevereiro e Agosto de 1987, Deuses e Homens centra-se, tal como o título indica, na relação entre os Deuses da mitologia grega, que criaram a Mulher-Maravilha e a humanidade cujo futuro está perigo, face aos planos de Ares, o Deus da Guerra e inimigo jurado das amazonas, que só a Mulher-Maravilha conseguirá derrotar.
A própria Patty Jenkins, a directora do filme da Mulher-Maravilha, que está a ser um estrondoso sucesso, tanto crítico como comercial, é a primeira a reconhecer a grande influência da fase de Pérez no filme e a maneira como ele conseguiu dar um destaque maior à mitologia clássica, mantendo-se fiel à herança de Marston. Como refere Jenkins: ““Eu acho que (o mais importante da fase de Pérez) foi o facto de ele expandir o papel dos deuses. Ele esteve sempre lá - nada que ele fez, contradiz o que William Marston fez e criou, acho que só expandiu e demonstrou quem são os deuses. Qual é essa relação e como é que ela funciona. O que foi uma coisa maravilhosa para nós usarmos no filme.”
Essa importância da origem mitológica de Diana e das outras Amazonas, é evidente em Temiscira, a ilha Paraíso das Amazonas, que finalmente ganhou um nome (o mesmo da cidade das Amazonas da mitologia grega clássica),e passou de mero cenário a um espaço que se assume ele próprio como personagem das histórias.
O mesmo acontece com os Deuses do Olimpo, cujo comportamento está mais próximo do descrito pelas fontes literárias clássicas, como Homero ou Ovídio, ganhando personalidades complexas e bruscas (e perigosas) oscilações de humor. Basicamente, como refere José Pedro Castello Branco, no prefácio a este volume: “ Pérez solidificaria os nomes dos protectores das Amazonas nas suas versões originais, as gregas. Teríamos Afrodite e não Vénus. Atena e não Minerva. Zeus e não Júpiter. A mitologia grega regressaria à versão original, como se este mundo da BD fosse uma continuação das epopeias clássicas.”
Sendo fiel às epopeias clássicas, o mundo que Pérez cria para a série não deixa de ter um toque pessoal, pleno de espectacularidade, bem evidente nos cenários grandiosos. Veja-se a sua versão do Monte Olimpo, com as suas grandiosas arquitecturas escherianas, ou a sua versão do rio Estige e da Barca de Caronte. Extraordinário desenhador clássico, com um traço tão elegante como detalhado, George Pérez tem aqui um dos seus melhores trabalhos de sempre que, trinta anos após a sua publicação original, se lê com inegável prazer. No fundo, é essa capacidade de resistir com distinção à passagem do tempo, que define um verdadeiro clássico.
Publicado originalmente no jornal Público de 10/06/2017
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