Depois do díptico “Muchacho”, que lhe valeu o Prémio de Melhor álbum, com uma exposição e consequente passagem pelo Festival da Amadora, Lepage regressa às livrarias portuguesas com “Oh, Miúdas!”, uma história publicada originalmente em duas partes, que as Edições Asa reuniram num único volume de pequeno formato.



Naturalmente, ao trocar a aventura em cenários exóticos, por uma história do quotidiano, centrada em personagens femininas, o resultado final tinha que ser visualmente menos espectacular, como de facto é. Mas mesmo com essa mudança de registo, não restam dúvidas de que Lepage é um grande desenhador e um notável colorista, que domina perfeitamente a linguagem da BD, estando tão à vontade nas cenas de movimento, como a transmitir emoções através de um simples olhar, ou de um sorriso, ou uma careta. Em termos narrativos, vejam-se duas sequências exemplares protagonizadas por Leila, em que as imagens contam a história sem necessitarem de qualquer texto de apoio: na página 16, em que Leila apaga e acende a luz, ao mesmo ritmo que a irmã vai sendo espancada pela polícia; e na página 61, a preparação do corpo da mãe de Leila segundo os rituais islâmicos, para o funeral.
Quanto à edição da Asa, bem impressa, num papel amarelado que se adapta às belas cores de Lepage, tem a vantagem de agrupar num único livro, os dois volumes da edição original francesa da Futuropolis. O grande problema é o formato em que o livro foi impresso. Um tamanho inferior ao dos comics americanos, que implica uma grande redução do desenho de Lepage. E é fácil de ver que o belo desenho de Lepage merecia outro formato. Uma formato que, não sendo o formato original, podia muito bem ser o formato que a Asa usa para a nova edição da série “Tintin”, que implica uma redução menor em relação à edição original.
(“Oh, Miúdas!”, de Emmanuel Lepage e Sophie Michel, Edições Asa, 128 pags, 21,90 €) Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 20/04/2013
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