Já está nos quiosques portugueses, a edição brasileira de Daytripper, o premiado título dos irmãos gémeos Fábio Moon e Gabriel Bá, dois brasileiros nascidos em São Paulo, em 1976, que dão cartas no mercado americano. Senhores de uma apurada técnica de preto e branco e com um universo pessoal extremamente poético, que não passou despercebido a Frank Miller, que os escolheu pessoalmente para participarem na colectânea “Autobiographix” da Dark Horse, o trabalho dos gémeos, que estiveram no Festival de Beja, em 2010, tem chegado a Portugal, via Brasil, através das edições da Devir, da série “10 Pãezinhos”, mas este é o seu primeiro trabalho feito directamente para o mercado americano, a chegar a Portugal.
Conforme refere Gabriel Bá, no Blog da dupla, o processo de internacionalização da obra dos dois gémeos foi acontecendo de modo natural: “ um trabalho chama o outro (no caso, um quadrinho independente que fizemos, o “ROCK'n'ROLL”, chamou a atenção do editor da Image, que nos colocou em contato com o Matt Fraction, e desse contato fizemos o “CASANOVA”, que chamou a atenção do Scott Allie, editor da Dark Horse, que nos colocou em contato com o Gerard Way, e daí veio o “Umbrella Academy”, que foi o primeiro trabalho de Quadrinhos que pagava nossas contas).”
Mas a melhor maneira de descobrir o universo de Gabriel Bá e Fábio Moon, para além das edições brasileiras de “10 Pãezinhos” que a Devir distribuiu em Portugal (“Fanzine”, “Crítica” e “Mesa para Dois”) é através deste “Daytripper”, uma série da Vertigo, publicada originalmente em 10 capítulos, que este volume recolhe. Definida muito simplesmente pelos seus autores como “uma história sobre a vida”, Cada capítulo de “Daytripper” incide sobre um momento específico, um dia, da vida de Brás de Oliva Domingos, o filho de um escritor famoso que ser ele próprio também escritor, personagem vagamente inspirada no músico e escritor Chico Buarque, e sobre a forma como as escolhas que faz podem modificar a sua vida, e a sua morte. E a morte é um elemento muito importante nesta história, não só porque, como diz uma das personagens: “a morte é parte da vida”, e o próprio Brás, um escritor que “queria escrever sobre a vida”, ganha a vida a escrever obituários para um jornal, ou seja a escrever “sobre a morte”, mas principalmente, porque cada um dos capítulos termina com a morte de Brás de Oliva, num toque de realismo mágico, que mostra os diferentes caminhos (e finais) que a sua vida podia ter tido.

(“Daytripper”, de Fábio Moon e Gabriel Bá, Panini Books, 258 pags,12 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 6 de Abril de 2013



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