segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Exposição de José Carlos Fernandes em Angoulême
Chegou ao fim este dia 2 de Janeiro a exposição dedicada ao autor português que desde 19 de Outubro ocupava o piso 1 do edificio Castro, o antigo Centre National de la Bande Dessinée et de l'Image, actualmente integrado no conjunto museológico da Cité Internationale de la Bande Dessinée. Se a Livraria e a exposição permanente estão no novo edifício do Musée de la Bande Dessinée, na outra margem do rio Charente, inaugurado durante a edição de 2010 do Festival de Angoulême, a Biblioteca e a galeria de exposições temporárias mantém-se no edifício antigo que durante muitos anos acolheu as principais exposições do Festival.
E foi ai que, pela primeira vez, um autor português teve direito a uma exposição individual em Angoulême. Em termos colectivos, houve mais presenças portuguesas, começando logo em 1998, ano em que Portugal foi país convidado, embora dessa vez a exposição tenha sido deslocada para um espaço mais periférico. Também a mostra principal do Festival de Angoulême de 2010, "Cent Pour Cent", contou com a presença dos portugueses Filipe Abranches, Luís Henriques e António Jorge Gonçalves, conforme podem ver aqui, mas integrando um colectivo de autores dos 4 cantos do mundo.
O caso de José Carlos Fernandes é diferente e só foi possível por a série "A Pior Banda do Mundo" estar editada em França pela Cambourakis, com óptimo acolhimento da crítica, tendo o 2º volume sido incluído na lista das 50 melhores BDs publicadas em França, divulgada pela ACBD (a Associação dos Críticos de BD franceses) no seu relatório anual, e resultados comerciais suficientemente interessantes para que a editora tenha lançado o segundo volume por ocasião da inauguração da exposição, tendo José Carlos Fernandes aproveitado a deslocação a França para a inauguração da exposição, para dar algumas sessões de autógrafos em livrarias de Paris. Aliás, 2 meses depois de ter sido editado, o livro encontra-se com facilidade nas livrarias francesas, o que, face à quantidade de novidades que saem todos os meses em França, não é pequena proeza. Além da excelente livraria do Museu da BD de Angoulême(obviamente), encontrei-o facilmente na secção de BD da FNAC do Fórum des Halles e, em maior destaque, na Livraria Super Herós, em Paris.
Mas falemos da exposição, que tive ocasião de visitar numas curtas férias em França, em Dezembro, e que tem por base a exposição "Intuições", organizada pelo CNBDI da Amadora (actualmente o único parceiro internacional credível em termos da BD nacional, face ao apagamento da Bedeteca de Lisboa). Actualizada e rebaptizada "Areias Movediças", a exposição, possível graças aos esforços conjuntos do Instituto Camões, do Museu de Angoulême e do CNBDI da Amadora, centra-se nos trabalhos de JCF publicados (ou a publicar) em álbum deste 1997, excluindo os trabalhos da fase inicial.Embora estivessem previstos entrar na exposição, os trabalhos institucionais incluídos num núcleo sintomaticamente intitulado "Como Pagar as Contas", acabaram por ficar de fora da mostra apresentada em Angoulême, tal como de fora ficaram os textos que José Carlos Fernandes escreveu para acompanhar cada núcleo e que não chegaram a tempo de serem traduzidos... Assim, além de um curto texto introdutório, a única informação era das legendas que acompanhavam cada prancha e que, tirando algum excesso de zelo, como traduzir o nome da editora Tinta da China, estavam correctas.
Com um natural peso maior na série "A Pior Banda do Mundo", a exposição tinha originais de "As Aventuras do Barão Wrangel", "O que está Escrito nas Estrelas", "A Última obra-prima de Aaron Slobodj", Cross Roads", "Pessoas que Usam Bonés com Hélice", "A Agência de Viagens Leming", "Black Box Stories e "Terra Incógnita". Estes 2 últimos títulos, com desenhos de Luís Henriques e Roberto Gomes (que desenhou o 2º volume das "Black Box Stories" que embora esteja pronto, nunca chegou a ser publicado por divergências entre JCF e a Devir).
Uma das razões que me levou a fazer a viagem entre Paris e Angoulême para ver a exposição, foi precisamente o núcleo dedicado a "Cross Roads", em que as imagens de José Carlos Fernandes aparecem associadas a textos meus e do João Ramalho Santos, tal como aconteceu com "A Revolução Interior", um trabalho institucional sobre o 25 de Abril em que o JCF ilustrou um argumento nosso e que estava no tal núcleo que ficou de fora. E confesso que me deu um certo prazer ver o meu nome nas legendas das ilustrações do "Cross Roads"...
Depois de Angoulême, há interesse em levar a exposição de José Carlos Fernandes a Paris,à Residência Maria Helena Vieira da Silva, mas ainda antes disso, JCF vai ter uma exposição dedicada à "Pior Banda do Mundo" no Centro Belga da BD em Bruxelas, que inaugura a 18 de Janeiro.
Se nos lembrarmos que José Carlos Fernandes é também um dos autores representados na mostra colectiva de BD portuguesa que inaugura já no próximo dia 10 de Janeiro, no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, não há dúvida que José Carlos Fernandes está em alta. Não deixa é de ser irónico que isso aconteça numa altura em que o criador da Pior Banda do Mundo está praticamente afastado da BD...
E, para terminar deixo-vos algumas imagens do novo Museu da BD de Angoulême e da exposição de José Carlos Fernandes.
Estátua de Corto Maltese na ponte sobre o rio Charente que liga o velho ao novo Museu da BD
o novo Museu da BD de Angoulême
Pormenor da exposição permanente
Vista geral da exposição de José Carlos Fernandes
Originais de "A Pior Banda do Mundo"
Vista geral da mezzanine onde estava a segunda parte da exposição
Originais da "Agência de Viagens Leming"
Originais de Luís Henriques
Originais de Roberto Gomes
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