domingo, 1 de agosto de 2010
Lucky Luke regressa ao cinema
Dezoito anos depois do filme protagonizado por Terence Hill, Lucky Luke, o cowboy solitário criado na BD por Morris, regressa ao cinema num filme de James Huth, com Jean Dujardin no protagonista, em exibição nos cinemas portugueses.
Para além de três longas-metragens e de duas séries televisivas, todas em animação, Lucky Luke já foi alvo de três adaptações em imagem real, começando logo em 1991, com o filme dirigido e protagonizado por Terence Hill, actor italiano conhecido pelas suas colaborações com Bud Spencer e pela série “Trinitá”, um Western Spaguetti paródico, bem elucidativo da decadência do género.
Depois desse começo nada famoso, as coisas só podiam melhorar e foi o que aconteceu com o filme “Les Dalton”, de 2004, dirigido por Philippe Haim e centrado nos mais famosos inimigos de Lucky Luke, na ocasião interpretado pelo alemão Til Shweiger, actor que, anos mais tarde, entraria no filme “Inglorious Basterds”, de Quentin Tarantino. Apesar de ter ido directamente para DVD em Portugal, o filme era bastante divertido e, no geral, bastante mais conseguido do que o filme de James Huth, que motiva este texto.
Jean Dujardin, actor que curiosamente também entrou no filme de Haim, e que representou igualmente outro ícone da cultura popular francesa, o espião OSS 117, nem vai mal como Lucky Luke e Silvie Testud e Michael Youn, os actores que fazem de Calamity Jane e Billy the Kid, vão mesmo muito bem, o grande problema é o argumento e a forma como mistura demasiadas coisas num prato indigesto. A história, que tem como (vago) ponto de partida o álbum “Daisy Town” (já adaptado ao cinema de animação), mistura elementos e personagens (como Pat Poker e Jesse James) de vários outros álbuns, ao mesmo tempo que procura arranjar uma explicação psicanalítica para o comportamento de Lucky Luke (que na verdade, se chama John, o Lucky é uma alcunha, devido à sua grande sorte) e para o facto de ele nunca ter morto ninguém, nem nunca se ter casado. Ou seja, procura dar uma dimensão realista a um herói propositadamente unidimensional, o que até é uma opção louvável, mas que se articula mal com as piscadelas de olho à BD (que inclui ainda uma discreta alusão ao álbum de Tintin, "O Caranguejo das Tenazes de Ouro, como podem ver abaixo) e com o registo de um personagem como Billy the Kid. Essa discrepância também se reflecte na imagem do filme, servido por uma excelente fotografia, mas onde a estética e os planos do “Western Spaguetti” coexistem com cenários que parecem saídos do cinema expressionista alemão dos anos 20 e 30 do século XX…
A ideia que dá é que James Huth quis meter diversos filmes dentro deste filme, com um resultado que, apesar do sucesso do filme em França, com mais de 1 milhão de espectadores, acabará por não agradar inteiramente nem aos cinéfilos, e muito menos aos fãs da BD de Morris.
(“Lucky Luke”, de James Huth, com Jean Dujardin, Melvil Poupaud e Silvie Testud, 103 minutos, em exibição em Coimbra nos cinemas Zon Lusomundo Dolce Vita.
Mais informações no site oficial do filme.
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 31/07/2010
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