quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Amadora BD Ano 20




Na última sexta-feira, dia 23 de Outubro, começou no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, arredores de Lisboa, mais uma edição do Festival de Banda Desenhada da Amadora, o maior evento do género em Portugal e que este ano comemora 20 anos de actividade.
Infelizmente para a organização do Amadora BD (nova designação que, junto com o novo logótipo, mostram a preocupação de modernizar a imagem do Festival), as eleições autárquicas foram antes da data habitual do Festival e não deve ter sobrado muito dinheiro para comemorar condignamente esta data redonda, o que obrigou a cortes variados, do catálogo, bastante mais modesto do que em anos anteriores, à própria área de exposição e à zona comercial, com claro prejuizo para as pequenas editoras e lojas, encafuadas em stands com um metro de frente… Mas, mesmo com um orçamento bastante inferior ao dos anos anteriores, ainda foi possível reunir um conjunto bastante sólido de exposições, espalhadas por vários equipamentos culturais do concelho da Amadora, com destaque para o Fórum Luís de Camões, que acolhe pela terceira vez o núcleo central do Festival.
Tendo como tema aglutinador “O Grande Vigésimo” (um trocadilho, muito pouco conseguido com o título do jornal “Le Petit Vingtiéme”, onde Hergé criou o Tintin), a mostra principal, coordenada por Sara Figueiredo Costa, divide-se em quatro partes: “Almanaque”, que revisita os momentos marcantes dos últimos vinte anos do Festival; “Colecção CNBDI”, que recolhe originais de autores portugueses e estrangeiros que passaram pela Amadora; “Contemporaneidade portuguesa”, uma selecção feita por Pedro Moura de alguns dos (para ele) nomes mais importantes da BD que se faz actualmente; e “20 Anos de Concursos”, que demonstra como vários dos nomes consagrados da actual BD portuguesa, como José Carlos Fernandes, começaram nos concursos de BD da Amadora.
Tendo em conta a importância da efeméride que evoca, o resultado final desta mostra não é particularmente entusiasmante. Pode ser que o anunciado livro de Sara Figueiredo Costa sobre os 20 Anos da Amadora, me leve a mudar de opinião, mas até ao final do segundo fim-de-semana, o livro ainda não tinha saído, o que me faz temer que suceda o mesmo que com a Exposição das “100 Melhores BDs do Século XX, cujo catálogo, cinco anos depois da exposição, ainda não saiu…
Bem melhor é a exposição dedicada a Rui Lacas, vencedor do prémio do Melhor álbum Português no ano passado e responsável pela excelente linha gráfica do Festival deste ano, ou as mostras dedicadas a Lepage - vencedor do prémio do Melhor álbum estrangeiro com “Muchacho”, cujos fantásticos originais só por si justificam a visita ao Festival - e António Jorge Gonçalves. Mas no espaço do Festival há ainda espaço para exposições de Osvaldo Medina (grande revelação de 2008 com “ A Fórmula da Felicidade”), José Garcês, Giorgio Fratini (italiano, autor de “As Paredes têm Ouvidos”), e para mostras colectivas da BD da Polónia e do Canadá. Se a exposição dedicada ao Canadá se limita ao trabalho dos autores do colectivo Transmission-X (Cameron Stewart, Karl Kerschl e Ramón Perez) já a mostra dedicada à BD polaca dá uma boa panorâmica da (muita e diversa) Banda Desenhada que se faz naquele país, com destaque para autores como Kas, que conseguiram seguir as pisadas de Rosinsky, o desenhador de Thorgal, e entrar no exigente mercado franco-belga.
Também os 50 anos de Astérix são evocados, mas apenas com uma exposição de coleccionismo que, embora relativamente pobre, contém algumas peças curiosas. Outra efeméride evocada nesta edição foi os 50 anos de carreira de Maurício de Souza, o criador da Turma da Mônica, que voltou a levar largas centenas de pessoas ao Fórum Luís de Camões, em busca de um autógrafo seu. Já Exposição que lhe foi dedicada e que mostrava aspectos menos conhecidos da sua obra, merecia uma cenografia mais cuidada, como a que tinha a espectacular mostra dedicada à Planeta Tangerina, a editora que publica os melhores livros infantis de autores portugueses
Espalhadas por outros equipamentos culturais do concelho da Amadora, o que, infelizmente, implica que serão vistas por muito menos visitantes do que o núcleo central do Festival, estão, para além da mostra "riscos do Natural", de José Ruy, na Escola Superior de Teatro e Cinema e da exposição de BD infantil, "Em traços Míudos", na Kidzania, três outras importantes exposições. Mostras evocativas de grandes personalidades da BD, já desaparecidas, como Vasco Granja, falecido este ano (no edifício da Câmara Municipal); Adolfo Simões Muller, cujo centenário do nascimento se comemorou este ano (na Casa Museu Roque Gameiro); e de Hector German Oesterheld, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem.
Esta última mostra, dedicada ao mais importante argumentista de língua espanhola, “desaparecido” às mãos da ditadura militar argentina, em finais da década de 70, prossegue a aposta do CNBDI em dar visibilidade aos argumentistas, com Oesterheld a suceder a Alan Moore e Neil Gaiman. Reunindo pela primeira vez uma série de material sobre o criador de “Mort Cinder”, “ El Eternauta” e “Sargento Kirk”, esta mostra, de grande importância tanto simbólica como real, estará em exibição até finais de Fevereiro de 2010, pelo que voltarei a falar dela neste espaço. Entretanto, aqueles que não a forem visitar, poderão ficar a saber algo mais sobre ela, no blog criado propositadamente para a exposição pelo argentino Mariano Chinelli (http://hgobdamadora2009.blogspot.com/), um dos especialistas na obra de Oesterheld que colaborou na exposição do CNBDI.
(“20º Amadora BD” , de 23 de Outubro a 8 de Novembro de 2009, no Fórum Luís de Camões. Mais informações em www.amadorabd.com )

Versão alargada de um texto publicado no Diário As Beiras de 31/10/2009

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